-

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Yesterday veio num sonho

 Esta é 6ª canção do Lado B álbum HELP! 

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 6 canções sobre Si Mesmo na Classe Sonho

                                        as demais 5 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho são links que levam a análises sobre elas.


13. Yesterday (Dream Self Song by Paul McCartney)

Paul se lamenta: 'Ontem, meus problemas pareciam tão distantes, agora parece que eles vieram pra ficar. Oh eu acredito no passado. Agora não sou metade do homem que costumava ser!'  
É inacreditável como uma canção tão linda, com letra tão marcante apareceu na vida dos Beatles!  Paul sonhou com a melodia, mas levou mais de ano para terminá-la, primeiro com o temor de que seria um plágio, de tão bela que era, depois, porque não conseguia livrar-se da letra do primeiro verso, que viera logo na manhã pós-sonho, que ele fez só pra marcar as notas: “Scrambled eggs ...  oh, my baby, how I love your legs ...”. A segurança de que não copiava a melodia de ninguém veio de apresentá-la a seus pares e a George Martin e alguns amigos. A letra veio somente depois que John sugeriu que o título deveria ser uma palavra só, e Paul  teve a luz: Yesterday! Como isso na cabeça, Paul viajou pra Portugal com Jane, sua namorada, e, na casa de um amigo onde se hospedaram, escreveu a letra num envelope! E é um Paul inspirado que nos oferece um festival de rimas que aqui chamaríamos de ricas, aquelas que rimam diferentes classes gramaticais, em contraposição às rimas pobres, que rimam, por exemplo, verbo com verbo ('sou' com 'estou' com 'ficou'), substantivo com substantivo ('bondade' com 'idade' com 'saudade'). Vejam:

I'm not half the man I used to be (verbo) 

There's a shadow hangin' over me  (pronome) 

Oh, yesterday came suddenly  (advérbio) 

ou
Love was such an easy game to play  (verbo) 
Now I need a place to hide away  (advérbio) 

Oh, I believe in yesterday  (substantivo - neste uso) 

