Depois do promissor domingo, veio uma semana bem interessante, very much indeed!
Segunda-feira:
Começou pela primeira visita “de trabalho” ao The Peak, o clube de ginástica do Carlton Tower, o “sister hotel” de que falei antes. Como ela é no 9o andar, tem uma vista fantástica da cidade, que, não sei se sabem, é basicamente constituída por prédios de 3 a 5 andares. Naquela visita de reconhecimento de campo que fizera no domingo, esqueci de mencionar, tive uma visão: sabe quando, em alguns filmes, uma pessoa ou um grupo estão numa cena aparentemente sem importância, quando de repente encontram um local que os deixa boquiabertos, aparece aquela musiquinha de suspense, depois a câmera muda lentamente para mostrar o que eles tinham visto? A única cena que me lembro no momento é de um filme chamado “Deu a Louca no Mundo”, lá nos anos 60s, em que muitos procuram um tesouro, estão quase desistindo quando percebem que estão bem perto, embaixo de palmeiras em forma de W, que eles tanto procuravam. Aconteceu comigo, olhava a paisagem quando a visão parou numa miragem: uma fábrica enorme, com 4 enormes chaminés. Me toquei imediatamente: era a mesma fábrica que aparece na capa do LP “Animals” de Pink Floyd, com um porco inflável gigantesco voando entre as chaminés. Planejei imediatamente uma visita ao local. Coisa de maníaco bobo! Bem, voltando ao que interessa, a academia é de luxo, o vestiário é confortável, os armários são de madeira, já vem com chave, que é liberada com o depósito de 1 libra, que se recupera quando se vai embora. As duchas, individuais, têm shampoo, condicionador e sabonete líquido à vontade, depois, secador de cabelo, creme de barbear e até gel para cabelo. Ah, e tem sauna a vapor. Quanto à ginástica, os equipamentos de aeróbica têm TV, que eu assisto com fone de ouvido fornecido por eles, nada mal! O bebedouro oferece água normal e, pasmem, água com gás (sparkling), pra quem gosta, como eu, uma maravilha! Bem, o local do curso é a cerca de 300 metros do hotel. Lá conheci Patrícia, organizadora do curso, simpaticíssima portuguesa com certeza, com quem já havia falado ao telefone, o pá! Está aqui há 4 anos, e adora o “Brasil”, como não “podria” deixar de ser. A turma, como sempre acontece na indústria do petróleo é global: 3 da Nigéria, 1 (uma) do Egito, 2 da Indonésia, 1 da Holanda (que trabalha em Mônaco), 1 da Escócia (que está se mudando para o Egito), 1 (uma) da Áustria, 1 (uma) do Canadá (que trabalha na Líbia), 1 da França (que trabalha na Tanzânia), 1 da Arábia Saudita, 1 da Croácia, 1 da Geórgia (o país, não o estado americano), 1 da África do Sul e, euzinho aqui, único representante das Américas. E, parece, faltaram 2 da China que não conseguiram visto. O professor que comanda o curso é do País de Gales (portanto, Inglês é seu segundo idioma, palavras dele), a organizadora do evento é de Portugal, enfim, estou em meio a uma salada cosmopolita. Aliás, combinando com a própria Londres, um poço de diferentes povos, encontra-se aqui gente de todos, eu disse todos, os pontos do planeta, a cidade é famosa por isto. No começo do curso, o professor pediu que todos se apresentassem, como era de se esperar, porém inovou na forma e pediu que as pessoas, em pares, se apresentassem uma à outra e esta última faria a descrição do outro. Meu colega era um nigeriano da Chevron, que é pastor pentecostal e, coincidência, conhece e gosta muito do Julio Gontijo, com quem trabalha no projeto Agbami, operado pela companhia dele. O mais interessante da apresentação foi que o professor pediu que todos finalizassem com “3 facts and 1 lie” sobre o colega: os demais tentariam adivinhar qual das 4 era uma mentira. A minha foi sem dúvida a mais interessante. Meu colega disse que eu: i. era beatlemaníaco, ii. era especialista em James Bond, iii. havia perdido 20 kilos nos últimos 6 meses e iv. detestava futebol. Colocado ao plenário, veio a primeira opinião: He is not a beatlemaniac! E eu, Yes, I am! Depois, um segundo: He is not a 007 expert! E eu, Yes, I am! Depois, um terceiro: He has not lost 20 Kilos! E eu Yes, I lost! Pois é, preferiram duvidar de minhas manias e de meu slimming. Na certa, pensaram que um brasileiro detestar futebol era tão impossível que eu não colocaria como mentira por ser muito evidente! Não vou me estender sobre o curso aqui, que será objeto de outra mensagem, tipo relatório, que farei posteriormente. Após o primeiro dia, voltei para o hotel e fiquei em contatos com o Brasil tentando, primeiro, fazer meu telefone funcionar para fazer ligação, pois até aquele momento só estava recebendo. Depois, o computador: o hotel cobra 0,55 libra por minuto pelo acesso a internet de banda larga. Tentei fazer, remotamente, com que meu computador ficasse capacitado a “baixar” as mensagens de um correio, de forma a minimizar o tempo conectado. Não consegui economizar este dinheiro para a empresa. Paciência! Bem, às 8 da noite, voltei ao Carlton Hotel, desta vez para conhecer a parte aquática que ofereciam, que eles chamam de Water Garden. Comecei com uma visita ao “Steam Room”, na verdade, uma sauna a vapor, com o triplo de área de uma sauna normal: dá para ficar caminhando lá dentro. Depois, a piscina ..... estonteante! Acreditem, se quiserem: ela é toda, eu disse, toda, ou seja, piso, paredes e contornos, de aço inoxidável! Azulejo é coisa de pobre! É muito agradável de se nadar: mesmo dividindo a raia, você pode esbarrar na parede que não se machuca, pode não perceber o final da raia, que a borda é arredondada, lisa como aço. A profundidade é de 1,4 metros, o comprimento, de 25 metros, portanto, semi-olímpica! Além disso, parece que a água nem tem cloro, ao menos não se sente o cheiro, entretanto é limpíssima, os olhos ficam abertos o tempo todo e não ficam irritados. Bem, como se tudo isto não bastasse, a banheira jacuzzi é super agradável: fiquei lendo meu livro, até que um funcionário avisou que estava fechando. Enfim, ruim, não? Terça-feira:
Não consegui acordar em tempo, portanto, pulei a ginástica. Ao final do curso, houve um jantar oferecido pelos organizadores, num Pub da Brompton Road, em que serviram Fish and Chips, o tradicional prato inglês, acompanhado por um Pint de cerveja, claro, e finalizado por uma “apple pie”. Programa agradável que terminou quase 9 da noite. Daí, só deu para fazer sauna e piscina (mesmo porque a jacuzzi estava em manutenção).
