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segunda-feira, 30 de julho de 2007

O primeiro dos últimos



No esporte, o segundo colocado é apenas o primeiro dos últimos. Ao menos, no raciocínio do apaixonado torcedor brasileiro comum. Neste último PAN, a coisa se modificou um pouco. O inalcançável esquadrão americano, associado ao surpreendente desempenho dos tupiniquins, fez o brasileiro sonhar com um segundo lugar: o da contagem das medalhas. Ficamos a antes impensáveis 5 medalhas dos super-poderosos cubanos e seu ditatorial, porém admirável, apoio governamental ao esporte. Depois que as pratas e bronzes brasileiras deixaram as cubanas lá longe, voltou a


síndrome do segundo último: prata já não valia mais. Precisávamos de medalhas de ouro. Não deu!


Entretanto, se usarmos o olhar da gestão por resultados, não ficamos a 5 medalhas do alvo, mas a meras 3 medalhas: medalhas que perdemos para Cuba! Cada medalha que perdíamos para um cubano, entrava na contagem deles e não entrava na nossa: valia duas, na diferença. Nesta edição dos jogos, foram 10 as oportunidades de confronto direto: 4 no judô, 3 no atletismo de pista, 1 no boxe, 1 na canoagem e, não se pode esquecer, no vôlei feminino. Se tivéssemos confirmado um do 6 ‘macth points’ que tivemos naquela nefasta decisão e os juízes do judô tivessem sido justos em duas das lutas que perdemos para Cuba, estaríamos agora comemorando um inédito segundo lugar.

Não que esse ‘título’ signifique muito, em termos de Olimpíada: quando chegar Pequim, estaremos batalhando por um objetivo de 5 medalhas, se muito, ao invés de 55.Mas, para o próximo PAN, quando o nosso ministro das multidões (Orlando Silva) programar o investimento por medalha, cada real pode valer 2, no que tange a bater ‘los hermanos’ insulares: é concentrar no judô, no boxe e no atletismo! E, claro, seria bom reservar uma verba para contratar um psicólogo para as meninas do vôlei poderem afastar o fantasma do match-point olímpico....

sábado, 28 de julho de 2007

Lília faz 50

Lilia de Castilho
Sempre a alguém orienta
E não se impacienta.
Nos louros não se senta,
E não é nada lenta!
De conhecimento, é sedenta,
Está sempre atenta.
Sempre se movimenta
E assim, nem se esquenta
Por chegar aos cinqüenta.
E aos amigos sacramenta:
Vai trabalhar até sessenta,
Paparicar netos aos setenta,
Continuar viajando aos oitenta,
Descansar, quiçá, aos noventa!
Chegar aos cem sempre se tenta.
       Só ela mesmo agüenta!

sexta-feira, 20 de julho de 2007

QTPTM - A Evolução Oriental

N
Pré-requisitos para leitura .... ou quase

No Japão, na Tailândia e em outros países orientais, os pescoços também têm tratamento condigno, ao menos os dos turistas que podem pagar diárias nos melhores hotéis. Alguns têm banheiros hi-tech, com música e aromas florais emanando dos vasos, temperatura regulável da água, equipados com controles eletrônicos: deve ter até massagem automática e jogo de luzes. Um amigo meu teve a curiosidade científica de registrar em foto, ó só que luxo!


Finalizo esta séria e higiência série turca com um video sensacional que vi em 2009: um pastor dá dicas de higiene a seu rebanho!
Se seu firewall deixou tudo aí em cima branco, pegue o link abaixo e mande pra casa
Não deixe de ver!


Tô com ele e não abro!!!
Como diz o ditado,
quem tem pescoço tem medo,  
medo de hemorróida,
todo pescoçoidado é pouco!!!


