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quarta-feira, 1 de julho de 2020

Dante - Livro III - O Paraíso de Homerix

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Esta é a minha resenha do Livro III d'A Divina Comédia.

O Livro I, O Inferno, eu resenhei neste link.

Um resumo do primeiro livro?
Dante é conduzido por Virgílio pelos meandros do Inferno!

O Livro II, O Purgatório, eu resenhei neste link
https://blogdohomerix.blogspot.com/2020/06/o-purgatorio-de-homerix.html


Um resumo do segundo livro?

Dante é conduzido por Virgílio pelos meandros do Purgatório!

Serão 8 cantos, em terças de versos decassílabos com rimas encadeadas. 

E, para melhor aproveitarem o conteúdo, aconselho declamarem,


e tomando em conta a pontuação!!!


Livro III - O Paraíso de Homerix



Canto I –  No Paraíso Terrestre

Dante entra no Paraíso Terrestre,
Já sem a companhia do Mentor.
Em um cenário mui puro e silvestre,

Flores, frutos de toda forma e cor,
Águas correntes de ímpar frescura,
Ali, nem Eva ou Adão sentiram dor.

À beira de um riacho de água pura,
Dante assiste donzela do outro lado
A colher flores com doce ternura.

Matelda é seu nome, após, revelado,
Que lhe explica que o local foi feito
Pra o prazer do homem abençoado,

E que aquele Rio Letes, com efeito,
Vem da mesma fonte que o Eunoé,
E agora ele vai entender direito.

Aquele anula a culpa como é,
Desde que devidamente expiada,
E o último recobra a sana fé

Nas boas ações já realizadas,
Dois banhos que serão fundamentais
Para permitir no céu a entrada.

Explicações necessárias não mais,
Dante nota estupenda procissão
A brilhar nas rotas celestiais.

Candelabros, Livros, em sucessão,
Evangelhos, Virtudes, vêm trazendo
Um carro triunfal em suspensão,

Vem puxado por um Grifo estupendo.
Ao som d’O Cântico, vem Beatriz,
O que deixa pobre Dante tremendo.

Ela invoca seu poder de Juiz,
Outorgado pelo Pai aos beatos,
Pede a Dante que cure a cicatriz

Da vida, seus feitos, fatos e atos
Para serem limpos em confissão,
O que ele faz, em penitente acato,

Imergindo depois em contrição,
Após despertar, Matelda o conduz        
Através do Letes, em ablução,

E afasta qualquer vestígio de pus,
Mergulhando a cabeça, qual Batista.
Finalmente livre de sua cruz,

Num pequeno séquito segue a pista,
Estácio, um que entrou junto com Dante,
As Sete Virtudes e a banhista,

Todos no rumo da fonte abundante.
Beatriz vai revelando segredos,
Enquanto seguem firmes adiante.

Quando chegaram, fim dos enredos,
Para o banho santo no Eunoé,
Repondo-lhes os pensamentos ledos

Da vida, renovando-lhes a fé.
Agora as duas almas estão prontas

E galgarão do Paraíso o sopé.




Canto II –  A Arquitetura do Paraíso

Estando agora pronto a desvendar
Mistérios do Paraíso real,
Beatriz leva Dante a volitar.

Na Cosmologia de então, igual
À de Aristóteles e Ptolomeu,
A Terra está em posição central

De estrelas, planetas e o apogeu.
Lua, Sol, Planetas, no dia a dia.
Constelações, anual perigeu.

Nove são as esferas na porfia,
Mais longe, maior bem-aventurança,
Dos cristãos de inferior energia

A Cristo e sua mui santa ordenança.
E fixos, a Rosa e os angelicais
Círculos, nove também, em balança,

No Empíreo das bordas celestiais,
Onde no centro está o Criador.
E seguiremos em nossos anais,

Tentando descrever o Esplendor.


Canto III - Paraíso - Lua, Mercúrio, Vênus

Como já disse, nove esferas são,
Como se fossem nove atmosferas
De nosso planeta em sã ascensão,

Em que a cada andar se reverbera
O nível de santa beatitude
Da nobre alma que ali aglomera.