Quarta-feira:
Primeira noite sem programação ou problemas, resolvi fazer aquilo que mais gosto em Londres: caminhar! Deixei o material no hotel, peguei o casaco e parti para a luta. Comecei por Knightsbridge, local do antigo escritório da Petrobras UK. O interessante é que o Bertani teve que se mudar de lá, acho que em 1999, pois iriam construir outro prédio: e ainda não terminou! Seguindo meu caminho, peguei a Kensington Road, para passar em frente ao Albert Hall, vocês sabem, aquele teatro onde cabem 4.000 buracos, como conta a canção beatle “A Day in the Life” (“I read the news, today, Oh Boy! Four thousand holes in Blackburn, Lancashire! And though the holes was rather small, they had to count them all! Now, they know how many holes it takes to fill the Albert Hall!”. Ao chegar, parei para ver o que estava correndo: entre concertos, peças de teatro e outros, achei um que me saltou aos olhos: The Australian Pink Floyd Show, Arena Tour 05. (A must see for all fans!). Chequei as datas e confirmei: London, Royal Albert Hall, April 15th! It represents every facet of Pink Flowd ‘s long and diverse carrer! Caramba, estou mesmo com sorte: no primeiro dia da missão em Londres, vi o último dia do Abbey Road Film festival, com direito a pisar no Estúdio 2 e , no último dia da missão, vou ver a única apresentação deste grupo que, segundo consta, abalou a América com duas Mammooth Tour no ano passado. Bem, é pagar pra ver! Aliás, já paguei: 22,5 libras! Uma pechincha: o Albert Hall é outro ponto obrigatório pra quem gosta de música. Já estive lá há 15 anos, assistindo a um show de Eric Clapton. Depois, o caminho foi: Hyde Park, Bayswater Road, Oxford Street (compras, com charme, só pra quem pode!), Regent Street (passei em frente à Hamley’s, aquela loja chique de brinquedos mas nem dei bola, as crianças já passaram da idade), Piccadily Circus, ainda sob a luz do dia (nem por isto, sem os queridos letreiros), onde parei na Virgin Records, para checar preço de CDs: impossível, o preço é de 16 a 20 pounds (R$90 a R$120), tô fora! Nestas locações, inaugurei o estilo de fotografar a mim mesmo, olhando para a paisagem desejada. Assim o fiz por não encontrar pessoas confiáveis o suficiente para entregar minha querida câmera. Depois, caminho da roça, voltei por Piccadily Street, ao largo do Green Park, Knightsbridge e casa. Um caminho quadrilátero de 7 a 8 km, 2:30 horas, com paradas. Na chegada ao hotel, repeti a rotina noturna, sauna/piscina/jacuzzi/ correio/cama. Quinta-feira:
Ao final do dia, resolvi adotar a mesma rotina triste: uma longa caminhada para relaxar do curso, uma sauna para relaxar da caminhada, uma nadada para refrescar da sauna, uma hidro-massagem para relaxar da piscina, lendo meu livro, vida dura. A caminhada começou com aquele meu desejo de conhecer a fábrica da capa do Pink Floyd, lembra. Perguntei ao concierge de plantão no hotel, que me explicou que na verdade, não era uma fábrica mas uma central elétrica desativada, a Battersea Power Station. Quando disse a ele o motivo pelo qual queria conhecer a dita cuja, ele contou que participou da filmagem de The Wall, era o garoto (ou um dos) que marcha para o moedor de gente cantando “We don’t need no education ...”. Enfim, um astro(!!!!). Como o tempo estava ameaçador, fui de tênis (para preservar os sapatos) e pedi um guarda-chuva do hotel, que me foi cedido. A Power Station é ao lado da ponte de Chelsea sobre o Tâmisa (a partir de agora vou me referir ao rio com seu nome em inglês, Thames). No caminho, que comecei pela Sloane Street, comecei um projeto que tinha em mente, de anotar todos os logradouros que existem em Londres. Aí no Brasil, só existem ruas, avenidas e praças, que me lembre. Aqui, tem mais 17 variedades, só no que deu para achar em minhas caminhadas: além de street, avenue e square, como aí, tem lane, place, row, court, gore, mews, yard, terrace, walk, close, gate, road, crescent, way. Fui tirando fotos pelo caminho. Ao longo de minhas caminhadas, e depois de dicas diversas, fui entendendo que a variação nos nomes tem suas razões: Avenue, que é muito raro, aplica-se a ruas grandes, porém a maioria das ruas largas e importantes é Street, Road ou Lane (coisa de inglês); Crescent se aplica a ruas em curva, portanto lembrando o formato da Lua, quando em quarto-crescente (bonito, não); Terrace é praça, assim como Square e Place (se bem também há rua com Place !!) mas se aplica a área que antigamente foi o terraço da casa de algum nobre, antes de ser loteado aos pobres mortais; Mews quer dizer cavalariça, então, naquela localidade moravam os cavalos e carruagens da realeza (inclua-se os nobres), juntamente com os cavalariços, que tratavam (muito bem!) dos cavalos. O interessante é que, hoje em dia, quem mora em uma Mews, pode dizer que está muito bem, pois são geralmente ruas fechadas, tranqüilas, e as casas têm garagem, onde ficavam as carruagens de antigamente: garagem é coisa raríssima para um londrino. Bem, chega de cultura urbana londrina, por hora! Ao