Teşekkür Ederim!
(muito obrigado, em turco)

Todos  os episódios de QTPTM


1. A Ideia 
2. Um Estado Laico

3. Istanbul 
4. O Expresso da Meia Noite 
5. Ankara e a Língua 
6. Um Hábito de Higiene 
7. A Solução Turca 
8. O Original Árabe 
9. A Evolução Oriental (este)

QTPTM - O Original Árabe

Pré-requisitos para leitura .... ou quase

Pensando bem, a idéia do construtor turco nada mais é que uma evolução da cultura de seu próprio povo, que vem lavando o pescoço com água há milênios, só que de uma maneira bem menos higiênica. O banheiro turco tradicional não tem privada, que é coisa ocidental. Trata-se apenas de um buraco no chão, ligado a um sistema de esgoto qualquer, claro. Ao lado do buraco, uma fonte de água (hoje, uma torneira), uma jarra e um pano (hoje, um rolo de papel ou uma toalha). O cidadão se agacha sobre o buraco, faz suas necessidades, depois segura a jarra com a mão direita, enche a jarra de água e começa o procedimento: faz a mão esquerda em concha, enche-a de água e aí, a própria mão esquerda faz o trabalho, quantas vezes o sujeito achar necessário. Depois, enxuga a mão com o pano e vai-se embora.
          Se o cara depois lava a mão esquerda com sabão, ou não, é decisão do sujeito, não está no ritual. Também a lavagem das imediações do pescoço, não sei como é feita, mas não vem ao caso. Daí vem o hábito que eles têm de comer somente com a mão direita (com a mão mesmo, sem garfo, coisa de ocidental), já que a esquerda é destinada, desde Maomé, ou mesmo antes dele, àqueles trabalhos menos nobres. Pobres dos canhotos! Deviam se atrapalhar todos na hora de comer, mas em compensação, seus pescoços deviam estar verdadeiros brincos, um primor de limpeza! Agora, com a solução moderna, a força do jato faz a vez da mão esquerda. 
Ia sair da Turquia e ainda faltava, então, a foto do banheiro tradicional. Não quis perder tempo indo ao terminal doméstico, que foi a sugestão infali´vel de meus amigos residentes. Resolvi arriscar o banheiro do terminal internacional. Fui feliz e encontrei um cubículo tradicional (ver ao lado), junto a três outros com privadas ocidentais. Notem a jarra de água à esquerda e o rolo de papel à direita. Interessante a decisão de manter um cubículo com um buraco, ao lado de três outros modernos. Significa que tem gente que, mesmo com a facilidade e higiene modernas, não admite abandonar os hábitos milenares.
Hábito que não se restringe aos turcos, estende-se aos muçulmanos em geral e aos indianos, ainda que não muçulmanos. Lembro-me que na Índia, em viagem de trem entre Delhi e Agra, fui ao banheiro disponível e lá estava o mesmo buraco no chão, com a singela diferença de que dava para ver os batentes dos trilhos passando (não aparece na foto, vocês vão ter que acreditar em mim). Esgoto direto, just in time, on line, ambiente livre de dejetos, a estrada de ferro que se adube!!! Notem o requinte de que há o lugar para colocar os pés, antes de se agachar.

Todos  os episódios de QTPTM


1. A Ideia 
2. Um Estado Laico

3. Istanbul 
4. O Expresso da Meia Noite 
5. Ankara e a Língua 
6. Um Hábito de Higiene 
7. A Solução Turca 
8. O Original Árabe (este)
9. A Evolução Oriental 

QTPTM - A Solução Turca

Pré-requisitos para leitura .... ou quase

Bem se não quiser ler nada agora, 
precisa saber,  NO MÍNIMO,
como se diz PESCOÇO em Francês!

1. A Ideia 
 3. Istanbul 
Na Turquia, uma bela ideia de algum construtor turco associou a necessidade da lavagem do pescoço à restrição de espaço que a duchinha já provia, e foi além: eliminou a duchinha! Vejam a foto ao lado. Não há aquela coisa visualmente agressiva, que requeria, além do registro da água, um suporte preso à parede e uma mangueira condutora da água até chegar ao direcionador do jato propriamente dito. Além disso, o sistema é sujeito a manutenção freqüente, já que a mangueira não é dimensionada para suportar cargas de água elevadas, levando a vazamentos periódicos naquelas instaladas em andares mais baixos, com usuários que não têm o cuidado de abrir e fechar a torneirinha da parede a cada uso. O que fez o turco? Manteve o registro e usou um cano como direcionador do jato, embutiu-o na parede, fora de nossa vista, e transformou a ducha num jatinho estrategicamente instalado na parte posterior do vaso, embutido na cerâmica. Uma pequena canopla metálica, com um orifício ao centro. 