Na primeira, de menor magnitude,
A Lua abriga as almas virtuosas
Mas que não foram firmes na atitude.

Lá, Dante vê Santa Clara, bondosa,
Mas que foi retirada de um convento,
Para uma vida menos primorosa.

A seguir, Mercúrio, onde têm acento
Os que, em ambição, fizeram o bem,
Porém em busca de fama e provento.                                                                                          

O Imperador Justiniano mantém
Ali seu lugar. No Século SEIS,
Ele entregou as armas pr’outro alguém,

Em prol do aprimoramento das Leis,
Pois que, então, Roma era a Águia de Deus.
Ele conta que ali estão outros reis.

Dignifica dois seguidores seus:
Tibério que proveu Glória à Paixão,
E Tito, que se vingou dos judeus,

Colocando Jerusalém ao chão.
Vênus é a inspiração do puro amor,
Que ao terceiro Céu dá luz e vazão,

Lá estão almas que amaram com fervor,
Ainda que com pouca temperança.
Como exemplo desse fio condutor,

Dante vê Raab, que deu esperança
Aos hebreus em Canaã, abrigando
Espiões, que os levaram à bonança,

Na Terra Prometida. Abandonando
Sua rameira profissão, deu a luz
Ao bisavô de Davi, pés fincando

Na sã linhagem santa de Jesus.
Importante neste ponto é notar
Que não importa qual o seu capuz,

Qualquer alma pode bem volitar
Ao Empíreo, onde Deus se acha,
Para uma bênção e depois voltar

À atmosfera em que melhor lhe encaixa
Aos costumes que tiveram em vida
Que fizeram por merecer a faixa.


Canto IV – Paraíso – Sol e Marte

Na próxima esfera, com o brilho do Sol
E dos Sábios da Teologia,
Dante é recebido por nobre rol.

Santo Tomás de Aquino, em parceria
Com monges, filósofos, preceptores,
Chega dançando em cândida harmonia,

Conta de notáveis merecedores
Da presença nesta esfera celeste,
De São Francisco, muitos seguidores,

Que se casou com a pobreza agreste,
São Domingos, da Santa Pregação
A combater a medieval peste

Das heresias, e também Salomão,
O mais justo dos Reis de toda a história.
Marte é o mote da próxima ascensão,

Daqueles que experimentaram glória
De combatentes, mártires da fé,
Que em nome de Deus lograram vitória,

Até muito antes da Santa Sé,
Como o comandante dos Hebreus,
De Moisés discípulo, Josué,

E um primeiro Judas, dos Macabeus,
Qu’inda antes de Cristo expandiu
As fronteiras da terra dos Judeus.

Dos mais recentes, Dante descobriu
Lá entre as almas um seu ascendente,
Que em uma das Cruzadas sucumbiu,

Além de muitos outros combatentes,
Várias Guerras Santas, de outro jaez,
Como Carlos Magno que, inteligente,

Para expandir seu Império Francês,
Aliou-se a Adriano Primeiro,
O Papa que, esperto, por sua vez,

Queria Sacro Império sobranceiro,
O que ambos conseguiram, sobrevindo
Nova Pax Romana por inteiro.


Canto V – Paraíso – Júpiter e Saturno

Júpiter é dos Justos a Esfera,
Onde Dante vê Águia Imperial,
Em que para ele finda a espera

Por uma dúvida transcendental:
A de por que almas sãs e perfeitas
Não merecem lugar celestial

Pela razão de não estarem sujeitas
Ao conhecimento da Lei Divina.
A dúvida é então satisfeita

Por uma só voz clara e genuína
Que emana das Almas Justas e Santas
Da Águia de Deus, que a ele ilumina:

O Pai não podia estender a tantas
Paragens do Universo em vil excesso,
E optou por negar as sagradas mantas,

Causando injustiça nesse processo,
Ao menos aos olhos de nós, mortais.
Dante resignou-se em calmo recesso,

E foi apresentado aos Seis Vogais
Representantes Ases da Justiça
Em suas nobres vidas dentre os quais,

