-

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Personal Velox

Se você tem o salutar costume de ouvir notícias na FM do seu carro, é quase certo que você fica em dúvida entre: Freqüência 94.9 ou 92,5 MHz? Band News ou CBN? Boechat, Megale, Barão, Blay e Bérgamo ou Barbeiro, Gehringer, Jabor, Hippolito e Halfeld? Você deve, como eu, programar as teclas do rádio, e ficar pulando entre uma e outra, mormente quando entram os comerciais, para não perder tempo. Quando escapa, você acaba entrando no maravilhoso mundo da propaganda! Se você se distraiu quando estava na Band News, pode se divertir com um bem humorado anúncio do Prezunic, ou se irritar com comercial muito interessante da Personal Service, a empresa que emprega a maioria das secretárias que nos dão apoio, que é o motivo deste texto.
Uma musiquinha bonitinha mas ordinária, com uma letrazinha sem-vergonha, que mescla 'soluções de infraestrutura' com 'otimização de resultados'. Se você não prestou atenção, veja só (e imagine-se ouvindo) a letra do clímax:
            Personaaaal Serviciiii - Soluções Customizadas e Facilitiiiiies!!
             Pois bem, neste refrão de 5 palavras, apenas uma é em português, outra em inglês aportuguesado, e as outras três em inglês inglês mesmo, sem qualquer disfarce. Podem contestar e dizer que "customizado" já é uma palavra inserida no vocabulario usual, e já pode ser considerada como um estrangeirismo. Não é! Se voce aureliar, ou babilonar a palavra, o 'cara' vai ficar doidinho procurando e retornar:    Você quis dizer?
Vocanatomizaras .... costumadas .... cristalizadas .... custodiaras .... custódias .... atomizaras .... autorizadas
             E as outras três, para quê usar tanto inglês? É uma companhia americana? Não! Ela é "... uma empresa 100% nacional, especializada em Facilities Management"! Oh, my God, lá vêm eles de novo!!! Vejam só o logotipo do 'Serviço de Facilidades':
                                                          
             É ou não é um exagero?
              Pensando bem, há piores.
              O jingle (ooops!) da Personal remeteu-me imediatamente à monografia de minha filha criada ao encerramento da faculdade de Comunicação.
               O nome: 100% Off – O Manual do Colonizado 


               Nela, Renata descreve com extrema ironia a sina do brasileiro: foi, é, e sempre será, um colonizado. Muito depois do efetivo status de colônia, já no alvorecer da República, era excessiva a importância dada às coisas chiques da Europa, especialmente da França. Depois, a submissão passou ao grande irmão do norte, quando mostraram seu poderio durante a Segunda Guerra, expressada no seu mais influente instrumento: o idioma inglês.
              No ‘Manual’, cuja introdução você encontra aqui, há instruções sobre como se ficar mais e mais colonizado, e exemplos dos absurdos desprezos que se cometem contra nossa língua, como, por exemplo, no caso da Velox, na primeira página do Capítulo 2, que transcrevo a seguir:

CAPÍTULO 2


DEIXE QUE A LÍNGUA DA METRÓPOLE
INVADA TODOS OS ASPECTOS DE SUA VIDA.
O inglês na esfera cultural.
 Localizada na rua Fonte da Saudade, 39, na Lagoa, Rio de Janeiro, a conceituada academia brasileira de ginástica Velox Fitness esbanja modernidade. A começar pelo seu texto introdutório:


Nosso conceito é qualidade numa filosofia que abrange o indivíduo em sua totalidade. Desta forma, estamos totalmente inseridos dentro do moderno conceito do wellness, promovendo a saúde e o bem-estar, através da disponibilização de uma das maiores grades de atividades entre todas as empresas de fitnes.
É possível notar, já no nome da academia, a intenção de mandar uma mensagem de modernidade e avanço tecnológico para seus possíveis clientes; afinal, o inglês é uma língua ‘superior’. Além do nome em inglês e do texto introdutório, eis algumas das atividades que a conceituada Velox Fitness oferece à sua clientela:


