O responsável pelo ápice fez 80 anos...
hora de relembrar minha resenha...
AMIGOS, CHEGUEI AO ÁPICE!!!
Era 29 de março de 2012
Escolha os melhores adjetivos para o que vi na última quinta-feira, no Engenhão, e eles serão insuficientes.... seguramente, Roger Waters - The Wall foi o melhor show a que assisti e a que assistirei, contando minha vida pregressa e futura ... não tenho dúvida ... e olha que eu vi Paul McCartney!!! E vocês sabem o que isso significa pra mim!!
Estava com medo da chuva, por causa da recente pneumonia, mas fui liberado pela pneumologista... ela disse que eu não só podia ir, como devia ir, qualquer coisa era melhor que amargura de não fazer uma coisa muito desejada...Arrisquei e me dei bem: não choveu uma gota e cheguei a ver estrelas!! Uma no céu, e várias de êxtase total!
Realmente, seria uma amargura profunda, ter perdido o maior show de todos os tempos.
A essência do show é tocar o repertório do disco do Pink Floyd, The Wall, de 1979, que conta a história de um personagem que não conheceu seu pai que morreu na 2ª guerra, superprotegido e sufocado pela mãe, maltratado na escola, reprimido de todas as formas, depressivo quando adulto, que vai construindo um muro em volta dele. Muito da própria vida de Roger, e que, no filme homônimo de Alan Parker, de 1982, ganhou o codinome Pink. O espetáculo mostra tudo isso...
Quando se entra no estádio se vê o muro, com 'tijolos' de quase um metro de altura e profundidade por quase 2 metros de largura, ou algo assim. A extensão dele é de 130 metros, a altura, de 11 metros. Ele está completo nas extremidades, mas incompleto no meio, aonde fica o palco, e, claro, como não poderia deixar de ser, o enorme telão circular, marca registrada do Pink Floyd.
Ao longo da 1ª parte do show, o muro vai ganhando tijolos, um aqui, dois ali, três juntos acolá, a banda vai desaparecendo atrás do muro que vai crescendo, até que no final do primeiro ato, Roger aparece pra cantar Goodbye Cruel World, e desaparece atrás do último tijolo!! Está construído o muro em volta de Roger/Pink.
Na volta do intervalo a banda, que não se vê, começa os primeiros acordes de Hey You, você sabe, quando 'pink' canta "Hey You, out there on the wall ... can you help me!!!" ... e depois Is there anybody out there?, Ou seja, tudo a ver, ele preso dentro do muro, pedindo socorro. E aí vem Comfortably Numb, executada ainda detrás do muro, mas com aparições lá em cima, na pele dos dois 'subs' de Gilmour, um para cantar sua parte na música, outro para fazer dois dos mais espetaculares solos da história do rock, à perfeição!!!! Ao longo do 2º ato, parte da banda passa pra frente do palco, Roger fica pra lá e pra cá, em êxtase e extasiando, e ao final, o muro é destruído novamente!!
Entretanto, a presença do muro não pára por aí. Ele se torna o maior telão de todos os tempos, e em sua face, a história de The Wall é contada em enorme resolução de trilhões de pixels ao longo de cada um de seus 1.200 tijolos. Quem estava ali na frente notou um monte de projetores lançando as imagens perfeitamente concatenadas.
E então, cenas do filme The Wall, tão marcantes, fazem parte do show, e com a alta definição, ficam muito mais impressionantes. Aliás, é tanta coisa que acontece no telão que duvido que quem estivesse ali, de pertinho, na Pista Prime, tenha conseguido ver a totalidade do espetáculo.
Pontos altos? Difïcil desfilar duas horas de pontos altos... Vou aqui listar alguns que sobressaíram por gerarem uma dose extra de emoção, de estupefação, de espanto, ou um sorriso agradecido por estar ali, ou mesmo uma gargalhada...
Um só momento de pirotecnia
Na abertura, In The Flesh começa a contar a história de Roger/Pink, passa o clima da 2ª Guerra que matou seu pai. Os fortes acordes iniciais são marcados por sucessões de fogos de artifício, depois, sons de bombardeio e aviões. A coisa culmina com um avião em miniatura que vem lá do fundo alto do estádio, com muito barulho, dirigido por um cabo, e destrói uns 4 ou 5 tijolos do topo do muro para delírio da platéia!!! Eu estava quase debaixo do cabo, e percebi o momento em que o avião viria, olhei pra trás e filmei, abaixo...
Outro tijolo no muro
Não se pode deixar de ressaltar o maior sucesso do disco, Another Brick In The Wall, com a presença de um boneco marionete gigante representando o professor repressor, com olhos brilhantes e a vara com que ameaçava os alunos. Adolescentes da Rocinha chamados ao palco para cantarem, ritmados, 'We Don´t Need No Education...', e para fazer uma admoestação ao professor amedrontado pela reação dos alunos. Eles não decepcionaram na coreografia. Solo de guitarra perfeito, como era de se esperar. Ótimo!
