-

terça-feira, 8 de agosto de 2023

A(O) Menina(o) que matou seus(meus) pais


Quando soube que meu amigo Raphael Montes iria roteirizar a história de Suzanne Von Richthofen para o cinema, temi! Corria-se o risco de acabar por glamorizar a psicopata, justificar o vil ato que comandou (ou aceitou), do extermínio de seu pai e de sua mãe, perpetrado pelos irmãos Cravinhos, enfim, mas confiei que ele saberia como produzir um roteiro plausível.

Nesse meio tempo, ele lançou Bom Dia Verônica, excelente série da NetFlix. Ele foi parceiro de Ilana Casoy. Ficou excelente, vejam meus comentários aqui, neste LINK.

Resolveram repetir a parceria de sucesso. Ilana é delegada de Polícia, mas hoje identifica-se como criminóloga e é escritora. Ela era estagiária à época do horroroso evento, em outubro de 2002, e acompanhou inclusive a reconstituição do crime. Interessante que foi a única operação deste tipo em que foi autorizada a ir pela ‘chefia’ por ser feita em região de alto nível… não a deixaram ir a nenhuma outra em lugares mais perigosos. Debruçou-se sobre o caso e escreveu um livro sobre ele "O Quinto Mandamento" (acho que sabem qual é ele, né …), e  um outro sobre o caso Nardoni, e foi colaboradora de Glória Perez na ótima série Dupla Identidade, da Globo, em que Bruno Gagliazzo dá um show.

Raphael Montes é um jovem escritor, especializado em literatura policial. Sou fã dele desde o 1º livro, 'Suicidas' (2), e ainda não li nada ruim saído de seu teclado e imaginação. 'Jantar Secreto' (1), 'Uma Mulher no Escuro' (3), 'Dias Perfeitos' (4) e 'O Vilarejo' (5) (análises disponíveis por sobre os nomes das obras) são outros livros de sua lavra (o número entre parênteses é minha ordem de preferência). Escreveu um outro livro sob pseudônimo, que não li, (quem mandou dizer que não era dele?) mas vi a série NetFlix que se baseou nele, Bom Dia Verônica, sobre a qual já falei ali em cima. Roteirizou a ótima série com o delegado Espinoza, de Garcia-Roza, que infelizmente não teve sequência, devido à trágica morte de Domingos Montagner, o protagonista. Pra meus amigos, lembro que Raphael Montes foi o cronista semanal d'O Globo que possibilitou meus 15 minutos de fama, lembre-se deles aqui, neste LINK.

Decerto o risco de glamourização estava na cabeça dos roteiristas, até que surgiu a brilhante ideia: resolveram fazer não um, mas DOIS filmes!: 'A menina que Matou os Pais' conta a versão de Suzane von Richthofen, e 'O Menino que Matou Meus Pais' conta a versão de Daniel Cravinhos. Dessa forma, a produção não defende nenhum dos lados da história e deixa ao público a interpretação dos fatos e das versões. Tudo foi desenvolvido a partir das informações que constam nos autos do processo, em especial nos depoimentos dos envolvidos.

Assistimos aos dois, de carreirinha, neste sábado. E não nos arrependemos. E o fizemos na ordem inversa da acima apresentada. E acho que foi uma boa escolha. Poucas cenas são iguais entre os dois filmes, após a primeira, em que os policiais atendem a um chamado de Suzane por uma suposta invasão da casa em que morava. A próxima cena é da chegada ao julgamento, também igual, mas já na sala do júri começam as diferenças. A gente assiste ao depoimento de Suzane, muito bem interpretada por Carla Dias, a eterna Khadija de O Clone (muito ouro, Inshallah!) e ela conta a história do seu ponto de vista, procurando jogar a culpa da decisão do extermínio para o namorado Daniel Cravinhos. No 2º filme (na ordem em que assistimos), é este quem conta sua história tentando jogar a culpa na filha do casal chacinado. No final, sabemos pelas sentenças, nenhum dos dois conseguiu convencer o júri, pois tiveram penas idênticas, de 39 anos de detenção.

Solução genial! (segue ...)



Foi muito interessante ver o 2º filme e notar as diferenças. Cenas em que ao menos um terceiro personagem estava presente, e teriam que ser iguais, eram às vezes filmadas sob ângulos diferentes de câmera. Para mim, o ponto máximo dos dois filmes são breves momentos em que se quebra a 4ª parede, ou seja, quando o personagem (Suzane no 1º e Daniel no 2º) olha para a câmera e faz uma brevíssima declaração a nós, do outro lado! Brilhante!

Valeram a pena os 160 minutos dedicados à dupla visão de um mesmo crime!

Recomendo!



Nenhum comentário:

Postar um comentário