O Projeto Get Back intentava uma volta às origens, com canções tocadas ao vivo e sem efeitos e overdubs, e tudo viraria uma especial para a TV. Para tanto, os Beatles abandonaram o porto seguro da EMI e a produção de George Martin e isolaram-se num estúdio de filmagem. Paul e George mais que John traziam suas novas canções, e ensaiavam e discutiam arranjos e harmonias, frente ás câmeras. Só que o clima ficou tenso e George abandonou a banda. Era o dia 10 de janeiro
Eis aqui como eu contei essa situação, em minha resenha do Episódio 1:
https://blogdohomerix.blogspot.com/2021/12/getting-back-to-52-years-ago.html
Dez dias durou esse afastamento. A perplexidade com a situação e a negociação para a volta do guitarrista determinou o abandono do estúdio de filmagem e a instalação de equipamentos no porão dos estúdios da Apple, onde tudo mudou. Começaram a se entender melhor e ainda veio a cereja do bolo, o tecladista Billy Preston. O astral ficou ainda melhor e ele se encaixou como uma luva. George Martin percebeu que a coisa começava a acontecer, e envolveu-se mais com o projeto.
Eis aqui, minha resenha do Episódio 2 ....
https://blogdohomerix.blogspot.com/2021/12/its-happening-beatles-get-back-episodio.html
Deparamo-nos no Episódio 3 com um Ringo orgulhoso, mostrando sua nova canção a George, que se espanta com o La Menor do amigo, um avanço em seus conhecimentos do instrumento, e irrompe em riso, junto com os demais presentes, quando Ringo diz, após as duas primeiras frases: "It's all I've got..." , e depois tenta sugerir um seguimento. Nosso pouco produtivo compositor havia tido a ideia da canção quando esteve exilado no iate de Peter Sellers na Sardenha após romper com os Beatles alguns meses antes, numa conversa com o capitão sobre o jardim que os polvos construíam no fundo do mar. Logo depois chega John, direcionado á bateria pelo baterista e chega Paul, com Linda e a filha desta, Heather.
Considerações sobre Heathers na vida de Paul
A encantadora e sapeca menina brincou com todos os presentes, vemos momentos muito fofos com ela, então com 6 anos recém completados. Apesar de ter ainda o pai vivo, Paul a adotou como filha. Participou em backing vocals de dois discos de Paul, e desenvolveu um trabalho elogiado como fotógrafa, assim como a mãe; uma outra Heather, Mills, premiada e controversa ativista, casou-se com Paul McCartney em 2002, deu-lhe uma filha, Beatrice, hoje com 18 anos, a cara dele, e tornada Benedict, os pais se separaram apenas meses antes de Paul completar 64 anos e passar aquele ano todo sozinho, sem cumprir a profecia de When I'm 64... aliás, dia 4 é minha vez...
Fim das considerações
E vemos ao vivo os parcos 30 segundos que sobraram da grande jam session de 12 minutos que foi Dig It em Let It Be, e vemos a própria canção título tomando mais um pouco de forma, assim como a longa e sinuosa estrada que levou a mais um clássico... e entre um e outro uma volta ao passado com John homenageando os sapatos suecos do antigo Rei do Rock. e com George apresentando seus velhos sapatos marrons... explicando, Blue Suede Shows X Old Brown Shoes, esta última um excepcional rock ao piano, sendo muito bem recebida por Paul que, aliás, está de bem com tudo e até cantarola duas de John, DLMD e SFF (sim, vocês terão que se acostumar com esse hábito de usar as iniciais do título das canções, conseguem?)... e vem um daqueles momentos, aliás adoro os momentos em que aparece a legenda "Este take é o que aparece em Let It Be", pois então, vem o momento daquele solo fantástico do piano elétrico de Billy Preston que estamos acostumados a ouvir há 51 anos em Get Back, arrepiante... e vemos a genial Something tomar um pouquinho mais de forma, mas ainda com couves-flores ou romãs na letra....
Pausa na música para uma aparição...
Refiro-me à aparição de um nome que seria importante para o futuro rompimento dos Beatles, quando John parece simplesmente apaixonado contando a George e Ringo sobre Allen Klein, que concorria para assumir as finanças do grupo, e vai convencê-los mais adiante naquele ano, contra a idéia de Paul, que queria seu sogro John Eastman para o posto... mas isto foi só uma pausa, o que importa e a música...
ah, sim, houve momentos de gritaria de Yoko, neste episódio que esqueci de mencionar, mas foram bem breves, que bom ...
... mas que apareceria realmente mais para o meio do ano nas gravações de Abbey Road.
Começa então uma ótima reunião sobre o que irão tocar no show, inclusive sobre SE haveria show, Paul ainda estava em dúvida, George inclusive disse que preferia não fazer, mas John queria e Ringo foi muito positivo a favor do SIM, mas o mais interessante é que quando alguém pergunta sobre quais e quantas canções iriam para o terraço, e George Martin saca do bolso uma lista datilografada com todas as canções que foram levadas de alguma forma naquele dia, mas o mais interessante é a ordem que ele as colocou, mas antes ...