... além de usar pela primeira vez aquela rima interna (e rica) que usaria magistralmente em Hey Jude
I said something wrong,  (advérbio) 
now I long (verbo) for yesterday 
Logo que a canção foi terminada, eles se reuniram em 14 de junho em Abbey Road, e chegaram a tentar um arranjo tradicional com guitarras e bateria, mas começou com Ringo um sentimento de não pertencimento, ele não via como encaixar sua bateria na canção de Paul. Logo, John e George chegaram à conclusão de que não caberia outra guitarra ali além da que Paul tocava, então George Martin sugeriu que Paul seguisse solo, por enquanto. E vieram dois takes com voz e violão de Paul, com o acordo dos outros três. O 1º deles apareceu no Projeto Anthology, veja neste LINK, como o dedilhado inicial começa diferente, mas logo migra para o que conhecemos, e como ele troca as linhas do 2º verso. Vejam bem a importância deste som que ouviram: foi assim que a canção mais regravada de todos os tempos (falo disso mais adiante!) veio ao mundo das gravações! O resto da sessão foi gasto em discussões sobre o que fazer com a canção, e George Martin logo viu que ela merecia algo revolucionário, e convenceu os demais Beatles que aquela deveria ser uma canção solo de Paul, no violão, acompanhado de um quarteto de cordas, o que seria a primeira vez (e foi) na história de uma banda de rock. John,  George  e Ringo aceitaram, mas com a condição que não fosse lançada em single, por ser muito diferente do que os Beatles lançaram até aquele momento. Reuniram-se Paul e Martin na casa deste último, no dia seguinte. A exigência de Paul é que as cordas não tivessem vibrato, e também sugeriu um tom de blues, que foi introduzido ao violoncelo, em meio à ponte A pauta foi escrita em uma tarde. Os músicos (dois violinos, uma viola e um violoncelo) gravaram no dia 17, Paul estava presente. Ficou maravilhoso, John até aplaudiu quando ouviu a 'blue note' sugerida por Paul! Depois, veio o único overdub, do vocal dobrado de Paul em um trecho da ponte! 
Yesterday entrou no Lado B do LP HELP!, não fazendo parte da trilha sonora do filme. Ela iria terminar o álbum, mas consideraram esquisito um disco de rock terminar com uma balada, então colocaram na posição 14 a cover de Larry Williams que haviam gravado para o mercado americano, Dizzy Miss Lizzy. No Ed Sullivan Show, quando tocaram Yesterday, George apresentou Paul, e ele, John e Ringo abandonaram o palco, e Paul canta, acompanhado pela orquestra gravada. Vejam, neste LINK, e notem como as garotas param de gritar! Já nos demais shows ao vivo, a banda fica e acompanha Paul, mas num arranjo em G (SOL Maior).
A original é em F (FA Maior). Percebam, neste LINK, a mudança do tom. Nos EUA, aonde eles não tinham muito controle sobre o lançamento de suas canções, ela foi, sim, lançada como single, tendo Act Naturally, com Ringo, no Lado B, e foi logo ao 1° Lugar, sendo a quinta de seis canções consecutivas dos Beatles a ocupar aquele posto naquele glorioso ano. As 
outras eram I Feel Fine, Eight Days a Week, Ticket to Ride, Help! e We Can Work It Out!
Que fase, hein?!!
A repercussão foi a melhor possível e impossível e inimaginável. Logo após o lançamento, vários cantores a gravaram, e essa contagem só foi subindo ao longo dos anos e décadas, e ela é a mais regravada canção da história da música popular, com números variando entre 2.000 e 3.000, a depender da fonte, contando as versões instrumentais e orquestradas. Dentre os mais afamados, Frank Sinatra, Elvis Presley, Ray Charles, Matt Monro, Johnny Mathis, John Denver, Marvin Gaye, Shirley Bassey, The Supremes, Neil Diamond, Roberta Flack, Dionne Warwick, Willie Nelson, Sarah Vaugn, Trini Lopez, e no Brasil, claro, também, Martinha, Vanusa, Simone e até Agnaldo Timóteo, com uma versão, chamada ... Ontem!!! 
Para completar, um caso pitoresco. Houve um momento, em que eles estavam tão indefinidos se iriam lançar ou não a canção, que ela foi oferecida a um certo Chris Farlowe, que A RECUSOU POR SER MUITO LENTA!

Ganhou o título de Homem de Visão de 1965 

  
  

Outros capítulos das Beatles Self Songs

As 6 Dream Self Songs dos Beatles - Neste LINK

As 6 Mind Self Songs dos Beatles - Neste LINK

As 3 Body Self Songs dos Beatles - Neste LINK

As 4 Help Self Songs dos Beatles - Neste LINK

15 comentários:

  1. Dentre tantas composições inesquecíveis, Yesterday somente perde para Something no conjunto da obra. Nem vou enumerar as outras canções que realmente curto para não cansar meus dedos.

    ResponderExcluir
  2. Curto demais a composição Yesterday. É maravilha.

    ResponderExcluir
  3. Talvez seja a melhor música dos Beatles...

    ResponderExcluir
  4. Música linda, atemporal. Muito bom ler seu texto. Parabéns

    ResponderExcluir
  5. Yesterday não é minha preferida, mas é uma obra-prima. Pelos acordes em queda do baixo, pelas passagens harmoniosas, pela bela e sensível letra. Você ressaltou muito bem as rimas internad, coisa que Paul aprendeu a fazer bem.
    De fato,a gravação do disco é em F. Talvez pelo arranjo com o quarteto ("sem vibratos!", como Paul exigiu), sei lá. Mas ela foi composta em G, como fizeram e como Paul ainda faz. Há um "rascunho" de estúdio onde Paul mostra a música e os acordes: "Estou em G...B... Em...".
    A sonoridade do violão em G é perfeita, assim como as quedas do baixo/bordão. Quando canto essa, o faço desavergonhadamente em C...kkk

    ResponderExcluir
  6. Paul sempre nos entregando obras primas dentro dos Beatles, ele é uma máquina de canções bem feitas, Yesterday é uma obra inesquecível que sempre está lá para nos maravilhar.