Rei Davi, pra bem além da fama viça,
Quando venceu Golias bem menino,
Adotou pra si a missão castiça

De fornecer o devido destino
À Arca da Aliança, Jerusalém,
Dessa forma, deixando cristalino

O elo milenar que Deus mantém
Com o povo escolhido no deserto.
E os Justos também dizem amém

A Reis, Imperadores e esperto
Descendente de Davi, Ezequias,
Que governou de jeito limpo e aberto,

E combateu a vil idolatria.
Acometido de doença mortal
Pôs-se a orar com grande maestria

E lhe foi dado tempo adicional.
Com essa informação interessante,
Dante segue trajeto celestial

Rumo à Esfera Sete, a tronante.
É Saturno, dos Guardiães Tronos
De Inteligências Celestes. Avante,

Ele estranha não encontrar colonos,
Os Contemplativos que esperava,
Mas aqui ele não terá tal bônus,

Pois a prudência assim orientava,
Que não suportaria a intensidade,
Tanto que Beatriz já se afastava,

Que seu fulgor seria uma maldade
Com os sentidos mortais do poeta.
Agora, rumo à maior potestade

Aparece-lhe, afinal, um asceta:
É São Bento, a quem Dante solicita
Mostrar-se, porém sua vil dieta

Continuará muito viva e aflita,
Até a próxima esfera celeste
Direção a qual Beatriz o incita.


Canto VI – Paraíso – Estrelas Fixas

Uma escada dourada é o caminho
Para o Céu das Fixas Constelações.
Ao seu topo, olhou só um pouquinho

Para baixo e viu as revoluções
Das sete esferas já testemunhadas
Girando em torno das vis aflições

Da Terra em suas lutas desvairadas
Em que se enredou desde o mau fruto.
Ao retornar o olhar à sua pousada,

Dante se encanta com o impoluto
Séquito de Jesus e suas fileiras
De beatos em rumo resoluto

Ao Empíreo, levando as bandeiras
Do veneração a seu Supremo Guia.
E ainda vê a sagrada lumeeria

Em que ao centro está a Virgem Maria,
Que vai junto ao filho em elevação.
O poeta se deslumbra em alegria,

Nem consegue expressar a emoção.
Beatriz pede a ajuda de beatos
Que abandonem a nobre procissão

Para que verifiquem se são fatos
Os dotes do poeta, a lealdade
Aos princípios divinos correlatos:

A Fé e a Esperança e a Caridade.
São Pedro, São Tiago e São João,
Seus patronos, perguntam com vontade,

Dante usa plenamente o coração
E passa nos três testes com louvor.
E pronto pra seguir em ascensão.

Antes, porém, conheceu o esplendor
Da alma prima, que ali chegava pura,
E juntava-se ao ascendente andor.

Adão contou que, após a travessura
De Eva, pela Terra caminhou
Noventa e três decênios, se apura,

E pelo Limbo, então, perambulou
Por quatro mil trezentos e dois anos
Até que Jesus a tantos salvou

No caminho de volta aos altos planos.



Canto VII – Paraíso – Primum Nóbile e Inteligências Angélicas

Os três lumes Santos e o não, Adão,
Partem ao Empíreo, com luz e graça.
Beatriz traz Dante em adoração

Ao Nono Céu, cristalino, que enlaça
Os demais outros oito céus corpóreos,
De cujo movimento ele encompassa.

É o Primum Nóbile, giratório
Na mais alta velocidade e também
É do Tempo, o capataz Diretório.

De lá, Dante avisa, como ninguém,
Os Nove Círculos de Inteligências
Angélicas. Cada um se mantém

Ligado em direta jurisprudência
Com as esferas que dão volta na Terra
Tal qual virtuosa proeminência.