Fit baby, Fit Teen, Fit Class, Fit Master, Fit Coach, Game velox, Game Velox Teen, Boxe Fitness, Power Flex, Soft Flex, Flex Jazz, Fitball Training, Power Yoga, Velox Jump, Running & Walking Outdoor, Velox Inline Outdoor, Bike Adventure, Velox In Line, Velox In Line Kids, Hidrobike, Baby Card, Cardio Card, Pilates Fitness, Velox Express, Aqua Bike Plus, Velox Core, Stretch Core, Yoga Core, Mat Pilates Core, Aqua Core, Programa Baby.
Chega a impressionar esta concessão final tão generosa à língua portuguesa. Por que não traduziram a palavra “Programa”? Seria só uma letra a menos!
________________________________________________

  Sem comentários!!

             O Deputado comunista Aldo Rabelo tramita um projeto no Congresso (nem sei em que estágio se encontra) que trata da promoção, proteção e defesa da língua portuguesa, bradando contra o uso excessivo de expressões em língua estrangeira, os chamados estrangeirismos, que, segundo o parlamentar, dificultam a comunicação do povo brasileiro. Não somos adeptos 100% desse projeto, por vezes exagerado e intransigente, afinal sempre há os casos em que a solução yankee traduz bem melhor o que se quer dizer, mas que poderia haver um combate aos exageros, ah isso poderia! Poder-se-ia evitar por exemplo a transformação da Barra da Tijuca numa sucursal de Miami.

               O que acha?

               Abraço

                  Homero Brazilian Ventura

14 comentários:

  1. O problema do brasileiro é que ele mistura idiomas e gírias no bojo das suas esquisitices e idiossincrasias, criando formas alternativas para grupelhos ou feudos, que não servem para outra coisa senão dificultar a comunicação geral. Mais grave, tem gente que gosta, o que me leva a concordar que gosto não se discute...lamenta-se. O curioso disso tudo é que, salvo honrosas exceções, em geral, o brasileiro tem piorado muito quanto ao uso do idioma pátrio e, quando necessita falar algum idioma estrangeiro, o faz de forma "macarrônica", inócua e ininteligível para o interlocutor, seja em inglês, espanhol, francês, entre outros. Logo, para quê tanta esculhambação? Vamos simplificar: ao falar em português, que se faça em português. Ao falar em inglês, que se faça em inglês. E assim por diante, sem misturas. Tão simples quanto isso.

    Há que se trabalhar a consciência das pessoas, para estimular o uso culto do idioma pátrio e isso começa num bom e correto ensino fundamental, onde se deve aprender as lições que servem de base para a vida toda.

    Não vejo a necessidade de criar lei para evitar estrangeirismos, que será mais uma para não ser respeitada. Considero uma insanidade os deputados se meterem a ocuparem o seu o tempo e do Congresso contra o uso excessivo de estrangeirismos, por exemplo. “Put a keep are you!”, já não chega a bobagem que fizeram com a boçal e desnecessária reforma ortográfica? Será que esses deputados não têm nada mais prioritário para cuidar? Por que razão não se dedicam aos temas prioritários, como educação e saúde, infra-estrutura, etc?

    Com bem diz o Gustavo Franco, com muita propriedade, em sua entrevista na Folha de hoje, ao falar que a exaustão fiscal global está na origem de turbulência global: “...estamos vivendo é o esgotamento do crescimento do Estado nas grandes democracias ocidentais... e os nossos números fiscais não estão muito diferentes daqueles dos países com problemas...”. Logo, por que esses deputados não ocupam seu tempo com projetos sérios, para reduzir ou otimizar os gastos do Estado? Será que, enquanto distraem a população com essas bobagens de reformas ortográficas e leis contra uso excessivo de estrangeirismos, estariam trabalhando, na verdade e na surdina, para aumentar impostos e asfixiar ainda mais o contribuinte brasileiro? Ora, por favor...

