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terça-feira, 5 de abril de 2005

Sunday, Holy Sunday

Durante o vôo, como o avião da Varig não oferece aquelas telinhas individuais (que pobreza!) vi o filme que todos viam, Os Incríveis. Aproveitei para ouvir em som original, mas acabei dormindo antes do antológico “Where is my super suit?”. Domingo, na chegada, fiz um cambinho básico de 200 dólares, pelo que me deram míseros 96 pounds   .....  esse tal de dólar já valeu alguma coisa! Londres me recebeu bem: o domingo estava ensolarado, sem sinal de nuvens nos céus. No underground (como eles chamam o metrô por aqui), Picadilly line, durante meia-hora, li meu livrão “Londres: O Romance”, bem apropriado. Na recepção do The Lowndes Hotel, me informaram sobre a academia que estaria disponível no Carlton Tower, um “sister hotel” (como eles chamam) a 1 minuto de caminhada. No quarto (nada de mais) comi o chocolate de cortesia, dei uma básica arrumada no armário, coloquei as pilhas recarregáveis para carregar e saí. Na saída, elogiei tanto o chocolate que depois deixaram outra caixinha. Fui verificar como era a academia: de primeira(!), os equipamentos são da mesma marca dos da Petrobras, porém sem o controle da chavinha. Além disso, piscina semi-olímpica aquecida, sauna e hidro-massagem  ....  tenho que admitir que não passarei mal aqui!     Depois, fui ao Hyde Park, onde tomei sol da tarde  (eram 4 horas), de roupa e tudo (como todos por ali, nem me senti mal) com direito a sentar na cadeira de madeira, por módicos 1,5 pounds, é claro, cobrados por um camarada de Gana que surgiu do nada, para fazer o seu serviço. Ele trabalha no Park Deckchairs, serviço da prefeitura da cidade. Coincidência, havia acabado de ler, no livrão, que era no Hyde Park onde se travavam os duelos de antigamente. A caminho de Marble Arch, onde tomaria o metrô para Abbey Road, fui encontrando grupos que ouviam e discutiam com inflamados discursadores. Parei para ouvir alguns, eram todos sobre religião e política. Lembrei que aprendi no meu livrão que religião é uma coisa muito séria na história da Grã-Bretanha: protestantes, judeus e católicos, todos tiveram sua época de serem perseguidos, torturados, executados. Aliás, isto continua mais ou menos assim, não é mesmo, vide Irlanda do Norte. Aliás, por aqui, o assunto do momento é a morte do Papa, creio que por aí também. Mesmo não sendo uma nação católica, o respeito pelo Papa por aqui é imenso. O primeiro ministro Tony Blair até mesmo adiou a convocação das eleições gerais, em respeito ao ocorrido. Aliás, outro evento que foi adiado foi o casamento “real”, de Charles com Camilla. Pasmem, eles haviam marcado a tão esperada cerimônia para a próxima sexta-feira  ......  justamente o dia do funeral! Por aqui, isto foi tratado como mais um sinal da falta de benção para este controvertido casamento. E os jornais, com o humor inglês de sempre, estamparam nas manchetes: “Nenhum Casamento e Um Funeral”, parafraseando o título de uma comédia romântica de muito sucesso nos anos noventas “Quatro Casamentos e Um Funeral”! Outros perguntavam: “O que mais pode dar errado?”. Bem, aquele evento no Hyde Park, parece que já é uma tradição dos finais de tarde dominicais, aquele canto do parque é chamado de “Speakers Corner”. Não dei pão aos enormes gansos de plantão, afinal, pelo tamanho, parecem já estar muito bem alimentados. No Marble Arch, itself, havia uma celebração em homenagem a um mártir árabe. Todas as mulheres estavam de preto, os homens, nem todos. Um bom número deles começou aquela tocante cerimônia de auto-flagelação em conjunto, entoando um cântico impressionante. Só em Londres, mesmo! No metrô, primeiro Central Line oeste, depois Jubilee Line norte .... ah, como eu curto o underground londrino! Na saída da estação de St John’s Wood, a surpresa do fim da carga de minhas pilhas normais, tive que perder tempo e 4 pounds para conseguir fazer a câmera digital funcionar de novo .... não poderia ficar sem ela neste crucial momento. Ao chegar próximo aos estúdios da EMI em Abbey Road, notei o movimento acima do normal: ao invés da meia dúzia de desocupados que normalmente atravessa a rua em frente aos estúdios a cada 5 minutos, por cima da zebra, como os Beatles fizeram há 40 anos, lá estavam 50 ou 60 pessoas aglomeradas.
