-

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Get Back - by Virginia, 2ª Parte

 

Esta é a 2ª Parte das impressões da querida Virginia, enorme Beatlemaníaca, sobre o Documentário Get Back.

Aqui, neste LINK, a 1ª Parte, Contextualização


Get Back- minha visão.

Segunda parte.

Hoje eu volto até 1972.

Descubro um festival de filmes de rock no Cine São Luis. Entre os escolhidos para a mostra está ‘Let it Be’. Já o conhecia de nome. Tinha sido lançado em 1970 em Londres. Já tinha lido a seu respeito nas revistas e também no jornal Disc and Music Echo. Que maravilha poder finalmente ver tudo no telão.

Abílio Morais, guitarrista dos Flintstones, vem aqui me buscar para irmos juntos. Cinema lotado com toda a turma roqueira da cidade. Todo mundo rindo para as paredes.

O filme começa. É algo totalmente original. Não há roteiro. São eles ali naturalmente fazendo o de sempre. A câmera apenas registra. Mas o que talvez fosse enfadonho com qualquer outra banda, é muito agradável por ser com os Beatles. Como disse aquele fã: “Estou me sentindo lá dentro com eles!”

Fico surpresa com a má qualidade da fotografia. Toda granulada. Mas logo esqueço esse problema. Bom demais ver as músicas surgindo todas já de grande sucesso, pois vimos o filme dois anos depois do lançamento do álbum.

Há momentos de descontração e diversão. Impossível saber que também brincavam muito como garotos que eram. Sabemos agora graças a Get Back. O diretor optou por momentos onde estão mais sérios sem deixar de incluir algumas cenas saborosas. Eu amando qualquer coisa. Sabe aquela mãe que se encanta com seu bebê por coisas que todos os bebês fazem? “Oh, que gracinha... ele sorriu!” Pois estou bem assim no cinema olhando os Beatles. “Oh, que gracinha! Paul tomando café!” “Ai, que lindo... George bocejando”. “Gente, que fofura, John coçando a cabeça!” “ E olha Ringo tomando um susto! Que coisa mais fofa!”

Sim, ali está a Sra. Yoko Ono. Muda em seu silêncio incrivelmente ruidoso. Não incluíram coisas que eu já tinha lido a respeito, como quando se sentou num dos microfones. Quebrou o bendito! Como quando ficava o tempo todo numa cama no meio do estúdio atrapalhando o trânsito. Idéia de John. Ela tinha passado por um aborto espontâneo. Precisava de repouso. Mas não podia repousar em casa? E foi bem naqueles dias com aquela cama incomodando a todos que tinham de ali passar, que ela se levantou escondido... Vejam a cena. Ela abre a gaveta onde George tinha guardado seus biscoitos e os devora! Lá vem George querendo fazer seu lanche. Abre a gaveta. O quê? Onde estão os meus biscoitos? A casa quase cai. A criança dentro de George não agüenta aquilo. Mas ele se justifica: “Não é por causa dos biscoitos. É pela mentira dela! Precisa de uma cama aqui dentro porque não pode caminhar... Mas teve como levantar para pegar meus biscoitos!”

Nada nem parecido se encontra naquele documentário. Ela fica quase invisível o tempo todo, o que acho bom. Afinal o filme não era sobre ela. Ninguém, naquele tempo, concluiu ser Yoko inocente por conta disso.

Dos momentos adoráveis talvez o melhor tenha sido Paul cantando “Besame Mucho” com voz alterada. No cinema todos parecem surpresos. Muitos comentam em voz alta. “Besame Mucho?” Sim, era parte do repertório deles antes do sucesso. Eu deliro com a cena. John com cara boa parecendo com vontade de beijar muito.

Outro momento adorável: Billy Preston entrando em cena dançando. Rosto mostrando pura felicidade. Afinal tocaria teclados para os Beatles. E como toca maravilhosamente bem completando o que faltava. Os Beatles amaram e nós também.

E aquelas músicas maravilhosas? Paul ao piano com “The Long and Winding Road” é puro êxtase. Alguns se espantam com os lábios inchados de Paul. Mas eu sabia ser devido a um acidente de moto ocorrido ainda em 65 ou 66 e que teimava em não sarar. Paul deixa o bigode crescer para ocultar o problema... mas não oculta. Com isso, todos deixam o bigode crescer também. E há quem duvide do tanto que eram ligados.

Incluem momentos de tensão, como o já mencionado desentendimento entre Paul e George enquanto tocam “I got a feeling”. O editor trocou a música. Na verdade “aquilo” aconteceu enquanto trabalhavam em “Two of Us”. “Get Back” esclarece isso. Nem me passa pela cabeça ser uma briga.

E tem Heather, filha de Linda, muito bonitinha, mas endiabrada demais na hora do serviço. Ringo parece se divertir com ela na bateria.

Finalmente o ponto mais alto de todos: o show no telhado. Que coisa sensacional. Além de inovarem no estilo documentário, estavam inovando também quanto a shows. Eu sei que Roberto Carlos já tinha tocado no telhado para um dos seus filmes seguindo o roteiro e sem platéia. E que Jefferson Airplane também tocou para um filme de Godard... que nunca ninguém viu. É verdade que eles surpreenderam quem passava naquela rua de Nova York e que a polícia apareceu. Mas não foi show. Uma música apenas! E era para ser só isso mesmo. Nem foi idéia deles! É diferente do que os Beatles fizeram. Ali estavam eles fazendo um show de graça com diversas músicas para quem estivesse passando na rua. Coisa deles. Uma multidão forma-se em volta do edifício. Um senhor já idoso de chapéu e guarda-chuva sobe pela escada de incêndio! É um presente extraordinário nunca ofertado antes. Presente interrompido pela polícia, pois pessoas trabalhando nos escritórios fizeram queixa do “barulho”.