Interessante foi a forma como descobri a pequena maravilha: chegando ao hotel, no aperto por um Número 2, me deparei com a privada,  reclamei (em pensamento) da falta da ducha, xingando esse pessoal que não pensa no bem-estar do pescoço dos outros; notei aquele certo aparatozinho metálico, porém não liguei o nome à pessoa; sentei-me, concentrei-me, aliviei-me e, na hora do relaxamento, notei um registro estrategicamente colocado no lado direito do vaso e pensei: Será?! Acionei o registro vigorosamente e bingo: um jato forte atingiu o olho do pescoço! Dei aquela rebolada, pra lá e pra cá, para aumentar a abrangência da atuação do jato e pronto. Higiene refrescante, apalpadinha com papel e fim. 

Maravilha! Brilhante! Gênio!

Quando decidi fazer o presente ensaio, resolvi documentá-lo com fotos e tirei aquela primeira, já mostrada. Senti que faltava uma foto de um banheiro tradicional turco e comentei a intenção com amigos moradores no país, em um jantar que tivemos na última noite antes de minha partida, e eles sugeriram o aeroporto, em sua parte doméstica, pois achavam difícil que encontrasse um na parte internacional. Achei boa a idéia, mas tentei a sorte, primeiro, no ‘tuvalet’ do próprio restaurante em que celebrávamos, entre uma cerveja e uma coca-cola: estávamos bebendo comedidamente, já que pescoço de bêbado não tem dono. Não tive sucesso em minha busca, porém encontrei uma variação da modernidade turca: mesma filosofia, porém, ao invés da canopla, lá estava uma pequena protuberância metálica, um tanto quanto fálica, emergindo de dentro da cerâmica. Resolvi tirar uma foto com a água saindo, posicionei-me à frente do vaso, de pé, abaixei-me e abri o registro, da mesma forma vigorosa que fizera da primeira vez, e, uau, saiu um jato poderoso que, sem a barreira do pescoço e adjacências, molhou minha perna direita e foi atingir a porta do cubículo. Caramba! Pensei: tem ser humano que vai querer sentar-se ao contrário, de frente, acionar o bichinho com vigor, depois dar aquelas mesmas reboladinhas, para achar o ponto  (G) ideal! Bem, depois, com mais cuidado, acionei o registro de leve e tirei a foto ali de cima. Não parece o Juquinha fazendo xixi? 

Em tempo, devo acrescentar que eu havia acionado a descarga (ou a bomba, como dizem os paulistas) antes de documentar o jato, não tenho culpa se a coisa não estava funcionando direito e sobrou um resto que deixou a água escura! Eu juro!  


Todos  os episódios de QTPTM


1. A Ideia 
2. Um Estado Laico

3. Istanbul 
4. O Expresso da Meia Noite 
5. Ankara e a Língua 
6. Um Hábito de Higiene 
7. A Solução Turca (este)
8. O Original Árabe 
9. A Evolução Oriental 

QTPTM - Um Hábito de Higiene

Pré-requisitos para leitura .... ou quase


 Bem, acabei divagando, desviando um pouco do tema central, afinal, fica difícil ficar o tempo todo falando sobre pescoço. Além disso, foi bom para compartilhar minhas experiências e seria injusto com a Turquia um relatório fazendo unicamente uma ode a suas modernas privadas. 

Antes de falar na solução turca, cabe um preâmbulo sobre o tema, que remonta aos tempos de minha adolescência. Meu pai sofreu muito com uma doença típica do pescoço: a hemorróida (bem, se você não teve tempo de ir ao dicionário e ainda não havia entendido o que eu estava querendo dizer com ‘pescoço’, acho que agora fez-se a luz, caiu a ficha, não?!). E teve que operá-la.

A operação foi difícil, a recuperação dolorosa, e a lição aprendida com o médico que o operou: após a evacuação, evitem o uso de papel higiênico seco para limpar o pescoço! No mínimo, molhem-no antes da aplicação ou, se tiverem bidê, usem a ducha do bidê para o efeito, afinal ela foi feita para isto, deixando o papel apenas para uma leve apalpadinha, para secagem do pobre pescoço. Lembre-se que ele estava em sua situação mais frágil, acionado que fora pelos músculos esfincterianos. Por mais que os modelos mais leves de papel higiênico sejam mais fofos, menos ásperos, perfumados até, o pescoço sempre sentirá o atrito do papel, abrindo caminho para a formação da escara. A água é fundamental para a preservação do pescoço. Passada a mensagem, adquiri o hábito, não tenho vergonha alguma de admitir. Depois, com as construções modernas e menos espaçosas, houve a substituição do bidê pela famosa duchinha, que faz a mesma função. Lá se vão mais de 30 anos e meu pescoço vem sendo tratado à base de muita água, fria ou morna, dependendo do sistema de aquecimento disponível. 