    ResponderExcluir
  7. Obrigada por trazer novas informações. Pelo menos eu não sabia que John participou sim. Ele deu a sugestão de uma única palavra. Pronto: que parem de falar que é só de Paul. É Lennon/McCartney.

    Jogo aqui coisas que li por ai sem comprovação: a primeira pessoa que ouvia a musica foi a mãe de Jane. Logo cedinho quando ele acordou com a música na cabeça ela a chamou para ouvi-la. Não seria plágio? Não seria de Leonard Bernstein? E foi ela quem teria sugerido o quarteto de cordas. Ela tocava oboé na filarmonica de Londres. Ou na simfõnica, não sei qual orquestra. Foi professora de música de George Martin.
    Logo de cara John, George e Ringo a rejeitaram por ser "diferente do estilo deles". Ainda não sabiam que não podiam ser classificados. Ainda não sabiam que uma das suas maiores qualidades era examente a capacidade de inovar e revolucionar a música popular. Não sabiam que a partir daí estariam trazendo os mais variados estilos...até música indiana que nunca tinha sido antes usado no rock. Ainda não sabiam de seu poder de abrir portas influenciando a todos. Pois assim que jogaram quarteto de cordas na música outras bandas comearam a buscar inspiração no classico. Penso que As tears goes by veio logo a seguir. Dos Rolling Stones
    Então pensarem logo em Mat Monroe que também gravava no mesmo estúdio produzido por Martin. Ele de fato gravou a musica. Foi grande sucesso na voz dele aqui no Brasil.
    Veio uma conversa que Roberto Carlos gravaria uma versão em português. Mas, como sabemos, isso nunca aconteceu. Eu ainda lembro da reação de um radialista da Record ouvindo Yesterday pela primeira vez. Fascinado. impressionado com a capacidade de inovação dos Beatles. Naquele tempo as pessoas todas sabiam que tudo que lançavam era deles. Ninguém ficou falando que era só de Paul. Era dos Beatles. E era mesmo.

    ResponderExcluir
  8. E tem a história da Iris Caldwell. Vi uma entrevista dele falando sobre isso. Como sabem Iris, irmã de Rory Storm, namorou dois Beatles. George e Paul. Não sei porque rompeu com George ( foi ela quem mandou ele embora) mas ela contou porque rompeu com Paul. Se já conhecem a história me desculpem. Não garanto ser verdade. Mas garanto que Iris deu essa informação.

    Ringo já estava na banda. E chegou atrasado para um ensaio. Explicou o motivo. Tinha tinha tido um acidente com o carro, teve de parar...Até atropelou um cachorro. Iris, que era apaixonada por cachorros, perguntou o estado do bichinho. Tinha sido socorrido? Ringo disse não saber. Não tinha como socorrer, já estava atrasado...Ela ficou chocada. Era a primeira coisa que ele deveria ter feito. Paul entrou do lado de Ringo. O cachorro não teria importância. Ela nada disse. Se levantou e foi embora para sempre.

    Paul foi até a casa dela. Mas Iris não quis falar com ele. Mandou a mãe dizer que estava tudo acabado porque ele era insensível.

    Chega o ano de 1965 e Paul liga para a casa dela. Novamente fala com a mãe da moça...( que ficou amiga de Paul até seu estranho falecimento junto ao filho Rory). Pediu que ligassem a TV naquela noite porque ele estaria apresentando uma canção nova. E achava que depois de ouvi-la Iris mudaria de ideia sobre ele. Que não mais diria que ele sera insensível. Bem, a música era Yesterday.

