Preparo ou Intenção?
É impressionante como o mercado tem memória curta, ainda mais impulsionado por uma imprensa mal-preparada, ou se bem preparada, mal-intencionada. Se fosse apenas mau preparo, eu até entenderia. Desde cedo, quando adentrei ao mundo Petrobras, mesmo com o pouco que sabia, já percebia as besteiras que saíam na imprensa escrita. Quantas vezes lemos que a empresa havia ‘descoberto um poço de petróleo’? Por essa e outras, eu cheguei a desconfiar da acurácia do que lia sobre outros temas que eu não conhecia.
Ao longo dos anos, devido à importância que a indústria do petróleo no Brasil ganhou com os sucessivos sucessos (uau!) da Petrobras, os recordes de produção em águas profundas, a tecnologia respeitada mundo afora, a auto-suficiência, o corajoso plano de investimentos de 175 BUSD em 5 anos, enfim, são tantas emoções, a imprensa foi se aculturando sobre o tema, e o febeapá foi diminuindo e chegou-se a um nível até que aceitável.
A má intenção tem sido testemunhada por todos ultimamente: qualquer desconfiança sobre um procedimento da Petrobras é elevada ao cubo pela imprensa, e quase que instantaneamente levada à categoria de denúncia. Está adorando a CPI, e ficou incomodada com o golpe de mestre do blog ‘quebrador de confiança’ que a empresa instaurou, porém sem ferir a qualquer regra de ética ou boa conduta, informática ou jornalística, como muitos órgãos da vitimada (como ela se sentiu) imprensa reconheceram.
O anúncio do poço seco da Exxon, cuja interpretação pela imprensa que provocou necessidade de esclarecimento, é um episódio que acho difícil creditar a um mau preparo, e desconfio firmemente que sim, deve-se ao segundo mal, a má intenção.
Quero crer que a imprensa sabe ou deveria estar cansada de saber que exploração de petróleo é um negócio de risco;
Sabe ou deveria saber que furar poço seco não se configura em novidade para qualquer empresa de petróleo;
Já deveria estar no sangue dos especialistas, o fato que o risco médio da indústria mundial gira entre 1:4 e 1:5 ou seja, a cada 4 ou 5 poços pioneiros, ocorre uma descoberta;
Como bons brasileiros com um mínimo de entendimento sobre o assunto, já deveriam se orgulhar de que o índice de sucesso da Petrobras na exploração era entre 40% e 50% (ou risco entre 2:5 e 1:2), antes do advento do Pré-Sal, levando-a a um perfil de crescimento garantido de produção entre 6% e 8% anuais, deixando loooonge a segunda colocada, tudo isso antes de vencermos o desafio daquela lapa de 2 km de sal;
E certamente acompanharam o passado recente, e presenciaram, com o queixo caído (como está todo o resto da indústria de petróleo no mundo), que TODOS os últimos 11 que a Petrobras perfurou, em busca de óleo abaixo da tal camada, encontraram expressivos volumes. Índice assim somente se viu na época do Coronel Drake, no final do Século XIX, quando era só furar, e correr pro abraço (e tratar os feridos provocados pelo jato negro que emergia da terra, destruindo a torre de perfuração que propiciara a descoberta).
Aí vem a imprensa e, por causa de um primeiro poço seco no promissor horizonte, perfurado por outra companhia, coloca em dúvida a magnitude da fenomenal formação rochosa. Creio que nunca a Petrobras, ou qualquer outra companhia que tenha ‘propriedade’ de um Bloco de Pré-Sal tenha declarado que “a partir de agora, é certo que teremos sucesso em todo e qualquer poço com o objetivo Pré-Sal”. Ninguém pode garantir isto: a coisa está enterrada em 5000 metros de rocha e sal, e só a perfuração de um poço, fará com que qualquer gota de petróleo que esteja lá vai ver a luz do sol. Admito que as expectativas sejam grandes, e há motivos para tal, mas só gostaria de lembrar que o novo horizonte tem o ‘direito’ de provocar mais uns 30 a 40 poços secos para igualar-se à média mundial, ou, vá lá, mais 10 a 15 poços secos, se exigirmos ‘apenas’ o índice de sucesso da própria Petrobras.
E aí vem o mercado, bobinho, acredita no que a imprensa publica, e corre pra vender algumas ações, se bem que não foi apenas o episódio citado o causador da queda do preço, como bem informa a nota.
Concluindo, trata-se de, no mínimo, má vontade.
Homero Ventura
Engenheiro
28 anos de Petrobras
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