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domingo, 26 de outubro de 2008

AWoL - Cuidados no trabalho

O puritanismo extravasa para as relações do trabalho, onde qualquer movimento fora dos padrões rígidos de conduta pode ser tachado de assédio sexual, qualquer aproximação homem-mulher abaixo das polegadas regulamentares de distância pode gerar uma reclamação por escrito. Lembro-me da reação de uma americana ao ter seu ombro tocado por um brasileiro no meio de uma conversa amigável, com o inocente “Veja bem, minha cara ...”, ao que foi retrucado com um “Did you really touch me?”, episódio logo resolvido, porém, foi marcante. Senti que a coisa foi melhorando, afinal, é impossível manter distâncias num ambiente de muitos brasileiros e, no final, em certos eventos, pintavam até os típicos dois beijinhos, até mesmo abraços fraternos.
Há também que se ter muitos cuidados, a começar pelas entrevistas de admissão de um novo empregado, onde não se pode pensar em fazer perguntas pessoais, se é casado e tem filhos, por exemplo. Orientação política, sexual ou religiosa, nem pensar. Na lista de perguntas proibidas chega a constar peso e altura, se bem que isto deve ser aplicado a cadastros, já que são coisas que, no visual, dá para avaliar. Se a empresa precisa por exemplo que o empregado se locomova entre uma locação e outra da mesma empresa, não pode perguntar se tem carro, mas apresentar a questão de forma genérica, apresentando a necessidade. A qualquer deslize, corre-se o risco de a empresa ser acusada de discriminação, no caso de a pessoa não ser aceita. Imagina exame médico de admissão, então!
O valor da privacidade é tamanho, que foi difícil implementar o programa de exames médicos periódicos patrocinado pela empresa. O que aqui é tido um benefício, lá foi inicialmente considerado uma invasão, já que a empresa não poderia ter a guarda da ficha médica do empregado. Foi necessário um trabalho de base, de esclarecimento, numa tentativa de mudar a idéia da galera, mas até hoje, a coisa é mal resolvida.
Cuidados também há que se ter na liberdade de idiomas e de religião, já percebida nas entrevistas, ainda mais num ambiente diversificado. Claro que houve um episódio envolvendo um brasileiro engraçadinho que disse, brincando, para dois chineses pararem de falar chinês, o que gerou uma reclamação por escrito, afinal brasileiros falavam português entre si, a todo momento, e acabou em advertência ao funcionário tupiniquim sem graça.
Com relação à religião, o episódio foi uma prece protestante divulgada por uma americana negra, ooops, afro-americana, pelo alto-falante central, em homenagem aos mortos de algum desastre natural, tudo bem, o motivo foi justo e legal, mas foi educadamente contestada por um budista, em nome da liberdade de religião. Em suma, todo cuidado é pouco!

5 comentários:

  1. No Japão, país em que tocar alguém também não é nada bem visto, uma das secretárias já estava tão acostumada com os brasileiros que nos cumprimentava com dois beijinhos!

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  2. Confesso que apesar de exagerado, prefiro o sistema americano ao brasileiro...
    Exame médico admissional é realmente uma invasão de privacidade e também deveria ser proibido por aqui.
    E confesso que, como sou um brasileiro atípico, também sou avesso a muitos abraços e beijos com colegas de trabalho, principalmente em comemorações de aniversário...

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  3. Invasão de privacidade ou não, a questão é que existem exames de saúde para admissão e demissão, por questões legais, pois muitos trabalhadores após sairem dos empregos, entram na justiça requerendo indenizações pelos problemas de saúde que o dia-a-dia do trabalho, lhes causou. Sejam os problemas de saúde causados ou não pelo trabalho. Isso a justiça é quem decide.

    Sendo assim, trata-se de uma segurança para ambas as partes (empresa e trabalhador) e não invasão de privacidade.

    D qq forma, como nós humanos sempre usamos a criatividade seja para o bem ou para o mal, tais exames são usados para também discriminar trabalhadores na hora de selecionar admissões.

    Mas, como tudo que é tratado na justiça, até neste ponto, há versões sobre isso ser certo ou errado, sobre ser considerado discriminação ou não.

    Considero que alguns pontos sobre cultura não se discutem (como a que crença o povo quer adotar), porém outras sim, devem ser discutidas (como o tratamento que as mulheres recebem nos países com maioria islâmica ou realizar matança de milhares de animais na Índia, em homenagem a algum Deus), mas acho que a reação da americana (did u really touch me) e a punição do brasileiro (se ele realmente deixou claro que era brincadeira) foram extremos que não deveriam ter acontecido. Apesar da americana ter todo direito de não ser tocada e dos chineses, de não serem envolvidos em brincadeiras.

    Porém, como brasileiro importa tudo, inclusive cultura e geralmente sem muito questionamento, tais decisões devem ter sido tomadas por um chefe brasileiro "importador" e não "educador", que deveria alertar os novos funcionários brasileiros, tão logo chegassem à empresa, da mesma forma como deveria também alertar aos funcionários de outras nacionalidades sobre a probabilidade de ocorrer estes tipos de situações, apesar de estarem todos avisados.

    Entretanto, como diria aquele grande filósofo do BBB : "faz parte..."

    Ótimo texto,
    RR.

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  4. Homerix, sinceramente, com todo respeito às regras dos americanos... e de quem comungue no mesmo tom...combinar educação, com naturalidade, respeito, expotaneidade, sinceras intenções... é um conjugação de coisas complicadas.Como é hoje o entendimento de bullying que se faz. Quantos no passado foram e não souberam as origem se suas travas, na familia, escola, e no trabalho. Enfim o justo entender de uma superior visão há de colocar no "inferno aqueles bem intencionados" que falham ao entendimento do outro (pseudo julgador dos destinos finais).
    Paulus

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  5. Para mim como brasileiro já foi difícil compreender atitudes como a da americana "ĉu vi vere tuŝis min", mas eu mesmo já me senti um tanto invadido ao ser obrigado por amigos turcos a cumprimentar com um abraço e dois beijinhos (afinal sou homem, e eles também).
    Mas aprendi que cada cultura tem suas distâncias. Se uma mulher chega a menos de 1 m de alguns indianos ou nepalanos, eles literalmente pulam para trás, e vejo isso acontecer com freqüência aqui na Dinamarca... 8-|

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