    Por que ela tefe de ir embora eu não sei ela não disse...Eu falei algo errado...
    De fato se parece com o ocorrido. Sendo verdade a música foi dedicada a Iris Caldway. Bem possível, porque diferente de John, Paul escreve canções sobre sentimentos passados. Não apenas sobre seu momento presente. É um memorialista. E ainda guarda muita coisa que sente apenas para ele. Prefere dizer que talvez seja para sua mãe...como se não fosse uma canção de amor romantico.

    Importante: Ringo não tinha atropelado cachorro algum. Mentiu para ver a reação de Iris. Sabia que ficaria aborrecida porque era alucinada por cachorros. Tinha sido uma brincadeira boba...Paul entrou...Logo ele igualmente apaixonado por animais.

    ResponderExcluir
  9. Uma vez sonhei descendo pelo jardim da casa onde moro...Yesterday no com orquestra de violinos. Estava lindo! De rpente fui atacada por um vampiro. rs rs rs

    Eu gosto de todas as gravações que conheço. A de Matt Monroe é preciosa. Mas a que mais me toca é exatamente a dos Beatles. O momento que entra a orquestra de cordas me leva ao céu.

    Homero, quero agradecer pelos seus comentários importantes sobre a música em si, sobre as rimas! Eu nunca vi nada assim antes sobre os Beatles. Você nos trás algo completamente novo. Nossa, como tenho aprendido.

    ResponderExcluir
  10. Esta música é linda. Uma melodia fantástica e uma letra meio deprê! Uma das joias da banda

    ResponderExcluir
  11. Esta frase “eu acredito no passado” sempre me intrigou. Como alguém pode crer em algo que já passou ? Ou será que acredita que o passado influenciará o futuro ? Seria muito mais fácil entender se a frase fosse “eu acreditei no passado”, pois aí ficaria claro uma conotação saudosista , quase um lamento . Mas o verbo “acreditar”, no seu tempo presente, falando do passado , para mim é intrigante .

    ResponderExcluir
  12. Talvez tenha querido dizer que acredita que não tinha mais jeito. Acredita no que aconteceu no dia anterior. Acredita que ela não voltaria.
    A propósito me lembrei de John cantando Yesterday naquela noite de aniversario dele num hotel em Nova York em 1971. E é ele mesmo cantando. Não é Steve Riks. Para quem não conhece Riks eu recomendo...Ele faz imitações de todos os Beatles - e muita gente mais - de forma cômica. E muita gente pensa que são os Beatles cantando....Nâo percebem que é gozação...Gozação respeitosa. ele é fâ. De vez em quando mostra festas com John cantando músicas de Paul...
    Bem existe mesmo um áudio do verdadeiro John cantando com um grupo de amigos celebrando seu aniversário. Eles cantam uma música do Ram. E John entra com Yesterday. Mas muda o pronome. Why he had do go I don't know he wouldn't say. Daí que muitos se perguntam se estava pensando em Paul quando cantou a música. Impossível saber ao certo o que se passava na cabeça de John.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pela explicação . Meu modelo mental de Engenheiro, um pouco mais cartesiano , me impediu de ver assim

      Excluir
  13. A mais regravada canção popular de todos os tempos, _Yesterday_ (“Ontem”) veio num sonho de Paul McCartney, quando namorava Jane Asher. A melodia veio tão pronta e tão completa, que ele temeu ser plágio. Somente após apresentação a seus pares, a George Martin e a alguns amigos, convenceu-se da originalidade da melodia. A letra veio depois da sugestão de John, de usar apenas uma palavra como título; e Paul logo pensou em: _Yesterday_.
    A repercussão foi a melhor possível - inimaginável!
    Foi gravada por: Elvis Presley, Ray Charles, Johnny Mathis, Trini Lopez, pelos brasileiros Timóteo, Simone, Vanusa e por muitos outros cantores.
    No _Ed Sullivan Show_, nos EUA, George apresentou Paul, e saiu do palco com John e Ringo, enquanto Paul cantava, acompanhado pela orquestra gravada; e as garotas paravam de gritar.
    Glória total!

    ResponderExcluir