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domingo, 6 de novembro de 2011

100% Off - O Manual do Colonizado - de Renata Ventura #2

Aqui a segunda parte da Introdução ao 100% Off - O Manual do Colonizado.

A primeira, neste link: 



CONSIDERAÇÕES INICIAIS DO MANUAL
Em 1886...
(...) a caminho do hotel, [Sarah Bernhardt] quis pedir ao cocheiro que levantasse a capota a fim de melhor observar a paisagem e as pessoas que se amontoavam nas ruas para ver um pedaço daquela francesa, porém o intérprete brasileiro que a acompanhava a impediu:

-          Não, madame. No Basil, não é chique andar de capota levantada.

-          Por que não?

-          Não sei, madame. Acho que é para dar a impressão de que aqui não faz tanto calor assim. (SOARES, 1995: 15)


Assim era o Brasil na época do Império; assim foi o Brasil até meados dos anos 1940. Tentava fingir, com todas as suas forças, que era um país europeu. Mais especificamente, pensava que era a França. Tudo que vinha da França era chique: falar com biquinho era chique, ver peças em francês era chique (mesmo que não se entendesse coisa alguma), andar pelas ruas vestindo casacas, meias, camadas e mais camadas de vestidos, chapéus e coletes era chique (apesar do calor). Falar empostado, fingir-se de esnobe, ler em francês era chique; livros, revistas, jornais. Até barata francesa era chique. Aliás, até a palavra “chique” era chique!
Paris foi a capital do século XIX, segundo definição de Walter Benjamin (BASTOS, 2002: 2).O Brasil, é claro, não podia ficar de fora. Na literatura, escritores brasileiros se esforçavam para analisar os “atrasos” do país “primitivo” em que viviam, comparando-o incessantemente à França ou à magnífica Europa em geral. Não lhes passava pela cabeça sair às ruas e observar a população, que consideravam primitiva e pobre de espírito. Preferiam aprender sobre o Brasil pelos livros europeus, que certamente, devido à clara evolução de seus costumes e pensamentos, saberiam mais sobre aquele país tropical do que os próprios brasileiros que moravam nele. 
Enquanto isso, a literatura brasileira sofria. A cultura brasileira sofria. Ignorava-se os índios, ignorava-se os pobres, ignorava-se a própria ignorância da população, que não tinha dinheiro para pagar nem os professores particulares de francês nem as roupas emperiquitadas da época, muito menos a comida que necessitavam para sobreviver ou um curso do mais básico português. Dos quatro milhões de habitantes do Brasil na década de 1870, apenas 14% estavam alfabetizados. No entanto, as elites só conseguiam pensar na França.

Neste link, a terceira e última


Au revoir

Homerix En Français Venturá

2 comentários:

  1. Primeiro ponto:
    "Nem tanto ao mar nem tanto a terra. Nem o estrangeirismo exagerado, nem a xenofobia".
    Oswald de Andrade já propunha uma boa solução para isso, com sua antropofagia. O Tropicalismo reverberou o modernismo através da música. Essa é uma boa saída.
    Segundo ponto:
    Homerix, vc poderia anexar a monografia da Renata em seu blog, para podermos ler toda ela?

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  2. Gostei do comentário de Sandoval. E do texto, evidentemente. Me fez pensar em várias palavras em francês que a gente usava até recentemente. Assim como hoje usam inglês para tudo, antes era o francês. Abajour, boite, algumas eu nem sei como se escreve. Etajair?

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