final da Sloane Street, cheguei à rua que dá acesso à Chelsea Bridge. Na ponte, tirei fotos de longe e consegui alguém que me fizesse aparecer na foto. A caminho da central elétrica passei por um lançamento imobiliário de apartamentos de luxo, que me contaram ser caríssimos, com um estilo modernoso, com paredes todas em vidro ou em cores fortes: acho que alguns ingleses estão um pouquinho cansados de tradição. O acesso à central elétrica é justamente no canteiro de obras do lançamento imobiliário. Como o local está abandonado, só tirei a foto da central, sem minha presença, não havia a quem pedir: acho que a foto está bem parecida com a da capa do CD. Fiquei sabendo que a central não pode ser demolida, pois ela é Great Listed, algo equivalente ao “tombado pelo patrimônio histórico” daí. Aliás, aqui eles levam isto muito a sério: como querem preservar o estilo arquitetônico das casas, principalmente o vitoriano, mais recente, deixam que se reforme qualquer coisa dentro das casas, desde que seja mantida a fachada. Ah, e mais interessante, não deixam que se coloque ar-condicionado, a não ser que seja de um jeito que não apareça nadinha pra fora. Ainda bem que é em Londres e o calor não é tão forte. Aliás, estava bem frio na minha caminhada, pois voltei beirando o Thames e seus ventos cortantes. Pra piorar, começou a chuva que estava ameaçando, aí ficou tudo gelado mesmo. Passei Grosvenor Road, Milbank, chegando às Casas do Parlamento e Big Ben. Comecei o caminho de volta e para me aquecer, e também matar a fome, parei no McDonald’s da Victoria Street, aproveitando para checar o Big Mac Factor: a ‘promoção’ do Big Mac, assim como a do Quarter Pounder, custa 3,35 pounds ou, R$ 19,00 (nem me lembro quanto está aí!). Bem, voltei pelas ruas internas de Belgravia, admirando a arquitetura vitoriana impecável das residências. Acho que andei um pouco menos que na quarta-feira. Sexta-feira:
Já saí do hotel de manhã armado com meu computador, pois o plano era ir ao escritório da Petrobras Europe Limited (PEL), para obter apoio de informática e conseguir sucesso naquele meu plano de economizar alguns trocados para a empresa. A PEL faz aqui na Europa, o que o Departamento de Trading faz na PAI. Antes, o Bertani era o Gerente Geral e comandava aqui a Petrobras UK, que foi vendida. Bem, na saída do curso, caminhei até Knightsbridge. Como estava com o computador e o professor recomendou que não caminhássemos por aí nesta situação (não sei por que!), resolvi fazer uma das coisas que mais gosto em Londres: andar de ônibus. Entretanto, logo percebi que as coisas estão mudando: pouco a pouco, os charmosos ônibus vermelhos, de dois andares, com o modelo que vinha sendo mantido desde os anos 1940’s estão sendo substituídos por modernos modelos, ainda vermelhos e de 2 andares, porém sem um centésimo do charme que aquelas viaturas carregavam. Uma pena! Outra coisa lamentável: os ônibus novos têm porta! Os antigos eram abertos, a gente subia numa plataforma, se agarrava em um corrimão e escolhia o lugar de sentar. Quer mais uma coisa lamentável? Não tem mais cobrador, aquele simpático senhor que carregava uma maquininha pendurada no pescoço. Ele andava pelos corredores, aparecia na frente do passageiro cobrava a tarifa, rodava uma pequena manivela da maquininha e produzia o bilhete. Quer coisa mais charmosa que isso? Agora, os passageiros compram o bilhete em frias máquinas instaladas nos pontos de ônibus. Tenha dó! A passagem está custando 1,2 pounds (quase 7 reais) e dá direito a andar por uma hora, podendo mudar de linha quantas vezes for necessário para chegar a seu destino. Não achei nos ônibus modernos aquele alerta fundamental para os viajantes: Remember, you are in London! We drive on the left! When you cross the street, look right, look left, look everywhere! que adorava ler nos ônibus antigos. Desci na Oxford Street para fazer um segundo câmbio de mais 200 dólares. Aconselhado pelos londrinos fui ao subsolo da Marks & Spencer, uma loja de departamentos e consegui, desta vez, 103 pounds. No escritório da PEL, fui recebido pelo Gerente Geral, o Antônio José que, aliás, trabalhou um ano na PAI, tendo sido substituído pelo Ricardo Peixoto. Infelizmente, a pessoa que poderia resolver meu problema de informática está de férias e o substituo, um gajo de Lisboa, não tinha os poderes necessários. Conversei um pouco e vim-me embora, também de ônibus. Fiz minha primeira compra num supermercado bem pertinho do hotel, chamado Waitrose: foram 11 pounds (R$63) por 1 litro de leite reforçado, 200 g de queijo, 200 g de mortadela (que, em inglês, chama-se mortadela), uma garrafa de 500 ml de Dr. Pepper (é, conseguiu cruzar o Atlântico) e uma barra de 200 g de chocolate Cadbury’s (delicioso). Notaram as unidades? Apesar de usarem milhas, jardas, pés e libras, no supermercado, os ingleses adotam as unidades normais. Na chegada ao hotel, tirei uma soneca e depois procedi àquela mesma desagradável rotina aquática noturna. Depois, comecei a escrever esta mensagem.
