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quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

DOIS FILHOS DE HOMERIX


Mais um show do Felipe
Hora de reviver este post
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Este é um post claramente inspirado no filme Dois Filhos de Francisco.

Quero usar este espaço para esclarecer uma coisa fundamental sobre o papel de Homerix e seu objetivo. 

No filme, Francisco tem dois filhos artistas, Zezé de Camargo e Luciano, cantores, em começo de carreira. Francisco compra fichas telefõnicas e distribui entre seus colegas de trabalho, para que liguem do orelhão da obra para as rádios da cidade pedindo que toquem a sua música É o Amor.

E o nome da canção aplica-se... é o amor que tem pelos seus filhos e consequente preocupação com seu futuro que o levam a agir daquela forma.

Nesta vida, Homerix tem dois filhos artistas, Renata, escritora, e Felipe, músico. Homerix usa seu blog e o Facebook e o WhastApp para pedir aos amigos que vejam o video de Renata falando sobre seus livros da Saga A Arma Escarlate (1) ou A Comissão Chapeleira, ou O Dono do Tempo Partes I e II, ou ainda que conheçam os discos da Baleia (2), uma  banda de Felipe, chamados Quebra Azul e Atlas e Coração Fantasma, que foi um disco vivo... que morreu... e os arranjos de violino que faz para grandes astros (11), ou mais recentemente, o musical que ele dirigiu e onde atuou, o Musical Pré-Fabricado (12) sobre a obra do Los Hermanos.

Similar, não?? Os meios são diferentes, mas o objetivo é o mesmo!!!

Eis os dois artistas, quando já faziam arte ... outro tipo de arte....



Homerix não perdia oportunidade de divulgar o trabalho dos filhos. 

Antes de A Arma Escarlate, e mesmo antes do blog, Homerix divulgava as iniciativas de Renata, em sua dura batalha pelo Esperanto (3), em seu projeto 'Calendário das Virtudes' em busca da disseminação de valores para as pessoas (4), ou de sua batalha contra o colonialismo cultural a que nós brasileiros nos submetemos, que materializou em sua monografia (5).

Antes da Baleia, e mesmo antes do blog, Homerix divulgava as outras iniciativas musicais de Felipe, como sua primeira banda, Los Bife, que está on hold, apesar de ter lançado um excelente disco - Super Supérfluo - que saiu em 2011 (6), ou como das obras que compõe durante seu curso de Composição Clássica na Universidade (7)

Tudo isso NUNCA foi para ele se vangloriar do talento dos filhos. NUNCA para angariar elogios. Homerix já sabia do destino dos filhos... as artes! Daí  porque Homerix sempre foi dedicado à divulgação dos trabalhos deles!! Ele queria que seu pequeno mundo, até onde chegasse sua pequena influência, conhecesse o trabalho dos filhos. A profissão que eles escolheram depende da aceitação e interesse de outras pessoas.

Fosse Felipe engenheiro ou advogado, não teria sentido Homerix usar as páginas de seu blog e as publicações do Facebook para chamar os amigos a que usassem a habilidade de seu filho para construírem suas casas ou defenderem suas causas. Felipe faria seu caminho sozinho, ou de forma autônoma ou prestando um concurso público... aliás, não há concurso público para músicos em estatais ou tribunais.

Fosse Renata psicóloga ou médica, não teria sentido Homerix usar as páginas de seu blog e as publicações do Facebook para chamar os amigos a que usassem a habilidade de sua filha para tratarem de suas cabeças e corpos. Renata faria seu caminho sozinha, ou de forma autônoma ou prestando um concurso público... aliás, não há concurso público para escritores em estatais ou tribunais.

Eles teriam um caminho a traçarem sozinhos, pelo seu esforço pelo estudo.

Os artistas também têm o seu caminho, também com muito esforço e estudo, mas necessitam de muuuita divulgação, dependem que seu trabalho seja conhecido, num mercado altamente disputado. Felizmente, as obras de ambos são de qualidade, e Homerix não se sente nem minimamente envergonhado em divulgá-las.

A escritora disputa espaço na mente das pessoas que hoje está muitíssimo ocupada pelos apelos da informação. Muito se vê televisão, muito se navega em redes sociais, pouco tempo e vontade sobram para leituras. Afora isso, dentre os que se dedicam à leitura, muitos o fazem com obras de autores estrangeiros, o que faz com que as editoras também pretiram os autores nacionais (ou seria o contrário?).

