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segunda-feira, 22 de março de 2021

Blackbird, FLY!!!

Esta canção é a  canção do Lado B do 1° LP  do Álbum Branco

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 14 canções com Discurso para um Grupo

                                        as demais 13 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

11. Blackbird    (Group Speech Song by Paul McCartney)

Paul convoca "Pássaro negro cantando na calada da noite, pegue essas asas quebradas e aprenda a voar. Durante sua vida toda você só estava esperando este momento para decolar' 

Paul diz às garotas negras, ou blackbirds (O Grupo), que mesmo com suas asas quebradas, aprendam a voar, este é o seu momento!  Bird é como os jovens ingleses chamavam as garotas, e Paul lembrou do que ocorria do outro lado do oceano, com a luta pelos direitos civis! Quando elegerem uma canção para mostrar como os Beatles estavam começando a se separar, decerto que Blackird é uma candidata prominente. Apenas Paul, sua voz, suas mãos e seus pés, cujas batidas foram captadas e gravadas na linda canção. Ah, sim, e o canto de blackbirds de verdade. Um conjunto de acordes maravilhoso! Está entre as 10 canções mais regravadas da história. Ah, sim, Paul tem outras 3 nessa lista, sendo Yesterday a campeã. As outras são Eleanor Rigby e And I Love Her. 
 
Letra curtinha, mensagem profunda. Pena que ele não deixou claro esse significado à época, ao menos que eu tenha notícia. Dois versos e um refrão, e depois repete o primeiro verso e o refrão. Em cada verso, a convocação "Blackbird singing in the dead of night" e o tempo "all your life" são repetidos. Muda o conselho: no Verso 1, diz pra aprender a voar, mesmo com as asas quebradas, esse é o momento de decolar ("fly-arise"), e no Verso 2, pra aprender a ver, mesmo com os olhos cansados, esse é o momento de ser livre ("see-be free"). E no refrão, incita a voar mesmo na noite escura! Muito bom! 
 
Blackbird foi apresentada aos demais na casa de George em Esher junto com as demais que vieram do retiro na Índia. Ela foi foi feita em sua casa de campo na Escócia (é... Paul resolveu abrir a mão e compras umas propriedades), no hoje famosíssimo Mull of Kintire, para o qual Paul fez uma canção linda, com centenas de gaitas de fole, que foi recorde de Guinness por décadas, de venda de um compacto no Reino Unido. O aroma do campo foi inspirador! Os companheiros de banda devem ter ficado espantados com os acordes no violão. Só na segunda linha do refrão, que tem apenas três sílabas ("Black-bird-fly"), tem 6 acordes!

 
 Dá só uma olhada na sheet music ao lado, na qual tomei a liberdade de riscar o nome do "co-autor" da canção, pelo tamanho
nulo de sua colaboração na composição: são 28 acordes! Não sobrou uma nota com inveja. Estão todas lá: C-D-E-F-G-A-B ou DO-RE-MI-FA-SOL-LA-SI, para os leigos.  Até me lembrei de quando a nota MI teve inveja por não aparecer no metafísico acorde inicial de A Hard Day's Night, para depois voltar triunfalmente no acorde maior poderoso que finaliza A Day In The Life e o álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Bem, chega de divagação! 
 
Paul estava ansioso para ouvir sua canção com qualidade de estúdio e ela foi a primeira que ele apresentou para ser gravada no Álbum Branco, logo no 4° dia de gravação, um glorioso 11 de junho que viu nascer, e ser finalizada, a primeira canção solo de Paul McCartney Os três primeiros dias haviam sido dedicados a John, em versões de Revolution. Blackbird não foi a primeira canção solo de Paul em discos dos Beatles, ele havia cantado uma, ao violão, mas estava acompanhado de uma pequena orquestra, em Yesterday, mas aqui, é ele, só ele. George e Ringo, inclusive, estavam fora do país. John ainda apareceu na gravação, ficou meia hora lá pensando em como poderia contribuir, chegou a acompanhar no violão e no piano, mas logo partiu pra outro estúdio, carregando o produtor Chris Thomas, e, claro, Yoko Ono foi atrás, para se dedicar àquela salada de sons que seria Revolution 9. Não foi aquela a única vez em que isso aconteceu, de dois (ou mais) compositores trabalharem em separado no mesmo dia em Abbey Road. E falando em Yoko no estúdio, prática que se repetiria bastante amiúde, Paul também trouxe a namorada a tiracolo, uma certa Francie Schwartz, dias após terminar um relacionamento de quatro anos com Jane Asher. Bem, Paul pediu a Emmerick que a canção soasse como se estivessem ao ar livre, ao que o produtor respondeu: "Então, vamos lá pra fora!". E foram a uma pequena área livre, com jardins, mas com espaço apenas para o banquinho para Paul sentar, e assim foi! Estava uma bela noite de verão e, inclusive, uma pequena porção dos sons que se ouve, de pássaros, são realmente naturais, apesar de os mais fortes terem sido mixados depois. Paul só encontrou a perfeição, de voz e violão, após tentar 32 takessendo 11 deles completos!! Lá pelo meio, você nota que a canção para, e recomeça, isso foi ideia de George Martin, que tinha a intenção, e era vontade inicial de Paul, de colocar ali um arranjo de cordas. Depois, decidiram deixar assim mesmo! Enquanto Paul tocava, ele acompanha batendo o pé no chão e Emmerick decidiu microfonar a batida, que se ouve perfeitamente na gravação final! Por sobre o take final, Paul ainda dobrou seu vocal no refrão, e estava terminada a canção, magistral. A canção ainda tem um verso apenas tocado e dedilhado, e também uma ponte, com melodia diferente, que vem após a parada, aquela que introduziria um arranjo de cordas, mas acharam melhor deixar as cordas apenas do violão. A se notarem as constantes variações de tempo, 4/4, 3/4 e 2/4 permeiam por toda a canção, às vezes mudando de um compasso para o outro, numa mesma linha lírica. Um primor! Como final, perfeito,  Paul repete duas vezes a última linha do refrão, como um reforço da mensagem: "You were only waiting for this moment to arise". 
 