    ResponderExcluir
  2. Concordo totalmente com voce no que diz respeito ao combate aos exageros dos estrangeirismos
    que pululam na nossa comunicacao, seja miidia ou conversa do dia a dia. Acho que temos que
    prestigiar fortemente o que temos de bom e nacional e racional e inteligentemente aproveitar o
    que os outros tem de bom ou melhor que nos, pois afinal todos os povos tem suas qualidades e defeitos.  
    Acho uma batalha extremamente dificil, mas que vale a pena, pois melhoraria o nosso nivel de educacao, que anda tao fraco.

    ResponderExcluir
  3. Meu caro,

    Vejo que você distribuiu bem suas veias musicais e literárias entre os filhos. A Renata promete!

    Aquele abraço,

    ResponderExcluir
  4. Homero.
    Sou contra o emprego exagerado de palavras estrangeiras no nosso dia a dia, bem como também sou contra o uso de textos/ discursos herméticos em nosso próprio idioma. Se o objetivo é comunicar, acredito que demonstrar um mínimo de conhecimento de nosso próprio idioma seja interessante, assim como se fazer compreender pelos destinatários da mensagem.
    Enquanto em várias reuniões internas (ou mesmo com a participação de bancos/ consultorias) os termos em inglês eram muito valorizados, já participei de um curso sobre fusões e aquisições onde o instrutor, inglês, se esforçava para traduzir todas as expressões estrangeiras de sua apresentação.
    Procuro, sempre que posso, usar palavras em nosso idioma no lugar das estrangeiras, mas nem sempre isso é possível. Uma vez, ainda no RH, coordenei um evento que, para não chamar de workshop, traduzi como oficina. O único problema é que muitos dos participantes eram de países de língua espanhola, onde oficina se traduz como escritório, o que me fez retornar ao workshop!
    Abraços.
    Frederico.


    P.S. Será que sua filha permitiria que você me enviasse sua monografia?

    ResponderExcluir
  5. Homero,

    Ler a introdução do trabalho de sua filha tem a sensação daquele aperitivo para abrir o apetite. Deixa a sensação de "quero-mais"...

    Posso divulgar esta introdução entre alguns colegas? Vou manter a autoria (Renata Ventura não?)

    Abraços,

    ResponderExcluir
  6. Homero,

    Depois de anos morando em Niterói com a família, me mudei no final do ano passado para o Rio, morando sozinho. Nos primeiros dias senti falta dos "bons dias" pela manhã e logo tratei de procurar um apoio no rádio. Nunca tive o menor hábito de ouvir rádio, até comecei a ouvir a Band News e ter Boechat, Megale, Cássia Godoy como amigos da manhã.

    Quando ouvi pela primeira vez musiquinha infame da Personaaaal Serviciiiiis me deu uma raiva danada, pois como poderiam fazer impunemente um jingle com os termos "serviços integrados", "otimização de resultados", "gestão de infraestrutura" ???

    Hoje em dia fico torcendo pra musiquinha começar e, mesmo antes, já começo a cantarolar pela casa. Hoje mesmo comentei com a Vivian que esta é a minha música favorita do momento. Deixa Radiohead, Beatles, Michael Jackson no chinelo. A Vivian, por sinal, nunca escutou a música "oficial" mas já a conhece de tanto eu cantar.

    hehehhehe....

    Um abraço,

    ResponderExcluir
  7. Caro Homero, bom dia.

    Concordo que um certo exagero seja praticado às vezes, como no caso muito bem levantado por você, da Personal Service. Não há necessidade nenhuma daquilo. Perfeito. Há uma outra propaganda, que eu também acho horrível, de uma tal "Dinsmore Associates" (acho que você já ouviu).

    Não sou adepto desse tipo de estrangeirismo, assim como também sou avesso àqueles termos de gestão, tais como "sinergia" e outros que conhecemos daquela piadinha "Business Bingo".

    Porém, penso que um idioma, assim como uma sociedade, evolui. Há línguas mortas e línguas que irão dominar. Sempre foi assim, assim sempre será. Antes era o grego-latim, depois o francês, o inglês e sabe-se lá o que virá pela frente.

    Há hoje cerca de 2.500 línguas correndo risco de extinção, segundo a UNESCO. Algumas delas, como é o caso do Mirandês, falado em uma região fronteiriça entre Portugal e Espanha, recebe apoio de uma ONG para que não morra. Há até um site na internet sobre o Mirandês (muito interessante por sinal).

