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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Getting Back to all those years ago

Eis o primeiro episódio do documentário Get Back, 

espetacular, extasiante, torturante... 

terminei este relato em 1º de dezembro... 

Vamos lá!!

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Peter Jackson abriu com um resumo sensacional da vida da banda desde 1956 até aquele 2 de janeiro de 1969, onde encontramos um estúdio vazio, enorme, um sujeito varre o chão, achei lindo aquilo, e  aparece:



Arrepiante... E vêm os  créditos ... os personagens do 'elenco' sempre identificados à medida que vão aparecendo ... John Lennon... Paul McCartney... George Harrison ... Ringo Starr ... e conhecemos o diretor Michael Lindsay-Hogg, nunca ouvira sua voz... e conhecemos até o jovem roadie ... que traria as comidinhas e bebidinhas ( e não abriria a boca até o final)... E então acompanhamos o calendário..... Dia 1, Dia 2, Dia 3 ... os planos de fazer um show logo no dia 17 ou 18 de janeiro, as discussões sobre o local, talvez uma arena à beira-mar na Líbia, e Ringo batendo o pé que não sai do país (e eu me lembrei das latas de feijão da viagem à índia)...  tudo era filmado ... a chegada deles dia após dia ... 'Happy New Year, Ringo!' E as canções sendo apresentadas, e ensaiadas, e eu me lembro da contagem que fiz em minhas análises, de canções que passaram dos 100 ensaios... e vemos vários clássicos do rock sendo lembrados, às vezes meio sem jeito, mas principalmente aquelas originais Beatle que virariam clássicos..... Paul ensinando I've Got A Feeling e Two Of Us, John liderando Don't Let Me Down ... pena que as harmonias sugeridas por Paul não vingaram de alguma forma, George foi muito duro com elas (e estavam ruins mesmo...), pobre Paul, sempre querendo que as coisas andem ... e George mostrando sua insatisfação, num 6 de janeiro: "eu faço o que você quiser que eu faça...", mas seguem.

No dia seguinte, George apresentando All Things Must Pass, praticamente se desculpando por ser lenta, pena que não vingou, ficou já linda com a harmonia tripla que ensaiaram ali mesmo, mas que certamente ficaria perfeita sob a batuta de George Martin... aliás, eu não me lembrava que o produtor estava presente naquele início, gostei de ouvir a voz dele... e veio Ringo apresentando um esboço de uma canção dele, Trip to Carolina, ao piano (sim, ele tocava bem seus três acordes), e se desculpando por não ter mais letra adicional, sobre outras cidades que 'viajaria', pois tinha ficado ruim, grande Ringo, até me emociono.... e surgiu, do nada, um trecho de Gimme Some Truth, canção que apenas viria à luz com John solo, em Imagine, mas que vimos ali que era uma Lennon/McCartney, e vimos George H trazendo seu equipamento de 8 canais (além de amigos Hare Krishna), e vimos George M já desconfiando do equipamento revolucionário que o tal Alex, o 'mágico' grego, prometeu trazer. e conhecemos o produtor de campo Glyn Johns, tentando sugerir algo... e vemos oldies do baú de John e Paul aparecendo como candidatas até se fixarem na ótima One After 909, que finalmente veria a luz do sol... 

No Dia 4, Paul retribuiu, logo de manhã, antes de John chegar, o mau humor (justificável?) de George, com maestria:  a gênese de Get Back ali, aos nossos embevecidos olhos, ... parecia que Paul fazia um ritual tocando acordes jogados buscando inspiração do Além, e de repente ele é possuído ... e sai "Get back to where you once belonged" com quase um verso pronto, brotando de sua mente, que parecia atuada pelos espíritos do rock..... arrepiante!!! E veio uma discussão sobre o comando do grupo, Paul se justificando por ser tão 'bossy', senão a coisa não andava.... John só olhando a tensão crescente entre os amigos, até que solta um "Come on, girls!". E veio mais um papo sobre o local do show, e vemos que é Paul quem dá a ideia de fazerem num local proibido, 'módissê' interrompido pela polícia... sempre genial...E ouvimos Paul pedir: 'Mal, hammer..... anvil' ou seja, em bom português, martelo e bigorna, só os Beatles para imaginarem tais instrumentos... só o gigante gentil Mal Evans para aceitar tal missão sem pestanejar ... e em seguida, testemunhamos a felicidade do faz-tudo roadie batendo direitinho o martelo na bigorna de Maxwell's Silver Hammer, e os assobios de John, e todos participando daquela pérola de humor negro de Paul, lindo demais.

E lá se foram três dias...

