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sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

A Despedida de um Rei

UM ANO SEM ELE

Recordo-me como acompanhei aquele fim

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Era quinta-feira, dia 29, e eu assistia ao Estúdio I, na GloboNews...

Corria uma, como sempre, ótima reportagem direto de Brasília...

Quando, de repente, interrompe Andréa Sadi...

De imediato, pensei: Morreu Pelé....

E Sadi confirmou...

E eu chorei...

Hoje, terça-feira, dia 3, eu assistia ao Estúdio I da GloboNews

Andréa Sadi comandava novamente o show.

Entrava no Mausoléu Memorial de Santos o caixão real.

E eu enxuguei a última lágrima.... 

Nossa, quanta coisa aconteceu em 5 dias...

Na manhã daquele primeiro dia, eu havia mandado minha mensagem de fim de ano e disse que somente ouviriam de mim de novo no dia 4, quando celebraria, como sempre faço, meu próprio aniversário, atualizando meu post retroativo até o dia de minha chegada neste mundo... A NÃO SER... que algum valor mais alto se ‘alevantasse’.... usando o mesmo verbo que Camões usou na 3ª estrofe do Lusíadas.

E o tal valor mais alto se ‘alevantou’...

Morria um ídolo meu .... muito mais que isso, um ícone mundial....

E eu tinha que incomodar os amigos de novo...

Na sexta-feira, disse que não ia escrever nada de novo, e compilei tudo o que escrevi sobre o Rei num único post... eram 10 outros posts ... aqui, neste post... mas mesmo não-escrevendo, acabei fazendo uma ode às qualidades esportivas da entidade que se fora...

... afinal já publiquei bastante sobre ELE, como narrava o locutor Walter Abrahão, sempre que Pelé tocava na bola, nas transmissões da antiga TV Tupi. Era uma reverência fenomenal, o inominável, o que não precisa nomear, bastava ser, bastava estar presente, bastava nos encantar com sua classe (já viram ELE conduzindo a bola?), com sua velocidade (já viram ELE sair atrás e chegar na frente do zagueiro?), com sua habilidade (já viram ELE driblar?), sua com força (já viram ELE chutar?), com sua ambivalência (já viram ELE usar o pé esquerdo, apesar de destro), com sua impulsão (já viram ELE cabecear?), sua delicadeza (já viram ELE matar uma bola no peito?), sua malandragem (já viram ELE fazer falta no zagueiro e o juiz marcar pênalti a favor do time dELE?), sua malícia (já viram ELE tabelando nas pernas dos adversários?) e por que não, com sua felinidade (já viram ELE defender pênalti?), enfim...

E muitos amigos já gostaram do Não-Texto

O principal post meu sobre Pelé, e que abre a tal coletânea de posts, coletava frases que descreviam o Rei melhor do que qualquer texto que eu poderia produzir, este aqui, então resolvi liberá-las em doses, como chamei, homeRopáticas, e fui fazendo, de 5 em 5, na sexta, no sábado e no domingo.

Mas no sábado, morreu o Papa Emérito, fechando o ano de impressionantes perdas de gente famosa, e eu fiz uma breve coleção delas, dizendo: 

Hoje, 2022 nos levou um Papa, há dois dias, um Rei, antes uma Rainha, e também duas Divas, duas Imortais, uma Atleta, um Mestre, um Caipira, uma Galvão, um Cineasta, um Gigante e até um Gordo, e outros menos famosos, e também alguns importantes para cada um de nós...

... não houve ninguém que acertou 100%...  gabarito ao final...

E finalizei com mais uma espécie de desejo para o Ano Novo.

Esperamos que 2023 seja isento de chamadas para o andar de cima dos que nos são caros...

E no domingo, o novo Presidente foi empossado, e não há como não se emocionar com aquela subida da rampa cheia de diversidade... até os mais recalcitrantes devem ter admirado, ao menos.

E na segunda, começou o velório do Rei Pelé, corretissimamente adiado por 3 dias pela família real, para não confundir os corações com a posse presidencial...

Era na Vila Belmiro, local onde o Rei brilhou, e marcou mais que um gol por jogo que lá disputou. Vi alguns desses jogos, quando criança.... 

E vi o último deles, em 2 de outubro de 1974, em que ele não fez gol, mas pegou a bola, no centro do campo, ajoelhou-se e agradeceu aos quatro cantos do planeta, de braços abertos.

Era sua despedida do Santos.

E ele chegou em seu caixão, direto de um vestiário para o centro do gramado, como se tivesse chegado para disputar seu último jogo.

E começou a peregrinação...

Dezenas, Centenas, Milhares, Dezenas de Milhares, Centenas de Milhares.... sim, mais de 200 mil pessoas, de todas as classes, credos, preferências, torcidas e lugares do Brasil, e mesmo de fora do Brasil, pacientemente esperavam mais de duas horas em fila sob sol escaldante (ou ao frescor da noite e madrugada) para passar por alguns segundos em frente ao caixão, aonde apenas podiam ver um pouco da face do Rei e fazer sua breve oração, muitos com lágrimas nos olhos...

Em paralelo, em meu particular mundo blogueiro, na segunda, cansei das frases SOBRE o Rei em doses homeRopáticas, mas um amigo me passou algumas frases DO Rei, sobre família e sobre Deus, e propiciou a feitura de mais um post, sobre um certo livrinho que ele tinha, que falava sobre Pelé, que pesava apenas 15 quilos. Mais detalhes aqui. 


E veio terça-feira... e veio o Presidente, prestar sua última homenagem ao Rei, mesmo em meio a profundas decisões que tinha que tomar no seu segundo dia de trabalho. Ele precisava vir.

Ouviu junto com a família, todos emocionados, a encomenda da alma real e foi-se embora.

