Paul recentemente completou 81 anos
Aqui eu resenho um show antológico que vi!
É meu melhor depoimento sobre um show!
E 40 pessoas comentaram sobre ele!
Mais textos em sua homenagem, aqui neste LINK.
Show de Paul McCartney
São Paulo – 22/11/2010
Amigos, finalmente, aconteceu...
Trinta e seis músicas em três horas inesquecíveis, proporcionadas por um generoso artista, que sabe o que fazer para proporcionar felicidade a um grupo de privilegiados, eu entre eles...
No meu caso, aquelas três horas significaram, na verdade, mais de um dia inteiro de dedicação exclusiva a esse sonho, acalentado desde que se anunciou que the one and only Paul McCartney, viria novamente ao Brasil. Esses privilegiados tiveram que se embrenhar em alguma espécie de logística para conseguir apreciar o momento, com maior ou menor nível de dificuldade, mas nunca nula. Como ele não veio à cidade em que vivo, e como ainda não estamos no Século XXIII, e não temos o teleporte de Star Trek, no meu caso, teve uma viagem no meio. No caso de querer saber apenas do show em si, pule os próximos quatro parágrafos, e vá direto para o fim da descrição da logística. Senão, acompanhe-me no relato de minha aventura rumo à felicidade.
Quis o destino, ou a indisponibilidade do Maracanã, ou a falta de ação da Prefeitura do Rio, ou até mesmo a prejudicada imagem da cidade maravilhosa, que ela fosse privada da presença do ex-Beatle. Sem sombra de dúvida que ele gostaria de visitar novamente a cidade onde bateu o recorde de pessoas assistindo a um show pago de um artista solo. A deterioração é flagrante. Veja o ocorrido neste último domingo: enquanto os paulistas escolhiam entre Paul McCartney, Roberto Carlos e Lou Reed, as opções dos cariocas eram Ovídio Brito, Pagode da Tia Doca e Pagode do Arruda, como vi num tweet, na terça-feira. Pois é, Paul veio somente a Porto Alegre e São Paulo. Sou fanático, mas não fiz como muitos amigos meus, que foram às duas cidades, aos três shows. Escolhi a cidade mais próxima, não consegui comprar para o domingo, mas consegui a preciosidade para segunda-feira, 22 de novembro de 2010.
Saí de casa às 9:00, manhã do dia do show, passei em um relojoeiro para comprar uma bateria para o meu relógio Limited Edition com a foto e assinatura de Paul McCartney, que eu somente uso em ocasiões especiais, e esta era uma delas. Empreendi a aventura em conjunto com meu guru Renato e seu filho Paulo idem. Chamo esse colega de empresa de guru, pois se trata de uma enciclopédia viva sobre Beatles, além de possuir nada menos que 5.000 discos do grupo ou de seus integrantes. Pegamos a ponte aérea de 10:30, que saiu às 11:20, como sói acontecer no sistema Santos Dumont/Congonhas; fast food neste último, táxi, check-in no Novotel Morumbi, xixi, mesmo táxi, chegada ao estádio às 14:00, onde já umas 250 pessoas aguardavam no portão 18, da Pista Prime, civilizadamente, a hora de entrar no estádio, prevista para as 17:30. Já nesta oportunidade deu pra perceber o fenômeno que é esse grupo de roqueiros, que deixara de existir há 40 anos. Jovens, uma grande maioria de jovens compunha a fila. Eu e Renato e uns poucos gatos pingados de barriga e cabelo branco, éramos pontos fora da curva. Entre eles, um casal de peruanos que veio especialmente para o show. O tempo estava fechado, os camelôs ofereciam as indefectíveis capinhas de chuva a 5 ‘real’ e diziam ‘quando começar a chuva, é 10!!’. Nós já tínhamos as nossas, e elas foram usadas menos de uma hora depois. Veio a chuva, e ele foi só aumentando e lá ficamos, sem problema algum, felizes da vida, apenas menos integrados ao ambiente. Com o tempo seco, certamente formar-se-iam grupinhos para trocar experiências beatle, ou mesmo cantar alguns sucessos.
