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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Being For the Benefit of Mr. Kite, venham todos!

 Esta canção fecha o Lado A do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 15 canções com Discursos para um Grupo

as demais 14 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

7. Being For the Benefit of Mr. Kite  (Group Speech Song by John Lennon)

John convoca: "Em honra do Sr. Kite, haverá hoje à noite um show de acrobacia. Os Hendersons estarão todos lá, vindos do parque de diversões de Pablo Fanque, mas que número!"
John teve a ideia de um cartaz do Século XIX, Era Vitoriana, anunciando as atrações, conforme colocou na canção! Paul disse que a canção se fez sozinha, estão lá os malabaristas, equilibristas, o cavalo dançarino, os trapezistas, os engulidores de fogo, etc. Modificaram pouco do que estava no cartaz, por exemplo, o cavalo não se chamava Henry, e inverteram a ordem das atrações, e tal, mas está tudo lá. E alteraram os nomes dos astros principais conforme as necessidades de rima e métrica. Então, quando era pra rimar com "night" usavam o nome "Mr.Kite", mas quando era pra rimar com "Saturday", usavam a abreviatura "Mr. K"; Quando "Mr. Henderson" ia atrapalhar a métrica, usaram "Mr. H". Simples e genial assim!
A estrutura da canção prescindiu de pontes ou refrões, são apenas versos, contando a convocação para assistirem ao espetáculo circense. São 5 versos, sendo dois deles instrumentais! 
A canção é de John porque ele comprou o cartaz, durante uma filmagem em Kent, ele colocou o cartaz numa parede de sua casa, ele namorou o cartaz e disse: 'Isso dá samba!", e escreveu as primeiras linhas, e teve a ideia da melodia. Mas Paul contribuiu bastante, e eu até posso deduzir aonde, na estrutura de rimas, especialmente nas 4 primeiras linhas de cada um dos longos 3 versos cantados, de 7 linhas cada! Pense em You Won't See Me, que veio antes, e em Hey Jude, que viria depois, e veja se não há aquela engenhosidade de rimar sílabas finais de uma linha com uma sílaba interna da linha seguinte! Ficou complicado? Melhor desenhar, né? Veja abaixo:
 