Em seguida, começaram os processos de  fechamento do caixão, com toda a merecida pompa, a transferência a um carro de Corpo de Bombeiros, e começou o préstito, rumo à casa da mãe real, Dona Celeste, do alto de seus 100 anos de idade.

E os milhares de seres que ficaram a ver navios com o fechamento dos portões foram junto...

E juntavam-se ao longo, os moradores locais, que aplaudiam e gritavam e se emocionavam e desfraldavam enormes bandeiras.

Foram ao Canal 6, estava lá a irmã real, voltaram e entregaram o corpo para a cerimônia final, apenas entre família e poucos amigos...

A minha Cidade de Santos está de parabéns! 

Fizemos uma despedida condigna de um Rei! 

E, segundo o João, parabéns também à Globo, por encerrar  a transmissão do sepultamento do Rei com a música clássica Ode à Alegria, a 9ª do Beethoven. Que foi de arrepiar de emoção, e muito compatível com o que o nosso eterno Rei sempre nos proporcionou: ALEGRIA!

Quase 120 horas de ocorrências emocionais...

Hora agora de virar a página...

... mas antes,  gabarito das celebridades listadas

um Papa: Emérito, Bento XVI 

um Rei: Pelé

uma Rainha: Elizabeth II

duas Divas,: Gal Costa e Elza Soares

duas Imortais: Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon 

uma Atleta: Isabel, do Vôlei 

um Mestre: Sifney Poitier, de Ao Mestre com Carinho 

um Caipira: ROlando Boldrin 

uma Galvão: uma das irmãs Galvão, de Beijinho Doce

um Cineasta,: Arnaldo Jabour, mas aceitei Godard

um Gigante: Erasmo Carlos, conhecido como Gigante Gentil

um Gordo: Jô Soares

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

A Day in The Life

Esta canção  é a última do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 8 canções com História na primeira pessoa

as demais 7 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

13. A Day in The Life (Self Story Song by Lennon /McCartney)

John conta: "Eu li as notícias hoje, caramba, sobre um sortudo que conseguiu a nota. E apesar de as notícias serem tristes, eu tive que rir. Eu vi a foto!"
E assim foi, e também o político se matou dentro do carro (ou o jovem amigo Tara Browne), a cidade inglesa cheia de buracos, e o exército inglês que ganhou uma guerra, algumas notícias de jornal que John leu, e o filme que John viu,  que viraram uma canção sensacional. O refrão "I'd love to turn you on" foi considerado uma ode às drogas (e era!), o que causou o banimento inicial da canção nas rádios, mas logo passou. Paul admitiu que aquela era mesmo uma 'drug song', aliás, disse que Sgt. Pepper's era um 'drug album'. Mesmo assim, prefiro manter a canção nesta categoria, de story song. Na parte em que Paul canta 'Woke up, got out the bed, dragged a comb across my head...', eram também reminiscências da adolescência, como fizera em Penny Lane, porém, também uma história em 1ª Pessoa, afinal depois ele diz: ("I noticed I was late!"). Justificada minha classificação, vamos à história! 
 
As sessões de Sgt.Pepper's começaram em novembro de 1966, logo após os quase três meses de recesso em que os Beatles tiveram, pós-decisão de não fazerem mais shows, como contei no começo deste capítulo (LINK)! As duas primeiras canções atacadas eram obras-primas, Penny Lane e Strawbery Fields Forever, que levaram quase mês e meio para ficarem completas, e seriam lançadas em single. Portanto, obedecendo à convenção do condomínio Beatle, instalada após HELP!, não seriam lançadas em álbum. A que veio em seguida ou quase concomitantemente, era uma canção antiga de Paul, que foi revivida, When I'm Sixty Four. Portanto, chegávamos a quase dois meses e nada de aparecer uma composição nova ao efeito de ir ao novo álbum. E quando veio, foi outra obra-prima, esta que ora analiso, e que foi tão estupenda que decidiram: Esta vai fechar o álbum! 
 
Começou com uma ideia de John, que leu um jornal, pegou o violão e cantarolou o Verso 1, retratado no caput desta análise. Levou o que tinha a Paul, e os dois fizeram juntos o Verso 2, do cara que "blew his mind out in a car" e termina com "Nobody was really sure if he was from the House of Lords". E John se lembrou do filme que ele filmara recentemente, baseado num livro dele mesmo, How I Won The War, sobre uma guerra, e fez o Verso 3, que conta "The English Army had just won the war" e termina com "But I just had to look, having read the book". Sim, o verso terminaria com o livro de John, mas Paul tira da cartola um elemento importantíssimo da viagem que a canção estava se transformando, e acrescenta uma singela linha ao Verso 3, que muitos consideram um refrão, que dizia "I'd love to turn you on". Ah, como essas sete palavrinhas deram problema! Elas causaram o banimento da canção das rádios, como falei ali em cima, mas mais do que isso, e para o lado da genialidade, introduzem a verdadeira viagem que seria a ponte instrumental, sobre a qual falarei mais embaixo. A seguir, veio um complemento, de Paul, que não se pode chamar de Ponte, pois não leva a lugar nenhum, conta outra história, nada relacionada aos versos, melodia e ritmo diferentes, mas que encaixa perfeitamente. Vou chamá-la de Desvio! Nele, Paul acorda, se penteia, desce, bebe um café, percebe-se atrasado, pega casaco, chapéu, e ônibus, sobe, dá uma tragada, alguém fala e ele viaja num sonho alucinógeno.... sim, era uma "drug song". Aí entra uma linda Ponte, em que John parece que acompanha o sonho de Paul, em um tocante vocal, sem letra, apenas uma, um lamentoso "A-aaa-aaa-aa-a", maravilhoso, e ao seu final, ele mesmo segue para o Verso 4, de sua autoria, aquele do "4 thousand holes in Blackburn Lancashire", contados um a um, e aqui, deu bloqueio no letrista, que não conseguia 'fill in the blank' na frase "...holes it takes to _ _ _ _ the Albert Hall", nada demais, ele externou sua dúvida, e um amigo deles, presente, chamado Terry Dooran, disse, displicentemente: "Fill, ué!". O verso termina na mesma problemática frase, com o desejo de 'ligar' as pessoas, que, por sua vez, leva a uma segunda execução da ponte instrumental, a mesma da primeira, ao cabo da qual vem um estrondoso final em MI, sobre o qual falarei na parte musical, que começa agora!! 
 