A chuva fez a espera ficar mais solitária, cada qual em seu mundo. De repente, um disco começou a tocar, mais especificamente aquele localizado entre a 3ª e a 4ª vértebra de minha coluna, que me impede que eu fique muito tempo sem me sentar. Assim o fiz, e lá se foi a intenção de deixar minha calça quase seca. A capa, vagabundinha, protegia por cima, mas o caminho das águas foi aos poucos encharcando meu bumbum, que assim ficou até o fim do dia. Os sapatos, inicialmente resistentes, não impediram o ensopar das pobres meias. Numa bela hora, passou uma bondosa senhora com um saquinho na mão distribuindo bexigas vermelhas, com a instrução de que fossem usadas quando Paul cantasse ‘Long and Winding Road’. Segundo ela, Paul ficara tocado com o que foi feito no domingo, com bexigas brancas sendo balançadas ao som de ‘Give Peace A Chance’.
A chuva parou só para entrarmos no estádio, cujos portões se abriram, pontualmente, atrasados em 20 minutos, e lá fomos nós, invadindo o gramado coberto por placas especiais. Antes de tomarmos nosso lugar, que já vimos ser espetacular, demos uma passada nos banheiros químicos para dar aquela que seria a última mijada, no sentido explícito, para evitar que levássemos uma mijada, no sentido figurado, se tentássemos mais tarde abrir caminho na multidão para aliviar a bexiga. Essa corrida aos banheiros certamente nos custou um metro e meio de proximidade do palco, mas nada que impedisse uma visão magnífica, e privilegiada. Nem eu nem meu amigo havíamos ficado tão perto do palco em nenhuma das oportunidades anteriores com nosso maior ídolo, eu, no Rio (1990) e em Houston (2002), e ele, duas vezes no Rio, Curitiba (1993) e em Porto Alegre (outro dia). Ficamos observando os trabalhos no palco, sempre com 20 técnicos pra lá e pra cá, testando instrumentos, sons. Soubemos que a chuva impediu a passagem de som, prática comum das bandas. Olhava prum lado e pra outro e só se confirmou a impressão inicial: com minha boa altura, podia ver por cima da galera, e pouquíssimas foram as cabeças brancas, as expressões mais idosas, enrugadas, maduras, que identifiquei. A grande, a imensa maioria, tinha menos de 30 anos, posso garantir. Quando começou a escurecer, veio junto novamente a chuva. Chegamos a ficar preocupados com um possível cancelamento, já que a água era muita, a chuva respingava no palco, e os caras seguiam cobrindo os equipamentos. Seria um desastre.
Às 19:30, tocou de novo aquele meu disco, e lá fui eu pro chão, isolado em meu mundinho, concentrado para aquele momento que viria duas horas depois. Sentei-me meio de lado em relação ao palco. Em meio à concentração, ouvia atrás de mim uma vozinha de uma menina que dizia: ... puxa vida, baixinha desse jeito, quando esse moço aqui se levantar, eu não vou enxergar mais nada. Ao olhar para o lado, notei as perninhas da menina: a altura do chão até o joelho dela não era maior que 30 cm. Pensei cá comigo: sinto muito, cada qual com a altura que Deus lhe deu, se eu for dar meu lugar pra cada um que é mais baixo que eu, e isso significar 40 cm de afastamento, daqui a pouco eu estou lá no fundo. I’m sorry! Mas não falei nada. Quando me senti com as forças recobradas, mais ou menos às 20:30, levantei-me, dei só uma olhada na baixinha, até deu pena... ela estava lááá embaixo, acho que não tinha nem metro e meio, novinha, máximo 18 anos. Mas me mantive firme em meu propósito, e nem dei bola. Até que .... bem .. conto em seguida.
