sexta-feira, 20 de julho de 2007

QTPTM - Ankara e a Língua

Pré-requisitos para leitura .... ou quase

Enfim, coloque-se a Turquia onde se queira, o fato é que, se teleportarem você para o centro de Ankara, sem dizer onde você está, você tem a nítida impressão de que está em algum país da Europa. Ruas limpas, grandes avenidas, construções modernas, grandes shopping-centers, ruas comerciais organizadas. Aliás, o comércio é dominado por uma marca chamada Indirim, estampada na maioria das lojas. Brincadeira, Indirim, na verdade, é ‘liqüidação’, em turco. A  onde passei de passagem e a impressão é a mesma, grandes avenidas à beira-mar, tudo muito bem cuidado. Nada posso dizer do resto, de outras cidades; não posso garantir que aquele estilo de cuidado urbano seja extrapolado para a vida no interior, que não conheço. De qualquer maneira, sai-se de lá com uma impressão bastante positiva. Ah, outro mito desfeito: o nariz grande! Nós sempre (eu, pelo menos) associávamos turco a gente de nariz grande. Nada disso! Nem em homens, nem em mulheres, pode-se constatar essa tendência, muito pelo contrário, o nariz grande é exceção; aparece, mas é pouco. Os traços são um pouco mais fortes, nada mais que isso. Ah, uma nota sobre relacionamentos: todos, homens e mulheres, ao se encontrarem, trocam dois beijinhos, um em cada face.  Sem nenhuma outra conotação. 

A cidade é urbanizada, o transporte coletivo funciona bem, segundo me disseram. Há cinemas, vida noturna com barzinhos e bons restaurantes, e, finalmente, homens e mulheres vestidos na moda ocidental, com a excecão de uma pequena parcela de mulheres ainda com véu, e ainda assim, mostrando o rosto, nada daquela burka que não deixa ver nem os olhos. Enfim, longe daquela impressão que se tem aqui, de que os turcos seriam mais ou menos próximos dos árabes, a gente confunde muito. Bem, pausa para um reparo: tudo isso que eu disse, refere-se a Ankara, a capital do país, ou a Istanbul.

A grande dessemelhança do modus operandi da Turquia para os mais visitados países da Europa é o idioma. Todo visitante arrisca um pouco de francês, inglês, espanhol, italiano. Turco, é impossível! A língua é muito enrolada, não se capta quase nada. Andando lá, a gente imagina, por exemplo, como se sente um analfabeto, que não consegue ler as placas, os dizeres dos anúncios. Mesmo com o atenuante de que há um alfabeto, com as mesmas letras nossas (sem o ‘q’, ‘w’ e ‘x’), o que é bem melhor que o cirílico, o hindi, o árabe, o mandarim, enfim, que são ininteligíveis ao ocidental mediano, a vida do visitante não é fácil. Dificulta um pouco o fato de que não é todo mundo que fala inglês, há uma certa mobilização dos jovens, mas pareceu-me um movimento bem incipiente. O alfabeto é igual, mas os sons podem ser bem diferentes.


As consoantes, por exemplo, podem ter variadas pronúncias, dependendo dos acentos e variações de cedilhas que a acompanham (‘ç’, ‘ğ’, ‘ş’). A letra ‘ğ’ é muda, por exemplo, como o nosso ‘h’; aliás, ela é muda, mas tem alguma função, ela estende o som da letra que o precede. As vogais, também, podem ter o som aberto, fechado, semi-aberto, com ‘biquinho’ como o francês faz, dependendo se tem trema ou não (ö, ü). E, como não poderia deixar de ser, a construção gramatical também é distinta: por exemplo, o verbo vem ao final da frase, ou seja, só no final se sabe a ação a que o indivíduo está se referindo. Apesar da diferença, há umas poucas palavras que são absolutamente idênticas. Você não pode, por exemplo, sair do restaurante sem pagar, com a desculpa de que ninguém entendeu o que você disse. Basta dizer: “Garçom, fatura!”, que ele vem correndo com a notinha.
Todos  os episódios de QTPTM


1. A Ideia 
2. Um Estado Laico

3. Istanbul 
4. O Expresso da Meia Noite 
5. Ankara e a Língua (este)
6. Um Hábito de Higiene 
7. A Solução Turca 
8. O Original Árabe 
9. A Evolução Oriental 

 

Um comentário:

  1. Passei pela experiência de me sentir analfabeto quando estive em Tóquio. Não era possível nem mesmo ligar para algum conhecido de lá, se dizendo perdido, e ler o nome da rua em que nos encontrávamos.
    Ah, também lá o inglês não é amplamente falado, como eu pensava que seria. E mesmo os que falam inglês, falam de forma enrolada!

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