domingo, 7 de abril de 2019

Economia do Petróleo - O Desenvolvimento

Este é o Capítulo 3 de um artigo em que, respondendo à pergunta em vermelho abaixo, eu perpasso todas as demais.
O que é petróleo? Qual a sua composição química? Como foi formado? Como é encontrado na natureza? Como é feito o estudo geológico para encontrar o óleo? Em quais tipos de rochas se pode encontrar petróleo? Quais são as principais características que as rochas apresentam e que são indicativos de encontrar petróleo e gás natural? Se for mais de uma, quais são as diferenças entre elas? O que é preciso saber para se determinar que vale a pena perfurar um poço de petróleo? (*) Como é feito esse estudo? O que é pré-sal? Qual a diferença entre as demais áreas em que se encontra petróleo?
(*) pergunta adaptada - explicação no Capítulo 1 

Capítulo 1: O Risco (aqui, neste link)

Capítulo 2: A Exploração (aqui, neste link)

... muito óleo fica aderido às rochas-reservatório. Somente se recupera cerca de 30% a 35% do chamado Volume de Oil In Place, em média, sendo esse número conhecido como Fator de Recuperação. Entretanto, com o avanço das tecnologias, as técnicas de recuperação Secundária e Terciária vem aumentando substancialmente esse valor. A Noruega e o Reino Unido são campeões nesse quesito, com seus campos chegando a níveis de 50% ou até 60% de Fator de Recuperação.


Capítulo 3: O Desenvolvimento

Veja que, até agora, o investidor incorreu na MENOR parcela de investimento de seu empreendimento que é a fase exploratória (Exploração + Avaliação). Desenvolver um campo de petróleo, ou em outras palavras, implantar a infraestrutura necessária para colocar o campo em condições de ser produzido, requer a perfuração de poços produtores em grande número. Requer a instalação de Estações Coletoras e de Processamento de Óleo e Gás, aonde se separa a emulsão (mistura) óleo/água do gás que vem em solução, separa-se o óleo da água, trata-se a água para deixá-la apta ao descarte ou re-injeção, e extraem-se as últimas gotículas de óleo ainda em suspensão no gás, antes da queima (muita vez proibida) ou transporte. 

Após o processo, o óleo e o gás natural estarão em condições de serem exportados, ou entregues (ou vendidos) ao Refino, de onde sairão os derivados de petróleo e gás que nós, simples mortais, consumimos. Ninguém vai ao posto comprar óleo cru, e sim gasolina, diesel, gás natural veicular, querosene de aviação, óleo combustível, ou nafta (vinda do óleo ou do gás), e tantos outros subprodutos. Enfim, tudo precisa ser transformado para que seja consumido. Tudo isso é responsabilidade do Segmento de Downstream.

Voltando ao Upstream, se os campos são marítimos, o complexo Mundo Offshore, aquelas Estações de Tratamento e Processamento de Óleo e Gás Natural são instaladas em plataformas, fixas (limite de 300 metros de profundidade) ou flutuantes, sendo que, no Brasil, a solução mais adotada é o navio-plataforma. A sigla desses navios é FPSO – Floating Production Storage & Offloading, pois além de processar o óleo proveniente de rochas abaixo do fundo do mar, ele acumula a produção até que seja transferido (offloaded) para um navio de alívio, que levará o óleo processado para terra ou para outros destinos offshore

Nessas instalações reside grande parcela dos custos de desenvolvimento, além, claro, dos poços, produtores e injetores, cuja perfuração é complexa. De tremenda complexidade também é a completação desses poços, que é o conjunto de operações necessárias a colocar poços em produção, o que requer grande tecnologia para trazer a produção do fundo do mar até o navio, o que é um capítulo à parte de nossa indústria, as instalações de subsuperfície. Nessas páginas, o investidor se acostuma a termos estranhos como Árvore de Natal Molhada, que vem a ser um conjunto de válvulas colocado sobre cada poço, de modo a controlar seu fluxo, que pode custar a bagatela de 15 milhões de dólares. E tem que investir em Linhas (que ficam no leito marinho) e os Risers Flexíveis, complexos feixes de tubos e linhas de controle, que farão a mistura óleo/gás/água chegar à plataforma, a um singelo custo de mais ou menos 3 milhões de dólares por quilômetro!