Fim da Logística .... Começo do sonho
Mais ou menos às 21:10 apareceram os sinais de que o show iria começar: os dois enormes telões laterais começaram a mostrar uma colagem de fotos, letras, imagens em movimento, que mostravam a carreira dos Beatles, e de Paul pós-Beatle, tudo entremeado com música. Foi um ótimo aquecimento, o povo começou a cantarolar, mas especialmente aquela baixinha, que sabia TODAS e cantava com aquela vozinha, com uma animação tocante. O filme durou meia hora, quando então, a chuva parou!! Mais uma vez, como no primeiro dia de 1990, Paul mostra poderes de controlar o tempo. Com 10 minutos perdoáveis de atraso, ele simplesmente invade o palco portando seu baixo Hofner, acompanhado de sua competentíssima banda, Rusty Anderson e Brian Ray nas guitarras e baixo, Paul Wickens no teclado e o fenomenal Abe Laboriel Jr. na bateria. Percebemos maravilhados que, à distância que estávamos, conseguíamos ver todos os detalhes do rosto de Paul, todos os seus trejeitos, que viriam a ser muitos ao longo do show.
Depois do delírio inicial, com mostras explícitas de fanatismo de toda a multidão com sua presença, Paul começou a desfilar sua simpatia, logo no início, com um ‘Oi!’ e ‘Boa noite, São Paulo’ e ‘Boa noite, Brasil’. Isto se repetiria durante todo o show: perfeccionista que é, Paul não admitiria soar como falso. Seu português beirava à perfeição, em nada lembrando o fato de ser ele um inglês da gema. O a-com-til do nome da cidade estava perfeito, e o ‘r’ soava como tinha que ser. Voltarei a falar sobre isso em breve, mas agora, é SHOW TIME, ..... e que show!!!!
Pra começar, quando todos esperavam a repetição da abertura de domingo, com uma morna ‘Venus & Mars’, apropriada, sim, para o início de um show (Sitting in the stand of the sports arena Waiting for the show to Begin), mas morna, veio a surpresa. Quando ele deu o sinal, saiu do teclado um som de trompete que 'dizia':
Paaa pa ra
Paaa pa ra
Paaaaaa
(e a bateria….)
(e Paul convocando….)
Roll up, roll up for the Magical Mystery Tour!
Step right this way!
Aliás, já no primeiro Paaa pa ra, no primeiro acorde, a galera percebeu tratar-se do grande sucesso beatle, e urrou desesperadamente, eu inclusive, de braços levantados ao alto em agradecimento. Parecia que John e George também estavam lá cantando, e nos convidando ...Roll up, roll up for the mistery tour ... e nós imediatamente aceitamos embarcar naquela viagem misteriosa e, principalmente, mágica, que duraria as próximas três horas, e que seria lembrada para sempre. No telão central, imagens coloridas e psicodélicas, como a capa do álbum que abria, no longínquo 1967. A coisa se repetiria, com igual ou menor intensidade mais de 30 vezes naquela noite: o povo reconhecia no primeiro acorde a música que viria, e entrava em êxtase.
Antes da segunda música, Paul brincou ‘Tudo bem com a chuva?’, emendando com um espetacular ‘Chove Chuva’, logo acompanhado por nós com um ‘Chove Sem Parar’. E então, veio 'Jet' grande sucesso de Paul, com uma letra incompreensível, o que no momento não tinha a menor importância, o que interessava era berrar ... Jet UuuUuuUuu Jet ..., e a terceira foi pra testar a estrutura das arquibancadas do Morumbi, quando ele pediu ... Close your eyes and I'll kiss you ..., mas não os fechamos, mantivemo-los bem abertos para não perder nenhum segundo daquela performance de 'All My Loving', o primeiro momento em que as lágrimas rolaram de meus olhos, confundindo-se em meu rosto com algumas poucas gotas da chuva leve que ainda insistia.
Foi neste momento que eu acedi ao pedido daquela pobre criatura atrás de mim, que continuava cantando tudo, inclusive a impenetrável letra de 'Jet', virei pra ela e disse: 'Menina, você tá cantando tão bonitinho, tão dedicada, vai, vem pra frente!' e ela, quase chorando, me disse: 'Ai, obrigado, moço!'. Ela ficou ali umas duas ou três músicas, sempre cantando tudo, mas ainda não vendo quase nada, afinal, com menos de metro e meio, ela vai sempre sofrer pra ver alguma coisa. Fiquei com ímpetos de levantá-la, mas não tinha nem intimidade nem coluna para isso. Depois, não a vi mais, até o fim do show quando ... bem, isso eu conto depois...