... mais uma pausa, desta vez para o idioma inglês...
Quando Martin tirou aquele papel do bolso, eu me lembrei de imediato do verbo que eles usam em inglês para esse movimento, que é 'to produce a document', isso mesmo, aprendi quando fui aconselhado a mostrar uma carta para a imigração caso ocorresse a necessidade: "If such is the case, you produce the letter" !!! Não precisei 'produzir' a carta, mas aquilo ficou em mim para sempre. Então, podemos dizer que George Martin 'produziu' a lista de canções... aliás, muito adequado a um 'produtor' fazer, não é mesmo?E voltemos à ordem das canções em questão, note no printscreen que eu tirei, ao lado. Com sua visão de produtor, dos maiores da história da música, Martin praticamente ofereceu a set list do show. Vejam que das sete primeiras, seis receberam check mark de OK para o show, Don't Let Down, Get Back, I've Got A Feeling, Two Of Us, All I Want Is You (que era o working title de Dig A Pony) e One After 909! Dessas seis, apenas Two Of Us não foi tocada, porque requeria que John e Paul abandonassem suas guitarras e pegassem seus violões, atrapalhando a agilidade do show. É ou não é um grande produtor nosso George Martin? Sua única falha de avaliação foi a colocação de Teddy Boy no Top 7, que não seria nem colocada no álbum, e seria lançada apenas por Paul em seu primeiro disco Solo. Note que as canções após o 'Also' eram as duas de George que disse que não queria nenhuma tocada ao vivo, e duas que somente viriam à luz em Abbey Road (a do banheiro e a do martelo), além de Across The Universe, que já estava programada para um álbum beneficente. E em verdade, não tinha nada a ver com o Projeto!
Um papo entre George e John após essa conversação toda poderia ser a solução para a continuidade dos Beatles. George disse que ele vinha compondo muito, tinha umas 20 canções prontas, mas que na taxa de sua presença nos discos dos Beatles, iria levar 10 anos... e diz que gostaria de gravar logo suas músicas solo, mas preservando os Beatles, destinando algumas delas. para o álbum da banda. ou algo assim... e John achou ótimo... Isso inclusive deve ter originado sua uma ideia que ele proporia após a gravação de Abbey Road, mas que não foi adiante, infelizmente, de os Beatles fazerem um próximo disco, com 4 de John, 4 de Paul, 4 de George e 2 de Ringo. Seria ótimo, não?? Mas....
Vieram então dois momentos top, com todos tocando Dig It, e John listando as canções melodicamente. Muito bom!! E uma divertidíssima gravação de Two Of Us, com os John e Paul cantando com os dentes cerrados. Espetacular!!
E veio o dia do show... 30 de janeiro de 1969.... decerto que já havíamos visto boa parte desse show, mas nunca com essa qualidade, com essa edição, com essa escolha de câmeras dividindo a tela. Foram 42 minutos de gravação, tudo registrado em filme e fitas. Foram cinco canções, todas Lennon/McCartney. Foi interessante ver a reação do público com os primeiros acordes de passagem de som de Get Back, que depois abriu o show, com duas versões, mas nenhuma delas com um solo tão espetacular de Billy Preston ao piano elétrico, como foi a versão de estúdio escolhida para o compacto. Aliás, se tenho algo a lamentar foi a pouca presença de Billy nas imagens, claro que resultado do posicionamento das câmeras privilegiando os quatro astros principais. E vêm imagens da ocupação dos terraços dos outros edifícios, e da ruas no entorno de Savile Row Nº3. Depois, veio Don't Let Me Down, excelente, mas com a famosa escorregada de John na letra, e talvez por isso não tenha sido escolhida. E as reações são diversas, em sua maioria de jovens adorando, com exceção de um que ainda estava magoado pela mudança e amadurecimento dos seus ídolos, ele tinha saudade da Beatlemania. I’ve Got A Feeling veio em duas versões, mas a primeira foi tão boa, com tudo no lugar, vocal esplendoroso de Paul, guitarras envolventes de John e George, que foi para o álbum Let It Be. Estava claro que o quase mês de ensaios valeu muito. Lá embaixo, a maioria dos mais velhos se manifestava favorável e elogiosamente à efeméride, mas alguns, não, e chamaram a polícia. Outra canção que foi direto para o pódium do LP foi Dig A Pony, com o excepcional riff de guitarra perfeitamente executado, sem máculas, e One After 909 e suas harmonias vocais, e o delicioso pianinho de Billy, que garantiram seu lugar no LP Let It Be. Impressionante esta última, pouco conhecida, era uma composição antiga da época do começo da dupla, em 1957, felizmente revivida, pois é ótima. Fiquei constrangido com a situação do policial, tendo que fazer seu trabalho, pois era uma perturbação da ordem, enrolaram ele por muito tempo, até que subiram. Mal Evans chegou a desligar o equipamento de George, que foi lá e religou. Então, veio a última canção, mais uma vez Get Back, com os cantores olhando pra trás pra ver o que acontecia. Paul bradando ironicamente 'Vocês fizeram de novo... cantando no terraço novamente...'