Nos três seguintes dias, vimos a ideia original de fazer de Get Back um libelo contra a repressão aos imigrantes, em divertido exercícios musicais, mandando ironicamente os Pakistanis, que invadiam a Inglaterra, vazarem de volta pra suas casas... do que felizmente desistiram ... não iriam entender a ironia.... e conhecemos Commonweatlth, magnífica ironia ao establishment do império britânico... e vemos George trazendo I Me Mine e John reclamando que valsinha não era adequada a um grupo de rock, pobre George,  esquecendo-se que ele mesmo lançara a valsinha Baby's In Black, quatro anos antes ... mas ao mesmo tempo conduzindo Yoko a uma antológica valsa pelo enorme estúdio... ótimo....  e George trazendo os primeiros movimentos do 12-bar-blues For You Blue ... e dizendo que não queria ter as canções dele no show ao vivo... e vemos John com dificuldade de trazer coisa nova e até apelando para Across The Universe, que fora concluída um ano antes e que estava reservada a um álbum de caridade ... e, por outro lado, vemos um Paul profícuo, trazendo, num só dia, quatro canções, três delas  ao piano, Golden Slumbers, e vemos que Carry That Weight era um projeto para Ringo cantar, e que teria mais letras engraçadas, e na terceira delas, vemos Long And Winding Road on the making, com o grande Mal Evans inclusive sugerindo 'standing here' pra não repetir 'waiting here', nosso gigante roadie atuava criativamente também, e vemos uma invasão real da casa de Paul inspirando-o a apresentar She Came In Through The Bathroom Window... E enquanto a música fluía, seguia a ideia fixa de fazerem o tal show em lugares inusitados ... e falam novamente em Líbia... e falam até em fechar um transatlântico, os diretores tinham a firme convicção de que bastaria os Beatles dizerem SIM, que o mundo estaria a seus pés para fazer-lhes a vontade,  mas na verdade, o que vimos foi que eles iriam mesmo era subir no terraço...  

Aliás, eu demorei pra ver o final... assim que apareceu aquele X sobre o Dia 9 do calendário, 6º dia de gravações, eu enrolei pra seguir adiante ... afinal o dia seguinte seria aquela fatídica sexta-feira, Dia 10 de janeiro, que eu falei em tantas análises. 

Diário de George, 10 de janeiro de 1969

Fui dormir e vi quando acordei, primeiro com a presença do editor dos Beatles, Dick James, que ganhara o 'emprego' quando conseguiu a primeira aparição dos Beatles na TV, em 1963, eu nunca ouvira sua voz, apresentando a novidade da Sheet Music, e os ensaios seguindo, até  o momento em que, após mais uma bronca de Paul (incorrigível), que nem foi com George, mas ele se levanta, e diz que está deixando a banda... e que buscassem um substituto.... 

Pena que não vimos o famoso: "See you 'round the clubs" ... e picou a mula, e escreveu no diário: "Acordei, fui a Twickenhamm, ensaiei até a hora do almoço, deixei Os Beatles, fui pra casa"... que clima.... e após o almoço John, Paul e Ringo tocando meio sem jeito... junto com o microfone solitário de George, todos em estado de loucura, clima ajudado pelos insanos gritos de Yoko, com Paul não entendendo o que seguiam fazendo ali, e John respondendo que estavam apenas fingindo que nada aconteceu... e depois dando uma espécie de data limite, se não voltasse até terça, chamariam Eric Clapton .... e depois chamam George Martin e Neil Aspinall pra discutirem a situação, e fazem o diagnóstico correto, até entendendo a reação de George, e vemos a imagem de estupefação das pessoas, e o diretor Lindsay-Hogg, alucinado, ainda pensando em show, sugerindo que se dissesse que George estava doente... como é que ele não sabia que não existem The Beatles sem George, ou sem qualquer um dos quatro...  e, à saída, os três bem próximos, quase que abraçados na incerteza .... e depois PJ coloca a voz de George com Isn't It A Pity, ô letra apropriada ao momento,  e fala-se sobre uma reunião no domingo, 12, na casa de George .... e vem aquela imagem com uma frase dizendo que ela não foi nada bem .... e cai o pano..... que final!!! Uma verdadeira porrada!

Poucas vezes na vida eu fiquei tão tenso como nesses minutos finais, mesmo sabendo tudo o que aconteceu ... ver acontecendo foi demais pra mim....

Entretanto...

No Episódio 2, viria um bálsamo (ver neste LINK)

No Episódio 3, viria o paraíso (ver neste LINK)

15 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Excelente texto!dá até vontade de rever logo o get back

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  3. Resenha fantástica! Assisti ao 1 episódio com lágrimas! Me impressionei com o carinho do Ringo com todos! Fiquei chateado com o George sempre um pentelho. E a Yoko colada e sempre atrapalhando. A Linda apareceu e ficou de longe, sempre sorrindo, a Yoko deveria aprender com ela.

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  4. Contou tudo deixando passar toda a sua emoção para nós. O ponto alto para mim foi realmente quando o santo baixa em Paul e sai Get Back. Nunca tinha visto nada parecido antes. Que forma impressionante de compor.
    Eu vejo certas coisas que não estão às claras. Eu sinto. O timing de Yoko naquela jam fatídica ( foi a que quase matou meu cachorro) foi bem quando George saiu. Celebração? E mais outras coisinhas. É uma gritaria poderosa. Porque há gente achando que foi genial e de vanguarda ainda por cima. Bem quando todos sofriam..