Sábado:
Ao longo da semana, o pessoal do curso foi dando umas dicas de passeios. Uma delas me atraiu bastante: London Walks. São mais de 30 passeios de 2 a 3 horas, conduzidos por um guia, especializado no assunto em questão. Os interessados se encontram com o guia em alguma estação de metrô em determinados dia e hora, pagam 5,5 pounds e partem para o passeio. Os temas geralmente cobrem variados aspectos da riquíssima história de Londres, ou pontos turísticos atuais ou ainda rotas de entretenimento famosas. Claro que me atraíram dois Walks em especial, em que se passeia por pontos relativos à passagem dos Beatles pela capital inglesa. Naquele sábado, acordei um pouco tarde e não pude fazer minha ginástica. Parti então direto para o metrô e comprei o Day Travel Card, que custa 4,7 pounds (R$26) e dá direito a múltiplas entradas durante aquele dia, tanto em metrô como em ônibus. É a opção mais econômica para turista curioso, como eu. Bem, para vosso registro, a passagem simples de metrô custa 2,0 pounds (R$11, bem carinha, comparada com os R$2 daí). Fui para Marilebone Station e lá estava Richard Porter, que tem o título de “Beatles Brain of Britain” devido a seu expertise, cercado de umas 15 pessoas, de 8 a 70 anos de idade (a senhora mais velha sempre atrasava nossa caminhada). Começamos pela própria estação de Marilebone, que também é de trem. É lá que os Beatles filmaram as cenas de abertura de “A Hard Day’s Night”, reconheci perfeitamente a rua lateral em que eles aparecem fugindo das fãs e o local em que Paul aparece disfarçado, sentado num banco junto com seu “tio”. Depois, uma parada em frente ao cartório onde Paul e Linda se casaram em 1969 (foto acima), com o relato interessante de que os dois tiveram que entrar pelos fundos, ao lado dos latões de lixo (bem romântico!) devido à verdadeira passeata de fãs que protestavam por ver acabarem-se as chances de se casarem com Paul. Em 1981, também Ringo e Barbara Bach (tremenda bond girl) lá se casaram, momento marcante também pois foi a primeira vez que 3 Beatles se encontravam num mesmo evento público depois da separação (Paul e George estiveram lá, John havia morrido 4 meses antes). Depois, uma parada bem interessante, em 34 Montagu Square (ao lado), apartamento de Ringo, onde ele morou com sua primeira esposa Maureen, entre 1965 e 1966; depois, por um tempo, Paul utilizou o porão (basement) como estúdio onde trabalhava algumas de suas músicas como, por exemplo, Eleanor Rigby; depois, muito surpreendentemente, lá morou Jimi Hendrix quando chegou de New York; para finalizar, lá habitaram John e Yoko, antes de se casarem e lá tiraram a famosa foto, nus, da capa do controvertido álbum “Two Virgins”. A seguir, nova parada em 94 Baker Street, local da famosa Apple Shop, loja de quinquilharias psicodélicas que os Beatles abriram em 1968, quando criaram o famoso selo Apple. Claro que, agora, sem a magnífica pintura que tomava toda a parede do edifício de 3 andares. Próxima parada, 57 Wimpole Street (ao lado), residência de 4 andares dos Asher, onde morava sua namorada Jane. Não só por isso, mas porque, numa certa noite de 1963, Paul visitava Jane, mas perdeu o último trem (na época, ele ainda podia pegar trens!) e o pai de Jane gentilmente convidou-o para passar a noite e assim ele fez pelos próximos 2 anos e meio, inclusive quando Jane viajava com sua companhia de teatro pelo interior da Inglaterra (folgado, não?). Lá, ele recebia freqüentemente a visita de John e compunham algumas músicas no basement, onde o pai de Jane dava aulas de música. Foi lá também que Paul sonhou com a melodia de “Yesterday”. Ainda em Wimpole Street, Richard nos levou a conhecer a saída secreta de Paul, quando queria sair sem ser incomodado pelas fãs que rotineiramente faziam plantão no número 57. Próximo ponto, 4-6 Blandford Street, locação de filmagem de “Help”, claro que, agora, totalmente diferente da época, sem muito interesse, não fosse pelo fato de que a cena, ambientada com motivos indianos, estimulou George a conhecer a cítara, e depois Ravi Shankar, e depois a cultura indiana que tanto influenciou e mudou sua vida. Para finalizar o passeio, uma visita a Abbey Road, onde já estivera, porém nunca é demais. Aproveitei para tirar algumas fotos que faltaram no último domingo, como nos degraus de entrada do estúdio e de algumas inscrições na mureta. Disse Richard que aquela mureta tem que ser pintada de 3 em 3 meses, para dar oportunidade para todos os fãs aporem suas mensagens de amor aos Beatles. Eu já havia notado que todas as mensagens que vira no domingo eram datadas de janeiro de 2005 em diante. O muro já está cheio, hora de pintar novamente. Bem na estação de St.John’s Wood, dei uma parada no Abbey Road Cafe para tomar um chocolate (estava frio!!!). Comprei o livro de Richard “Guide to the Beatles London” (que viria a ser decisivo para o final de domingo) e comprei um pouco de merchandising oficial, como não podia deixar de ser! Logo depois chegou o próprio Richard, que me autografou o livro e ficou conversando um pouco sobre as lembranças do passado. Interessante ainda, no café, fui atendido por 2 moças que, depois que chegou o gerente, começaram a falar com ele em português. Pois é, eram brasileiras! Estão aqui há um ano e pouco aprendendo