         Enquanto eu pedia aos passantes o favor de tirarem fotos minhas atravessando a rua (desta vez, com direito até a filminho!) notei que as pessoas aglomeradas começaram a se organizar em uma fila. Eles estavam esperando a hora de entrar nos estúdios! Era verdade, eles abriram os estúdios à visitação pública! Feliz da vida, posicionei-me ao final da fila e, na conversa com um casal, que acabei por descobrir serem brasileiros, notei (tolinho!) que portavam um ingresso. O evento era, na verdade, o “Abbey Road Film Festival”, que começara em fevereiro e estava terminando, pasmem, naquele mesmo domingo, com a exibição de, pasmem (2), “Yellow Submarine”!
         Durante todo esse tempo, houve três sessões diárias de cinema, com filmes que, ou tinham a ver com os astros que ali gravaram suas canções, ou cujas trilhas sonoras foram ali orquestradas. Nas sessões anteriores daquele dia, rolaram “Pink Floyd: The Wall”e “Braveheart”. Pensei: “Que sorte a minha: chego em Londres no último dia de visitação ao templo do rock!” Fui, feliz da vida, à bilheteria comprar meu ingresso  ... tolinho (2) .... a sessão estava lotada há mais de uma semana! Perguntei se haveria abertura em outros dias, mesmo que fosse apenas para visitação, sem cineminha. Nada feito: aquela tinha sido uma ocasião única, primeira e última vez que os estúdios foram abertos à visitação! Cheguei às raias do desespero! De qualquer maneira, mesmo depois do “Unprobable” que ouvi da bilheteira quando perguntei se poderia haver “return tickets”, resolvi esperar, eu e mais uns três outros incautos como eu. Quando todos entraram, o segurança nos chamou e perguntou se esperávamos por “return tickets”.  Aí sim, percebi que, realmente, eu estava iluminado. Iria realizar um grande sonho: pisar, na última oportunidade possível, no solo sagrado onde foram gravadas 190 canções dos Beatles, o Estúdio 2 de Abbey Road! Quiçá beijar aquele assoalho de tacos de madeira (mas acabei não pagando este mico)! Lá fui eu, feliz da vida (2). Por módicos £ 21,00 que eu paguei com lágrimas nos olhos, eu iria ser agraciado com um momento único na vida de um beatlemaníaco.
         Cheguei a tremer quando adentrei o Estudio 2: deu para imaginar os rapazes tocando naquele mesmo espaço, tocando alguns dos instrumentos ali expostos, enquanto George Martin orientava da janelinha lá de cima. Parecia que dava para ouvir as brincadeiras entre eles ou a voz de George falando “A Hard Day’s Night ... Take Two”, enfim, “a real dream come true”.  Pode parecer bobagem para muitos, porém tenho orgulho de sentir estas coisas. Depois de beijar aquele chão e de ficar sentado ali, por mais de 15 minutos, chegou a hora da sessão, que rolaria no Estúdio 1, lugar onde eram feitas as gravações de orquestra e, mais importante para mim, onde foi gravada a primeira transmissão de TV ao vivo para todo o mundo, da história: Beatles e orquestra, tocando “All You Need Is Love”, em 1966! E, claro, não menos importante, ali foi gravado o antológico “crescendo” orquestrado de “A Day In The Life”, uma das mais famosas canções Beatle. Depois, a sessão de cinema, sem novidades, pois já assistira ao filme algumas vezes. Depois, acabei tirando algumas fotos noturnas do local, o que por si só era uma novidade, pois jamais pensaria em visitar aquele local à noite. Para terminar o domingo, uma passada para ver os luminosos de Picadilly Circus, já com quase todo o comércio fechando, para comer uma Super Supreme, no Pizza Hut. Foi ou não foi um domingo memorável?

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