Antes de consubstanciar a complexidade da canção, passo pelo tradicional papo sobre as rimas, que são uma em cada verso, todas ricas, se fosse em português (1-"laugh-photograph", 2-"before-Lords", 3-"look-book", 4-"all-Hall"),  mais duas no Desvio ("bad-head", "hat-flat"), além de uma interna, como Paul adora fazer "smoke-spoke". E falando em compassos, a quantidade de tempos (time signature) a canção era uma plêiade: Verso 1 - 20, Verso 2 - 18, Verso 3 - 19, Ponte Instrumental-24, Desvio-23, Ponte 2 - 20, Verso 4 - 19, Ponte Final -24. 
 
Foram necessárias 6 sessões de gravação para A Day In The Life, a primeira delas em 19 de janeiro de 1967, dia que ficou marcado na memória de George Martin e Geoff Emmerick, produtores. Era John no violão, Paul no Piano, Ringo num atabaque e George no chocalho, lembre-se bem deste último. Mas o mais importante da sessão foi que John cantou na base, e como cantou John naquele dia!! Chego a me arrepiar... Posso imaginar os quatro Beatles no chão do estúdio, enquanto Martin e Emmerick se entreolhavam na sala de controle (o aquário), perguntando-se: "O que é aquilo?". Em entrevistas posteriores, ambos afirmaram que John havia se superado naquele vocal, que causava "arrepios na espinha", ou "os pelos em minha nuca se eriçavam", o estúdio parecia voar alto na sua voz, devidamente assessorada por um eco fantástico. E aquele foi apenas o Take 1, e houve o Take 2 e o 3 e o 4, em que John, cada um ia superando o anterior! Bem, aqueles eram os 4 versos, todos cantados por John. Note ao ouvir (com fones de ouvidos, claro) que, do início do Verso 1 ao final do Verso 3, John vai passeando por sua mente, da direita para a esquerda!  Eles trabalharam também o Desvio, criado por Paul, só que Ringo passou à caixa da bateria, e Paul nada cantou, estava muito ocupado no piano. Note neste ponto, que a seção dos versos era em Sol Maior (G) num determinado ritmo, e quando Paul começa o desvio, ele vem em Mi Maior (E) e num ritmo mais acelerado! Haja modulação!  E ela veio com outra ideia de Paul.
 
Ele apresentou a ideia de uma sessão instrumental entre o Verso 3 de John e o seu Desvio, e que pensou que teria a duração de 24 compassos, mas ninguém ainda sabia como. Para deixarem o espaço certo de fita, Paul ficou tocando no piano uma nota só, e colocou Mal Evans, o faz-tudo dos Beatles, para contar a cada 4 tecladas (o compasso era 4x4), e Mal foi ta-ta-ta-1-ta-ta-ta-2-ta-ta-ta-3-ta-ta-ta-4-....-ta-ta-ta-13-ta-ta-ta-14-....-ta-ta-ta-23-ta-ta-ta-24, ao fim do qual programou um despertador pra tocar! Esse despertador sobreviveria na versão final, afinal, Paul entra cantando "Woke up, got out the bed". Terminada a sessão, de madrugada, três trilhas estavam ocupadas com a voz de John para posterior seleção dos melhores momentos... 
 
...o que foi feito logo no dia seguinte, abrindo a sessão, que teve também Paul fazendo sua linha de baixo, e teve Ringo, em sua bateria, e teve John dobrando seus vocais naquela espécie de refrão das 7 palavrinhas fatídicas, e teve Paul gravando seu vocal no Desvio (e todo mundo se espantou com a coincidência do despertador com o "Woke up"), que só não foi aproveitado porque ele errou a letra e soltou um "shit", e teve George tentando uma guitarra no final do Verso 1. Você ouve a guitarra na gravação final? Nem eu...   
 
