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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Lições do Titanic

 Hoje conheci uma colega que morou em Southhampton, Inglaterra...
Claro sinal de que eu devia republicar este post!
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Recomendado pelo meu chefe, li um livro muito interessante, que junta lições de gerenciamento de riscos associado a um acontecimento de grande repercussão e que recentemente completou 100 anos de ocorrido: o afundamento do Titanic (neste post, mencionei o fato). O livro é de Pedro Ribeiro, chama-se 'LIÇÕES DO TITANIC SOBRE RISCOS E CRISES'.  São 140 páginas pequenas em fonte grande, em outras palavras, lê-se em poucas horas.  

Ele nos traz em linguagem simples, algumas lições importantíssimas.

Na linha de projeto, como mudanças de escopo podem acarretar estouros de prazo e de custo. 
  • Como projetos megalômanos podem diminuir a qualidade (afinal outros dois navios gigantes, quase do tamanho do Titanic, estavam sendo construídos simultaneamente, e a indústria britânica ficou sem capacidade de entregar rebites da qualidade necessária). 
  • Como a autoconfiança excessiva ('é um navio inafundável) pode levar à cegueira irresponsável (no caso, o navio tinha barcos salva-vidas para salvar apenas metade dos seres humanos que lá estavam). 
  • E como estouros de prazo podem levar +a perda de oportunidades, no caso, a oportunidade de navegar antes de ocorrer o degelo do verão que se aproximava.
Na linha de risco, com falhas de planejamento, identificação e análise podem acarretar desastres...
  • como um comando surdo pode levar à minimização dos alertas (foram 7 os alertas de icebergs ignorados, inclusive de um navio que parou por conta deles), associado a uma equipe despreparada para sentir a gravidade da situação ('Pare de mandar mensagens!' disseram os operadores do radio, 30 minutos antes do choque);
  • como o olho grande pode acarretar perdas nas condições de segurança, no caso, a enorme escadaria, o deck adicional para acomodações de luxo, reduzindo altura de compartimentos que, caso projetadas adequadamente, fariam o navio demorar mais para afundar;
  • como a pressão pela entrega pode levar +a operação insegura (3 anos construindo um gigante e apenas 7 horas de testes para um monstro daqueles, e NENHUM treinamento para descer os barcos salva-vidas)
A ironia da coisa (aumento a fonte e mudo de cor para dar um destaque) é que, mesmo o desastre tendo sido causado por uma conjunção de fatores, um só, de, imagino, 10 cm de comprimento, poderia tê-lo evitado: a chave da gaveta que guardava os únicos binóculos disponíveis no navio, que fora levada do navio por um oficial demitido (nem pensou nisso). Um binóculo na mão do observador faria com que avisasse a proximidade do iceberg alguns minutos antes, evitando a colisão (afinal, entre o aviso que foi possível dar e o choque, foram meros 37 segundos). E não teríamos então o desastre (ao menos aquele), nem o filme de James Cameron, nem Jack, nem Rose, ... e nem esta discussão sobre gerenciamento de riscos.
Réplica da chave fatal comprada por Pedro  -  A original foi arrematada por £99 mil


Uma curiosidade final : a empresa construtora teve que pagar indenizações de US$ 16 milhões, equivalente a duas vezes o valor do navio... Ou seja, um gigante de 46 mil toneladas custou em 1911,  US$ 8 milhões, o que custa hoje, em média,  uma Árvore de Natal Molhada de 22 toneladas. 

Coisas da inflação! 

Em tempo, Árvore de Natal Molhada é o conjunto de válvulas que controla a produção de um poço submarino, suprassumo da tecnologia do petróleo. Veja ao lado a trapizonga de mais de 6 metros de altura !!!


Homero Gerenciando Riscos Ventura

11 comentários:

  1. E já que você falou em Jack e Rose, existe uma discusão sobre se seria possível Jack se salvar ficando com Rose sobre a madeira. Afinal, Jack morreu porque quis, porque não caberia na madeira ou porque assim mandava o roteiro?

    http://portal3.com.br/wp/viu-rose-cabia-o-jack

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    1. Homero,
      Post com material para discussões infindáveis, imagina o livro!

      Hefler,
      Questionamento também, do meu filho de 15 anos. Vamos pesquisar...