Nesse quesito, é crucial o correto dimensionamento das instalações de produção em função dos níveis de produção previstos. Em primeiro lugar, há que se considerar que o petróleo é um recurso não-renovável. Ele está lá no fundo esperando o que se vai fazer com ele. Se abrir o poço na produção máxima que ele pode oferecer, no dia seguinte ele produzirá menos que o primeiro dia, e a produção do terceiro será menor que a do segundo, é o chamado declínio natural de produção. Isso configurar-se-ia numa explotação predatória do reservatório que, com toda certeza, resultaria numa depleção não otimizada potencial do campo, em outras palavras, recuperar-se-iam menos barris do precioso petróleo. 

Além disso, e principalmente em projetos marítimos, em que há limitação de espaço e carga para as plataformas, as instalações jamais deverão ser dimensionadas para o potencial máximo do campo. Dando números à situação, um campo do Pré-Sal, por exemplo, poderia produzir acima de 300 mil barris por dia (*), por plataforma, declinando rapidamente a 50 mil bpd em pouco tempo. Para se evitar essa instalação pouco inteligente, as plataformas são dimensionadas para, digamos, 150 mil barris por dia, e podem produzir o mesmo nível durante 3 ou 4 anos, período conhecido como Plateau de Produção (passamos ao francês…), evitando a chamada produção predatória e, além disso, certamente economizando enormes montantes de dinheiro em instalações superdimensionadas que logo ficariam ociosas.
(*) a maior plataforma instalada hoje 
é a do Campo de Agbami na Nigéria, 
com capacidade de 250 mil barris por dia.

Todos os montantes supramencionados são denominados CAPEX ou ‘Capital Expenditures’, são investimentos a serem remunerados, e depreciados com a produção ao longo da vida útil do campo. Outros dispêndios igualmente importantes são os custos operacionais para se manter o campo em produção, denominados OPEX, ou ‘Operating Expenditures’. Eles compreendem custo de pessoal, produtos químicos para o processamento, energia para se manter tudo funcionando, tarifas pelo uso de oleodutos e gasodutos de transporte, ou ainda custo dos navios de alívio em instalações submarinas, e demais despesas sem as quais o campo para de produzir. 

Isto posto, o esquema abaixo resume as diversas fases do Upstream no Petróleo (Exploração e Produção), comparando sua situação de risco e capital. Observa-se que, em geral, o Risco vai decrescendo com o avanço na cadeia, concomitante ao aumento do nível de investimentos necessários. Nota-se, no perfil de produção, aquele período de plateau para otimizar-se o nível de recuperação dos reservatórios e a razão custo-benefício dos investimentos em instalações! Note também, ao final da vida útil, um capital referente a Abandono das instalações, hoje mais conhecido como Descomissionamento, que consiste em tamponar todos os poços, deixando-os com risco Zero de vazamento,e deixar o terreno nas mesmas condições que existiam antes da descoberta. No mar, o objetivo é deixar a fauna marinha com menos interferência possível da mão humana! Tratam-se de montantes vultosos, de tamanha monta que hoje há setores especializados nas companhias que, por outro lado, procuram meios de estender a vida útil econômica o mais possível. A Bacia de Campos está com muitos campos nessa situação, porém há um incentivo para que se aumente o Fator de Recuperação dos mesmos.




























Nenhum comentário:

Postar um comentário

Marcadores

Aniversário (42) Arte (12) b (2) Baleia (43) bea (1) Beatles (843) Blog News (101) Campanha (9) Carta (37) cele (1) Celebração (58) Ciência (9) Cinema (312) Comida (3) Comportamento (259) comu (1) Comunicação (163) Concurso (23) Costumes (77) Cultura Inútil (32) Despedida (17) Educação (27) Energia (45) Esporte (56) Estatística (2) Facebook (2) Família (29) Futebol (133) Game of Thrones (9) Geografia (1) Geologia (1) Her Majesty (1) História (14) homenagem (93) Houston (48) Ícones (66) Idioma (58) Jack Bauer (7) James Bond (53) Justiça (35) Livro (272) Los Bife (66) Matemática (8) Memória (1) Mensagem (18) Música (208) Obama (20) Pelé (29) Pesquisa (7) Pink Floyd (22) Poesia (94) Política (104) Propaganda (6) Rádio (39) religião (42) Rio de Janeiro (43) Saga A Arma Escarlate (52) Saúde (62) Segurança (5) Show (99) Star Trek (17) Teatro (11) Tecnologia (3) TV (122) Viagem (115)

Será que estava escrito?

Chegou mais um 4 de agosto. Comp letou 47 anos!! Pensei no Day After!  Como terei eu acordado naquela manhã de 5 de agosto de 1978? ...