A Sessão 3 teve o vocal final de Paul no Desvio, e também a respiração rápida de John, e o sensacional e enorme melisma da segunda Ponte, modulando de volta de E para G, com John entoando como que um mantra,  Aaaaaaa, passeando por sua mente em sonho (lembre-se que Paul havia "entered into a dream", da esquerda para a direita (ouça com fones de ouvido), cujo efeito seria ainda aumentado por orquestra, posteriormente. Paul melhorou sua linha de baixo, e Ringo foi convencido por Paul a inserir viradas de bateria usando os tom-tom's, o que acabou se constituindo em seu melhor desempenho até então, superando Rain e Tomorrow Never Knows. Foi a última sessão em que Beatles tocaram algo, exceto Paul, que tocaria.... uma baqueta de Maestro!! Para tanto, darei destaque ao próximo parágrafo 
Entre os momentos John (terminando o Verso 3) e Paul (começando o Desvio), há um revolucionário crescendo de orquestra, ideia de John, que explicou o desafio a George Martin, ou de Paul, que estava imerso em movimentos de vanguarda, e teria conversado com John, entenda-se como quiser. O desejo era que parecesse o fim do mundo! John queria uma orquestra sinfônica, de 90 músicos,  Martin reclamou do custo e Ringo veio com a ideia salvadora: "Contratem metade dos músicos e façam-nos tocar duas vezes!". George Martin escreveu uma pauta para cada instrumento com a seguinte regra: a nota mais grave possível no começo da pauta, e a nota mais aguda possível no mesmo instrumento lá no final do compasso 24, e praticamente uma linha reta de notas entre as duas, com a sugestão de ritmo pianíssimo no começo e fortíssimo no final.  Uma semana depois, 41 músicos invadiram o Estúdio 1, a maior das 3 salas, todos eles em trajes de gala, sugestão de Paul, que queria uma efeméride, os técnicos também a rigor, os Beatles e amigos (Mick, Keith e Brian dos Rolling Stones, Graham Nash, Donovan) em trajes psicodélicos. John trouxe enfeites de festa a fantasia, narizes de palhaço, chapéus, perucas, gravatas, para que todos usassem. O gigante Mal passeou pelos músicos para que escolhessem seus aparatos, e eles até que usaram, não sei se por se sentirem pressionados pelo tamanho do provedor das alegorias! E aqueles músicos  eram, apenas, os melhores da cena londrina! Depois, Paul e George Martin aproximaram cada um dos músicos explicando a pauta.

Paul subiu no púlpito, repetiu as instruções gerais de tocarem seus violinos, violas, contrabaixos e sopros, do mais grave ao mais agudo, improvisando livremente no movimento, em 24 compassos e os regeu! Fizeram 4 takes, e todos foram somados,  um por cima do outro, então graças à simples ideia de Ringo, o desejado efeito de 90 músicos, foi quase dobrado: o som resultante era de 164 instrumentos! Após a segunda entrada de John, o crescendo é repetido.
Como Grand Finale, Paul veio com uma ótima ideia de fazer um mantra em Mi Maior com as vozes dos amigos presentes na sessão. Todos toparam, fizeram quatro takes, porque os três primeiros terminaram em risadas. A ideia foi posta de lado! E veio a ideia dos pianos:  numa quinta sessão de gravação, dois pianos de cauda foram trazidos ao estúdio e ocupados por John e Mal Evans (Geoge Harrrison não apareceu), Paul e Ringo dividiram um terceiro piano, vertical, e também George Martin num harmônio. Todos ficaram em pé, para aumentar a pressão na tecla,  e tocaram, em uníssono, um acorde Mi Maior. Foram quatro vezes. A última durou 59 segundos, mas a terceira, que durou 53 segundos, foi escolhida. O movimento é considerado um dos melhores acordes finais de música da história, sempre eles... Um bom lembrete de um leitor: assim que desvanece o som do “grand finale” tocado em pianos, e antes que entre o trecho de ruídos de vozes e instrumentos, os Beatles acrescentaram apitos ultrassônicos somente audíveis por cães. Na época, ouvia-se o uivar dos cães da vizinhança, e ninguém imaginava por quê!!! Era um novo público alvo dos gênios!! E, para completar, John insere ali, depois daquilo tudo, uns sons ininteligíveis, na verdade eram sons captados da audiência daquela sessão orquestral, e tocados em reverso, aos quais os fãs insistiram em atribuir mensagens ocultas. Como cereja do bolo, John... ou seria Paul .... ah, sei lá  ... só sei que não foi George ... ausente de tudo .... bem ... os Beatles tiveram uma ideia final, deixando a última trilha do disco tocando continuamente num loop infinito, o que obrigava o ouvinte da bolacha (sim, só funciona em vinil...) a ir lá parar aquela trapizonga de tocar. Eu me lembro perfeitamente disso!! E eu tinha 9 aninhos.
 
Finalmente, a última sessão teve Paul adicionando um piano! Ah, sim, naquilo tudo, a participação de George Harrison, alheio, com a mente na cultura indiana, foi tocar .... um chocalho!  
 
A canção é a última do disco! Impossível seria ter qualquer coisa após aquele final retumbante e apoteótico! 
 
Ao vivo? Claro que recorreremos aos extraordinários The Analogues. Veja que espetáculo! Claro que não contrataram 164 instrumentistas, nem mesmo 41, mas resolveram a situação. Começam tocando os versos, muuuito bem, com o pianista fazendo a voz de John, muuuito parecida, o baterista imitando Ringo no detalhe, e chegando na hora, os 10 instrumentistas clássicos no palco são ajudados por outras dezenas num telão! O efeito é ótimo! Eu chorei aqui, e ri desenfreadamante! São geniais! Note o detalhe do 'Paul', quando entra o acorde final, pede silêncio, nada de aplausos, para reproduzir os 53 segundos, mas não teve jeito, aos 40 segundos, irrompem-se aplausos. E eles merecem. Viajem com ele, aqui, neste LINK!

ESTAVA TERMINADO 

O ÁLBUM MAIS IMPORTANTE 

DA HISTÓRIA DA MÚSICA!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

INACRE - Um Caso de Amor

 Instituição de Apoio a Criança Especial (inacre.org.br)

No sábado realizaremos uma missão daquela campanha convocada pela Neusa!

A nossa caravana irá ao INACRE na Grande Madureira 
Será nossa (minha e de Neusa) 3ª vez.... 
Descrevi a primeira, de 2021, aqui neste post. 
Quem sabe eu renove o post, 
mas deixo aqui a descrição das emoções da primeira vez... 

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Nossa missão neste ano no Programa Natal das Crianças da Seara de Amor e de Luz será entregar presentes na instituição INACRE, no sábado, e visitar famílias necessitadas de Seropédica no domingo

Explicando...