O músico tem que enfrentar um mercado hoje acostumado a valorizar música e letra de baixíssima qualidade, mas de grande apelo popular. Ele lamenta essa situação e clama por um espaço em uma de suas melhores composições, letra e música, ainda do Los Bife', chamada 'Rádio Cabeça' (8) : 
Já se foi o tempo em que eu me preocupava em me expressar artisticamente
Já se foi o tempo em que o mais importante era ser criativo e inteligente
Nunca mais eu penso antes de escrever
Nunca serei popular, se eu não me vender

Homerix recebe de alguns amigos aquele elogio de "Papai Coruja, hein?!!", "Lambendo a Cria, hein?!", coisas do gênero. 

Chego a me incomodar com isso.... 

... pois o que faz é muito maior do que simplesmente ser 'coruja'. Claro que ele tem orgulho do trabalho dos filhos. Mas o que ele menos quer é se vangloriar disso. O que o "papai coruja" deseja, na verdade, com sua insistência, do fundo de seu coração, é que as pessoas conheçam as obras dos filhos e 'at the end of the day' (como dizem os brothers),  consumam, de alguma forma, o que os filhos produzem, e, se gostarem, que divulguem, iniciando assim, uma corrente do bem. Simples assim!!

O músico já teve o que vender e um dia teve a grata notícia sobre a indicação ao Grammy (13), meses atrás fez show em Amsterdam (14), a escritora já tem seus livros na praça, que felizmente estão sendo muito elogiados (9), o primeiro já está em 8ª edição, e o segundo na 5ª, o terceiro veio em dois volumes, de tão grande, mas ainda falta estourar. Homerix sinceramente acreditava que sua rede sozinha seria suficiente para esgotar as prateleiras. Má avaliação! Mas os livros chegam lá! Renata também faz um trabalho incansável de divulgação e já tem muitos fãs  declarados aguardando o quarto livro, ainda em andamento. Muito legal!

Mas segue a luta! Homerix tem fé que os Cisnes Negros do Bem (10) aparecerão para seus dois filhos....

E eles poderão aparecer de algum contato de vocês!! Quem sabe!!


Homerix

Abaixo, os Dois Filhos de Homerix, em imagem prá-pandemia!!


terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O Espírito de Natal e um Novo Ano sem medo

  Amigos e amigas, está no Dicionário Aurélio:


espiriteira                            
[De espírito + -eira.]
S. f. Bras.
 1.        Vaso onde se deita (!!!)  espírito de vinho (!!!) ou álcool para arder 
                 
.... e eu ainda penso que sei português...

Meus votos são para que acalmem os espíritos
após anos de espíritos exaltados!

Se celebrar o Natal,
ou qualquer outro evento,
em volta de sua família,
recupere o espírito esportivo,
deite espírito de vinho no vaso,
ou um vaso de vinho ao espírito,
tente exaltar os bons espíritos,
os presentes, ou os ausentes em corpo,
e procure expiar os espíritos de porco!

E para o ano que começa,
faço minhas as palavras
de um certo cantor narigudo,
com óculos de aro redondo,
sábio, sarcástico e espirituoso,
que pedia uma chance à paz,
e que deseja, ainda hoje, em espírito...
(ou será que já está entre nós, de novo)...


Lennon by Lennon

"And so, Happy Christmas
          and Happy New Year,

I hope it´s a good one,
          without any fear! "



Este é o refrão da canção Happy XMas (War Is Over)
John Lennon & Yoko Ono

Lançada no Natal de 1971, portanto há 53 anos, ela misturava uma mensagem positiva de festas com uma crítica social, e um brado contra a Guerra do Vietnam, ainda em insana efervescência à época. 

Porém, sua mensagem é ainda intensamente válida, 
num mundo em que 
a desigualdade grassa,
os preconceitos se exaltam,
a intolerância é premente.

Nos versos, John deseja tudo de bom, 
   para o rico e para o pobre, 
      para o forte e para o fraco, 
         para o velho e para o jovem, 
            para o branco e para o negro, 
               para o amarelo e para o vermelho.

E, na ponte, em seu final, 
   e a partir do 2º verso, no coro infantil
      ele diz que a guerra pode terminar, 
"Waaar iiis ooover ..."
         se a gente quiser, 
"... iiif youuu waaant it...."
             AGORA... 
"Waaar iiis ooover ... NOOOW!"

