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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Taxman ou A Mordida do Leão Inglês

 Esta canção abre o álbum Revolver 

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 15 canções Discursos para um Grupo

as demais 14 canções do mesmo Assunto e Classe, aqui, neste LINK


1. Taxman   Group Speech Song by George Harrison)

O Taxman diz: "Deixe me dizer a você como isso vai ser: é 1 para você, 19 para mim. Porque eu sou o homem dos impostos, sim, eu sou o homem dos impostos. Se 5% lhe parecer pouco, fique agradecido por eu não pegar tudo"  
O desabafo de George coloca voz no Leão Inglês
fazendo um Discurso aos contribuintes de alta renda (o Grupo alvo), deixando claro como funciona a coisa. Os Beatles pagavam impostos na mais alta alíquota do IRIF (Imposto de Renda do Inglês Físico), que era nada menos que 95%. A grita era justa, não!? Sim,
 e tão bem humorada, e musicalmente rica ficou, que deu a George pela primeira e única vez, a distinção de abrir um disco dos Beatles! John declarou, e não foi contestado por George, que o ajudou em algumas linhas, mas jamais saberemos em quais. Os dois devem estar confabulando sobre isso lá em cima. O fato é que o humor ferino das letras combina tanto para George como para John. O que se tem certo é que o 1°, o 2° e o 4° versos, bem como a conclusão, devem ser de George, pois estavam de alguma forma no manuscrito original. O 3° verso e a magnífica ponte podem ter o dedo de John. A música termina com uma pérola, que assegura que nem morrendo se escapa dos impostos: "Now my advice for those who die: declare the pennies on your eyes." (penny é a menor sub-divisão da libra esterlina). E a conclusão é definitiva "I'm the taxman, and you're working for no one but me". São quatro versos diferentes, sem repetição de letras, mantendo a tradição Beatle, bem como as rimas ricas, em sua maioria: além do par "die" com "eyes" já mostrado, os versos apresentam "be" com "me", "small" com "all" e "for" com "more". Já na ponte, as rimas são pobres, pois são quatro substantivos, afinal são quatro 'coisas' que são objeto da sanha impositiva do Taxman, que garante que vai taxar "Street, Seat, Feet, Heat". Nada menos que brilhante!  
 
Musicalmente, George ficou orgulhoso por ter uma música sua burilada durante TRÊS sessões de gravação. Nada sobrou da primeira, mas a base foi gravada na segunda sessão, com George na guitarra base, Paul no baixo, notável, bastante inventivo, e Ringo na bateria, feroz, como se pode reparar logo antes de todos os 'Cause I'm the Taxman'.  John ficou apenas olhando e ouvindo. E na terceira sessão, vieram os overdubs. George acresceu alguns riffs de sua guitarra (mas não o solo, voltaremos a ele mais adiante!), Ringo acrescentou pandeiro, a partir do  2° verso, variando a percussão entre triplets e trepidação constante, e adicionando também um sempre bem-vindo cowbell (adoro!), a partir do 2°  'Cause I'm the Taxman'.  John, agora sim, acrescentou .... nada! Pois é, isso acontecia de vez em quando com nosso adorado líder da banda, mormente em canções do George, de vez em quando ele não tocava nada. Entretanto, ele aparece muito bem nos fundamentais vocais de apoio, juntamente com Paul, primeiramente em todos os "Yeah I'm the Taxman", depois intercalando as frases do 3° verso com "Ah-ah, Mr. Wilson." e "Ah-ah, Mr. Heath." em falsetto, e as do 4° verso, com dois "Taxmaaaan"s. Inventividade, diversidade, perfeição! E, na ponte, John e Paul estabelecem quatro duelos, abrindo as frases ("If you drive a car, try to sit, get too cold, take a walk"), com George terminando-as ("I'll tax the street, your seat, the heat, your feet"). Eu já usei o adjetivo 'brilhante'? Não tem problema, uso de novo! Brilhante!!! Puxa, ia me esquecendo de ressaltar o cínico, demente, engraçado contador de Paul, que abre a canção, o "one-two-three-four-one-two", com sons e falas ao fundo, e com direito até a uma tosse!  
 
Finalizando o quesito overdub desta análise, 
   tem o solo de guitarra, 
      um dos mais famosos solos de guitarra dos Beatles, 
         em uma canção de George Harrison,  
            que era o guitarrista-solo dos Beatles, 
               numa canção composta pelo guitarrista-solo dos Beatles, 
                  com a enorme distinção de abrir um LP dos Beatles, 
                     única vez que aconteceu na história dos Beatles, 
                        um solo de guitarra que foi executado por ...  
 