Aí veio uma McCartney Wings meia-bomba, 'Letting Go', mas executada bombasticamente bem, precedendo o espetacular naipe de metais de 'Got To Get You Into My Life', fake, por não haver nenhum metal no palco, mas espetacular, apesar de ter lamentado a exclusão de 'Drive My Car', que tocara no domingo. Em seguida, veio 'Highway', uma canção do Fireman, uma banda alternativa de Paul, e que surpreendentemente, teve seu refrão cantado pela galera, apesar de ser relativamente desconhecida para mim. Aí, Paul empunhou sua guitarra para rolar para nós seu ...heart, like a wheel... em 'Let Me Roll It', emendando com uma homenagem a Jimmy Hendrix, executando com maestria o riff marcante e o solo de guitarra do mestre, em 'Foxy Lady' ... ele gosta de mostrar suas habilidades na guitarra de vez em quando, pra mostrar que sabe, como se ele precisasse disso.
Nesse meio tempo, minha atenção também se voltara a um outro fanático que estava atrás de mim. Após a partida da baixinha, uma outra voz destacou-se, à minha direita, que cantava também tudo, e com um inglês perfeito. Olhei pra trás e era um guri imberbe, se esgoelando. Perguntei que idade tinha, mas quem respondeu foi a mãe dele, ao seu lado esquerdo, "13 ... sabe tudo, né?", toda orgulhosa. É im-pres-sio-nan-te a penetração que os Beatles tem na juventude, ainda hoje. E vai longe....
Veio então a primeira sessão ao piano, lá em cima, à direita, no palco. Antes de começar, mais um bate-papo com nóizinhos. "Tudo Bem?" e nós 64 mil, em uníssono, "Tuuudo!!!'" e ele, apercebendo-se do som igual, mestre que é nas rimas, soltou um "Tudo bem, in the rain?" e nós "Yeeeeaaahhhh". Brilhante! E começou com a canção das bexigas vermelhas lá da fila de entrada 'The Long And Winding Road' e nós, ali da frente, balançamos as ditas-cujas durante todo o tempo, e merecemos de Paul um "Thank you very much, you're really great!!".
De nada, grande Paul, nós é que agradecemos sua abençoada presença entre nós. Depois, promoveu um pouco mais o relançamento do álbum 'Band On The Run', com uma ótima execução de '1985', segundo ele, "for the Wings fans", e entabulou um ‘Let'em In’, com todos os sinos e metais a que tínhamos direito, acompanhado no telão central por um filme em branco e preto que mostra uma invasão de pessoas em instalações públicas, como que aceitando o convite da canção, deixando todos entrarem, o máximo! Para completar a sessão, mais português "Eu escrevi esta música para minha gatinha Linda," e nós "Eeeeeh", e ele "mas, esta noite, ela é para todos os namorados!", e repetiu "namorados", fazendo um esforço enorme pra falar sem sotaque, e mandou ver a linda, para Linda, 'My Love’ ... Uou u uou ou, Uou u uou ou, my love does it good.....
Voltou ao seu baixo Hofner e cantou duas Beatlesongs que não havia cantado no domingo, 'I'm Looking Through You' e 'Two Of Us', para meu extremo gáudio, pois prefiro-as a 'And I Love Her' e 'I've Just Seen A Face' que Paul cantou no primeira dia, e aí, finalmente, deu um descanso para a banda. Empunhou seu violão, e depois de mais um show de simpatia, com um “É bom estar de volta ao Brasil, terra da música linda!”, executou, solo, os difíceis e elaborados acordes e dedilhado de 'Blackbird', acompanhado de dezenas de milhares de fãs que "were only waiting for that moment to arrive", como vi num brilhante cartaz de um deles, e 'Here Today', uma canção que fez para John, e que provocou o único deslize da plateia, em minha opinião: quando a música adquire aquele ritmo um pouquinho mais acelerado, a plateia começou com uma bate-palmas absolutamente desnecessário, e que, pior, não parou quando a música retorna a seu trecho inicial. Aquilo era canção para se ouvir em respeitoso silêncio, no máximo com a difícil e tocante letra murmurada. Com as palmas, Paul nem se emocionou, como sempre acontece quando executa a canção e declara ...I love you... para o amigo perdido. Ou então, eu estava incomodado com as palmas e nem percebi o embargo da voz, que sempre acontece. Paul levou numa boa, mas deu uma leve reclamada, ao final, dizendo com ironia que as palmas são OK, quando no momento correto.