    Vi certa semelhança entre alguns amigos por ali com puxa sacos de políticos. rs rs rs. Todos rindo quando não era para rir, mas achavam que sim porque John estava fazendo piada.

    Adorei a Commonwheath. Pena que não deu para pegar a letra toda. Se tiver compartilhe conosco.

    E...porém...você perdeu um grande amigo. Lamento imensamente. Eu também perdi uma tia "torta" . Viuva de um dos irmãos do meu pai. Fui ao velório hoje. Uma muito querida tia.

    Peter Jackson cometeu um erro na apresentação. Eliminou Pete Best. Percebeu? Nâo deve ter sido de proposito, claro que não.

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  5. CLIMA pesado... já sentindo as péssimas vibrações daquele ambiente...desde o filme Let It be...

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  6. Acabei de ler!
    S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L

    Já li vários outros textos seus e o que mais me chama atenção é a riqueza de detalhes que vc consegue captar e expor na sua escrita, nos fornecendo elementos visuais que ajudam a compor o cenário imagético em nossas mentes.

    Eu, como dito na live de segunda, no Pitadas do Sal, gostei do Get Back, embora não tenha achado essa Brastemp toda. Achei que o Peter Jackson poderia ter feito outras escolhas na edição. Porém, lendo textos apaixonados (e bem escritos) como o seu e do meu amigo Márcio Grings, fico tentado a assistir tudo novamente para fer se uma fagulha dessa sensação de vcs, com o Get Back, me contamine tb. Acho que eu estou perdendo por não ter tido a experiência de vcs com o documentário!

    Parabéns, meu nobre!

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  7. Passo-a-passo minucioso de quem acompanha Beatles há tempos e já dissecou sua obra com capricho e método. Concordo que o diretor teria muitos enfoques para as 60 horas de vídeo, mas gostei demais do que ele quis mostrar. E estou me restringindo ao episódio atual, que responde a muitas dúvidas e mistérios sobre o maior grupo musical da história. É emocionante o modo como Peter Jackson vai desvendando algumas lendas sobre os acontecimentos que antecederam o final da banda. A evidência - registrada deforma indelével - da saída de George muito antes que Paul anunciasse a sua e a comoção verdadeira que os três demonstram ao ver que a estrutura estava se desmanchando... isso e todo o mais são tesouros para nós, fã-náticos.
    Aquele sonho, já comentado, de que gostaríamos de estar no estúdio com Eles, finalmente está se realizando.
    E tem mais pela frente. Aguardamos, Homerix! Grato.

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  8. Depois de refeito da paulada por estar vendo detalhes da história, revejo tudo em sua fantástica resenha. Como pode estar em estado terminal se vi na banda ( apesar de algum momo estresse ) a alegria da vida a cada momento? Difícil entender porque apiedava acontecendo os últimos momentos juntos.

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  9. Parabéns pela resenha tão completa desse Fenomenal documentário do Peter Jackson. Borromeu

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  10. O que sinto ser importante. Ver tudo sem ideias preconcebidas. Se alguém começar a ver já acreditando que o clima era pesado com péssimas vibrações porque foi dito que sim desde Let it be vai perder a beleza toda. Sim, há momentos pesados. Get Back não pretende passar pano. Mas e os momentos descontraídos? E os momentos de pura magia? E o clima de companheirismo sincero tão forte capaz de romper as más vibrações ao ponto de brindarem o mundo com o mais sensacional show musical do nosso tempo? Não conseguirão ver a alegria deles ali na cena final depois do concerto. Eles estão brilhando! Felizes. Fizeram bonito demais. Valeu, Beatles. Te amamos para sempre.

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  11. Sem igual......perfeito.
    Obrigado por nos proporcionar essa grande obra.

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  12. Assisti confesso que fiquei escandalizada com aquele grude que parece uma bruxa tirada do filme de assombraçao nao sei como eles suportavam a presença daquela mulher me sentiria vigiada sem poder respirar com alguém customizable cada gesto meu Tiro o chapéu para Paul Ringo E George um saco simplesmente ainda bem que sao tao geniais que nem isso os impediu de desenvolver a obra BEATLES IVONE MAIA

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  13. Quis dizer com alguem vigiando cada gesto meu IVONE MAIA

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  14. Encantadora e fidedigna a descrição do Documentário. Parece que a narrativa transporta o leitor de volta aos devaneios e as tensões das filmagens. Parabéns Homerix pela excelência em descrever e emocionar. Laury

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  15. Maravilha de colocações mas não pegou pesado na doidona que só atrapalhava sem nunca ajudar. Acho que o Paul querendo ser o "capo" do grupo sem dúvida era uma reação a ela que fez a cabeça do Lennon e o George ficou de saco cheio, infelizmente.

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