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sábado, 1 de junho de 2013

AWoL - Transporte



Parte do projeto Um Pouco de American Way of Life
Detalhes? Aqui:
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Basicamente, anda-se de carro, em Houston. Como visitante, a solução é o Rent-A-Car. Começa numa imensa central de aluguel de carros, onde uma dezena de provedoras põe milhares de carros à nossa disposição a um custo diário muito superior àquele que você pensou que era quando reservou no Brasil. Enfrenta-se o indecifrável inglês do atendente, invariavelmente afro-americano (às vezes latino), que pede sua ‘driver’s license’, e você fornece a ele aquele documento estranho, em papel, não plastificado feito numa língua ininteligível, de onde ele não consegue decifrar qual das linhas tem o seu nome, muito menos o sobrenome quando encontra a linha (ah, esses alienígenas com seus imensos nomes), enfim. Depois, vem o prazer de pegar um carro, ainda que mid-size, assim mesmo automático, macio, com um estupendo jogo de rodas, e deslizar pelas magníficas freeways, praticando o esporte olímpico de lançamento de moedas, nas praças de pedágio. Desta vez já me aproveitei de um serviço extra: o carro alugado já vinha com o passe (EZ-TAG), por uma módica quantia extra. Ah sim, EZ é uma onomatopéia de EASY, eles adoram isso!
A gente nem se importa com o congestionamento, pois todos estão em seu lugar, raramente saem da faixa, formando aquelas imensas e organizadas filas, usando a política do essa-é-a-minha-faixa-e-daqui-ninguém-me-tira, graças ao modo absolutamente defensivo de dirigir do americano nato: jamais se desviam de algo que acontece à frente deles, a ordem é parar e esperar que a coisa se resolva.
A convivência com motos é super-pacífica, a maioria delas enormes, full-size, estilo Harley Davidson (cinqüentinha, jamais!), harmonizando-se perfeitamente com os veículos de quatro rodas, ocupando o seu espaço como se também quatro rodas tivessem. Jamais se utilizam de sua silhueta esguia para imiscuir-se por entre as faixas, zanzando pra lá e pra cá. Lá, pode-se dizer que existem MOTOCICLISTAS, e não motoqueiros, como aqui (os incomodados com a definião que levantem a voz!). Já a convivência com os eighteen-wheelers, os grandes caminhões de 18 rodas (daí o nome!), não é assim tão pacífica, todos com grande potência, em grande velocidade, passando ao seu lado, normalmente dirigidos por ‘hermanos’ não tão defensivos assim.
Fora das freeways, nas grandes avenidas, é um prazer virar à direita, quando possível, mesmo com o sinal fechado pra você, uma prática simplezinha, mas logiquinha, que poderia ser facilmente adotada em qualquer lugar. A programação dos semáforos (!!!faróis?!!!sinais!!!) é inteligente, para regular a conversão à esquerda, e há a permissão para se fazer um U-turn. Fora das grandes avenidas, em cruzamentos de igual preferência, é impressionante a política do ‘first-in, first-out’ (mais parece controle contábil de estoque!) das placas ‘STOP All Ways’ (ou ‘Four Ways’ ou ‘Three Ways’), quando você tem certeza de que os outros veículos que chegarem ao cruzamento depois de você, vão efetivamente parar, esperando que você, o primeiro que lá chegou, decida para onde quer ir, e somente depois partirão, numa prática que jamais daria certo por aqui. Agora, a demonstração máxima de civilidade no trânsito é quanto um sinal de uma grande avenida está quebrado. Quando é assim, ele fica piscando e vale a técnica do ‘sai-o-primeiro-que-chegou’, mas com o aditivo que, nessas grandes avenidas, pode haver três ou mesmo quatro faixas de rolamento, ou seja, três ou mesmo quatro carros chegam ao sinal ao mesmo tempo: não tem problema, a coisa funciona do mesmo jeito, chegam os carros, param, e esperam os outros saírem e, quando chega a vez deles eles saem, e vão para as mais variadas direções, frente, direita, esquerda, mas como todos os outros estão parados, não há risco de acidentes! Incrível! 

Claro que houve colegas que absolutamente não conseguiram se acostumar com a coisa, e saíam na hora que bem entendessem, por vezes levando multa.  Um cuidado que TEM QUE SE TER que ter é não confundir a placa ‘STOP All Ways’ com a placa ‘STOP’’ somente, em cruzamentos de preferência distinta, onde você tem que se lembrar que os veículos da via de maior preferência NÃO VÃO parar, depois que você parou, e que você SÓ PODE seguir, quando realmente não houver a ameaça de um outro veículo chegando.
Pude testemunhar a ocorrência de mais um daqueles acidentes banais, que, não importa o tamanho, ou gravidade, ou o nível de lesões corporais, se tanto, geram uma parafernália no trânsito: chega bombeiro com paramédicos, chega ambulância com mais paramédicos, chega polícia pra registrar a ocorrência (para evitar problemas com o seguro) e, mais interessante, chegam 3 ou 5, às vezes 10 carros-guinchos, que estão sempre atentos na freqüência da polícia, para disputar, no palitinho (mesmo!), quem vai levar os veículos (super!) danificados para a oficina, e faturar a graninha (que o seguro cobre). 
Pude também sofrer um pouco com a constante síndrome de manutenção e ampliação de estradas e da construção de viadutos, aumentando sempre aquele emaranhado arquitetônico de espantar a visão, podendo ali enxergar-se cada centavo do imposto e pedágio que se paga.
Já aqui ....
Mais uma sobre Trânsito? Clique aqui:
http://blogdohomerix.blogspot.com.br/2008/10/awol-aos-infratores-lei-transporte-2.html