Começando nos meados do ano, uma equipe de voluntárias trabalhadoras da Seara se reúne quase que diariamente para organizar doações em sacolas de presentes de Natal, com roupas, sapatos, brinquedos, e artefatos de higiene, obtidas diretamente, ou adquiridas com os recursos provindos de campanhas de arrecadação (obrigado, amigos!!!), em sacolas destinadas à distribuição em comunidades carentes, ou em instituições de caridade, ou simplesmente para distribuição aleatória em estradas, do Rio de Janeiro e até Minas Gerais. O Natal nas Estradas teve sua última edição em 2019 (eu contei sobre ela aqui, neste LINK), e se encontra em interrupção transitória, diretamente relacionada aos cuidados profiláticos com a pandemia, mas as outras modalidades continuaram firmes, ainda que não com entrega pessoal dos membros da Seara, mas sempre se viabilizou alguma forma de entrega das doações.

Este ano, o Natal das Estradas ainda não voltou à normalidade, mas os trabalhos em comunidades e instituições, sim, com a entrega presencial das sacolas, as chamadas caravanas. 

Uma das entidades beneficiadas é a Instituição de Apoio à Criança Especial, no bairro Turiaçu no Rio de Janeiro, como consta em seu endereço, mas pode chamar de Madureira, que foram as placas que fomos seguindo pelo caminho neste ensolarado sábado! 

No site que eu provi ali em cima, encontrei uma série de 10 objetivos da casa, dos quais transcrevo aqui o primeiro, apenas para dar o pano de fundo de sua atuação.

Convergir ações sociais voltadas às crianças e adolescentes portadores de neoplasias malignas, qualidade de assistência de saúde gratuita, condições de abrigo, alimentação, transporte e encaminhamento para tratamento hospitalar, visando condições de qualidade de vida, apoio e a recuperação de saúde moral, física e psíquica, promovendo ampla integrações entre os associados.

Nossa primeira visita foi em dezembro de 2021.

Trata-se de uma iniciativa que Ana Cristina concebeu e viabilizou, e ela comanda a instituição há já 16 anos, junto com seu marido Anderson. Nesse meio tempo, quis o destino que ela concebesse Bruna, uma criança portadora de uma 'neoplasia maligna', como está definido no objetivo da casa, que foi tratada com todo amor e carinho, mas ficou neste plano apenas por dois anos, em curta missão. Seus pais viram ali confirmadas as razões por que tiveram aquela iniciativa abençoada, e que conduzem até hoje com maestria.

Saindo da fria palavra, o que encontramos ao chegar ali: cuidado, carinho, mas acima de tudo, AMOR, que é o que se vê em cada parede pintada com esmero, em cores alegres criando um ambiente 'pra cima', cada sala organizada com asseio, com tudo no lugar, cada metro quadrado destinado a oferecer às crianças cada um dos objetivos listados. Ao fundo, um galpão amplo, plenamente refrigerado com o que de melhor a tecnologia pode oferecer, uma mesa com água, refrigerante, café, leite e lanches e uma comunidade ali reunida de cerca de 30 ou 40 crianças, de todas as idades, uma delas já com 20 anos, mas ainda criança, cada uma vestida com uma camiseta da instituição com seu nome gravado em letra de mãozinha dada, dando-lhe a identidade necessária, cada uma acompanhada por sua mãezinha, ou avozinha, dispensando a ela todo o carinho e cuidado de uma missão abençoada, cada uma com sua história de abnegação a contar, não conheci nenhuma mas posso imaginar, até porque não vi ali nenhum paizinho ou avozinho.... bem.... sei que poderiam estar no trabalho .... mas era sábado... inferimos que, em sua maioria, os pais não assumiram a responsabilidade de dividir com a mãe a missão que lhes foi conferida... o que são esses homens ... mas isso é conjetura minha. Enfim....

Após as palavras de agradecimento de Ana Cristina e Anderson e de nossa saudação, passamos à distribuição nominal das sacolas. Ao contrário do Natal nas Estradas, quando se vai a esmo visitando as comunidades vicinais, e as sacolas de presentes são organizadas apenas por menino/menina/idade, ou nas comunidades carentes, tipo Acari, Gramacho, Ramos, onde as sacolas são divididas por famílias previamente cadastradas (algumas com 5 filhos, por exemplo), ali no INACRE sabe-se exatamente a criança que vai receber o seu presente. 

Não guardei bem os nomes das crianças a quem eu entreguei a sacola (mostro todas elas lá embaixo, em imagem tirada do site), mas me lembro bem de meus olhos mareados e de meu nariz fungando por debaixo da máscara... não pude deixar de me lembrar do nosso querido Carlinhos, que ficou neste plano durante 55 anos, com todo carinho e cuidado provido por meus sogros e minha esposa. Tive a honra de ter convivido com ele por 30 anos...  A diferença é que no caso de meu cunhado, havia todas as condições de bem atender a seu querido. Quantas daquelas 30 ou 40 crianças não estariam sem um tratamento, sem uma fisioterapia, sem um suporte psicológico, sem um carinho profissional, ou ainda sem um dispositivo de alimentação parenteral, caríssimo, se não fosse a atenção e a mobilização de pessoas como Ana Cristina, seu marido e associados, naquela casa que vive de doações de pessoas físicas ou jurídicas, sem qualquer ajuda governamental? 

Ao final, uma outra instituição distribuía seus presentes, e eu pensando naquilo tudo, com os braços abaixados, quando senti uma mãozinha segurar a minha e me puxar ... era Samuel, de quem antes presenciáramos o final de uma troca de fralda enquanto visitávamos a casa (super bem arrumada, pintada, revestida, cheirando bem), ele me pegou para passear... me levou para fora do salão... emitindo aqueles sons que só ele e quem dele cuida entende... pelo corredor externo, até a entrada, onde havia um pula-pula... parecia que ele queria entrar, mas nos disseram que quando ele entra lá, ele quer logo sair... esse nome eu vou levar para sempre...