Volta a banda para mais carreira solo, com ‘Bluebird’, tocada pela primeira vez no Brasil, a 5ª mudança em relação ao repertório de domingo, desta vez um acréscimo puro e simples, ou seja, os privilegiados de 2ª feira tiveram o prazer de ouvir uma música a mais que os de domingo; ‘Dance Tonight’, esta última com Paul ao bandolim e com uma dancinha adorável do baterista, que a platéia saudou com um ‘Abe, Abe, Abe, Abe...”; e o super dançante, e pulante refrão ...Ho Hey Ho... de ‘Mrs. Vandebilt’, onde o velho Macca mostra que ainda está em forma, pulando junto com a platéia. Para a volta ao mundo beatle, desce então o baterista de seu pedestal e coloca-se à esquerda de Deus Pai, digo, de Sir Paul, para ajudar a cantar ... Ah, look at all the lonely people ..., saudando os solitários, como eram a pobre ‘Eleanor Rigby’ e o Father McKenzie, vozes acompanhadas apenas e tão somente pelo teclado mágico de Paul Wickens, que simula uma orquestra de câmara com todos os seus instrumentos, pobres dos instrumentistas, que não são mais necessários.
O público está cada vez mais maravilhado com o que ouve, quando Paul se apodera de um ukelele, uma espécie de cavaquinho hawaiano, e apresenta a próxima atração com um: “Esta música é em homenagem a meu amigo George”, delírio total, e começa a tocar ‘Something’ num ritmo alterado, mas que todo mundo acompanhou direitinho, pra depois retomar o baixo quando a música volta a seu arranjo original, dando a oportunidade de ouvirmos o solo romântico de guitarra mais lindo da história do rock, com todas as notas em seu lugar, ai do guitarrista Rusty se fizesse diferente, ele não tem permissão para improvisar. Paul tem executado desta maneira a grande canção da vida de George Harrison desde Concert For George, quando muitos amigos se reuniram, no Albert Hall em 2002, para uma homenagem póstuma, um ano após sua morte, que foi registrada em um dos melhores DVDs de todos os tempos. Aqui, no telão principal, uma sequência de fotos do quiet Beatle, emocionando a todos.
Breve passagem pela carreira solo, com ‘Sing The Changes’, do Fireman, e o talvez maior sucesso do Wings, ‘Band On Te Run’, para então entabular uma série de seis (6) músicas Beatle, de tirar o fôlego, não sem antes encantar-nos com seu português, com um “Tudo ótimo?” e um “Como está meu português?”, claro que ambas respondidas com sonoros “Yeah!” e “Good!”, e emendando em inglês mesmo “Not bad for an English lad”, e aí sim, ao trabalho, com um “This next song, I’ll ask you to sing alongwith, but you’re singing along everything, anyway, so ...”, para introduzir:
- Entra o pianinho marcante (tan tararan tararan tan tan tan) da simpaticíssima ‘Obladi Oblada’, que Lennon abominava, mas o resto do mundo adorava. Quando chegava a hora do refrão, o telão central mostrava imagens da galera da frente se esgoelando para cantá-lo ...Obladi Oblada life goes on bra, ah ha how the life goes on...;
- O estádio vem abaixo quando se ouve o som de um avião pousando para avisar que Paul estava ‘Back In The USSR’, e declarava saudades das garotas da Ucrânia ...really knocking him out... e que ...Georgia’s always on mymymymymymymymymymind...;
- Vem então um riff de guitarra que deixou todos arrepiados, introduzindo ‘I’ve Got A Feeling’, ...a feeling deep inside oh yeah..., em que Paul ainda mostra disposição para urrar o refrão, não com a mesma força, mas com competência. Pena que, para o contraponto ... Everybody had a hard year, every body let their hair down ..., Paul não tinha Lennon para acompanhá-lo, e o jeito foi usar um vocal duplo, perfeitamente executado por Abe e Rusty;