Hoje, há duas guerras terríveis, sim, na acepção da palavra, 
   localizadas, mas que requerem nossos olhos abertos,
      

Sim, eu quero que essas guerras terminem, , 
mas todos têm que querer também.

O refrão deseja um Novo Ano, 
sem nenhum medo, 
e eu espero realmente 
que se abram as mentes de todos, 
para que o perigo seja afastado. 

A gravação foi produzida por Phil Spector, as vozes infantis que se ouvem são do Coral do Harlem, que vemos felizes e emocionadas ao cantar "War is over" no vídeo que escolhi para ilustrar este post, que é (quase) perfeito pois mistura imagens da linda campanha de John e Yoko, que espalharam cartazes pelo mundo, em várias línguas, com os dizeres pacifistas, num investimento saído totalmente do bolso do casal, sobre o qual, quando perguntado se não foi muito o que gastaram nessa campanha mundial, John respondeu:

Tudo o que gastamos 
não vale UMA vida 
perdida na guerra...

AH, COMO É ATUAL!
INFELIZMENTE!

Ah, sim, o vídeo está neste LINK

UM FELIZ 2025 A TODOS


É o que deseja 
a Família Ventura

P.S. 
O 'quase' da qualificação do vídeo é porque mostra imagens de Sean, filho de John e Yoko, que são lindas, mas ele ainda não existia na época do vídeo, pois nasceu em 9 de outubro de 1975! 

P.S. 2

Descobri há pouco tempo que a melodia é muito parecida com uma canção folclórica do Reino Unido. É de domínio púbico, mas quero crer que John não percebeu. 

terça-feira, 26 de novembro de 2024

É Legal Ser Negão no Senegal

Renata esteve no Acre a divulgar seus livros, 
a convite e expensas do SESC.
E testemunhou o inclemente sol. 
E me lembrei da expressão Calor Senegalês!
Em homenagem àquele país, relembro 
minha experiência lá em 2006 
Eles vêm apresentando um crecimento consistente. 
A escala do gráfico, vai de 0 a 7% aa.

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Sangue em praça pública? É possível, permitido e oficializado em alguns lugares do planeta, e sem muitos traumas. Uma sólida introdução, antes de chegar ao tema... Por favor, encarem este meu ensaio como informativo. 

O título deste ensaio, nada original, roubo-o de uma música de Chico César por ser sonoro, e por ser um pouco a expressão da verdade. Não sou um especialista em África, mas posso dizer que aquele é um país que tem futuro. Visitei o Senegal em 2006, a trabalho (claro!). Foi o sexto país africano que visitei, e me deixou boa impressão. Foram somente dois dias em Dakar, portanto, não se espere um diagnóstico vasto e preciso. E calma, o país está longe de ser uma Namíbia, que a colonização alemã deixou mais ou menos em ordem, “limpinho, nem parece África!”, como nosso atual presidente falou ao lá chegar em visita de seu primeiro mandato. Os senegaleses continuam sendo pobres, mas têm alguma perspectiva. Ou seja, não é a melhor coisa do mundo, mas é legal.
Senegal é aquele país na pontinha mais ocidental da África, e sua capital Dakar, localiza-se bem na tal pontinha, é o ponto africano mais próximo da América do Sul. Ponto estratégico, meio caminho entre este continente e a Europa, Dakar foi por muito tempo utilizada como ponto de reabastecimento em viagens de avião entre os dois continentes. Seu mapa político é muito interessante, pois aparece uma língua mais para o sul, que não é Senegal, e sim outro país, Gâmbia, ao redor do rio do mesmo nome. Se observar-se bem o mapa, o conjunto Senegal / Gâmbia assemelha-se ao rosto de uma velha, de perfil, olhando para o oeste, sendo o nariz a pontinha de Dakar, e o traço da boca, Gâmbia. Interessante que notei isso logo de cara, e falei a meus interlocutores, que acharam o máximo, nunca haviam percebido, nem mesmo os locais.  Etnicamente, são exatamente o mesmo povo e falam exatamente a mesma língua nativa, o Uolof, mas por resquícios da colonização, na “boca” fala-se o inglês, no “resto do rosto”, o francês. Aliás, a configuração lingüística desta minha missão foi bastante confusa: acompanhava-me um italiano, num país de língua francesa, com os negócios sendo tratados na língua do petróleo, que é o inglês, que bom, pois não falo a língua do biquinho, mas tentava un peu, com as 17 palavras de meu vocabulário francês, e ainda arriscava de vez em quando um italiano nas conversas com meu camarada, e quando eu não sabia a palavra correta, ia buscar lá no espanhol. Então, uma verdadeira salada!
Sempre que chego a um país africano,lembro-me da saudação padrão de nosso gerente geral da Nigéria, que ele mandava por email a todos os viajantes da empresa para o seu querido país, que, entre outros conselhos, dizia: “Se, por acaso, você não tiver sido encontrado (por um agente da empresa) depois de passar pelo check-out de bagagens, não saia do aeroporto em hipótese alguma. Da mesma forma, nem pense em pegar um táxi, pois correrá risco de vida.” .... pausa para suspiro ...