Enfim, deixo aqui algumas imagens do que foi mais essa experiência de servir ao próximo, que muito nos emocionou!

Obrigado à Seara de Amor e de Luz pela oportunidade!







Os Seareiros da Caravana, com Ana Cristina na direita da foto!








quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

John Lennon Week - 43 Anos sem ele


John Lennon levou quatro tiros pelas costas em 8 de dezembro de 1980

Então, estamos nesta semana de lamentações, e resolvi juntar o que escrevi sobre o criador da maior banda de todos os tempos! Decerto que foram muitas dezenas de posts, mas somente colocarei aqueles em que ele era o tema principal!

E vou colocar numa ordem muito particular: o meu critério! 



Os nomes dos capítulos encerram links para acesso aos textos.


1. Um Dia para Não Esquecer

Apesar de começar com o terrível dia de seu assassinato, o post discorre um resumo de sua vida, como verão, bastante atribulada.

 2. Rock, Parceria e Poesia

Tento aqui, destrinchar os segredos da maior parceria de todos os tempos, mundialmente conhecida como Lennon/McCartney

 3. Teoria da Conspiração

É uma resenha de filme, do mesmo nome, mas tem muito a ver com o assassinato de John. Aliás, o texto é mais Lennon que Cinema.

 4. É tudo o que se precisa!!!

É minha exaltação ao AMOR, que Lennon inspirou em muitas canções, ao longo de sua carreira, em especial cuja tradução é o nome do post

 5. Nowhere Boy

Filme sobre a adolescência de John Lennon, seu encontro com Paul e a perda da mãe. Título perfeito, lembrando de Nowhere Man, que é como ele se considerava...

 6. Across the Universe - A mais linda letra de Lennon

É a opinião do autor, e a minha também. No post, a história da canção, com uma supreendente participação brasileira no enredo

 7. Espíritos de Natal

Usei algumas palavras de John além de uma caricatura que ele mesmo fez, para fazer a minha saudação de Natal e de Ano Novo. 

 8. Beatles - Começo do Começo e do Fim

Uma interessante coincidência de datas, separadas por apenas 5 anos, marcou a carreira dos Beatles

 9. Here Today - Beatles Trivia

Sim, a canção é de Paul mas é em homenagem a John,  é uma canção linda e eu conto um dos muitos episódios em que a ouvi e chorei

 10. Sean entrevista Elton, Julian, Paul! Antológico!

Aqui, minha análise do programa ANTOLÓGICO da BBC, onde Sean Lennon entrevistou seu padrinho, seu irmão e seu 'tio'!! Ao final, ofereço links para as mesmas. 

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Pois, é, admito que escrevi muito mais sobre Paul que sobre John, 

mas fiz com muita paixão!




 

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Lembranças Seculares

(... por serem de outro século ...)
Publicação original de agosto de 2015.
Lembrei-me dela porque hoje pela manhã, comentei sobre Guarapari.
Mas só decidi republicar porque hoje faz exatos 60 anos da morte de John Kennedy.

Quais são as mais antigas  imagens/situações que vocês se recordam de suas vidas?

Compartilhe, se for de seu desejo!

As minhas? Vou relatar quatro!

A mais antiga foi com 4 anos. Nasci em Santos, cidade de praia, mas meu pai me contava que eu não queria entrar no mar nem por um decreto. Curiosamente, meu primeiro banho de mar a quase 1000 km de minha terra natal, em Guarapari, numa viagem de férias de família. Até hoje me lembro da areia grossa daquela praia.

A segunda foi um ano depois e celebrou 50 anos agora em novembro, com grande repercussão na mídia mundial. Fiquei chocado, e chorei com o assassinato do Presidente Kennedy. Até me lembro de seu filho John John brincando com a bandeira do caixão. 

A terceira foi quando entrei para o Colégio Santista, aos 6 anos, e felizmente tenho registro fotográfico da data.



A quarta foi ainda naquela ano. Meu irmão comprou o primeiro LP dos Beatles que saiu aqui. Ele se chamava Beatlemania, e só muito tempo depois eu vim a saber que a capa era a mesma do 2º LP oficial, With The Beatles, que saíra ainda em 1963, na Inglaterra... mas eu queria mesmo é ouvir aquilo tudo. Marcou-me muito a imagem de Paul, também em meia-face como os outros 3, mas, daquele jeito, Paul parecia minha mãe iracema (bonito nome, né?). Pra quem não reconhece, Paul é o útimo fa fila de cima!

E vocês? Será que alguém vai aparecer para comentar?

domingo, 19 de novembro de 2023

My First, My Last, My Everything


Ontem, em uma casa de shows que tocava Disco Music
eu disse aos amigos que só dançaria se tocasse Barry White.
Eu me referia à canção título deste post
Hora de lembrá-lo!!
Fi-lo em 2011!!
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No Fantástico do último domingo, o Dr. Dráuzio Varella mostrou umas imagens de como seria a reprodução do ser humano. 

Impressionantes, mas eu ainda prefiro as imagens deste comercial, pelo humor, mas principalmente pela música que ele usou!!!

Gente, vejam este vídeo e depois retornem ao texto,



Viram que genial?

Que propaganda magnífica!

Além de toda a plástica, a computação gráfica, o humor, tem a tal música!

Conheciam?

Se tiveram curiosidade de ir ao 'Quem Sou Eu', ali, do lado direito, logo abaixo dos 'Marcadores', e clicaram no 'Visualizar Meu Perfil Completo', encontraram, em 'Músicas Preferidas',  o nome da canção:

You´re the first, the last, my everything

E ela estava lá since blog inception!