Quer dizer, com um hiato de 4 anos, em que morei nos Estados Unidos, onde não há ralos nos banheiros, muito menos bidê, coisa de francês chique. Como não consegui fazer nenhum encanador americano (ou bombeiro, para os cariocas) entender o que eu queria dizer com duchinha, lá se foram quatro anos à base de papel higiênico molhado na torneira da pia, com toda a dificuldade logística associada. 

Enfim, sobrevivi. E o pescoço ainda segue incólume, preservado.

Todos  os episódios de QTPTM


1. A Ideia 
2. Um Estado Laico

3. Istanbul 
4. O Expresso da Meia Noite 
5. Ankara e a Língua 
6. Um Hábito de Higiene (este)
7. A Solução Turca 
8. O Original Árabe 
9. A Evolução Oriental 



 

QTPTM - Ankara e a Língua

Pré-requisitos para leitura .... ou quase

Enfim, coloque-se a Turquia onde se queira, o fato é que, se teleportarem você para o centro de Ankara, sem dizer onde você está, você tem a nítida impressão de que está em algum país da Europa. Ruas limpas, grandes avenidas, construções modernas, grandes shopping-centers, ruas comerciais organizadas. Aliás, o comércio é dominado por uma marca chamada Indirim, estampada na maioria das lojas. Brincadeira, Indirim, na verdade, é ‘liqüidação’, em turco. A  onde passei de passagem e a impressão é a mesma, grandes avenidas à beira-mar, tudo muito bem cuidado. Nada posso dizer do resto, de outras cidades; não posso garantir que aquele estilo de cuidado urbano seja extrapolado para a vida no interior, que não conheço. De qualquer maneira, sai-se de lá com uma impressão bastante positiva. Ah, outro mito desfeito: o nariz grande! Nós sempre (eu, pelo menos) associávamos turco a gente de nariz grande. Nada disso! Nem em homens, nem em mulheres, pode-se constatar essa tendência, muito pelo contrário, o nariz grande é exceção; aparece, mas é pouco. Os traços são um pouco mais fortes, nada mais que isso. Ah, uma nota sobre relacionamentos: todos, homens e mulheres, ao se encontrarem, trocam dois beijinhos, um em cada face.  Sem nenhuma outra conotação. 

A cidade é urbanizada, o transporte coletivo funciona bem, segundo me disseram. Há cinemas, vida noturna com barzinhos e bons restaurantes, e, finalmente, homens e mulheres vestidos na moda ocidental, com a excecão de uma pequena parcela de mulheres ainda com véu, e ainda assim, mostrando o rosto, nada daquela burka que não deixa ver nem os olhos. Enfim, longe daquela impressão que se tem aqui, de que os turcos seriam mais ou menos próximos dos árabes, a gente confunde muito. Bem, pausa para um reparo: tudo isso que eu disse, refere-se a Ankara, a capital do país, ou a Istanbul.

A grande dessemelhança do modus operandi da Turquia para os mais visitados países da Europa é o idioma. Todo visitante arrisca um pouco de francês, inglês, espanhol, italiano. Turco, é impossível! A língua é muito enrolada, não se capta quase nada. Andando lá, a gente imagina, por exemplo, como se sente um analfabeto, que não consegue ler as placas, os dizeres dos anúncios. Mesmo com o atenuante de que há um alfabeto, com as mesmas letras nossas (sem o ‘q’, ‘w’ e ‘x’), o que é bem melhor que o cirílico, o hindi, o árabe, o mandarim, enfim, que são ininteligíveis ao ocidental mediano, a vida do visitante não é fácil. Dificulta um pouco o fato de que não é todo mundo que fala inglês, há uma certa mobilização dos jovens, mas pareceu-me um movimento bem incipiente. O alfabeto é igual, mas os sons podem ser bem diferentes.