       No aeroporto de Dakar, entretanto, você não sente o assédio das pessoas querendo vender algum tipo de serviço. Você passa pela alfândega, direitinho, sem visto (se tiver Passaporte de Serviço), não tem ninguém querendo extorquir dinheiro. Você pede uma informação, o sujeito dá, sem pedir nada em troca, você pega sua mala, não aparece ninguém querendo ajudar, passa a mala num raio-x, portanto sem niguém querendo abrir pra ver “se tem alguma coisa interessante” pra achacar. Ou seja, não tem que ter os famosos “cem dólahh” no bolso, pronto pra facilitar as coisas. Com relação à arquitetura, o terminal de desembarque ainda tem a cara “This is Africa”, meio caído, já o terminal de  embarque é todo novo, informatizado, cheio de mármores e luzes, como qualquer outro aeroporto decente. Poderiam ter começado a reforma pelo outro, que já seria um excelente cartão de visitas.
Na saída do aeroporto, você acaba se lembrando que está em África, um monte de desocupados zanzando, mas ninguém nos assediou, fomos direto ao ‘shuttle’ do hotel, passando por meio deles. No caminho, era de noite, mas já deu pra perceber que a cidade está em obras, um prédio aqui, outro ali sendo construído, mas também, ainda muitas ruas sem calçada, marca registrada africana. Ao longo dos dois dias, presenciamos largas autopistas e viadutos em construção. Por outro lado, andamos também por ruas de terra, que o motorista que nos levava usava para cortar caminho e escapar dos engarrafamentos provocados pelas obras e por outro motivo sobre o qual falarei mais adiante (mééé). Sim, ruas de terra, mas nada que se compare ao que eu presenciei no Chade, paupérrimo país centro-africano, sem mar, em que andei mais da metade do tempo em ruas de terra: nem mesmo a rua na frente do aeroporto merece o tratamento. Calma, as pistas para descida dos aviões são de asfalto, e na verdade, formam um percentual importante para o país, que tem menos de 500 km de asfaltamento.
A outra parte daquela mesma simpática nota que mencionei lá em cima, falava da malária. Dizia: “A malária é uma doença endêmica na África, e pode se manifestar em duas formas: malária recorrente, tipo amazônica, e malária do sangue, conhecida como malária cerebral. A malária cerebral é a mais comum na Nigéria, e pode matar, por hemorragia no cérebro, em até 72 horas..... pausa para suspiro ...

       Deveras tranqüilizador, não? No Senegal, a coisa não é tão catastrófica assim, têm incidência apenas em partes do ano, mas, como alerta a nota, é uma endemia. E, se existe a expressão “calor senegalês” é porque certamente, tem épocas do ano em que faz um calor bem propício para a proliferação dos mosquitos.
O Senegal é um país com 95% de muçulmanos, mas com total tolerância religiosa, havendo casos de membros de uma mesma família com religiões diferentes. Não são, portanto, radicais. As mulheres andam com roupa ocidental, ou não, é opção delas. A poligamia é tolerada, mas a maior parte dos casais segue a monogamia. Mantém as cinco rezas diárias voltadas para Meca, a obrigação de visitá-la uma vez na vida, enfim e outros costumes, um dos quais, eu falarei adiante (mééé). Muito do esforço de construção que presenciamos é por conta de uma conferência da comunidade islâmica internacional que acontecerá em Dakar em 2008. Mas muito também da atual política imposta pelo presidente e equipe, no poder desde 2000, de investimento para o futuro.
Tivemos oportunidade de conhecer o Ministro da Energia, o motivo de nossa visita ao país, onde tínhamos sociedade com uma companhia italiana na exploração de um bloco offshore. Trata-se de uma figura imponente, energética, alto, jovem, de forte personalidade, que nos recebeu em elegante traje muçulmano (e chinelos). Fora recentemente empossado, fruto da nova composição política do governo, depois da reeleição. Vindo da área financeira, estudou e trabalhou em Londres em posições de comando. Nos últimos quatro anos, era presidente da estatal de energia elétrica, e agora subiu de posto.  A reunião foi brevemente interrompida logo no início, quando adentrou a sala o Ministro de Estado da Justiça, que foi recebido pelo nosso ministro com extrema reverência. Apresentou-nos a ele, dando o devido destaque à nossa empresa, e mostrou que sabe das dificuldades e dos custos da atual indústria do petróleo, em uma breve conversa com o ilustre intruso, antes de pedir muitas desculpas e mostrar-nos a porta da sala, explicando que uma visita daquelas não pode ser adiada. Depois ficamos sabendo das duas categorias de ministro: os de Estado, das grandes pastas, pessoas de grande experiência e proximidade com o presidente; e os normais como o nosso alto interlocutor, num nível inferior. Não temos correspondência aqui. 

