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domingo, 5 de maio de 2013

Os erros da imprensa

O post de 2 de maio em que falei sobre mais um erro na imprensa sobre o assunto petróleo (link) foi lido por 160 pessoas e gerou 12 comentários, portanto bem acima de minha média..


Todos procedentes, mas destaco aqui, 3 deles, feitos por um mesmo leitor, o Fernando (aquele mesmo do Caso Zara).



Faço isto porque muitos que já leram o meu post, o fizeram antes que Fernando publicasse seus apropriadíssimos comentários.



Então transformo-os aqui, num novo post!



E, como ele ampliou a discussão, modifiquei o tema, para receber de vocês outros erros, sobre outros assuntos!!! Vamos, tragam à mesa!!!






Comentário 1:

Terminei meu curso de Engenharia de Petróleo em 1986 e, como passei a conhecer o assunto, comecei a perceber nas notícias vários erros como estes que você relatou. 

Na verdade, percebi que em TODAS as notícias sobre petróleo eu era capaz de identificar algum erro.

Desde erros bobos, como o que você relatou, em que o repórter descreve a "descoberta de um poço" em vez de campo até "erros" propositais, notícias plantadas para fazer subir a bolsa ou derrubar ministro.
As mais comuns são:

  • A descoberta de poços: provavelmente escondidos desde a era dos dinosauros e achados por sorte por algum petroleiro;
  • Confundir vazão com reserva: "no poço descoberto estima-se uma produção de 5 bilhões de barris por dia" (!!!)
  • Misturar poço, campo, plataforma;
  • Confundir números. Qualquer coisa terminada em ÃO é apenas uma quantidade enorme. Milhão, bilhão, trilhão, aparentemente é a mesma coisa. E isso tabém serve ao exagero na notícia. Reportar um vazamento de 3 mil m3 não tem o impacto de 3 milhões de litros, embora seja exatamente a mesma coisa.


A maioria desses erros é imperdoável pois a informação correta não requer saber Engenharia de Petróleo, basta saber o significado das palavras em português, que é a ferramenta de trabalho do jornalista.
Há uns 4 ou 5 anos, um gerente da Petrobras fez uma apresentação na Rio Oil&Gas sobre unitização. O assunto estava "em moda" por conta das incertezas na mudança do regime de concessão para partilha no pré-sal. Este sim (unitização) é um termo bem específico da indústria petrolífera e se refere ao acordo necessário entre empresas produtoras, detentoras de blocos sob os quais existe um mesmo reservatório, para poder explorá-lo conjuntamente.
Pois no dia seguinte sai a notícia: o gerente "XYZ" da Petrobras palestrou sobre unitização, que é o processo pelo qual cargas de diferentes naturezas são acondicionadas e embarcadas num mesmo container (!!!). É o que está no dicionário e é um termo também usado no setor de transporte marítimo!

Conclusão: o jornalista nem se deu ao trabalho de assistir à palestra. Pegou o título da apresentação e foi ao "pai dos burros" saber o que era unitização.
Se eu consigo identificar erros em TODAS (essa estatística continua até hoje) as matérias de uma área de conhecimento que eu conheço, porque o resto do jornal seria diferente?
Assim cheguei à conclusão que para ler as notícias, basta ler as manchetes para saber que alguma coisa está acontecendo em torno daquele assunto, não necessariamente o que está escrito. Para saber com maior precisão é preciso pesquisar...
Segunda conclusão: não dá pra confiar em notícias que tenham números. 
Porcentagens então, nem pensar. Já vi notícia dizendo que "no período, os trabalhadores tiveram perda salarial de 130%". Como assim? além de perderem o salário todo ainda pagam aos patrões 30% do que recebiam para poder continuar trabalhando?Só há 3 números confiáveis num jornal: a página, o preço e a data.
Comentário 2:
Tenho muito medo, por exemplo, da seção "saúde e ciência" nos jornais e revistas.
Comentário 3:

Outro caso estranho foram as reportagens sobre o acidente com voo 1907 da Gol que caiu na Amazonia matando seus 154 ocupantes. 

O estranho no caso foi o tratamento dado pela mídia para relatar o acidente: o Boeing 737 da Gol foi atingido por um jato Legacy 600 da Embraer. 

Ora, o Boeing era da Gol, mas o Legacy, fabricado pela Embraer, era da ExcelAir. Na maioria das reportagens, o nome da empresa americana foi omitido, só aparecendo as empresas brasileiras Gol e Embraer. 

Para a manchete ficar coerente deveria ser "um choque entre um 737 da Boeing e um Legacy da Embraer" ou "entre um Boeing da Gol e um Legacy da Excelair".  

Erro de lógica e coerência dos jornalistas ou omissão proposital? 

Tive que pesquisar bastante no Google para descobrir a ExcelAir.

Um comentário:

  1. Ainda por conta dos "ãos" nas notícias, lembrei da história das galinhas matemáticas:
    Li certa vez que cientistas haviam descoberto que as galinhas conseguiam contar até 5 (!!).
    Como foi o experimento?
    Galinhas foram colocadas em seus respectivos ninhos, com vários ovos em cada ninho.
    De tempos em tempos, retirava-se a galinha do ninho, retirava-se um ovo do ninho e devolvia-se a galinha ao ninho.
    10 ovos no ninho, 9, 8, 7, 6, 5...
    Quando retiraram o 5o ovo do ninho, deixando apenas 4, a galinha começou a fazer um escândalo, cacarejando sem parar.
    Isso se repetiu com várias galinhas.
    Conclusão: Galinhas sabem contar até 5.
    Na matemática das galinhas existem as quantidades 0, 1, 2, 3, 4, 5 e "muitos" (qualquer quantidade maior que 5).
    Aí eu me pergunto, até quanto o jornalista sabe contar, ou melhor, a partir de que quantidade é considerado "muitos"?

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