inglês e disseram que o que tem mais aqui é brasileiro. Logo depois eles começaram com “Seu Homero” pra cá, “Seu Homero” pra lá enquanto eu estava pagando a conta e eu não estava entendendo nada já que não havia dado meu nome a elas, quando percebi que se dirigiam ao gerente, Seu Omero (sem H mesmo), um italiano que fala português de Portugal que conhece muito o Brasil e tem até mesmo uma propriedade em Santa Catarina. Mundo pequeno! Finalizado o passeio Beatle, acatei uma sugestão de Patrícia. Peguei o metrô para a estação Southwark, Jubilee Line. Interessante notar que, primeiro, a Jubilee é uma linha relativamente nova (não tem 100 anos como a maioria), daí os trens serem mais modernos e confortáveis; depois, que algumas estações ao sul do Thames, como a de Southwark também são bastante modernas, e as plataformas dispõem de uma linha de portas entre os passageiros que vão embarcar e os trens, que ficam isolados, aumentando muito a segurança. Por esta modernização não fico chateado, pois as estações antigas e os trens antigos das linhas mais antigas ainda lá estarão por muito tempo. Bem, cultura urbana à parte, caminhei até a Tate Modern (acima), a galeria de arte moderna mais famosa da cidade. Não estava muito animado com o passeio, pois não sou lá muito fã, porém fora alertado que o local é especial, além de propiciar um bom ponto de observação, por ser um edifício razoavelmente alto. E, depois, de graça, até injeção: em Londres, todos os Museus são “di grátis”, a cidade já passou daquela idade de ter que explorar turista. Apenas se paga pelas exposições especiais, dentro deles. O prédio da Tate Modern, na verdade, é uma outra central elétrica abandonada, portanto, cheio de charme. Fui direto ao 7o andar, onde fica a lanchonete, onde não gastei nenhum centavo e aproveitei para ver a vista. Primeiro, mais evidente, a magnífica catedral de Saint Paul. Tinha muita vontade de conhecê-la (e o fiz depois), pois a ela está dedicado um capítulo inteirinho de meu livrão Londres: O Romance, os mais de 30 anos de obra (1675-1708) de sua última reconstrução, as manobras do arquiteto, Sir Christopher Wren, para esconder o caráter evidentemente ‘papista’ da construção. Na época, a igreja inglesa já se havia afastado de Roma e, entretanto, St. Paul lembra muito a catedral de São Pedro, principalmente em sua cúpula. Ainda no mesmo andar tirei umas fotos da Millenium Bridge, construída especialmente para virada do milênio, apenas para pedestres, que foi inaugurada com toda a pompa e circunstância na data prevista e ..... fechada no mesmo dia! Pasmem, no passeio inaugural, com a ponte cheia de gente, bateu aquele mesmo vento no Thames que mencionei acima e a ponte começou a balançar, balançar, enfim, pânico geral, felizmente, ninguém se machucou, a ponte foi evacuada e fechada para balanço (hi, hi, hi) ou melhor, reforma, por 18 meses, para corrigir evidentes falhas estruturais!!!! Junte-se a este fiasco aquele imenso parque de exposições que também foi criado para a virada do milênio, The Dome, à beira do Thames, que hoje se encontra às moscas e que serviu tão somente para James Bond cair sobre, nas cenas de abertura de “Tomorrow Never Dies”. Também, quem manda celebrar o milênio errado? Tudo foi inaugurado em dezembro de 1999! Bem, comecei a descer pelos andares de galerias, em meio a algumas esquisitices modernas, porém algumas obras bastante interessantes, principalmente de meu ídolo Salvador Dali, de Magritte, Miró, uma exposição de cartazes da época da Revolução Russa. Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi um móvel, localizado no centro de uma sala, cheio de gavetas e portas que as pessoas estavam abrindo. Pensei, caramba, tanta recomendação para não tocar nas obras de arte e os guardas não estão nem aí para aquela profanação explícita! Depois entendi, trata-se da obra de um “artista” americano que passou anos nas margens do Thames escavando as “praias” e catando tudo que encontrava. Ele e uma equipe de catadores, que depois classificaram, ordenaram todos os achados e dispuseram nas gavetas e compartimentos do enorme armário. Muito interessante! Inacreditável o que se acha no rio: jóias, louças, cartas, armas, roupas, só vendo! Ainda mais interessante para mim, foi que, no dia anterior, começara a ler um capítulo do meu livrão em que Lucy, uma garota pobre ajuda um tio na difícil tarefa de manobra um barco pelas águas então lamacentas do Thames, em meio ao fog londrino, recolhendo tudo que encontravam, procurando algo de valor, exultando quando achavam um cadáver, principalmente com os bolsos cheios de moedas. Era uma profissão como outra qualquer na época de Dickens, começo do século XIX, claro que vista com muito maus olhos. Certamente, o artista se inspirou nela. Na saída da galeira, um enorme galpão (ao lado), da altura dos 7 andares do prédio, foi deixado totalmente vazio, sem nenhuma construção, portanto um enorme espaço aberto, com uma acústica especial, em que posicionaram enormes alto-falantes, mais de 15 de cada lado, cada um “tocando” um som diferente, de gente gritando, falando, discursando, de animais, de sons da natureza, que se vai ouvindo à medida que se caminha. Muuuuuito legal! Enfim, taí um museu de arte moderna legal! Logo após, cruzei a