        Quando voltamos à sala, reiterou as desculpas pela interrupção. Enquanto tratávamos de nosso assunto, desfilava uma impressionante sequência de números, contando seus planos para o país. O país estava sendo reconstruído, como percebemos nas ruas. Seu conhecimento de finanças faz com que consiga altas somas de financiamentos externos (citou muitas cifras). O que mais impressionou foi quando disse que estão plantando o futuro, dedicando 40% (!!) do orçamento nacional para educação e 10% (!!) para a saúde. Que tal? Parece até mesmo um certo país de dimensões continentais que conhecemos aqui do outro lado do Atlântico, não? Bem, na verdade, aqui não precisamos disso tudo, temos excelentes resultados nos concursos internacionais de matemática e ciências....
Tem planos de longo prazo. A comunidade financeira internacional gosta disso e vem se mostrando disposta a ajudar, abrindo os cofres. Agrada também o fato de ser um país sem conflitos étnicos, com tolerância religiosa. O ministro diz que a mãe e a irmã dele são cristãs. No campo da riqueza, não quer cometer o erro de Angola e Nigéria, que gastam o que Deus (ou Allah) lhes deu em luxo para poucos, enquanto a população sofre. Eles sabem que terão petróleo, mas não querem esperar por ele e estão investindo pesado em infra-estrutura. O ministro é um workaólico, que trabalha das oito da manhã às 11 da noite, quando vai pra casa cuidar de sua “small family”, palavras dele, dormindo no máximo quatro horas por noite. Sua citação lembrou-me Napoleão, que dizia: duas horas de sono são suficientes para os comandantes, quatro horas para os comandados, e oito horas para os idiotas (ainda bem que estou mais pro meio!). 