Eu acho isso genial (ih, repeti o adjetivo...)! Note que das 9 rimas assinaladas, apenas "sound-ground", ambos substantivos, e "demonstrate-undertake", ambos verbos, são pobres, as demais 7 são ricas. Rimas estão ausentes no final das 3 últimas linhas de cada verso,  PORÉM, note que elas aparecem DENTRO da última linha de cada um. Senão, vejamos, assinaladas em preto aumentado: 
  1. In this way Mr. K will challenge the world!
  2. And of course Henry the Horse dances the waltz! 
  3. And tonight Mr. Kite is topping the bill! 
E falando em "Henry, the Horse" vem à tona, de novo a minha amada Letra H. Gosto dela, sabe por quê, né... Interessante ela aparecer importante em duas canções seguidinhas, em destaque (veja em  She's Leaving Home). Aqui, Henry, com H, é o nome do cavalo, que é Horse em inglês, outro H, mas o que me contaram é que tanto Henry como Horse eram apelidos, disfarçados, de outra coisa que começa com a Letra H, Heroína, não o feminino de Herói, mas a droga Heroína, injetável. Então, expressões como "I'm on Henry"ou "I'm riding a Horse" eram entendidas como se as pessoas estivessem numa viagem alucinógena provocada pela Heroína. Aí, você junta Henry com Horse, numa canção dos Beatles, e, HELL!!! Critica-se a canção por ser alusão a drogas!!! Gente procurava pelo em ovo, como eu disse em Fixing A Hole! É até contraproducente, porque 95% da população que nem tinha ideia dos apelidos acabava por conhecer e de repente ficava com vontade de cavalgar também. Gente burra!
Já que falamos em Horse, lembro que ele aparece na última frase do Verso 2, na frase acima, que diz que "E claro, Henry, o cavalo, dança uma valsa", e na canção, ele introduz realmente uma valsa, o primeiro Verso Instrumental inteiro é uma valsa, compasso 3/4, é uma boa deixa pra falar da estonteante parte musical desta análise, mas pra não colocar o carro na frente dos bois (isto aqui está virando uma fazenda...), começo pela base! Ela é feita por George Martin no harmônio, (sim, o Maestro também participa de uma base), Paul no baixo, Ringo na bateria, John no vocal (sim, mais uma vez retornando aos velhos tempos) e George no chocalho (sim, sua guitarra ficou descansando, e descansaria até o final desta canção!). O clima de circo nos versos foi garantido por Ringo, uma rufada de suspense na caixa (trrrr) e chimbal e tambor (tchii-pum, tchiii-pum) e, no primeiro verso instrumental, a espetacular mudança para ritmo de valsa (pa-pa-pum, pa-pa-pum), e de volta ao original no terceiro verso cantado e no verso final. Brilhante! Pra não repetir 'genial'!
Decerto, For The Benefit Of Mr. Kite é uma das mais complexas canções do álbum, e da história Beatle. John quis que ela soasse como um parque de diversões daquele século, queria 'sentir o cheiro de serragem no chão', Isso gerou uma espetacular sequência de overdubs inéditos, inovativos, cheios de trucagem. Começa com John e George tocando gaitas enormes na abertura e em outros momentos de mudança de acorde. Quando entra a valsa, no primeiro verso instrumental, John queria uma dança colorida, um verdadeiro redemoinho de sons, necessário ao efeito de circo, mas George Martin chamou John num canto e confessou que não tinha habilidade no teclado para tocar naquela velocidade, então propôs que John tocasse a base num Hammomd, porém na metade da velocidade, e em uma oitava abaixo, enquanto ele fazia o mesmo no seu elaborado dedilhado em outro órgão, depois, na edição, dobrariam a velocidade! Martin já havia feito o mesmo para dar o som de cravo ao piano em In My Life. Ficou perfeito! E veio Paul com uma guitarra fantástica na metade final do verso, note bem!! E vieram as harmonias vocais de Paul e George, nas 3 frases destacadas acima, que terminam os três versos.  
Entretanto, faltava AQUELE som, que John queria. George Martin até tentou comprar, ou alugar, um órgão a vapor, da época, ou um Calíope novo, mas que tivesse aqueles tubos, românticos, do passado! Não conseguiu, nem um nem outro. Partiu pra solução caseira. Pensou-se em usar gravações de estúdio do instrumento, eles as tinham aos montes, mas não podiam simplesmente usá-las, pois seria identificadas! E veio A IDÉIA (com acento e tudo)! Martin chamou o produtor Geoff Emmerick e travou-se o seguinte diálogo (romanceado por mim), e tomaram-se as providências correspondentes. E, para viajar comigo, lembrem-se que era 1967, 55 anos atrás, onde tudo era analógico, então quando se falava em cortar um trecho, significava pegar uma tesoura e cortar efetivamente a fita de gravação! 

Genial!!  (De novo!!) Nem precisa dizer que John e os demais Beatles amaram o resultado, e o mundo da música se espantou, mais uma vez, com a genialidade do Maestro. O som é bem ouvido  no verso instrumental final, em diversos pontos! Preste atenção!
Tanto Paul fica tranquilo em declarar que a canção é uma coautoria, que ele resolveu tocá-la, ao vivo em suas últimas excursões, veja aqui neste LINK

13 comentários:

  1. Realmente amo essa música
    Suas análises são brilhantes

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  2. Uma vez mais você arrasou nos detalhes.

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  3. Realmente george Martin era o quinto Beatle.
    Álbum à frente de seus tempo é muito doido.
    É generalidade pura.
    O álbum é o próprio espetáculo

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  4. A música é genial e parece q estamos viajando em um mundo fantástico..
    Fecha magistralmente o lado A .. perfeito!!!

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  5. Texto a altura da música, mestre. Mandou muito bem

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Homero,como você bem sabe,uma vez em uma entrevista para a Rolling Stones Paul disse que também tinha participado da confecção de Mr. Kite e ficava triste quando diziam que a canção era só do John.O Paul jura que um dia passou uma tarde com o Jonh olhando para aquele pôster circense de 1843 e que eles confabularam muito sobre detalhes de "Being for the Benefit of Mr. Kite".Belíssimo trabalho HOMERIX MACHINE. Parabéns por se dedicar tanto aos velhinhos de Liverpool.Super legal o Paul incluí-la em seu recente repertório. Valeu Dylmar Gomes

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  8. Amei a conversa de George martin com Geoff. Romanceou bem. Tudo o texto é uma viagem deliciosa.
    Estou me vendo lá no Mineirão vendo Paul...Quando ele começa mr. Kite o jovem perto de mim solta um palavrão. Há momentos que só mesmo um palavrão tem força suficiente para expressar nossas emoções.

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  9. Post maravilhoso, como sempre, bom amigo. Aprende do aos montes por aqui... abraço e keep writing!!

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