As consoantes, por exemplo, podem ter variadas pronúncias, dependendo dos acentos e variações de cedilhas que a acompanham (‘ç’, ‘ğ’, ‘ş’). A letra ‘ğ’ é muda, por exemplo, como o nosso ‘h’; aliás, ela é muda, mas tem alguma função, ela estende o som da letra que o precede. As vogais, também, podem ter o som aberto, fechado, semi-aberto, com ‘biquinho’ como o francês faz, dependendo se tem trema ou não (ö, ü). E, como não poderia deixar de ser, a construção gramatical também é distinta: por exemplo, o verbo vem ao final da frase, ou seja, só no final se sabe a ação a que o indivíduo está se referindo. Apesar da diferença, há umas poucas palavras que são absolutamente idênticas. Você não pode, por exemplo, sair do restaurante sem pagar, com a desculpa de que ninguém entendeu o que você disse. Basta dizer: “Garçom, fatura!”, que ele vem correndo com a notinha.
Todos  os episódios de QTPTM


1. A Ideia 
2. Um Estado Laico

3. Istanbul 
4. O Expresso da Meia Noite 
5. Ankara e a Língua (este)
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7. A Solução Turca 
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quinta-feira, 12 de julho de 2007

Tri, Tetra, Penta, Hexa, Heptalogias

Hollywood não se arrisca mesmo. Podendo faturar bebendo da mesma fonte, por que arriscar? A bilheteria sempre fala mais alto, e a repetição de uma fórmula de sucesso enche muito mais os olhos dos produtores que uma aposta incerta. Mesmo um grande nome pode ter dificuldade em conseguir apoio para um projeto novo: veja o caso de Milos Forman, o genial diretor de Um Estranho no Ninho e Amadeus, nada menos que 2 Oscars de direção na estante, está bancando com dificuldades seu projeto de levar a vida de Goya, o pintor espanhol da época da Inquisição, para as telas, sem a ajuda financeira dos grandes estúdios. Então, o que mais se vê hoje, é mais do mesmo! Muitas das vezes, com qualidade duvidosa.
O triênio 2006 - 2008 está se mostrando pródigo nesta tática, e de várias maneiras.
1.                 Temos os velhos dinossauros voltando à carga: Sylvester Stallone se deu bem com o lançamento de um Rocky Balboa bastante decente, a sexta aparição do lutador, e vem aí com a quarta de Rambo, o veterano do Vietnam; já houve a quarta versão do durão Bruce Willis em seu papel (literalmente) Duro de Matar; e, finalmente, parece que vai sair Indiana Jones IV em 2008 e é bom que saia logo antes que o arqueólogo Harrison Ford tenha que se apresentar usando numa bengala de ossos, ainda mais se vier com seu velho pai (Sean Connery já está com 76 anos de idade). Neste último, ao menos, temos a batuta do genial Spielberg, o que garante a qualidade. Que eu saiba, ainda não se ouve falar de Máquina Mortífera V, acho que Glover & Gibson devem estar, desta vez sim, ‘too old for this shit’, além do que este último deve estar já pensando no próximo filme sangrento que vai dirigir;
2.                 Temos os antigos heróis dos quadrinhos ganhando sobrevida na telona: depois do X-Men, cuja terceira edição (2006) acabou sendo surpreendente no roteiro, veio a terceira aparição do Homem Aranha, para mim decepcionante, após um excelente segundo; e vem aí a segunda missão do Quarteto Fantástico, ao que parece, bem menos bobinha que o da estréia, com a presença do interessante e enigmático Surfista Prateado. Parece que Hulk vai merecer uma segunda chance de reverter a péssima imagem do primeiro. Ainda bem que não pensaram ainda na continuação do Demolidor, uma pena, pois era um de meus HQ favoritos: não há chance de salvá-lo, com a manutenção de Ben Affleck no papel do super-cego herói;