A Lua, de menor virtude, encerra
Com o primeiro círculo, dos Anjos;
Mercúrio, dos Ambiciosos, aferra

Elo com o Círculo dos Arcanjos;
O Céu de Vênus, das Almas Amantes,
Têm com os Príncipes firmes arranjos;

Da esfera do Sol, os Teólogos reinantes
Aliam-se ao Círculo dos Poderes;
Os Guerreiros de Marte, triunfantes,

Juntam co’a Virtude seus afazeres;
Os Justos de Júpiter são parceiros
Das Dominações, em santos prazeres;

No Ternário dos Círculos Primeiros,
Os Tronos associam-se a Saturno,
Céu dos Contemplativos Pioneiros;

Enquanto os Querubins, a seu são turno,
Aliam-se ao Céu das Fixas Estrelas,
E os Serafins em louvor dioturno,

Múltiplas bênçãos, para obtê-las
Em conjunto com o Céu Cristalino,
Tanta luz, difícil a Dante vê-las,

Rumo ao Empíreo, o Solar Divino.


Canto VIII – Paraíso – Rosa Mística e Empíreo

Quando saíram do Móbil Primeiro
Dante sentiu melhorar-lhe a visão,
E no Empíreo, se entregou por inteiro

Ao assombro da prima Criação.
Deus, inda Luz em todo seu Esplendor,
Quem O olha ganha Paz de antemão.

Da Rosa Mística, em pleno fulgor,
Em seu centro, está a Virgem Maria.
Nas pétalas dessa sagrada Flor,

Milícia de Beatos na alegria,
Já com as faces que os corpos terão
No Juízo Final que os inebria.

Outra em constante feliz evolução,
A dos Anjos em perpétuo doar
O que foram receber na ascensão

Ao Pai, em firme vaivém singular.
Quem agora aparece é São Bernardo.
Beatriz se dirigia ao seu lugar

E o pôs a orientar o felizardo,
Ao final de seu glorioso caminho,
Livrando a beata do feliz fardo.

E Dante a vê em seu divino ninho
E lhe dirige um agradecimento
Por ter-lhe abençoado com carinho

Na sua jornada de salvamento.
São Bernardo segue em sua lição,
De apresentar a Dante o ajuntamento

De beatos, em santa profusão,
Circundando a Virgem Maria em luz.
Ao lado esquerdo se coloca Adão,

E no direito, Pedro, a quem Jesus
Deu as chaves de nossa Santa Igreja,
À frente, com a glória de quem conduz

Um povo inteiro à terra benfazeja,
Está Moisés, e ao lado o Evangelista
João, a quem sua caridade enseja

Aquela declaração imprevista
De Jesus: “Mulher, eis aí teu filho!”
“Eis aí tua Mãe!”, por todos vista

Na Cruz, todo ferido e maltrapilho.
Inda no sacro redor, Santa Ana
E Santa Luzia, quem dá o brilho

Aos olhos de quem tem a vista insana.
Aos pés da Virgem está a bela Eva
Ainda com a luz de primeira humana

De antes de levar todos à treva.
E lhe seguem Raquel, Judite e Rute,
Outras mulheres que Jesus eleva,

Lá no mais inferior azimute,
Salvando-as do Limbo do Inferno,
Decisão certa, que não se discute.

Mais abaixo, o contemplativo terno
São Francisco, Bento e Santo Agostinho.
E fechando da lição o caderno,

São João Batista, a cabeça no ninho.
E então, São Bernardo pede a Maria,
Em seu novo papel de bom padrinho,

Que conceda a Dante a sã alegria:
Conhecer o mistério da Trindade!
Sua visão clareia qual magia,

E ele vê, com imensa potestade,
Os três círculos de cores variadas,
No mesmo espaço, e mesma irmandade,

O Espírito Santo em firmes jorradas
De fogo sobre os dois primeiros pares,
E o Filho com imagens espelhadas

No Pai, contendo os dois, humanos ares,
Imagem, Semelhança, pode crer.
Em homenagem, cá as singulares

Últimas terças de Dante, a saber:
“Até que minha mente foi ferida
Por um fulgor que cumpriu seu querer

À fantasia foi minha intenção vencida
Mas já a minha ânsia, e a vontade volvê-las
Fazia, qual roda igualmente movida

O Amor que move o Sol e as mais estrelas”

- FIM -

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