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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A praga - By Fernando Ramos

A praga – outubro de 2011 - by Fernando Ramos

A praga já chegou aos 7 bilhões de indivíduos e já ameaça seriamente a Terra. Os primeiros indivíduos desta praga de que se tem notícia apareceram no planeta há cerca de 6 milhões de anos atrás. Inicialmente o primata que não era tão forte quanto o primo gorila, nem tão rápido quanto o primo-irmão chimpanzé, teve que sobreviver usando outras habilidades. A sua postura ereta facilitou-lhe certos hábitos na savana. Enquanto se locomovia pelas árvores era-lhe mais interessante e eficaz ter quatro mãos e nenhum pé. Depois que desceu para o descampado, ficar de pé permitiu-lhe vislumbrar mais longe, no horizonte, os perigos e a comida. Também 
fê-lo correr sobre duas patas de uma forma totalmente nova para os símios e andar com alguma elegância, coisa que nenhum outro macaco é capaz de fazer. Permitiu-lhe ainda manter a cabeça diretamente apoiada na coluna vertebral e, aos poucos, desenvolver o seu cérebro privilegiado. Cérebro este que foi o seu mais importante instrumento de sobrevivência, uma vez que se encontrava desprovido de garras, de força, de velocidade, de agilidade maior. 

Também contribuiu para seu desenvolvimento, e sua sobrevivência, a sua capacidade de se comunicar, trocando aos poucos o “grooming” (o catar piolho) dos seus primos chimpanzés e gorilas pela linguagem, com a qual pode desenvolver o seu lado social. É verdade que alguns membros da família humana, principalmente as fêmeas da espécie, desenvolveram tal capacidade de falar além do ponto de equilíbrio, mas de um modo geral isto também os ajudou a se reunir em grupos e, principalmente, fazer com que o grupo atuasse unido, na própria defesa, ou nos ataques a terceiros.

E foi esta característica gregária que os ajudou a sobreviver. E que os fez acreditar, um dia, que precisavam sempre ajudar e defender os outros membros da espécie, reforçando, cada vez mais, a força do grupo. Daí certamente vem o sentimento de que matar outro membro da espécie é errado, embora possam olhar com certa indiferença o assassinato de outros seres vivos, animais e plantas. Esta capacidade de se importar com a vida dos semelhantes foi, certamente, um dos motivos que os ajudaram a vencer o desafio da sobrevivência. Houve períodos na história onde o ser humano esteve ameaçado de extinção, restando poucos indivíduos da espécie pelo mundo. Cada ser humano era valioso, cada vida era importante para a própria sobrevivência do grupo.

Alguns dos seus primos mais chegados, como os homo-erectus, robustus, neanderthalensis etc. sucumbiram pelo caminho. Mas o homo-sapiens venceu o desafio da sobrevivência, por algum tempo. Está longe, é verdade, de poder-se dizer um sucesso completo, nos poucos milhões de anos que está no mundo. Um pentelhésimo de tempo comparado com outras espécies que já passaram por este planeta. Um nada comparado aos muitos milhões de anos nos quais os dinossauros dominaram estas terras. Ou os muitos milhões de anos em que os tubarões dominam os mares e os jacarés e crocodilos (recuso-me a falar em aligatores, como muitos colonizados fazem) dominam os rios.

Há pouco tempo chegamos, nós homo-sapiens, a marca de 7 bilhões de indivíduos. Um número assustador. Um número que mostra que já não faz mais sentido manter a preocupação com a vida de cada indivíduo, em particular. Realmente o homem pode se preocupar com a vida daquele que lhe é próximo ou pelo qual mantém alguma simpatia, mas a única coisa que o faz não ser indiferente à perda da vida de completos desconhecidos é o hábito, já impresso nos seus genes, de se importar com a vida de outros humanos. Coisa que fazia sentido há tempos atrás, quando os humanos eram poucos e precisavam de cada indivíduo para fortalecerem-se no todo, mas que já não faz qualquer sentido hoje, quando já passou da condição de ameaçado para ameaça.

Hoje o mundo já não comporta tanta gente. A praga se espalhou de forma descontrolada. O número excessivo de indivíduos da espécie humana acabará por consumir todos os recursos da Terra e seremos obrigados a lutar, uns contra os outros por espaço, comida e água. Talvez seja até mesmo melhor que morram muitos, reduzindo a infecção, na Terra, desta praga descontrolada. Ou, talvez, evitar-se o nascimento descontrolado de praguinhas.

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Acréscimo de Homerix:
1. Apesar de brilhante a lembrança ao modus feminino de ser, duvido que àquela época fossem assim
2. O último parágrafo é a origem da inspiração do Livro 'Inferno' de Dan Brown, que ora estréia nos cinemas.

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