3.                 Temos os personagens contemporâneos, notavelmente representados pelo bruxo Harry Potter e seus amigos (e outros nem tanto) de Hogwart, uma série absolutamente bem planejada: J.K. Rowling já sabia que ia escrever 7 livros com o tema e, depois do sucesso arrebatador dos primeiros 2, veio a natural passagem para a telona, que solidificou o sucesso com uma escolha mais do que adequada do elenco e, hoje, a pottermania já anseia pelo lançamento quase simultâneo do quinto filme e do sétimo livro, numa  jogada de marketing jamais vista; Matt Damon ainda se lambuza com o sucesso de Identidade Bourne, com seu desmemoriado Jason, e já chegou rapidamente a uma trilogia; apesar de ser uma refilmagem de um clássico do anos 60, incluo 11 Homens e um Segredo na mesma categoria contemporânea, eles seguem apostando no fascínio do ladrão-que-rouba-ladrão, apoiado num elenco galáctico, e também já chegaram ao terceiro; finalizando os contemporâneos, posso mudar de meio e incluir a animação Shrek, que já chegou ao Terceiro, agora com o desfalque de Bussunda, que fazia a voz do simpático ogro na versão dublada.
Bem, tudo isso foi para introduzir o real motivo deste papo, também uma trilogia (até agora), também uma aposta fácil dos estúdios numa vaca leiteira, no não-se-mexe-em-time-que-está-ganhando, no vamos-aproveitar-pra-faturar, chamem do que quiserem. Trata-se de Os Piratas do Caribe, dos estúdios Walt Disney. Eu estava levando minha vida sem dar muita atenção a este fenômeno, afinal, ando mais seletivo em meu gosto cinéfilo, achei que já havia passado da idade de perder tempo com filmes juvenis da Disney. Enfim, por insistência de meus filhos, que me lembraram ser o principal pirata interpretado por Johnny Depp (que eu sempre admirei), que ele estava impagável, acabei dando uma conferida. Aproveitamos, então, que lá se vão 3 anos do primeiro (O Pérola Negra) e compramos o DVD por meros R$ 12,00. Assisti há duas semanas. Depois, pedimos emprestado o DVD do segundo (O Baú da Morte) e o assisti há uma semana. Finalmente, assisti ao terceiro (No Fim do Mundo) na telona. Uau, que maratona! Excelente investimento! Diversão garantida!
Os roteiros são fantasiosos, mas complexos. Você sai de cada um dos filmes achando que ficou faltando alguma coisa, mas depois (quando os filhos explicam), descobre que está tudo amarradinho. Os personagens são implausíveis, como uma tripulação de mortos-vivos, que viram caveiras ao anoitecer ou umq outra de seres humano-marinhos que se integram às partes do navio-pirata, comandados por um impiedoso ser com cara de polvo e pata de lagosta que não tem coração (literalmente) e toca órgão com os tentáculos, enfim. O caso é que tudo tão bem feito que você tem que parar para admirar e imaginar aonde a tecnolgia da CG (Computer Graphics) vai chegar. Daqui a pouco, vão dispensar a presença de atores!
           Não, muito longe disso! Um Johnny Depp é insubstituível! É ele a inspiração da série toda. É daqueles atores que recebem um roteiro e constróem um personagem a seu bel-prazer. Foi o que ele fez com seu pirata Jack Sparrow. A começar pelo figurino, que ele montou pessoalmente, passando pelo linguajar, pelo ar permanentemente semi-bebum, pelo caráter ambíguo, ora do lado bom, ora do lado mau, de acordo com a conveniência. Conta-se que quando os produtores viram as primeiras cenas de Jack, tiveram um ímpeto de vetá-las, mas ele fez pé-firme e eles botaram o rabo entre as pernas, para gáudio de milhares de fãs e deles mesmos, que viram nascer ali, um fenômeno de popularidade.
           Depp já tinha uma legião de fãs, sites especializados, uma verdadeira Deppmania. Já era um ator admirado por papéis magníficos como o Don Juan de Marco, Chocolate (não há quem encarne um cigano melhor que ele), Donnie Brasco, O Libertino ou oriundos de sua associação com o diretor cult Tim Burton (Edward Mãos de Tesoura, Sleepy Hollow, passando pelo impagável Ed Wood - o pior diretor de todos os tempos – e chegando ao Willie Wonka d’A Fantástica Fábrica de Chocolate, este último já entre o primeiro e o segundo Jack). Mas foi com Jack que ele chegou ao gosto popular, que ele não buscava, mas certamente está apreciando, sucesso absoluto com as crianças. E com os adultos também. Mais ou menos o que aconteceu com Tobey McGuire, que hoje vive o Homem-Aranha e deixou de fazer aqueles papéis cult que o caracterizavam antes do blockbuster, como em Wonder Boys e em Cider House Rules, que até lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Agora, ele é Peter Parker, esquece o resto. Depois de tantas boas atuações, é com Jack Sparrow que Depp chegou lá, há uma presão enorme da indústria para isso. Ele merecia a indicação.