No cinema, nós celebramos. Que alegria chegando até nós do alto da Apple. E eu tive meus motivos pessoais para me emocionar... A polícia chega, e quem vem abrir a porta? Ele! Aquele rapaz com quem eu conversava na porta da Apple. Dei a ele meu recado para os Beatles no último dia. Ao reconhecê-lo, deixo escapar um grito... “Meu amigo!” Ninguém fala nada.

Já tinha tido emoção parecida ao ver George chegando à Apple olhando de um lado para outro, e subindo aqueles degraus meus conhecidos, degraus que meus pezinhos também subiram. Mas ver o meu “amigo “(quanta pretensão!) me fez gritar de emoção.

Fim do filme. Luzes se acendem. Na saída Abílio pergunta: “Que amigo é aquele que te fez gritar? Que história é essa?” Conto para ele... Pois não é que se emociona também?

Em seguida comenta sobre a ‘briga”. –“Viu a humildade de George? Dizendo que tocaria do jeito que Paul quisesse e nem tocaria se ele não quisesse... Paul querendo ensinar George como tocar!” Fico espantada. Eu não tinha visto como briga e sim, um desentendimento que imaginava ser comum em situações como aquela. Pois se já tinha visto coisas parecidas nos ensaios do Grupo de Seresta! E ninguém ficava ressentido.” Respondo: “George disse isso, mas não me parece ter sido sincero, pois não tocou do jeito que Paul queria! Ele falou... mas não tocou. E pra mim Paul não queria ensinar. Queria apenas que George tocasse do jeito que estava em sua cabeça... afinal é o compositor da música”.

Juro não recordar se falam na saída de George por alguns dias. Provavelmente sim, mas... sumiu da minha memória. Com certeza, não deram o destaque de agora no “Get Back”. Ah, o que importa é que foram lá pra cima do telhado e cantaram diretamente do céu.

Naquela noite no cinema, os fãs vibram cantando junto. Todo mundo com cara boa, todo mundo feliz... Tínhamos entrado no estúdio deles, passado mais de uma hora pertinho deles...e ainda fomos agraciados com o maior concerto de rock de todos os tempos! Eu não deixo por menos.

Alguns anos depois eu ligo a TV numa tarde e vejo que o filme está sendo mostrado pela Bandeirantes. Concentro-me na famosa “briga”. Como todos viram o que não vi? Pois continuei sem ver. Um bate-boca comum, nem mesmo levantam as vozes! E como da primeira vez, entro lá dentro achando tudo lindo. 

Amanhã, tem a parte três. Será sobre o documentário finalmente.

Acrescento vídeo deles cantando “Besame Mucho” como está no Let it Be. Má qualidade e me parece ser editado. Não creio que Paul tenha repetido uma frase da musica por três vezes. Mas é o único que encontrei. Vale a pena ver assim mesmo.



 Aqui, neste LINK, a 3ª Parte, Os Piores Momentos

Aqui, neste LINK, a 4ª Parte, Os Melhores Momentos

Aqui, neste LINK, a 5ª Parte, O Grand Finale



7 comentários:

  1. E ainda por cima com as devidas correções. Thank you!

    ResponderExcluir
  2. Muito bom conhecer esses bastidores da gravação do documentário dos Beatles. Tem até a discussão de Paul querendo ensinar George a tocar; e a cama de Yoko, atrapalhando a passagem, e ela comendo, escondida, os biscoitos de George, que fica uma fera; e ela, sentando num microfone e quebrando.
    E para arrematar, Beatles cantando _Besame Mucho_. Genial.
    Vera Mussi

    ResponderExcluir
  3. Excelente, Virgínia.
    Desde o começo que saboreio esse blog, já mantinha por ti muita admiração
    Conhece muito essa menina!!!
    Parabéns

    ResponderExcluir
  4. Vera e Carlos...bom demais ler seus comentários. Obrigada.

    ResponderExcluir
  5. Impressiona a clareza descritiva de um evento ocorrido em 1972 e, novamente, com algumas molduras poéticas no texto. Como, por exemplo, "todo mundo rindo para as paredes". A estranha e inebriante felicidade daqueles que atingem o êxtase ao apreciar a paixão pelos Beatles. A cronista mimiza as rusgas entre Paul e George, mas espezinha Yoko como um estorvo ornamental durante as sessões criativas dos Beatles. Talvez o personagem de Yoko nos ensaios tenha tido tanta importância quanto a dos integrantes da banda, visto que muitos não possuem um julgamento tão draconiano sobre a esposa de John. Interessante, que a história da vida dos Beatles até hoje segue com o beneplácito de Yoko. Parabéns Virgínia. Laury

    ResponderExcluir
  6. É como sempre digo: escrever para mim é uma delícia. Mas de pouco adiantaria sem leitores. Obrigada.

    ResponderExcluir
  7. Ao ler o texto penso , porque perder tempo sequer citando Yoko, mas não há como escapar dela , é como falar de Adão e Eva sem falar da serpente que enfeitiçou Eva, sem a serpente a história de Adão e Eva não faria sentido, ah quanto a união deles e amor além da vida, não tenho dúvida sempre se amaram , talvez mais que muito irmão de sangue, por isso acho que a vinda dessa Sra foi algo demoníaco, talvez algo desejado pelos invejosos que tentaram a fama , mas nem de longe chegaram perto , tipo inveja de concorrente , se não podemos destruir de um jeito destruímos de outro , o que a gente deseja tem poder , sei lá , posso ter viajado um pouco , mas só isso explica esse quinto elemento vindo da treva do inferno , para destruir a banda.
    Ivone Maia

    ResponderExcluir