Wabbling Bridge, como ficou conhecida a Millenium Bridge (Wabble=Balançar), aliás antes, comprei um cachorro quente de galinha, que estava sendo vendido por um italiano de rua (chique, não?), pois a fome bateu. Quando ia chegando à ponte, vi um mendigo, jovem, barbudo, mas bem apessoado, sentado com aquela placa “Homeless, Hungry, Help”. Comi o sanduíche até a metade (era grandão) e ofereci a ele o resto, ao que ele respondeu: “No, sir, thank you very much indeed”!!! Ora, ora, tá com fome ou não tá? Segui em frente e comi o resto do sanduíche, que estava delicioso! Bem, sobrevivi à passagem pela ponte, apesar do frio. Na verdade, quando cheguei à metade da ponte e olhei para trás para fotografar a Tate Modern, notei uma pequena construção branca à direita e lembrei que havia esquecido uma foto importante. Voltei e fotografei o Globe Theatre, reconstrução de um teatro da época de Shakespeare. Há uma exposição, uma excursão guiada, porém não estava nos meus planos. Atravessei a ponte novamente e fui a caminho da catedral de St. Paul. À entrada, notei um daqueles queridos ônibus vermelhos (dos antigos) parado, com uma imensa fita amarrada! Fui chegando perto e notei que em seu interior pessoas seguravam taças de champanhe; mais perto, notei que estavam vestidas a rigor. Desconfiei que se tratava de um casamento e confirmei com o simpático motorista. Os noivos Jemma & Jane já haviam casado e estavam prontos para ir para a festa, de ônibus, com um seleto grupo de convidados. Quer coisa mais charmosa do que andar de ônibus londrino no dia de seu casamento? Para meu deleite, o fotógrafo pediu que todos saíssem para tirarem fotos na escadaria da igreja. Além dele, tiraram fotos também eu e uma dezena de outros turistas desocupados que assistiam a tudo. E com direito a Beija, Beija, Beija, Beija e tudo o mais (na verdade, Kiss her, Kiss her, Kiss her, Kiss her!), no que fomos prontamente atendidos. Na catedral, também há visitação interna, cobrada, não fui, tirei uma foto lá dentro (depois outros foram reprimidos por fazê-lo), li algumas inscrições, fiquei um tempinho lá e saí. Tomei um ônibus até a Ponte de Londres. A ponte não é nada demais, porém fiz questão de ir até lá por merecer um capítulo inteiro do livrão. Claro que é um pouco decepcionante, pois, certamente, foi reconstruída mais de uma vez desde a época descrita no livro, de 1357 a 1422, quando ela era a única ponte sobre o Thames e havia gente morando sobre ela, gente de bem, como um dos 12 edis da cidade (equivalente a sub-prefeito). Fui caminhando rio abaixo até poder fotografar a Torre de Londres e a Tower Bridge. Claro que a Torre merecia outra visita minha, apesar de lá já ter estado em duas ocasiões, já que trata-se de outro capítulo inteiro do livrão, que conta a época de sua construção, em 1078, por William I, o Conquistador normando. Mas, fica para uma próxima. Sobre a Tower Bridge, o interessante é que ela é toda charmosa, marcante, por ser levadiça, porém não vejo utilidade para esta última capacidade, já que a próxima ponte, a de Londres, somente dá passagem àqueles barcos de turismo. Tenho que perguntar a alguém sobre isto. Depois, o tube (como é popularmente conhecido o metrô) na estação London Bridge, mesma linha Jubilee até a estação Waterloo. Quando lá cheguei, fui até a famosa Ponte de Waterloo, onde Napoleão perdeu a guerra para os ingleses e lembrei que já passei por esta época no livrão e não houve quase menção ao ocorrido, apesar de dar-se algum destaque ao Duque de Wellington, o vencedor da batalha, por outros motivos. De lá, breve caminhada até o London Eye (da BA – British Airways), uma gigantesca roda gigante, creio que com 100 m de altura, em que no lugar das cadeirinhas, há bolhas de vidro (acrílico, penso), acho que 30 delas, elípticas, em que cabem umas 30 pessoas confortavelmente em pé para ver a passagem. A roda nunca pára, está sempre a uma velocidade constante de mais ou menos 0,5 metro por segundo e as pessoas vão embarcando e desembarcando, sem problemas, mesmo as velhinhas. A viagem dura uns 35 minutos. Lentamente se vai vislumbrando o horizonte londrino, uma cidade praticamente plana (não chega a ser uma Houston), com duas pequenas elevações, nada dramáticas. É de lá que se tem a melhor vista do Parlamento e do Big Ben, tirei fotos ótimas (espero). No final, uma visita a Trafalgar Square, de ônibus e uma volta a Westminster para ver as luzes sobre o parlamento e Big Ben. E, fim do dia, cheguei às 9 no hotel, dei uma lida no correio, escrevi mais um pouco da presente mensagem e caí na cama ... afinal foram 11 horas de caminhada, interrompidas apenas nos breves momentos de transporte e refeição. Domingo:
