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sexta-feira, 20 de julho de 2007

QTPTM - O Original Árabe

Pré-requisitos para leitura .... ou quase

Pensando bem, a idéia do construtor turco nada mais é que uma evolução da cultura de seu próprio povo, que vem lavando o pescoço com água há milênios, só que de uma maneira bem menos higiênica. O banheiro turco tradicional não tem privada, que é coisa ocidental. Trata-se apenas de um buraco no chão, ligado a um sistema de esgoto qualquer, claro. Ao lado do buraco, uma fonte de água (hoje, uma torneira), uma jarra e um pano (hoje, um rolo de papel ou uma toalha). O cidadão se agacha sobre o buraco, faz suas necessidades, depois segura a jarra com a mão direita, enche a jarra de água e começa o procedimento: faz a mão esquerda em concha, enche-a de água e aí, a própria mão esquerda faz o trabalho, quantas vezes o sujeito achar necessário. Depois, enxuga a mão com o pano e vai-se embora.
          Se o cara depois lava a mão esquerda com sabão, ou não, é decisão do sujeito, não está no ritual. Também a lavagem das imediações do pescoço, não sei como é feita, mas não vem ao caso. Daí vem o hábito que eles têm de comer somente com a mão direita (com a mão mesmo, sem garfo, coisa de ocidental), já que a esquerda é destinada, desde Maomé, ou mesmo antes dele, àqueles trabalhos menos nobres. Pobres dos canhotos! Deviam se atrapalhar todos na hora de comer, mas em compensação, seus pescoços deviam estar verdadeiros brincos, um primor de limpeza! Agora, com a solução moderna, a força do jato faz a vez da mão esquerda. 
Ia sair da Turquia e ainda faltava, então, a foto do banheiro tradicional. Não quis perder tempo indo ao terminal doméstico, que foi a sugestão infali´vel de meus amigos residentes. Resolvi arriscar o banheiro do terminal internacional. Fui feliz e encontrei um cubículo tradicional (ver ao lado), junto a três outros com privadas ocidentais. Notem a jarra de água à esquerda e o rolo de papel à direita. Interessante a decisão de manter um cubículo com um buraco, ao lado de três outros modernos. Significa que tem gente que, mesmo com a facilidade e higiene modernas, não admite abandonar os hábitos milenares.
Hábito que não se restringe aos turcos, estende-se aos muçulmanos em geral e aos indianos, ainda que não muçulmanos. Lembro-me que na Índia, em viagem de trem entre Delhi e Agra, fui ao banheiro disponível e lá estava o mesmo buraco no chão, com a singela diferença de que dava para ver os batentes dos trilhos passando (não aparece na foto, vocês vão ter que acreditar em mim). Esgoto direto, just in time, on line, ambiente livre de dejetos, a estrada de ferro que se adube!!! Notem o requinte de que há o lugar para colocar os pés, antes de se agachar.

Todos  os episódios de QTPTM


1. A Ideia 
2. Um Estado Laico

3. Istanbul 
4. O Expresso da Meia Noite 
5. Ankara e a Língua 
6. Um Hábito de Higiene 
7. A Solução Turca 
8. O Original Árabe (este)
9. A Evolução Oriental 

6 comentários:

  1. Na minha primeira viagem à Europa, em 1981, lembro de ter visto um "vaso turco" de louça, igual ao da sua primeira foto no banheiro de uma estação ferroviária........na Itália!
    Pelo visto este tipo de vaso não está restrito ao Oriente.
    É bem provável que a posição de cócoras seja fisiologicamente mais adequada.

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  2. No sul do Brasil esse tipo de vaso era bem comum, em paradas pelas estradas, nos anos 80. Hoje não sei como está.

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  3. Homerix, estes vazos ainda existem em alguns lugares no Nordeste do Brasil. Acho que seria interessante mostrar os fantasticos vazos japoneses, depois mando umas fotos pra voce.

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  4. Nos banheiros do Exército Brasileiro, na época em que prestei o serviço militar, o "vaso" era dessa forma, pelo menos para os praças.

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  5. Esse tipo de vaso já foi bem usado por aqui e hoje é vetado para uso em locais públicos pela vigilância sanitária.

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  6. 36.271... É , e foi a solução adotada em muitas paradas de estradas, por aqui... não é claro com essa sensação toda de higiene que vemos nas fotos e com apetrechos complementares, à disposição do usuário...
    Paulus

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