- Depois de mais um show para a galera, com a regência de um coral de 64 mil vozes espelhando o que ele comandava, numa ode a São Paulo, Paul declara que, para a próxima canção, a guitarra que usaria era a mesma que usou em sua gravação, ‘in the sixties’, e começa ‘Paaaperbaack Wriiiteer’, provocando torrentes de lágrimas, especialmente em mim, que sempre amei a canção e agora, ainda mais, já que a situação descrita é mais ou menos a que se passa com minha filha ...Dear Sir or Madam, will you read my book? It took me years to write, will you take a look?... Não tenho dúvidas que se o editor percebesse o potencial da obra, … (He could) have the rights, It could make a million for (him) overnight….;
- Um violão introduz o encanto de se ouvir ‘A Day In The Life’, que foi idéia de Lennon, mas que Paul complementou brilhantemente com o ...Woke up, got out the bed, dragged a comb across my hair… e com a idéia para o crescendo monumental de orquestra, e o famoso MI final, tocado em quatro pianos simultaneamente, mas fica claro tratar-se de uma homenagem a John quando emenda (all we are saying is) ‘Give Peace A Chance’ ;
- A meia-dúzia brilhante termina com a indefectível ‘Let It Be’, com Paul ao piano, invocando a mãe Mary ...speaking words of wisdom..., e que não me venham com aquela interpretação de que a Mother Mary que ele fala refere-se a marijuana. Certamente que ele não iria brincar com o nome da própria mãe. E afinal, ninguém imagina um baseado que ...is standing right in front of (him)…
A última peça da carreira solo que vem antes de ele emendar a última série beatle, é a emocionante ‘Live And Let Die’ um dos melhores temas de James Bond, que ele sempre toca em todas as excursões, há décadas, e que não ganhou o Oscar de 1973 por pura sacanagem dos velhinhos da Academia. E desta vez, ela veio com efeitos mais que especiais, em especial para quem estava ali na frente, que sentiu a onda de calor dos canhões. Estando tão próximo ao palco, não vi os fogos de artifício de grande alcance que pipocavam por trás dele, como vira no compacto que a Globo mostrara no domingo. Mas senti o impacto sonoro e visual proporcionado no palco, com fogos sincronizados com a música, sensacional.
A última série de encantos musicais Beatle teve 7 canções, sendo que a primeira termina o show, teoricamente, já que é claro que ele voltará. Nada melhor que ‘Hey Jude’ para o efeito. Para alegria nossa, ele não usa o piano oficial, de cauda, mas um menor, todo colorido, que ele usou na excursão de 1990, quando nele tocou ‘Fool On The Hill’ e que depois eu soube que era o mesmo do filme, de 1967. Todo mundo canta junto com ele as várias estrofes da letra, e quando chega a hora do quarto ...Na Na Na NaraNaNááá NaraNaNááá Hey Jude... ele abandona o piano e vai pro meio do palco comandar a enlouquecida galera, desta vez em português perfeito “Agora só os homens”, e depois, “De novo os homens”, e depois “Agora só as mulheres”, e depois um surpreendente “Continuem, mulheres!!!”, e depois, “Todo mundo junto!”. Um showman, de verdade! Aí vem o primeiro fim falso, dá as mãos para a banda, agradece, dá adeus pra todo mundo e abandona o palco; a plateia começa num criativo ...Hello, hello, I don’t know why you say goodbye, I say hello!..., poucos minutos depois ele volta, gritação geral, carregando seu famoso baixo, e nos brinda com a canção com um dos melhores riffs iniciais de guitarra de todos os tempos, rivalizando com o de ‘Satisfaction’, dos Stones... adivinhe ... ‘Day Tripper’....one way ticket yeah...; volta ao piano coloridinho e solta uma das melhores introduções de rock ao piano de todos os tempos, com ‘Lady Madonna’ ... Wonder(ing) how you manage to make ends meet...; e ‘termina’ o show novamente, de volta ao baixo, pra mandar a sweet Loretta Martin ‘Get Back’ ... to where (she) once belong…