Acordei mais cedo para fazer ginástica e também a cobertura fotográfica do parque aquático. Devido à minha recente paixão pelo magnífico livro que estou lendo, cometi a heresia de não fazer o outro London Walk com motivo beatle, também guiado por Richard Porter. O motivo: no mesmo horário ia rolar a caminhada “The Famous Square Mile: 2,000 years of history”. Prometia passear por lugares marcantes da história da antiga Londres, que já foi cercada por muros e tinha uma área de mais ou menos uma milha quadrada. Era justo, não? Bem, fui para Monument Hill Station e lá estava o guia, Graham, um simpático velhinho que, infelizmente falava muito rápido: não entendi metade de suas piadas e, pior, de suas explicações sobre os lugares em que passeávamos. Foi interessante, sem dúvida, pois caminhamos por intrincadas ruas que eu jamais entraria se estivesse só. Ocorre que vimos poucas construções de época: no máximo, uma torre de pedra de 400 anos, uma casa de 500 anos, enfim tudo muito recente. Explica-se, a Londres anciã cercada por muralhas sofreu um devastador incêndio no ano da graça de 1665 e foi completamente destruída, pudera, era toda de madeira, como costuma fazer um certo país moderno lá das Américas. E foi totalmente reconstruída. Depois, as duas guerras mundiais, principalmente a segunda, quando os alemães foram implacáveis com a cidade, principal alvo da Luftwaffe. E Londres foi novamente reconstruída. É até mesmo de se admirar que a Catedral de St.Paul tenha sobrevivido intacta, proteção divina (não papal). Uma das paradas interessantes da caminhada é numa igreja cujo teto caiu, mas as paredes resistiram ao bombardeio e assim foi tudo mantido, dentro, agora é um jardim. Assim, depois de tantas construções e reconstruções, o mais legal do passeio foi passar por perto de moderníssimos edifícios da City Londrina, bancos, seguradoras, etc. Destaque para os prédios de 2 seguradoras (ao lado), uma suíça, que parece um ovo gigantesco, todo de vidro e do Lloyd’s, que parece, por fora, uma refinaria do futuro. No ponto mais antigo da caminhada, conseguiram preservar a fundação de um antigo templo da época da dominação romana, no século I. Neste ponto, aconteceu o primeiro (e último, espero!) acidente da viagem. A querida câmera caiu de minha mão sem dar aviso! Sorte que consegui amortecer a queda com o pé, mesmo assim ela foi rolando por cerca de um metro e meio! Gelei, mas logo que a peguei, testei todas as funções e tudo estava funcionando! Ufa! Diagnóstico: rompeu-se justamente o cordãozinho original em que eu a levava, enrolado no pulso, sem explicação. Passado o susto, continuei e finalizei a caminhada. Fui a Picadilly Circus e procurei a Savile Row, rua internacionalmente conhecida por produzir alguns dos mais caros ternos do mundo o que, para mim, pouco interessava. Interessava-me tão somente, o número 3 daquela rua (abaixo), endereço dos Estúdios da Apple, de 1968 a 1972, onde foram gravadas as canções do álbum beatle “Let It Be’. Não só o álbum, mas também o filme “Let it Be”. Mais que isso, no teto daquele edifício de 4 andares, em 31 de janeiro de 1969, os Beatles fizeram sua última apresentação ao vivo, depois de quase 3 anos de trabalho exclusivamente de estúdio, e que veio a se tornar a última cena do filme. Claro que não se pôde chamar de concerto, pois o público que os via, eram apenas os componentes da equipe técnica e quem os ouvia, sem ver, eram os transeuntes das vizinhança, que vieram atraídos pelo som, que atraiu também os policiais da delegacia localizada a 150 metros dali e que acabaram por negociar, amigavelmente, o fim do “show” após brilhante performance de 6 músicas, que John finalizou com ironia: “Espero que tenhamos passado no teste!”. Bem, aproveitando que estava com Day Travel Card do metrô, fui até a estação Warwick, linha Bakerloo, ver do que se tratava a tal de Little Venice, um dos London Walks oferecidos. Bota “Little” nisso: trata-se, na verdade, de uma conjunção de 3 canais, que formam um laguinho, que aproveitaram para fazer um “point”, com barquinhos estilizados, bastante bucólico e pitoresco. O próximo ponto de interesse meu foi conhecer o Seven Dials, sobre o qual li no livrão. Para isto me desloquei até a estação Coventry Garden, local onde encontrei a maior concentração de pessoas, turistas ou moradores, que encontrei até aqui: o Coventry Garden é uma grande feira de antiguidades (e modernidades e curiosidades) com várias atrações de rua, vários barzinhos e restaurantes, que estava apinhada de gente. O lugar que eu queria conhecer, ninguém conhecia, salvou-me o agente de turismo que está lá para isso: o Seven Dials é, na verdade, uma confluência de 7 pequenas ruas, com tráfego de carros, imagine a confusão. No centro da pequena praça, um monumento que mostrava no topo um relógio de sol estranhíssimo, com 7 faces, cada uma voltada para uma rua, cada uma com um “Dial”, diferente. Na citação do livro, o Seven Dials era um local muito pobre e perigoso, onde viviam verdureiros e limpadores de chaminés, lembram-se de Mary Poppins? Aliás, falando nisto, fui até o teatro onde está passando o musical Mary Poppins, um dos grandes sucessos do momento, ali pertinho, o Prince Edward Theatre. Já sabia que os ingressos mais baratos estavam esgotados mas fui lá tentar: nada feito, bilheteria fechada. Entretanto, decidi que tentaria, no próprio dia do espetáculo, pegar algum “return ticket”. Ao longo de minha peregrinação naquele domingo, vim folheando o livro que havia comprado, London Beatles e resolvi que ia fazer eu mesmo a caminhada que havia perdido de manhã. Comecei por 1 Soho Square (a minutos do teatro onde estava), onde fica o escritório de da produtora de Paul, a MPL: o interessante do ponto foi ver a praça, não muito grande, cheia de gente esparramada aproveitando o restinho de sol da tarde. Londrino não desperdiça momentos