O post de 2 de maio em que falei sobre mais um erro na imprensa sobre o assunto petróleo (link) foi lido por 160 pessoas e gerou 12 comentários, portanto bem acima de minha média..
Todos procedentes, mas destaco aqui, 3 deles, feitos por um mesmo leitor, o Fernando (aquele mesmo do Caso Zara).
Faço isto porque muitos que já leram o meu post, o fizeram antes que Fernando publicasse seus apropriadíssimos comentários.
Então transformo-os aqui, num novo post!
E, como ele ampliou a discussão, modifiquei o tema, para receber de vocês outros erros, sobre outros assuntos!!! Vamos, tragam à mesa!!!
Comentário 1:
Terminei meu curso de Engenharia de Petróleo em 1986 e, como passei a conhecer o assunto, comecei a perceber nas notícias vários erros como estes que você relatou.
Na verdade, percebi que em TODAS as notícias sobre petróleo eu era capaz de identificar algum erro.Desde erros bobos, como o que você relatou, em que o repórter descreve a "descoberta de um poço" em vez de campo até "erros" propositais, notícias plantadas para fazer subir a bolsa ou derrubar ministro.As mais comuns são:
- A descoberta de poços: provavelmente escondidos desde a era dos dinosauros e achados por sorte por algum petroleiro;
- Confundir vazão com reserva: "no poço descoberto estima-se uma produção de 5 bilhões de barris por dia" (!!!)
- Misturar poço, campo, plataforma;
- Confundir números. Qualquer coisa terminada em ÃO é apenas uma quantidade enorme. Milhão, bilhão, trilhão, aparentemente é a mesma coisa. E isso tabém serve ao exagero na notícia. Reportar um vazamento de 3 mil m3 não tem o impacto de 3 milhões de litros, embora seja exatamente a mesma coisa.
A maioria desses erros é imperdoável pois a informação correta não requer saber Engenharia de Petróleo, basta saber o significado das palavras em português, que é a ferramenta de trabalho do jornalista.Há uns 4 ou 5 anos, um gerente da Petrobras fez uma apresentação na Rio Oil&Gas sobre unitização. O assunto estava "em moda" por conta das incertezas na mudança do regime de concessão para partilha no pré-sal. Este sim (unitização) é um termo bem específico da indústria petrolífera e se refere ao acordo necessário entre empresas produtoras, detentoras de blocos sob os quais existe um mesmo reservatório, para poder explorá-lo conjuntamente.Pois no dia seguinte sai a notícia: o gerente "XYZ" da Petrobras palestrou sobre unitização, que é o processo pelo qual cargas de diferentes naturezas são acondicionadas e embarcadas num mesmo container (!!!). É o que está no dicionário e é um termo também usado no setor de transporte marítimo!Conclusão: o jornalista nem se deu ao trabalho de assistir à palestra. Pegou o título da apresentação e foi ao "pai dos burros" saber o que era unitização.Se eu consigo identificar erros em TODAS (essa estatística continua até hoje) as matérias de uma área de conhecimento que eu conheço, porque o resto do jornal seria diferente?Assim cheguei à conclusão que para ler as notícias, basta ler as manchetes para saber que alguma coisa está acontecendo em torno daquele assunto, não necessariamente o que está escrito. Para saber com maior precisão é preciso pesquisar...Segunda conclusão: não dá pra confiar em notícias que tenham números.Porcentagens então, nem pensar. Já vi notícia dizendo que "no período, os trabalhadores tiveram perda salarial de 130%". Como assim? além de perderem o salário todo ainda pagam aos patrões 30% do que recebiam para poder continuar trabalhando?Só há 3 números confiáveis num jornal: a página, o preço e a data.
Comentário 2:
Tenho muito medo, por exemplo, da seção "saúde e ciência" nos jornais e revistas.
Comentário 3:
Outro caso estranho foram as reportagens sobre o acidente com voo 1907 da Gol que caiu na Amazonia matando seus 154 ocupantes.
O estranho no caso foi o tratamento dado pela mídia para relatar o acidente: o Boeing 737 da Gol foi atingido por um jato Legacy 600 da Embraer.
Para a manchete ficar coerente deveria ser "um choque entre um 737 da Boeing e um Legacy da Embraer" ou "entre um Boeing da Gol e um Legacy da Excelair".
Erro de lógica e coerência dos jornalistas ou omissão proposital?
Tive que pesquisar bastante no Google para descobrir a ExcelAir.
Ainda por conta dos "ãos" nas notícias, lembrei da história das galinhas matemáticas:
ResponderExcluirLi certa vez que cientistas haviam descoberto que as galinhas conseguiam contar até 5 (!!).
Como foi o experimento?
Galinhas foram colocadas em seus respectivos ninhos, com vários ovos em cada ninho.
De tempos em tempos, retirava-se a galinha do ninho, retirava-se um ovo do ninho e devolvia-se a galinha ao ninho.
10 ovos no ninho, 9, 8, 7, 6, 5...
Quando retiraram o 5o ovo do ninho, deixando apenas 4, a galinha começou a fazer um escândalo, cacarejando sem parar.
Isso se repetiu com várias galinhas.
Conclusão: Galinhas sabem contar até 5.
Na matemática das galinhas existem as quantidades 0, 1, 2, 3, 4, 5 e "muitos" (qualquer quantidade maior que 5).
Aí eu me pergunto, até quanto o jornalista sabe contar, ou melhor, a partir de que quantidade é considerado "muitos"?