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sábado, 25 de outubro de 2008

AWoL - Lá tem até americano

Os EUA são a terra da oportunidade, é o que dizem, e o resto do mundo acredita, e segue chegando aos borbotões. Principalmente os vizinhos do sul, los hermanos mexicanos. Principalmente se for Houston. Dizem que 30% da população da cidade vêm do México. Aquelas terras eram mexicanas, e foram tomadas no tapa - muitas guerras e mortos. Os mexicanos acreditam que este é um movimento de retomada, lenta, gradual, mas agressiva, arrebatadora: os mexicanos têm, em média quatro filhos por família … os americanos, dois. É só fazer as contas, é exponencial. 

Os mexicanos, e outros hermanos de latinoamerica, principalmente salvadorenhos, são responsáveis pelos serviços mais básicos, tipo limpeza de rua e tratamento dos jardins, são também atendentes em supermercados, melhor dizendo, eles estão presentes em todos os setores. Não é muito bom, entretanto, abordar um atendente para uma pergunta, pedir a informação no seu inglês perfeito, crente que está abafando, e ouvir a pessoa vir com o irritante: 'Habla Español?'. Dá vontade de enforcar, mas são todos muito solícitos e prontos a ajudar. A invasão é tanta que existe uma famosa cadeia de restaurante TexMex (comida que se diz mexicana, mas é diferente da real comida do vizinho hermano) que, em seus cartazes externos anuncia: 'Acá Se Habla Inglés!'. Há também casos extremos de amnésia total, a galera que cruzou a fronteira às vezes se recusa a falar espanhol de novo e solta um 'no unnerstan' quando tentamos nos expressar na outrora língua latina do interlocutor.
A cidade é muito cosmopolita, e recebe imigrantes de todos os cantos do planeta. Há bairros inteiros com orientais, de todos os países da Ásia, que vivem em ruas em que o nome aparece em inglês, e também naqueles ideogramas ininteligíveis. Ao menos, pela amostra que eu tive, os orientais se dedicam principalmente às ciências contábeis, afinal, todos os funcionários de olho puxado que trabalhavam na minha empresa trabalhavam para mim, na contabilidade, em épocas diferentes, um chinês de Hong Kong, uma chinesa continental, três vietnamitas e uma tailandesa, além de um nissei brasileiro perdido por lá. Isso acabou gerando um problema pitoresco para mim, pois 2000 era o Ano do Dragão (o próximo será em 2012) do calendário oriental, e três delas apareceram grávidas, não por coincidência, afinal, a crença é que filhos gerados sob o signo serão bem sucedidos, então fiquei com um acúmulo de licenças-maternidade, que teve que ser coberto por temporários. Outra comunidade grande é a dos coreanos, que se dedicam à informática (indianos, também), ou aos instrumentos de orquestra: é impressionante a habilidade que desenvolvem desde pequenos. Os maiores rivais de meu filho eram oriundos daquela complicada península asiática.
Somente a descrição das nacionalidades deste episódio já denota parte da verdadeira Torre de Babel que era a nossa folha de pagamento: tinha mexicano, colombiano, chileno, peruano, venezuelano, argentino, congolês, árabe, indiano, um de Sri Lanka (não sei como fala), enfim, pode-se dizer que até tinha americano.
Bem, correndo o risco da generalização preconceituosa, os latinos prestam os serviços braçais, os orientais prestam os serviços contábeis, e que serviços prestam os americanos? Bem, se forem negros, estarão no serviço público, graças a uma política agressiva de ‘affirmative action’, as tais cotas, então, lá estão eles, nos correios, nos bancos (aqui dividindo com hispanos e orientais) nos órgãos de governo como o Social Security que é a identidade básica do cidadão, ou o DPS, o Department of Public Safety, que fornece as carteiras de motorista, as indefectíveis 'driver’s licenses'. Cabe aqui um destaque a este que parece ser o único documento universal que identifica o americano: não sei realmente que tipo de documento é utilizado por quem não sabe dirigir, já que o Social Security não tem foto.
Se forem brancos, cabe destacar que são profissionais liberais muito bem remunerados. mas voltando à prestação de serviços, estão nas lojas, como vendedores, perguntando “What can I do for you this afternoon?”  (lá do capítulo sobre educação) e não entendendo sua resposta. Normalmente são os gerentes das lojas McDonald, que todo mês têm que pensar qual hermano será apontado como 'empolyee of the month' que terá o dirteito a uma foto sorridente na parede e a uma vaga de estacionamento privilegiada durante 30 dias.

Os brancos estão também nos serviços especializados das construções. Digo mais, depois de acabadas as construções, eles seguem cuidando das casas, são os eletricistas, os encanadores, técnicos de ar condicionado, de aquecimento, os pintores, e cobram caro pelo serviço prestado. O preço dos materiais e manufaturados é bem em conta, em compensação, o preço da mão-de-obra é além da conta, chega a ser proibitivo.
E tudo isto, toda essa abertura às raças está associada a um enorme receio de entrada de estrangeiros, muito ampliado após o 11 de setembro. As  O INS - Immigration National Service - tem jogado duro... Eu mesmo fui vítima. Aliás, minha doce sogra, do alto de seus então 80 anos, com um filho doente de 50, tiveram a renovação de seus vistos negada a partir de 2002, e foram convidados a se retirar do país, mesmo depois de um exposição de motivos em que gastei todo o meu inglês.
Ver em 
http://blogdohomerix.blogspot.com/2010/12/up-yours-mrs-upchurch-2003.html

A juíza da imigração certamente considerou que ambos eram um risco demasiado grande à segurança e/ou ao emprego do americano. Claro que ignorei a recomendação e fiquei mais um ano, até o fim da minha missão.

As restrições só aumentam: primeiro era um dedo, depois dois dedos, agora os dez, e ainda vem o olho! Se não bater direitinho, esquece, e pega o avião de volta.  E não use talco Granado nos pés, ao menos em viagens internas. Um amigo foi flagrado com este perigosíssimo pó branco, e teve que ajoelhar no milho: algum químico da composição do pó atiçou os alertas. Até ele explicar, foi um custo, mas foi liberado. Ah! Se usar, mantenha o recipiente em sua bagagem de mão!!! Pó, pode!!! Líquido, não!! E coloque um sapato fácil de tirar...

2 comentários:

  1. Conheci uma empregada de lá que era canadense, mas de família do Sri Lanka.

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  2. Poxa, só eu comentei! Que triste!

    Bem, em relação ao tema "Lá tem até americano", fiz uma viagem linda pelos EUA recentemente, começando em Las Vegas e seguindo pela costa oeste, terminando em Seattle, depois de passar por Forks, cidade de pouco mais de 3 mil habitantes quase no Canadá. E foi nessa cidadezinha que pude encontrar o maior número de americanos juntos. Todas as demais cidades por onde passei, até tinha americano (digo o americano puro, não os já descendentes de latinos ou asiáticos), mas a grande maioria é de imigrantes ou de seus descendentes.

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