Siiiiim, aqui não precisaremos recorrer a The Analogues para ver uma apresentação ao  vivo da canção! Blackbird é uma favorita de Paul, ela está nos set lists de seus shows desde a época de Wings, em 1975 (vejam que voz suave, ainda novinho, 33 anos, aqui neste LINK), e depois frequentemente desde 2002, é só procurar, mas eu escolhi este aqui, neste LINK, mais recente, de 2018, até como um contraponto com o primeiro, pra se ver o efeito do passar dos anos em sua voz aos 76 anos, inexorável! 

 


7 comentários:

  1. Excelente caro Homero, é uma música fantástica, ainda mais depois de dissecada em seu blog, para entendermos mais profundamente.

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  2. Que legal, não sabia que a ideia da parada do meio era do George Martin!
    Toco essa música, e é realmente uma progressão muito difícil, ainda mais pra um canhoto com um violão.
    Paul genial!
    E também Bach,dizem que foi inspirada em algum trecho dele.
    Parabéns Homerix!

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  3. Essa canção tem uma força gigantesca e sutil. Aqui deixo minha admiração pela análise do grande Homero, mais um presente que tenho a honra de receber! Obrigada!

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  4. Essa é uma música que ficaria boa de qualquer jeito !! Obra prima de Paul McCartney !

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  5. Ler Homero obriga o meu espírito a ter a representação musical presente. Ela está sempre omnipresente. Está foi a música que levei nas provas de ingresso no Curso de Guitarra Hispânica de Lisboa. É entrei e lá fiquei. A primeira Música que a minha filha aprendeu na guitarra, acreditam. Tem muito significado para mim.

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  6. Eu não me lembro quando fiquei sabendo que as meninas americanas lutando para estudar foram inspiração para a música. Mas já faz um tempão. Foi ainda no século passado. O bonito é que alguns anos depois Paul se encontrou com elas. Ele foi cantar na mesma cidade onde vivem e as recebeu no camarim. Há fotos do grande momento. Muito lindo isso.
    Paul explicou certa vez que todas as suas mensagens políticas são sutis. Prefere assim. Claro que não foi nada sutil em Give Ireland Back to the Irish, mas deu no que deu: a musica foi banida. Entao prefere falar de forma poética que pode ser interpretada de outras maneiras. Infelizmente aquele senhor que matou sete pessoas colocando a culpa nos Beatles ( eu sei seu nome mas me recuso a dizer) interpretou Blackbird como um pedido de um levante contra os brancos. Por isso ele saiu matando gente...

    Gostei imensamente da versão da musica feita por Carlos Drummmond de Andrade. Como certeza você conhece. Mas alguém pode não conhecer e aqui está.
    MELRO
    Tradução: Carlos Drummond de Andrade

    Melro que cantas no morrer da noite,
    com estas asas rotas aprende teu vôo
    A vida toda
    esperaste a hora e a vez de teu vôo.

    Melro que cantas no morrer da noite,
    com estes olhos fundos aprende a ver
    A vida toda
    esperaste a hora e a vez de ser livre.

    Voa, melro, voa, melro,
    para o clarão da escura noite.

    Voa, melro, voa, melro,
    para o clarão da escura noite.

    Melro que cantas no morrer da noite,
    com estas asas rotas aprende teu vôo
    A vida toda
    esperaste a hora e a vez de teu vôo
    esperaste a hora e a vez de teu vôo
    esperaste a hora e a vez de teu vôo.

    E para terminar agradedeço pelos comentários e informações preciosas da gravação. Não sabia que ela pausa seria para acrescentarem algo mais depois...Mas deixaram do jeito que estava e ficou simplemente perfeito.

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