       Contou que o Presidente, apesar de seus 82 anos, também tem esse pique, só que vai até as duas da manhã todos os dias. Disse que foram companheiros de luta e juntos ficaram na prisão, por mais de um ano. Disse que sua luta agora é contra o tempo. Diz: “We have a country to run!”. Não admite que se viaje dois dias para ter reunião em um e se retorne somente no dia seguinte: ele viaja de noite, passa o dia em reuniões e volta na noite seguinte. Reuniões em países árabes, aproveita para marcá-las em fins de semana, que são dias normais naqueles países. Quando volta, segue o ritmo normal de trabalho. Não há tempo a perder. Só falta Allah dar uma ajudazinha com o petróleo. E estávamos lá para ser Sua mão. Inshallah!
O petróleo é a dádiva divina que falta ao Senegal, mas abunda em Nigéria e Angola. Este nosso irmão de língua portuguesa tem a riqueza já desde a década de setenta, mas sofreu durante mais de 25 anos com a guerra civil. Agora é finda a guerra, eles têm a sorte de serem poucos (pouco mais de 12 milhões de habitantes), os recursos estão aparecendo, o país está crescendo a dois dígitos, mas grassa vez por outra um certo hábito no alto escalão, que faz com que a distribuição não seja lá muito equânime. A Nigéria descobriu petróleo há mais tempo, já teve o seu auge, coincidentemente com o título de país mais corrupto do mundo. A atual administração quer acabar com a pecha, mas agora tem que distribuir riqueza por mais de 150 milhões de almas, concentradas numa área pouco maior que o estado de Mato Grosso (veja, sem incluir o do Sul). A pobreza é generalizada, há conflitos étnicos e uma religião não suporta a outra. Deu pra perceber a situação inversa de nossos amigos senegaleses?
Agora, a razão do mééé. Não é a 'marvada' pinguinha, como alguns apreciadores carinhosamente a chamam. Trata-se do som que mais ouvi em Dakar. Logo no primeiro translado entre o hotel e a estatal senegalesa, notei a presença nas ruas, em cada terreno baldio, ou em frente às casas, um pequeno acúmulo de cabras, ou em pé, ou deitadas em cima das outras, sendo movidas pra lá e pra cá, algumas teimosas sendo arrastadas. A cena ia se repetindo ao longo do caminho, de todo o caminho, quando o carro andava por ruas menores. Uma coisa impressionante! Na volta para o hotel, que começou às 18:00 horas, já anoitecendo, a cena continuava, agora sob a luz do luar, umas poucas de iluminação pública e das próprias luzes dos automóveis. Um número incalculável de cabras. Acho que vi seguramente muito mais cabra que gente. Aquela volta para o hotel demorou duas horas: era cabra atravessando rua, empacando na frente dos carros, sendo arrastadas. Aqui, temos o cabra da peste; lá, era uma peste de cabras. Acho que vi umas 10 mil, por baixo.
A explicação para esse movimento todo remonta aos tempos de Abrahão. Aquele profeta existiu antes da separação entre as três grandes religiões monoteístas de hoje: judeus, católicos e muçulmanos veneram Abrahão como um dos pais de sua religião. Diz a lenda que, para testar a fé do profeta, Deus ordenou a Abrahão que sacrificasse seu filho Isaac. O profeta não pensou duas vezes, pegou da espada, levantou-a sobre a cabeça do filho, e quando ia desferir o golpe, um anjo o impediu. Deus considerou prova de fé suficiente, e aceitou o sacrifício de um cordeiro em troca. E ele assim o fez, cortando a jugular do pobre bichinho, certamente no meio de um mééé. Pois é, a data é celebrada todos os anos, pelos muçulmanos, a Festa do Sacrifício. 

       Cada chefe de família repete o gesto de Abrahão, a Sunna, ali mesmo, no meio da rua. Faz parte do ritual a preparação da carne, depois de tirar a pele e os internos, que será dividida em três partes e dada aos pobres, aos parentes e para  a própria família ao longo da semana seguinte. Como nem todos têm animais, as últimas semanas antes da festa são tomadas pelo comércio, daí a enormidade de caprinos que invadiu as ruas, vindas do campo, num mercado a céu aberto.  Outros países muçulmanos também seguem o costume, Líbia e Paquistão, por exemplo. Pelo que soube, não precisa ser cabra, pode ser ovelha, boi, enfim, pobres sacrificandos!
Felizmente, a linhagem cristã de Abrahão não celebra aquele momento máximo de comprovação de fé. Acho que os judeus também não o fazem. E, felizmente também, o dia do sacrifício era exatamente um dia depois, quando havia saído do país. Trata-se de um costume, na minha opinião, meio incompatível com um país que quer ser moderno. Por outro lado, como se trata de uma tradição milenar, aliás, de vários milênios, é uma coisa impossível de ser revertida. Passa de geração para geração, os meninos sonham com o dia em que farão a sua primeira degola.


Que bom que a coisa iria acontecer apenas no dia seguinte, o 17 de novembro.

Enfim, esse era o recado. Claro que o Senegal não é uma Brastemp, mas certamente estava-se traçando o caminho para se tornar. À época...

O feriado religioso é móvel. Neste ano da graça de 2011, ele acontecerá no próximo domingo dia 6 de novembro...


Mééé

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Musical para dar o Tom

Venho aqui celebrar um musical que nenhum vivente no Rio pode deixar de assistir e quem não é tem que dar um jeito de vir ou torcer para que chegue em sua cidade.

TOM, o Musical.



Afora a música de Tom, muito bem representada e performada por cantores/atores de primeiríssima, em 30 canções, o roteirista Nelson Motta nos reservou um presente inesquecível: o Vinicius de Moraes que nos entrega Otávio Muller. Presente desde antes de conhecer um adolescente Tom Jobim, até mesmo depois de morrer, nos brinda com tiradas sempre hilárias e profundas, entregando-nos a história da Bossa Nova e além. Sem contar um desconhecido Elton Towersey, brilhante como o personagem título do musical, que toca piano e violão, ao menos disfarça magnificamente e nos faz todos chorar ao final. E tem Frank Sinatra, Elis Regina, Elza Soares, Jair Rodrigues.