Trata-se de, em minha humilde opinião, da melhor canção da época Disco!!

Feita e brilhantemente executada por Barry White, ela povoou as discotecas por muito tempo no começo da década de 1970. Aquele vozeirão era de arrepiar. 

Aliás, Barry White pode ser considerado o Tim Maia americano, acho que os dois aceitariam a comparação mútua de bom grado, sem se acharem diminuídos. Astros de primeira grandeza da música! Aliás, devem estar confabulando sobre o assunto lá no outro plano, onde estão!

Não que eu tenha dançado muito ela, afinal dança não era, nem é, minha praia. Mas que ela era... e é, contagiante, ah, isso era ... e é! 

Eu ouvia e re-ouvia e mais uma vez e de novo

Aquele início, com aquele vozeirão declamando, a entrada dos violinos, o prenúncio

tcha ra tcha tcha
tcha ra ra tcha tcha 
tcha ra ra tcha tcha 
tcha ra ra ra ra ra ra ra ra
My first ... My Last  ....My Everything...

Isso era O começo de música!!!

E ia ao delírio com aquela parada total entre o primeiro e o segundo versos, dois memoráveis segundos apenas com o eco da voz de Barry, e mais adiante um lindo verso apenas instrumental com poderosa orquestra

Simplesmente genial!

E a colocação da canção no comercial é perfeita, veja se não!!!

Dá só uma olhada na letra! 

My first, my last, my everything,
And the answer to all my dreams.
You're my sun, my moon, my guiding star.
My kind of wonderful, that's what you are.

I know there's only, only one like you
There's no way they could have made two.
You're, you're all I'm living for
Your love I'll keep for evermore.
You're the first, my last, my everything. 

E agora, lembre-se do filme...

Espermatozóides voam rumo a um grande óvulo, num cenário de guerra. Todos se espatifam na parede do óvulo, até que chega um, e somente um, embalado pela música, a fazer piruetas, todo charmoso, trazendo flores, para quem, e somente para quem, se abre uma fenda, por onde ele, único dentre milhares, é admitido, propiciando assim a concepção, e iniciando o ciclo da vida. 

Aplique a letra à cena! O vitorioso declara: 
Você é a minha primeira, minha última, meu tudo! 
A resposta para todos os meus sonhos!

(decidi feminilizar a masculinidade do óvulo, para tornar a coisa mais adequada, 
problema que eu não teria na assexuada língua inglesa)

É ou não é perfeito? Um óvulo é o sonho de todo espermatozóide, mas aquele caprichosamente só aceita um e somente um dos milhões daqueles que lhe batem à porta, em toda e qualquer relação sexual em época de ovulação.

Poucas vezes, vi um comercial tão bem feito! Ele não foi ao ar, mas é um sucesso na internet. Uma seguradora belga dá a mensagem, que é: 
Encontre uma vantagem competitiva, 
encante seu cliente 
e terá sucesso!

Ouçam agora, se quiserem, o grande (em todos os sentidos) Barry White cantando a canção tema deste post.


E/ou, se quiserem vê-lo, tem este video, muito legal, ao vivo, não com o mesmo desempenho vocal da gravação, mas estupendo na interpretação. E com direito à banda, ao backing vocal e às cordas (três violinos e um violoncelo) tocadas por quatro mulheres.


Além de tudo, seu título aplica-se à minha vida, afinal Neusa é
My First, My Last, My Everything

Divirta-se!!


Homero Discutindo Ótimo Som Ventura

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Economia do Petróleo - O Risco

Original de 2017...
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Encomendaram-me um artigo com as perguntas abaixo listadas:
O que é petróleo? Qual a sua composição química? Como foi formado? Como é encontrado na natureza? Como é feito o estudo geológico para encontrar o óleo? Em quais tipos de rochas se pode encontrar petróleo? Quais são as principais características que as rochas apresentam e que são indicativos de encontrar petróleo e gás natural? Se for mais de uma, quais são as diferenças entre elas? Quais são as características que um poço precisa ter para que seja considerado um poço comercialmente viável? (*) Como é feito esse estudo? O que é pré-sal? Qual a diferença entre as demais áreas em que se encontra petróleo?

Ao invés de responder uma a uma, no velho estilo Q&A, preferi responder apenas uma delas... a que está em vermelho ... com um texto só passeando pelos vários aspectos que determinam a viabilidade de um campo de petróleo, tentando passar por todos os demais pontos questionados ao longo dele...

E vou publicá-lo aqui em uns poucos capítulos .... pode ser?
'
Antes, um breve alerta, explicando o (*) acima: não se aplica o termo 'viabilidade' a um poço de petróleo, mas, sim a um campo de petróleo, que pode ter um ou mais poços produtores. Vou modificar aqui a pergunta para: o que é preciso saber para se determinar que vale a pena perfurar um poço de petróleo?

Desde já, deixo aqui um disclaimer: não espere encontrar aqui um tratado técnico detalhado sobre o tema, a intenção foi apenas apresentar alguns aspectos dessa indústria, pra quem só ouve falar sobre ela, e não tem ideia da magnitude desse mundo, que começa lá debaixo da terra. Os puristas que me perdoem! Ah, e também releve o estilo leve... esse é meu estilo de escrever...


Capítulo 1: O Risco 


Em primeiro lugar, claro, para um campo ser viável, o petróleo precisa existir! A responsabilidade de se encontrar petróleo é do Segmento Upstream da Indústria, que investiga as possibilidades de existência de petróleo, perfura poços e, caso confirmada sua presença em quantidade comercial, produz o petróleo, processa e trata óleo e gás natural no estado bruto para entregá-los ao Segmento Downstream, que produz os derivados que serão consumidos pelo mercado. Mais recentemente, dá-se destaque também ao Segmento de Midstream, responsável pelas entregas entre segmentos, utilizando as mais variadas modalidades, sem mexer com as propriedades do que carrega.

