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terça-feira, 16 de abril de 2013

Outra visão sobre o filme 'Indomável Sonhadora'

Um grande amigo meu que pouco comenta por aqui mandou um email fantástico sobre cinema, que eu vou compartilhar com vocês, em três partes.

Na primeira, ele reclama de minha análise do filme Indomável Sonhadora, que expus aqui, neste link: 
http://blogdohomerix.blogspot.com.br/2013/02/indomavel-sonhadora-vai-continuar.html

Depois disso tudo, chego a querer ver de novo o filme.... eu devo ter me enganado!!!


Obrigado, amigo!

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Oscar 2013 e seu comentário sobre "The Beasts Of The Southern Wild" (tradução sofrível: "Indomável Sonhadora"):    

Não pude ficar calado nessa. Sei que vc é uma pessoa sensível, inteligente e de visão. Feita essa ressalva, ao meu ver, acho que vc não estava em um bom momento quando viu "The Beasts Of The Southern Wild" e por isso não conseguiu entender a grandeza desse filme e da sua mensagem e mais, entender que descobriram o Mozart do cinema no formato de uma menininha negra. O nome dela é o de menos. Este filme, ao meu ver, mostra um novo paradigma de como fazer cinema. 

Sobre Mozart, provavelmente, quando ele começou a compor aos 5 anos de idade e escreveu sua primeira ópera aos 10 anos ("Apolo e Jacinto"), já exímio violinista, cravista, organista e pianista, com habilidade musical prodigiosa (um milagre divino - e vc entende bem o que quero dizer), muitos devem ter duvidado da autenticidade da autoria de suas obras (deviam achá-la incompatível com crianças daquela idade). Existem evidências de que ele iniciou sua composição de concertos e sinfonias aos 6 anos, passando por  29 concertos para piano e vários concertos para instrumentos diversos, 27 quartetos e seis quintetos de cordas, 41 sinfonias etc (estão catalogadas 630 obras de sua autoria e ocasionalmente outras têm sido redescobertas).

Não precisa ir tão longe. Fazendo uma comparação "mais simples", ao descobrirem a incrivelmente prodigiosa Quvenzhné Wallis (que faz a Hushpuppy neste filme) descobriram o Michael Jackson (MJ) do cinema. 

O MJ começou a cantar e a dançar aos cinco anos de idade, com 8 anos passou a ser vocalista do Jackson 5 (J5), com 11 garvou o 1º disco com o J5 e com 13 anos (em 1971) iniciou suacarreira solo. Dispensável lembrar que foi um dos cantores mais afinados que já apareceram na cena mundial. Era uma alma de 80 anos cantando no corpo de uma criança. Confira isso ouvindo com um headphone, à noite, sozinho, com bastante atenção, dentre várias outras, as interpretações "sofridas... de uma pessoa com bastante estrada de vida..." de:

"Who's Loving You" (um blues do 1º disco do J5); 
"I'll Be There" - olha como ele cantava ao vivo... e dançando (http://www.youtube.com/watch?v=chJt4XDaZOc);
"Music And Me""Happy""Go to Be There" etc etc etc... 
E a indústria fonográfica mundial, entendendo que aquele era um "filão" milionário do qual somente a Motown estava se beneficiando e que havia lugar para exploração da mais "filões similares", passou a buscar desesperadamente pelo mundo um outro MJ (que fosse negro ou branco). As gravadoras testaram mais de 3.000 crianças pelo mundo e nunca conseguiram encontrar nenhuma que se aproximasse do talento do MJ. É fácil explicar? Vc sabe a causa fundamental, né?...  
Tanto o Mozart (de família burguesa) como o MJ (de família pobre), tiveram um pai que os tratava segundo rígidas regras de disciplina direcionadas para fazerem deles grandes artistas. Obviamente, se não houvesse o talento e o DNA espiritual que os colocou no patamar de artistas "iluminados", não adiantaria toda a disciplina do mundo. 
Não tenho bola de cristal e nem sou dono da verdade, mas na minha opinião, quanto à Quvenzhné Wallis (e guarde estas minhas palavras para daqui a 10, 20 anos): ela é o Mozart (ou o Michael Jackson) do cinema e, no futuro, ninguém vai duvidar do seu talento prodigioso. E quanto a: "E o texto muitas vezes incompatível com crianças de 6 anos que vivem naquele ambiente miserável." ... digo que é surpreendente o que certas crianças de 6 anos em ambientes miseráveis são capazes de demonstrar. Por isso, a designação de "texto incompatível", neste caso, deveria ser reanalisada.      
"... mas a maioria de suas falas é narração!! Brilhante mas narração!!" ... Qual o problema com a narração? A narração não existe à toa. Existem inúmeras obras de arte onde a narração foi elemento fundamental para a sua construção. O fantástico é a interpretação da Quvenzhné Wallis, muitas vezes, em cima de uma narração. Fico pensando no que aconteceu na cabeça daquela pequena atriz para que ela conseguisse, com maestria, através de sua impecável interpretação, transmitir (para mim pelo menos) todo o sentimento (de medo, revolta, crença no futuro, amor pelo seu pai Wink - ator: Dwight Henry, também excelente - etc etc) da situação em que ela vivia. Simplesmente inenarrável o amor incondicional entre pai e filha no meio daquele relacionamento rude e daquelas dificílimas condições de vida. Emocionante como ela aprendeu os ensinamentos do seu pai e, de forma alegórica, encarou e "domou" as "bestas" de sua miserável vida. Isso tudo sem falar que ela, tão jovem, atuou magnificamente em um ambiente de total insalubridade (sem desmerecer os talentos, nada a ver com a Judy Garland e outras patricinhas protegidas em ambientes fofinhos e perfumados). E a mensagem da passagem do pai dela? Acho que nem preciso te explicar o quanto significou pra mim...
Em resumo, "The Beasts..." foi mais uma das inúmeras injustiças nas premiações do Oscar ao longo de sua história (obviamente porque não se trata de um filme industrial e porque mostra o que os americanos não querem ver).

5 comentários:

  1. Fiquei com vontade de assistir o filme... :-)

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  2. Eu vi e gostei do filme, confesso que achei o contexto duro, mas a garotinha realmente me fez sentir as dores dela e adentrar no seu universo fantástico. Não foi o filme que mais gostei até agora mas certamente é um filme que merece ser visto.

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  3. Concordo com os elogios a atuação da pequena atriz. Simplesmente espetacular!

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