Paul McCartney!!!
Oooooh!!  
 
Paul já fizera o papel de guitarrista-solo em algumas oportunidades, mas sempre em canções compostas por ele mesmo.  
 
Ocorre que George realmente não estava inspirado naquele dia, 
   tentou, tentou, tentou, os outros olhando, 
      olha a pressão, por algumas horas ele tentou, constrangido... 
         até que seu xará George Martin olhou pra Paul, 
            com aquele olhar de ‘Resolve isso pra nós?’, 
            e Paul olhou de volta, com um olhar de ‘Pódexá, chefe!’. 
        Martin chamou George num canto 
    e anunciou ao estúdio que Paul iria tentar o solo, 
George recebeu serenamente, e saiu do estúdio.  
 
Paul pegou a guitarra, e em poucas tentativas concebeu aquela pérola, de difícil execução, selvagem, feroz, com aquele pulo uma oitava pra cima, inda mais repetido, deixando todos boquiabertos. Tão bom ficou que Martin resolveu repeti-lo no final, em fade-out. Em entrevista posterior, George diz que ficou feliz por Paul ter feito aquele solo para ele, mantendo a ideia de um som indiano. que era a intenção dele. Ele se referia àquela descendente entre os dois saltos de oitava. 
 
Um fato que eu vou contar aqui pela primeira vez, mas que se repetirá em todas as outras 13 canções: nenhuma canção de Revolver foi tocada ao vivo pelos Beatles!!! Sim, calma, houve sim uma canção gravada naquelas 32 sessões que viu a luz do palco: era Paperback Writer, mas ela foi lançada em compacto, não no LP. Dela, falarei quando destrinchar o álbum Past Masters #2, que será o derradeiro capítulo desta Saga! Felizmente, entretanto, George nos brindou com uma execução de Taxman, ao vivo, em 1991, seu último show, em Tokyo, numa versão estendida, de quatro minutos, quando nos presenteou com um verso adicional, chamando Boris Yeltsin e Mr. Bush, e uma segunda letra para a ponte, como que dizendo que ele podia, sim, produzir humor, além de John, suspeito de tê-lo ajudado na letra. Veja: “If you get a head, I’ll tax your hat, If you get a pet, I’ll tax your cat, If you wipe your feet, I’ll tax the mat, If you’re overweight, I’ll tax your fat." Muito bom!  E o famoso solo guitarra, desta vez, ele .... também não tocou.... É que em sua banda naquela ocasião, ele tinha um guitarrista chamado Eric Clapton, que o executou brilhantemente, aliás, duas vezes, um pouco diferente, mas com com o salto de oitava, e bastante estendido! Deixo aqui, neste LINK.

 

 

11 comentários:

  1. GEORGE entrando de sola em Revolver...

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  2. Quer dizer que John só participou dos backing vocals..??
    N sabia
    Quanto ao solo com certeza maravilhoso!
    Brilhante início do meu álbum favorito dos Beatles 👏

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  3. Ouvi dizer que o George fez o baixo nesta gravação, num Baixo Burns

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  4. Queeu saiba, John ajudou justamente no verso "Now my advice for those who die: declare the pennies on your eyes" - que aliás se refere à pratica de se colocar um penny em cada olho de um cadáver, para o velório. Abs

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    1. Obrigda por esta importante informação. Agora a letra ficou compreensível.

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  5. Adoro o solo dessa música, e a acidez na letra é muito característica do George. Ele deu um tremendo salto de maturidade e composição em Revolver. Excelente texto

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    1. Olá, vc sabia que quem gravou esse solo foi Paul McCartney?

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  6. Lindo texto, excelente explanação, parabéns Homerix.

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  7. Isso é Beatles! É o que me basta!Valeu, grupo!

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  8. Além de uma belíssima canção, uma aula sobre o fisco britânico.

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  9. Homero, querido...os Beatles,felizmente, não tinham um líder.Eram the Fab Four. Não the Fab One com três sendo liderados.
    Olha, sabe que eu não sabia que a guitarra fantástica de Tax Man era tocada por Paul? Como já disse, aqui aprendo muitas coisas. E vi nos comentários que George tocou o baixo. Eu ainda aprendendo.

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