A possibilidade de se encontrar petróleo depende da conjunção de alguns fatores da natureza, independentes entre si, que têm que estar presentes simultaneamente. De um modo geral, avalia-se a existência pela análise de 5 fatores: a geração, a migração, o fechamento, o reservatório e o ’timing’ da ocorrência deles todos. Para colocar numa linguagem lúdica, o petróleo tem que nascer, viajar, encontrar um obstáculo que será sua morada final e tudo tem que ocorrer com sincronismo para se propiciar que o ouro negro se encontre na região que é de sua propriedade, pronto para ser explorado pelo homem.

Então, vamos lá, ponto a ponto. 

Geração (O Nascimento)

O petróleo nasce na Rocha Geradora, uma rocha argilosa ou carbonática, mormente folhelhos, siltitos, e calcilutitos, portadoras de matéria orgânica. Carcaças de animais e principalmente vegetais (algas em destaque), mortos há milhões de anos, são soterrados por quilômetros de camadas rochosas ao longo do tempo. A ação da pressão dessas camadas, associada a temperaturas que variam de 80 a 200 graus Celsius, faz com que tal matéria orgânica se transforme em compostos de hidrogênio e carbono, os hidrocarbonetos, elementos básicos do petróleo, o chamado ouro negro, que pode apresentar-se na forma líquida (óleo), semi-sólida (betume) ou gasosa (gás natural). A triste realidade: nós, ainda que com pequena contribuição, poderemos ser o petróleo do futuro! Não há como escapar!

Migração (A Viagem)

Após a geração, o petróleo convive com água salgada nos poros da rocha geradora até que é expulso (migração primária) para as rochas carregadoras ou para falhas, por diferencial de pressão. O petróleo busca sempre um ponto de menor pressão e, por isso, o caminho é geralmente ascendente, em direção à superfície, mas pode ser levado a quilômetros de distância (migração secundária). Se sua alegre viagem acontece sem obstáculos, em passo de tartaruga geológica, o petróleo pode chegar até a superfície já na forma asfáltica, por vir perdendo seus componentes voláteis, o que ocorre por vezes. Em inglês, chamado ‘oil seep’. Aliás, os primeiros ‘óleos’ descobertos foram achados assim.

Fechamento (O Obstáculo)

O petróleo caminha até que encontra um impedimento para prosseguir: uma trapa ou um selo. As trapas são divididas em dois grandes grupos: i. as trapas estruturais, compostas por dobramentos ou falhas selantes, provocadas por movimentos da crosta terrestre e  ii. as trapas  estratigráficas,   que bloqueiam o petróleo por variações na litologia, ou,  em outras palavras, nas propriedades das rochas, o que pode ocorrer por fenômenos diversos. No momento em que encontra um obstáculo, também chamado de ‘selo’, o petróleo interrompe seu caminho e a mesma rocha que testemunhara sua viagem, agora o acumula, e  muda, levianamente, sem razão aparente, sua identidade: é, agora, o reservatório!

Reservatório (A Morada Final) – ou O Campo de Petróleo

Não, o petróleo não se encontra em grandes lagos subterrâneos! O reservatório de petróleo nada mais é que uma rocha porosa, uma rocha com espaços preenchido por fluidos. Se os poros são intercomunicáveis entre si, diz-se que a rocha é permeável. No reservatório, o óleo, por ser mais leve, segrega-se da água e se instala em sua porção superior. O gás, mais leve ainda, pode sair de solução e fica lá no topo. Um bom reservatório tem porosidade mínima de 10% e a máxima não passa de 35%. Arenitos e conglomerados (como os turbiditos) são tradicionais rochas-reservatório. Ser ou não ser um bom reservatório .......... eis a questão do risco!

Timing (Sincronismo)

Os fenômenos descritos até aqui não ocorrem da noite para o dia! A escala de tempo aqui é geológica e a unidade é milhão de anos! Além de ser necessária a ocorrência de todos eles, tudo tem que ter acontecido na ordem correta. A estrutura tem que estar pronta para conter o petróleo que migrou após ter nascido na rocha geradora e de lá ter sido expulso. Um exemplo comum de falta de timing: há geração, o petróleo migra e somente depois ocorre a estruturação. A esta altura, o querido ouro negro já está a léguas de distância, em busca de outro ombro amigo, na propriedade alheia!


Geólogos e Geofísicos (tratá-los-emos aqui pelo termo que engloba as duas categorias, Geocientistas) têm ferramentas (e muita imaginação!) para inferir a probabilidade de ocorrência de cada um destes fatores fundamentais para a ocorrência de petróleo. A cada ponto, em um exemplo numérico, estará um percentual, referente a tal probabilidade: 
    
    Geração -100% (o cara tem certeza que o petróleo foi gerado)
    Migração - 60%
    Fechamento - 70%
    Reservatório - 80%
    Sincronismo - 60%

Pronto! O petróleo só estará lá em baixo, quietinho, esperando que o bondoso homem venha mostrar-lhe a luz do sol se, e somente se, todos os componentes do risco ocorrerem, simultaneamente! Como são todos fatores independentes, a probabilidade total é o produto das probabilidades individuais! Portanto, o risco que o investidor encara, de encontrar petróleo em sua propriedade, neste exemplo numérico, é a multiplicação 100% x 60% x 70% x 80% x 60%, que resulta, sim, em APENAS 20%. Ou seja, ele sabe que tem um risco de 80% de não encontrar nenhum petróleo ali, onde ele precisa que esteja, em sua propriedade!