E veio o fechamento irônico de John:
“Em nome do grupo, obrigado a todos,
e espero que tenhamos passado no teste!”
De qualquer forma, o desempenho dos rapazes naqueles pouco mais de 40 minutos foi perfeito, espantaram o vento frio que machucava seus dedos, mandaram muito bem, Ringo estava vigoroso na bateria, com seu casaco vermelho, tudo deu maravilhosamente certo, até mesmo o gran finale, com a entrada da polícia, era tudo o que eles queriam. Na verdade, Ringo até sugeriu que tocassem até serem carregados presos pelos policiais.
Todos deixam o terraço e vemos todos se deliciando no porão com o som que ouviam na sala de controle, e vemos mais algumas gravações... e eu só ficava de olho no tempo restante de documentário, lamentando que estava acabando aquela grande obra que Peter Jackson nos preparou, dedicando 4 anos de sua vida escarafunchando 60 horas de imagens, reduzindo-as a pouco mais de 8, e ficamos nos perguntando quando vão sair as outras 52..... Decerto que as veríamos, mesmo sem edição.... um espetáculo...
O Episódio 1 foi uma porrada!
O Episódio 2 foi um bálsamo!!
O Episódio 3 foi o paraíso!!!
Queremos mais!!!
Bem assim. Deixou gostinho de quero mais.
ResponderExcluirE eu com minhas deduções diferentes. I want you não parece ser para Yoko. Eu não sei se John falou que sim... Mas se foi para ela então...que terrível, hein? Porque ela é pesada demais. Será que John diria isso da sua mulher? Ela é pesada mesmo, mas acho que ele não diria. Mas fácil ser uma música para heroína. Faz mais sentido.
Para mim John deu um show excepcional durante vários minutos seguidos ali no início do episodio 2. Brilhou. Eta vontade de abraça-lo. Brilhou com seu senso de humor, suas tiradas, além da música. Só pegou mal com Heather e aquela conversa estrambólica de comer gatinhos.
E por falar em Heather...ela praticamento gritou "A rainha está nua!" Isso quando Yoko começou a gritar. Viu a carinha dela? Me lembrou a cara de Chuck Berry também quando ouviu Yoko gritando certa vez.
Não sei descrever o que senti vendo o show no telhado. Olha que já vi tantas vezes pelo youtube e vi no cinema em 1972. E vi pela Tv. Pois agora foi ainda melhor. Eles me pareceu deuses ali em cima.
Mas Peter Jackson cometeu uma falta. rs rs rs. Devia ter ligado para mim pedindo sugestões. Duas faltas. Excesso de perguntas sobre os Beatles para o pessoal da rua. Sei que não foi ideia dele. Estavam gravadas. Mas não precisava incluí-las. Queria ficar vendo os Beatles. E não incluiu aquele senhor todo sério de terno subindo a escada de incêndio para ver os Beatles de perto. Aquela cena, a meu ver, nunca poderia ter ficado de fora. Ele aparece depois, mas já todo empoleirado lá em cima. Sua subida é que foi especial.
Como você sabe, para mim veio uma emoção especial só sentida por mim...Jimmy Clark. O meu "amigo' da Apple. Há tempos buscava por seu nome. Meus olhos umedeceram ao reve-lo...saudades de Julho 1970.
A moça que me atendeu também aparece lá dentro. Não é a recepcionista que conversou com os policiais.
you never give me.... apareçe como musica tocada nos creditos finais , acho q. do ep. 2, o q. cairia pra 4 as ineditas de a. r. acontçe q. nao consegui ouvi-la no epsodio.... entao, checa ai pra nos e trincha pra nos informar, falo, brother , ....valeu , ...
ResponderExcluirSe há algo que pode acrescentar e prolongar ainda mais o prazer de assistir Get Back, certamente são os teus comentários! Eu amo todos, e estes aqui em especial, porque dissecam, revelam e revivem nossas emoções a cada trechinho desse presentaço que recebemos de P.J.!!!
ResponderExcluirA definição de bálsamo, para o segundo episódio, é simplesmente perfeita! Eu colecionei cada sorriso, cada troca de olhares, cada momento de diversão genuína, após a volta do nosso amado ranzinza (tadinho, tinha lá seus motivos!) Sensação de Here comes the sun... It's all right!
Li agorinha o terceiro, fui curtindo aos poucos, como fiz com o filme... (e foi dando vontade de assistir maaaaais uma vez!). Obrigada, Homerix!!!
Eu tinha apenas 8 anos quando rolou esta performance. Naquele momento minha preocupação era a pelada na rua. Enquanto os meninos de Liverpool brilhavam no telhado, eu usava o meu telhado para soltar pipa . Felizmente eles esperaram eu me dar por gente para reconhecê-los como os maiores de todos os tempos. Não me canso de ver este show, mas ainda agora, conhecendo os detalhes descritos acima.
ResponderExcluirObrigado por compartilhar
Forte abraço
Roberto Bazolli