      Luciene Lemos

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  2. Será que aprendemos algumas dessas lições?
    Não as específicas, mas as gerais.
    Com tantas grandes obras sendo tocadas atualmente e com prazos tão apertados (copa, olimpíadas, pac disso e daquilo), há grandes chances de ocorrerem erros de toda ordem: de projeto, de execução e de operação.
    Além do mais, somos PHDs em gambiarras.
    Até posso ouvir o Galvão Bueno gritando: "É é é é é é ...... É do Brasiiiiiillll!!!

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  3. Gerenciar riscos,é um dever de todos nós!!
    Enquanto o ser humano pensar de forma egoista..
    ainda irá acontecer coisas desgradveis e tristes..
    MAS creio que estamos mudando,pq estamos vendo
    que somos seres semelhantes e que aqui é o nosso aprendizado!!
    um feriado introspectivo!!
    Bom momento pra se pensar.....
    um abraço
    Homerix!!!

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  4. É que todos gostam de sonhar, e sonhos, são sonhos e pesadelos não fazem parte desses sonhos, estão em outro contestos, ou em outra noite!!!!
    É muito difícil, porém necessário, consciliar tudo, prós e contras. Feliz de quem consegue, esse é "bem sucedido"!!!

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  5. Sobre os botes de salvamento serem suficientes apenas para metade da qtd de pessoas a bordo, há que se ressaltar que estava de acordo com as normas da época. Em suma: no que se refere à gestão de riscos desta natuerza, até a legislação deve estar em constante avanço.

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  6. Homero,

    Excelente post!

    A gestão de riscos e de projetos em geral requer, principalmente, calma, cautela e certa frieza para medir os possíveis acidentes ou incidentes que o seu objeto possa vir a sofrer.

    O Titanic foi um exemplo crasso do que não se deve fazer, nos dias de hoje. Conforme falado acima, nos dias em que ele foi construído e projetado, é provável que estivesse dentro dos parâmetros de risco e segurança (isso já existia?) desejáveis.

    E mais ainda, por mais que consigamos bolar e montar um modelo ultra complexo com TODAS as variáveis possíveis, vai ter sempre o "infeliz do erro" nessa conta. Por mais avançado que o modelo matemático seja, o cálculo estrutural, o projeto naval, a regressão econométrica, tudo, vai ter um erro, que é impossível de conseguir medir.

    O que é interessante ressaltar é que, felizmente, parece que o homem acaba por aprender com os erros do passado. Hoje em dia, felizmente, não temos mais navios com apenas a metade dos botes. Pode nos parecer bastante óbvio, conforme falei, hoje. Mas àquela época? Era tão óbvio assim?

    A discussão é farta e extremamente enriquecedora!

    Excelente post também!

    Abraços,
    Leandro Marques

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  7. Prezado Homero,
    Obrigado pelo comentários sobre o livro. Aproveito para informar que o livro Lições do Titanic sobre Riscos e Crises foi apresentado na NASA em minha palestra Sinking the Unsinkable: Lessons for Leadership realizada este ano em conferência patrocinada pelo Office of the Chief Engineer da NASA. A palestra discutiu a prevenção de crises em empreendimentos utilizando o Modelo dos 5 Estágios de uma Crise apresentado no livro assim como a importância do papel da liderança em todos os níveis da organização. A repercussão da palestra levou a NASA a solicitar e a publicar artigo em sua revista interna ASK (NASA Academy Sharing Knowledge) que tem por missão fomentar a excelência e lições aprendidas da agencia espacial em programas,projetos e engenharia. O link para o artigo esta disponivel no site www.pedrocribeiro.com
    Um forte abraço,
    Pedro C Ribeiro

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  8. Homero, muuuuito bom este seu post e as discussões por ele geradas.
    Pedro Ribeiro, parabéns pelo estudo do 'case'.
    Abr grde

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  9. Muito legal, Homero.
    O livro menciona algo sobre os outros 2 navios da Classe Olympic (que eram idênticos ao Titanic - https://pt.wikipedia.org/wiki/Classe_Olympic): RMS Olympic (1º a ser concluído - o único da série a se aposentar sem naufragar) e HMHS Britannic (último a ser concluído, e já com melhorias de projeto após o destino do Titanic)?
    Abraço

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  10. Pesquisando isso, olha o que eu achei: https://en.wikipedia.org/wiki/RMS_Homeric_%281913%29

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