Terrorismo de Estado
Roger tem homenageado nesta excursão pessoas dos países que foram vítimas do terrorismo de Estado, como ele diz no show, num breve discurso em português perfeito, em homenagem a Jean Charles de Menezes. Interessante que, como os olhos de Roger são pequenos, como os de Richard Gere, a gente nem percebe que ele está lendo o teleprompter. Aliás, interessante também, é como um sujeito tão esplendorosamente feio na juventude, pode se tornar um senhor charmoso, a ponto de lembrar o galã Richard Gere... Notável, na homenagem, é quando Roger fala: 'Jean Charles de Menezes you are just another brick in the wall', e todo o muro se apaga, com exceção de um tijolo, com a foto do brasileiro morto pela polícia de Londres, confundido com um terrorista. Arrepiante! Aliás, apenas Jean Charles e o pai de Roger, Eric Waters, aparecem, com nomes e tempo de vida no telão redondo.
No Fucking Way
Em 'Mother', que é desempenhada apenas ao violão por Roger, uma conversa dele com a mãe superprotetora, cantada pelo avatar de Gilmour. Antes, Roger anuncia que mostrará a imagem dele mesmo 33 anos antes, cantando a mesma canção em Londres. Emocionante!! Foi aqui nessa música, muito emotiva, com um diálogo tocante, que aconteceu, paradoxalmente, o momento gargalhada do espetáculo. Roger canta: "Mother, should I run for president?" e a galera: Yeeeah!!, logo depois: "Mother, should I trust the government?" e a galera: Noooo!. Melhor que isso é o que acontece no muro/telão, á esquerda. Aparece uma pichada com o 'No Fucking Way!!' acima, mas logo depois, para delírio e gargalhada generalizada, aparece um brasileiríssimo e garrafal:
'Nem Fudendo!!'
Bombas modernas
Em Goodbye Blue Sky, em que a amedrontada criança diz
"Look, mommy. There's an airplane up in the sky!" o muro mostra todo o seu esplendor de telão com imagens do filme, de aviões bombardeando as cidades. No show, além das tradicionais bombas com símbolos políticos (suásticas, foice/martelo) e de religiões (cruzes, estrela de David, estrela e o crescente lunar), Roger destila sua crítica às grandes corporações, acrescentando os logos da Shell, da Mercedes Benz, do McDonald's. Imagem forte!!
Lágrimas pelo muro
Em Young Lust, o muro mostra dois olhos femininos enormes...... pelo meio da canção, eles começam a chorar lágrimas coloridas .... no quarto final, o muro todo começa a chorar, impressionantes 130 metros de lágrimas.... liiiindo!!
Atrás do muro
Essa já contei ali em cima, com as canções sem a visão da banda, culminando com a performance em cima do muro.
Imagem de guerra
Em Run Like Hell, um duelo paranóico, o telão mostra as mesmas imagens do flme EXCETO a impressionante imagem de um helicóptero, em que seu piloto pergunta de deve atirar em suspeitos, no Iraque, ainda na época Bush. Ao receber a ordem, o helicóptero atira e mata todos, para depois se descobrir que as armas eram câmeras, e entre as vítimas estavam dois jornalistas....
O porco
O animal é figura marcada na história de Pink Floyd, desde que o porco inflável que aparece na capa de Animals, junto a uma sub-estação elétrica, caiu, provocando black-out em Londres. Ele reaparece em shows, e não poderia deixar de estar aqui. O dito cujo, enorme, mais de 5 metros de comprimento, começou a flanar por sobre a platéia, lá pela metade do segundo ato, negro, cheio de inscrições contra o governo, contra a corrupção e racismo, e lá perto do fim, ele começou a baixar, baixar, baixar, até que pousou sobre as pessoas a uns 5 metros de onde eu estava. Nâo sei se a descida foi proposital, mas só que quando pousou, não saía mais e foi devidamente esvaziado... como que simbolicamente acabando com as coisas ruins que os escritos levantavam...
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O show continua magnífico, com os marcantes martelos cruzados marchando pelo muro/telão, os impressionates vermes de Waiting For The Worms e o julgamento em The Trial, aonde voltam o professor acusando e a mãe defendendo, mas para o veredicto final: culpado!! E, a destruição final, do muro, de parte daquilo que foi construído no 1º ato... Perfeito!!!
Na saída, sem clima para qualquer tipo de bis, afinal aquilo lá foi um teatro, uma ópera, aparecem os membros da banda e os vocalistas, tocando acusticamente, e Roger surpreende com um trompete!!! A platéia solta um estranho 'Olê Olê Olê Rogêêê, Rogêêê', mas que é acompanhado pela banda.
Fim de tudo
Mais uma vez 'deixo a arena com as pernas bambas, de cansaço e de emoção', como deixei quando vi 'Dark Side Of The Moon', na Apoteose em 2007, mas desta vez com a certeza de que ...
'Nunca antes na história deste rock and roll!!'
parafraseando o ex-presidente, houve um show como este.
E também, qual Olavo Bilac , digo...
'Nunca verás um show como este!!'
Homerix Ainda Embasbacado Ventura