    Em suma, não sou adepto do estrangeirismo bárbaro, exagerado, gratuito; porém, também não sou "MV-Brasil", que prega que "self-service" deve ser "auto-serviço". Você já se imaginou almoçando em um "restaurante auto-serviço"? Eu, jamais. Almoço diariamente em self-service, uso mouse, quero comprar um notebook e uma TV LCD widescreen full-high definition. Não tem jeito! Hhehehehe...

    Tudo o que é demais, é ruim. Estrangeirismo demais é péssimo, assim como protecionismo exacerbado ao idioma também é algo que dificulta uma das coisas mais interessantes na lingüística: a transformação, as adaptações, de um idioma.

    Um grande abraço,

    ResponderExcluir
  8. Homero, gostei da introdução.

    Nada como uma linguagem direta e objetiva para estabelecer uma comunicação eficaz (que afinal é o que se procura ao se escrever ou falar algo; apesar de óbvio, tem muita gente esquecendo disso).

    A monografia completa está disponivel?

    um abraço

    ResponderExcluir
  9. Homero, sempre escuto essa propaganda e me pergunto se as pessoas entendem do que se trata.

    Na minha opinião, tirando os funcionários Petrobras que reconhecem o nome "Personal" e, por curiosidade, prestam atenção (ou não) no restante do anúncio, a grande maioria deve "viajar na maionese".

    Eu mesmo me pergunto: o que seria facilities? Para mim, continuará sendo o conjunto de equipamentos instalados para permitir a produção de petróleo!

    De qualquer forma, muito pertinente sua colocação sobre o excesso de estrangeirismo.

    Abs,

    ResponderExcluir
  10. Prezado Homero,

    Estou de pleno acordo. Só não precisamos ser como os portugueses, que fizeram as seguintes traduções:

    - o filme "True Lies", com Arnold Schwarzenegger, passou em Portugal com o título "A Verdade da Mentira".

    - o ônibus espacial reutilizável da NASA é conhecido em Portugal como o foguete "Vaivém".

    e por aí vai.

    Abraço,

    ResponderExcluir
  11. É Homero, bom saber que também você compartilha com meu desconforto com estes anglicismos exagerados. Sempre uso um exemplo de um ex-chefe meu, por quem ainda tenho grande estima, que numa reunião nos disse que estava na hora de "começar a estartar o processo". É mole?
    Estartar, atachar, billar, invoiçar e outras que não me lembro me causam arrepios.
    Confesso que depois de seis anos trabalhando 100% em parceria com estrangeiros estou meio saturado de falar inglês. Tenho saudade de uma reunião em português.
    Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  12. Boa, Homero,

    No aperto que estou aqui entregando as carteiras do PAN 2010, não resisti a dar uma olhada no seu texto e no da Renata. Gostei. Ainda vou lê-los com mais calma.

    Um grande abraço e bom fim-de-semana.

    ResponderExcluir
  13. Se houvesse a possibilidade de se ter uma lei contra o exagero,nosso planeta estaria resolvido. Exagero é um apanágio do Criador, seja ele quem tenha sido e seja e ele manifestou isso na propria criação, pela inexistencia de tamanho (conceito bem humano, eu diria) do universo, ou dos universos.

    Sem exagero, teriamos uma corrupção adequada (!?!?!?) as linguas seriam reunidas numa só (esperanto???) meu Deus estou variando.
    Mas um ser humano ter 1550 pares de sapatos, como Mme.Sukarno ou 300 como Magda, me parece exagero
    Estou certamnente variando.

    Sou do tempo em que falar ingles era uma vantagem unica, e me agride ver o Joel Santana falando (???) ingles
    Nosso povo nem fala direito o portugues mas sabe perfeitamente o que é uma hydrobike.

    Já entrou num orkut de jovens e nem tanto? Naum? Pq eh blz bro! Interessante e estressante Hare baba e Thick (?!?!?!)
    No fim dos tempos vamos grunhir como no começo de tudo....

    ResponderExcluir