E ele abandona novamente o palco com a banda, e a plateia apenas continua cantando ...get back, get back... nada mais natural, e alguns minutos depois ele volta, empunhando uma bandeira do Brasil que, aliás, foi muito bem recebida por nós, ao contrário dos gaúchos, que a receberam com restrições, separatistas que são, vê se pode! Depois de correr pelo palco com a bandeira, troca-a por um violão trazido pelo tecladista, que segue para sua posição de trabalho para acompanhar Paul, com um ‘quarteto de cordas’, em sua performance da música mais reproduzida da história da humanidade, com mais de três mil regravações, cuja melodia lhe veio em sonho, e que ele duvidou ser original e dele, de tão linda que lhe parecia, para a qual a primeira letra que lhe veio à mente foi ...scrambled eggs, oh my darling how I like your legs..., e que finalmente veio a se chamar ‘Yesterday’; mudando totalmente o tom, ele pega o baixo novamente para tocar ‘Helter Skelter’, que é considerada uma precursora do Heavy Metal, super gritada; mais um pouco de carisma, com um “Agora, vamos embora”, fazendo carinha de sono, e termina o show, agora de verdade, com um medley de ‘Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band- Reprise’, que tem na letra um apropriadíssimo ...We hope you have enjoyed the show..., emendada com a mais apropriada ainda ‘The End’ que soluciona em sua letra, a equação do amor ... And, in the end, the Love you take is equal to the Love you make!... uma perfeita identidade matemática, aplicável à relação entre nós e ele:
.... ele, nos oferecendo generosamente suas músicas, categoria e simpatia,
.... nós, idolatrando-o como a nenhum outro ser vivo, na face deste planeta!!!!!
Ah, sim, no meio do último bis, Paul lembra-se que em Porto Alegre uma menina pediu que ele autografasse seu braço, para ela tatuar por cima, no que foi atendida, inclusive com um coração desenhado pelo ídolo. E ela fez a tatuagem no dia seguinte, e virou celebridade instantânea. E ele chama ao palco quatro meninas que a produção havia selecionado. E elas subiram, choraram, deram beijinhos, abraçaram, enfim, um sonho. E quem era uma delas? Aquele mesma baixinha que eu permiti que passasse à minha frente! Não a vi mais, mas certamente ela deve estar tendo bons pensamentos sobre aquele grandão que a deixou passar e possibilitou a realização daquele sonho...
Resumindo:
Ingresso...............................................................: R$ 700
Avião...................................................................: R$ 240
Traslados...............................................................: R$ 80
Comida..................................................................: R$ 30
Assistir ao show de minha vida a 10 metros
de distância de meu ídolo................................: NÃO TEM PREÇO
Faria tudo de novo, com uma pequena diferença... teria chegado 10 horas antes do show, ao invés de 8, pra ficar ali, mais na frente, ainda mais próximo!!!!!
Há um consolo para os que não puderam ir, por variados motivos, ou aos que podiam, mas tiveram preguiça. As últimas palavras de Paul McCartney no último show desta turnê no Brasil foram:
ATÉ A PRÓXIMA ..... SEE YOU NEXT TIME!!!
Portanto, há esperança!!!
Encontramo-nos lá!!!
Homero Mais Que Realizado Ventura
P.S. Faltou a logística da volta. Ao sair, junto àquelas milhares de pessoas, invadindo os entornos do Morumbi, nem pensamos em pegar táxi. Fomos andando, subindo pelas colinas do bairro, em velocidade superior à do trânsito, por uns 1,500 metros. Quando a coisa começou a clarear, e alguns carros nos ultrapassaram, conseguimos um táxi, que nos levou ao hotel. Esmigalhado, tomei um rápido banho e desabei. De manhã, café, aeroporto, viagem de volta, chegando em casa ao meio dia de terça-feira. Portanto, 27 horas dedicadas a Paul McCartney, sem o menor sinal de arrependimento...