No Teatro Casa Grande, parece que até fevereiro.

AINDA ESTOU AQUIIII até hoje!!!

Ontem, fomos assistir ao filme

Ainda Estou Aqui

História de Eunice Paiva, esposa de Rubens Paiva, desaparecido pela ditadura.

Ela, por Fernanda Torres, ele, por Selton Mello.

Espetáculo!

Chorei várias vezes.


Vai ao Oscar, com certeza, disputar como Filme Internacinal.

E busca indicação a outros, inclusive Melhor Atriz e Melhor Roteiro, que aliás ganhou o Festival de Veneza, onde o filme foi aplaudido por 10 minutos!

Uma reconstituição histórica perfeita..

Inclusive da casa deles. Foram buscar uma casa na Urca, que preserva a arquitetura da época, 1971, e a colocaram por computação gráfica na Delfim Moreira 80, hoje o edifício Juan Les Pins.

Elenco jovem muito bem escolhido e treinado.

No final, envelhecimento perfeito de La Torres na fase 25 anos depois..

E ainda 20 anos à frente, uma participação de menos de 5 minutos, de La Montenegro, calada, mas espetacular!

Sala lotada... plateia em respeitoso silêncio, tensão instaurada o tempo todo... Ao final, aplausos...


Aahh estava a esquecer-me de mencionar uma coisa importantíssima do filme: a trilha sonora!!

Pra quem viveu na época, é um verdadeiro desbunde de emoções..

Interessante como Caetano perpassa por todos os 45 anos do período coberto pelo filme 1971 a 2014.... mas tem muito mais.... e tem a espetacular lembrança de Juca Chaves, com um grande sucesso irônico, crítica política que não foi barrada pela censura: Take Me Back To Piauí!.

Além, claro, das estonteantes menções aos Beatles!!

Não percam!

<<< no filme           na vida real >>>




Indomável... verdadeiramente indomável

Precoce,

  prodígio,

    espíritos, 

      Verdi, 

        piano, 

          bullying, 

            cravo, 

              adormecimentos, 

                Bach, 

                  Cuba, 

                    casamento, 

                      filhos, 

                        futebol, 

                          nervos, 

                            boxe, 

                              emoção, 

                                bancário, 

                                  divórcio, 

                                    galanteador, 

                                      só mão esquerda, 

                                        cirurgias, 

                                          superação, 

retorno, 

  empreendorismo, 

    política, 

      secretário, 

        Teatro Oficina, 

          piano surdo, 

            notas frias, 

              assalto, 

                coma, 

                  superação, 

retorno, 

  divórcio, 

    filha, 

      nem mão esquerda, 

        cinema, 

          superação, 

retorno, 

  batuta, 

    maestro sem pauta, 

      memória, 

        padrinho, 

          periferias, 

            benemérito, 

              campeão do Carnaval, 

                 medalha Camões, 

                   mãos biônicas, 


Washington Olivetto, 

Indomável, 

83 anos....


Se ainda não sabe de quem falo, a idade dele hoje é a última citação da lista, a penúltima é o livro sobre sua vida, e a antepenúltima é o gênio da propaganda recente e precocemente falecido, grande amigo dele, que aceitou o convite para escrever brilhantemente na contracapa do livro, da qual tirei foto, e apresento a vocês., quando então saberão de quem estava a falar!!!







quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Dia da Consciência Pesada, digo, Negra

Mais um dia de lembrar!!

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Por que eu era contra....

Por que eu balancei....

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No dia 20, celebra-se em cerca de 1.260 municípios, de 18 estados brasileiros, em 6 deles com Lei Estadual (todos os municípios), o Dia da Consciência Negra, o dia em que Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares foi morto, em 1695. Desde 2011, um decreto presidencial diz que é facultativo a cada município adotar ou não o dia como feriado. Interessante notar que o estado com maior número de municípios aderentes é o Rio Grande do Sul, com mais de 500, e que a Bahia, estado em que se encontra uma das maiores concentrações de habitantes da raça negra, tem apenas 3.... e entre eles não está Salvador, QUE É A CIDADE MAIS AFRICANA FORA DA ÁFRICA!