8 comentários:

  1. Nooossaaa....quanta civilidade.....se eles fossem assim no mundo....e a tal coisa...na minha casa sou assim...fora....(já viu que eu gosto de um pouco de critica para desconstruir as coisas...rs...rs...) Bjs, Carol

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  2. E as nossas operações asfalto ondulisos continuam com sua propaganda farta. Já o serviço...
    A cada bueiro, um susto ou um xingamento pela pancada que o carro dá!
    Além disso, até onde tenho visto, estão "esquecendo" de colocar as faixas divisórias, ficando a pista um grande e mal-e-porcamente-feito piso esquisito preto.

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  3. É meu preclaro Homerix... dirigir com esta organização de ordens, preferenciais, e outras sortes de metodismos, é muitíssimo legal, para eles, que culturalmente foram adestrados nestas direções, desde o início do drive license... em nosso caso depois de uma exaustiva desordem feliz... para alguns seria neurotizante!!!!!!!!!! né?
    Paulus

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  4. No outro post mencionaste que a cidade é plana... Tem ciclovias? Tem muitas bicicletas ocupando as ciclovias?

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  5. Oi, Gert! Ciclovia em Houston pra quê?

    Lá todo mundo anda de carro!
    Acho que a bicicleta, se houvesse, poderia andar tranquilamente nas calçadas desertas. :-D

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  6. Caro Homerix,

    Nunca fui aos EUA, quanto mais a Houston. Mas, acredito em você !!! mas, também acredito que essa organização toda reflete a sua impressão, não a realidade.

    É exatamente como aquele papo furado de quem é de fora de SP e tem a oportunidade de dirigir por suas ruas e invariavelmente volta para sua terra natal dizendo que é uma maravilha, pois basta você piscar o farol e o carro da sua frente lhe dá passagem. Uma vez, OK. Duas, OK. Mas, só. Não dá para dizer que o povo de lá é mais civilizado no transito do que o resto do Brasil.

    Algo tão complexo (e paradoxalmente simples) como esperar sua vez de avançar um cruzamento, dependendo apenas de auto-gerenciamento humano e civilidade, é utopia.

    Mas, tenho fé q o mundo um dia será, como aquele mostrado em jornada nas estrelas....

    Obrigado pela experiencia.
    Abs,
    RR

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  7. Dois episódios vividos por mim nos USA para corroborar seu post:
    1) Em 1989 estava em S. Francisco quando houve um grande terremoto. Felizmente nada me aconteceu pois estava manobrando o carro num daqueles amplos estacionamentos. A cidade ficou sem gás, sem água e sem energia. Todos os sinais de transito apagados mas o transito não deu nó: todos passaram a se comportar adotando o procedimento "stop-4-way" em todos os cruzamentos, inclusive os de avenidas com várias faixas de rolamento.
    2) Eu e um grupo de colegas estávamos em Dallas, em 2003, para um curso de aperfeiçoamento. Um dia resolvemos jantar num restaurante na quadra em frente ao hotel e fomos andando. No caminho, fomos abordados por policiais que acharam muito suspeito aquele grupo andando à pé. O certo seria ir de carro, mesmo a uma quadra de distância...
    Sds, Nagle

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  8. Homero,
    Qdo vim para Houston em Janeiro de 2006, levei algum tempo para a adaptacao a este 'modo de vida'. O sinal de STOP nao era para dar aquela reduzida, e sim literalmente para parar o carro. Depois aprendi a regra de contar 1000 e 1001. Parar o carro e conta mil e sair com o carro no 1001. Hoje, depois de mais de 7 anos morando em Houston, temos a certeza que aquela impressao inicial de visitante, desta organizacao e educacao no transito, eh na realidade um modo organizado de viver e um sinal de respeito com o proximo.
    Claro que tem sempre um ou outro que nao respeita a regra basica de educacao no transito, sai na frente dos outros, e tudo o mais. O legal eh que o pessoal releva, sabendo-se que trata-se de um estrangeiro nao acostumado, isto quando a policia pega para dar aquele 'warning' que eh uma bronca bem educada, ou uma multazinha basica (com opcao de voce voltar para a escolinha de transito).
    Abracos,
    Mastrangelo

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