           Johnny Depp eclipseia os demais atores d’O Pérola,com a honrosa exceção de Geoffrey Rush, que vive Hector Barbosa (que eles pronunciam Barbôussa), o comandante dos mortos-vivos, que participa ativamente também d’O Fim do Mundo. O casal bonitinho, Orlando Bloom (o ferreiro Will Turner) e Keira Knightley (a mocinha Elisabeth Swann) vira coadjuvante. Ao longo da série, seus personagens ganham mais substância, e no terceiro, já dizem ao que vieram, chegam a comandar navios piratas e são bem importantes para o desenrolar da trama. O cara de polvo Davy Jones, que comanda o navio The Flying Dutchman do Baú e no  Fim,  tem suas falas marcadas por terminações intrigantes, graças ao ator Bill Nighly, pouco conhecido, que está ali atrás daqueles tentáculos todos, produzidos por CG. Finalmente, Naomie Harris, que vive a feiticeira caribenha Tia Dalma, é marcante por seu sotaque sinistro. O elenco de apoio é muito bom e é mantido até o terceiro filme.
           Além do desempenho dos seres que aparecem na tela, há que se dar crédito aos que não aparecem. O diretor Gore Verbinski propôs fazer o 2 e o 3 ‘back to back‘ e o produtor Jerry Bruckenheimer aceitou; ao contrário do primeiro, que tinha mais tomadas em estúdio, Gore propôs mais locações externas reais, Jerry aceitou; propôs construir navios de verdade, Jerry assinou o cheque; enfim, deu carta branca. Então, lá se foi 1 ano da vida de 400 ou 500 pessoas, boa parte do tempo em paradisíacas ilhas do Caribe, o que não é de todo mau, mas com as dificuldades de logística e tempo inerentes, como furacões destruindo instalações, maré cobrindo caios inteiros dia sim, outro também. Além dos malabarismos impostos aos atores e dublês, como balançar dentro de uma gaiola de ossos ou duelar em cima de uma roda de moinho de 4 metros de diâmetro rolando ribanceira abaixo, esta última, uma das melhores cenas do Baú. Isso tudo está no ‘Making Of’, aqueles documentários que vêem no DVD, que tiram muito da magia, pois revelam-se os truques por detrás de tudo, ao mesmo tempo mostram que fazer cinema de ação não é nada fácil.
           Truques como o Kraken, o polvo gigante que sai pelos mares destruindo navios sob o comando de Davy Jones. O polvo gigante po(l)voa a imaginação dos amantes das histórias dos sete mares desde Júlio Verne, em seu ’20.000 Léguas Submarinas’, onde aparece pela primeira vez, com esse mesmo nome. E na minha memória de infância, época dos filmes de monstro japoneses, em que volta e meia aparecia um polvo gigante destruindo uma cidade inteira. Aqui, claro que é computação gráfica, da mais alta qualidade, associada a uma destruição real de um navio, por dois tubos gigantes de aço, devidamente editados a posteriori para parecerem tentáculos. Coisa grandiosa!
           Para terminar, um registro de uma ponta magistralmente executada por Keith Richards, dos Rolling Stones, que faz Capitain Teague, o pai de Jack Sparrow, que aparece n’O Fim do Mundo por não mais que dois minutos. Mas, que minutos marcantes! Johnny havia declarado que inspirara o visual de Jack no guitarrista, não sem antes pedir-lhe permissão, claro, já que é seu amigo há 10 anos. Os penduricalhos no cabelo, a maquiagem forte ao redor dos olhos, e, evidentemente, o jeitão de falar. Keith atua maquiado com cicatrizes no rosto, que, associadas com as naturais rugas do astro, lídimo representante do Rug and Roll, deixam-no ainda mais assustador do que já é. Ele aparece como o guardião do Código dos Piratas, para solucionar uma dúvida, e tem um diálogo curto e marcante com Jack, em que é mencionado o estilo de vida do pai, que já passou por todas e ainda sobrevive, alusão clara ao passado de drogas do roqueiro.
           Apesar de O Fim do Mundo ter fechado com as pontas amarradas, deixaram um gancho para uma seqüência, em que todos deverão sair em busca da Fonte da Juventude, um outro mito sempre mal resolvido. E será muito bem-vinda, pois assim, poderemos ter mais Jack Sparrow, mais Barbosa e, porque não, mais Capitain Teague, que, certamente, voltará.