ensolarados de maneira alguma. Depois, 17 St.Annes Court, local do Trident Studios, onde gravaram Hey Jude e outras 5 canções, aproveitando-se da aparelhagem de som, mais moderna que a de Abbey Road. Depois, um ponto que absolutamente nunca havia ouvido sobre: um banheiro público em Broadwick Street (ao lado) onde John fez uma aparição num pequeno sketch cômico com Dudley Moore, em 1966. Aproveitei para esvaziar a bexiga, desta vez com o tempero especial de que, com certeza, John também passou por ali! Seguindo as instruções, passei por Carnaby Street, onde os artistas (Beatles, The Who, Stones, Hendrix) faziam suas compras da moda, o local era o centro da Swinging London. Depois, 8 Argyll Street, local do London Palladium, teatro importante por marcar o início do termo Beatlemania, quando a imprensa percebeu a histeria dos fãs, após um show em outubro de 1963. Depois, alguns pontos de menor interesse, até que Richard orienta: ... vire à esquerda, em Picadilly Circus, pare em frente à Tower Records, olhe na direção da estátua de Eros e perceba ao fundo o sinal do “Prince of Whales Theatre”! Não parece instrução de mapa do tesouro? Achei muito legal, o estilo. Na certa, ele achou que não valia à pena atravessar o conturbado Circus somente para ver o teatro, onde os Beatles fizeram uma apresentação histórica, em noite de gala, novembro de 1963, em que estavam presentes a mãe e a irmã da rainha, na qual John fez aquele famoso apelo: “For the next number I would like to ask for your help. Will those in the cheaper seats clap your hands? The rest of you just rattle your jewelry!” E atacou de Twist and Shout, inesquecível! Depois, London Pavillion (acima), onde aconteceram as premières dos filmes beatle! E Jermyn Street, onde John&Paul encontraram Mick&Keith dos Stones e lhes entregaram o primeiro sucesso: “I Wanna be Your Man”. Depois, mais alguns pontos sem interesse, até chegar a Masons Yard, ao qual se chega por uma passagem quase secreta, onde, no número 6 havia um pub, The Soctch of St. James onde havia uma mesa permanentemente reservada para os Beatles (ao lado), com plaquinha e tudo e, no número 9, a antiga Indica Arts Gallery (hoje os nomes são outros). Nesta galeria a artista japonesa Yoko Ono fazia uma vernissage de sua obra em novembro de 1966 e John foi fazer uma visita especial, levado pelo proprietário da galeria. Foi deveras emocionante ver o local onde começou o fim dos Beatles. Paradoxalmente, minha última parada neste estafante dia foi justamente para conhecer um ponto fundamental para o início da carreira dos Beatles: 363 Oxford Street, antigo endereço da HMV shop (de discos), o local onde Brian Epstein conheceu Syd Coleman, que o apresentou a George Martin em fevereiro de 1962 e o resto é história. Apesar de a HMV ter deixado o endereço, conseguiu registrar para sempre o fato, com uma placa azul, que explica o ocorrido, em frente à qual, tirei a última foto antes de acabar a bateria da câmera. Voltei para o hotel para descarregar livro e papelada e partir para o último London Walk, o Old Chelsea Pub Walk. O que me atraiu no passeio não foi a possibilidade de visitar Pubs, mas alguns endereços que me atraíram. O local de encontro era a Sloane Square station, a cerca de 300 metros do hotel. Lá estava Mary, a guia, que, paradoxalmente, não bebe, porem é excelente guia, tem bom humor e sabe contar as histórias necessárias. Chelsea é o 4o local mais caro da cidade, atrás de Mayfair, Belgrave e Knightsbridge. Dá pra ver pelos prédios e ruas, muito bem cuidados. Foi neste passeio que soube sobre o significado dos Mews. Em frente a Royal Avenue, ela disse que, provavelmente ali morou o personagem James Bond. Andamos bastante, paramos em 2 Pubs, para mim uma perda de tempo, porém bebi um Pint de cerveja quente ... , por aqui eles bebem a cerveja na temperatura do ambiente, ainda bem que não é o calor daí. Quando chegamos a Cheine Walk, à beira do Thames, ela mostrou a casa onde morou Keith Richards, o guitarista dos Rolling Stones, segundo Mary, um Pharmaceutic Specialist (HeHeHe). Um pouco mais adiante, próximo à ponte de Chelsea, vimos a casa de outro Stone, (e stoned) Mick Jagger e, vizinha à dele, de nossa querida Julie Andrews (um casal que não combina nada!), o que me deixou com mais vontade de assistir ao musical Mary Poppins, sonho que, neste momento, final de quarta-feira, 13, já realizei. Quando chegamos ao terceiro pub, apenas poucos ficaram e caminhei de volta ao Hotel. Nesta ciranda de caminhadas, aproveitei para observar mais um aspecto urbano de Londres, a numeração das casas. Em sua maioria, ela é seqüencial, ou seja, a rua começa com a casa 1, depois vem a casa 2, depois a 3, quando chega no final, a numeração passa para o outro lado e vem de volta, casa 123, depois 124, depois 125, e assim por diante. Interessante é que quando chega um prédio no número 100, com 24 apartamentos, por exemplo, a numeração pula para 124. Lá dentro do prédio, a numeração continua seqüencial, 100, 101, 102. Mas, não é sempre assim: há outras ruas com lado par e lado ímpar, porém não andam de 2 em dois, como em Santos, nem é por distância como aí. Enfim, só inglês entende. E, claro, não existe número 13, como nos USA.
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