MINTOOOOOO!!! 
A PARTIR DESTE ANO DE 2024, 
É FERIADO NACIONAAAAL


Zumbi era líder de uma espécie de reino que chegou a ter o tamanho de Portugal, no interior do estado da antiga Bahia, onde se abrigava os escravos fugidos. Apesar de haver controvérsias sobre seu comportamento como líder, afinal dizia-se que ele mesmo acabou tendo escravos no auge do poder, não há dúvida de que é um exemplo de resistência a ser celebrado. Afinal, a causa pela qual lutou é uma mancha na História do Brasil. Nosso país foi a segunda maior nação escravista da história moderna, o último a abolir a escravidão, o penúltimo país das Américas a abolir o tráfico negreiro, e o maior importador de escravos de todos os tempos. Muitos dizem que o país não seria tão grande como é não fossem os escravos, mas isso não permite que se admita a forma como tudo foi feito.

Achava um exagero fazer um feriado por causa desse motivo, mas mudei em 2012, quandoli 1808 (comentei sobre o livro neste post), balancei. Fiquei enojado com o jeito que tratávamos os escravos, e não temo em repetir o que escrevi, agora...

Nunca na história deste planeta apareceu outro país que mais se tenha dedicado ao sequestro de gente para trabalhar de graça e contra a vontade, como o nosso. Foram quase 400 anos sem sair de cima. Tivemos aqui 10 milhões de escravos negros. E aí vem uma estatística impressionante: isso representa 45% do número de nativos que foram tirados de suas tribos. O restante sucumbia, ou no traslado da tribo ao porto, ou na prisão aguardando a deportação ou na viagem oceânica em condições sub-humanas, ou na chegada enquanto aguardavam o destino final, em verdadeiros depósitos de gente. A descrição das condições da viagem são de arrepiar:  
(trecho do livro) "Os navios negreiros que chegam ao Brasil apresentam um retrato terrível das misérias humanas. O convés é abarrotado por criaturas, apertadas umas às outras tanto quanto possível. Suas faces melancólicas e seus corpos nus e esquálidos são o suficiente para encher de horror qualquer pessoa não habituada a esse tipo de cenaMuitos deles, enquanto caminham dos navios até os depósitos onde ficarão expostos para venda, mais se parecem com esqueletos ambulantes, em especial as crianças. A pele, que de tão frágil parece ser incapaz de manter os ossos juntos, é coberta por uma doença repulsiva, que os portugueses chamam de sarna 
Sendo assim, se tivemos 10 milhões de escravos, numa continha rápida, isso significa que 11 milhões de seres humanos foram assassinados, sim, isto caracteriza um assassinato. Mais que isso, pela dimensão, caracteriza genocídio!! 
Isso sem contar os que foram assassinados aqui mesmo, enquanto já possuídos por algum senhor. A forma como eram tratados por aqui..... Marcados como gado, comercializados  como gado, açoitados a cada falha: 

(trecho do livro) "...recomendava-se que não se ultrapassasse 40 chibatadas, mas há relatos de 200, 300 até 600 açoites num só castigo.... as costas ou nádegas ficavam em carne viva ... numa época sem antibióticos, havia risco de morte por gangrena ou infecção generalizada, e o que se fazia, banhava-se o escravo com uma mistura de sal, vinagre e pimenta malagueta numa tentativa de evitar a infecção... "
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Acréscimo de 2019
Mais um número terrível, revelado por Laurentino Gomes no Bial, sobre seu novo livro (o primeiro de uma nova Trilogia) Escravidão. 
Diz ele que, na média, durante os 350 ANOS de escravatura no Brasil, 14 negros POR DIA viraram comida de tubarão, o que no inconsciente coletivo da espécie, mudou seu comportamento como cardume, porque perceberam os navios negreiros como boa fonte de carne.... Os negros pulavam dos navios para se matarem, ou para tentarem escapar, ou cadáveres eram jogados ao mar, porque muitos morriam de banzo (saudade) ou doenças que contraíam nos navios, ou mesmo antes, durante a espera pelos navios, em ambientes imundos e apertados.

 

Acréscimo de 2020
Entrei numa onda de ler poesia clássica que começara em 2019 com A Odisséia de Homero (o outro).
Ano seguinte, continuei e fiz resenhas em versos, na métrica de cada autor, muito orgulho delas tenho (LINK nos nomes)
Li Os Lusíadas de Camões
Li A Divina Comédia de Dante, 
Li Navio Negreiro de Castro Alves, do qual extraio esta estgrofe, de minha autoria.

 Canto III (1 sextilha simples, versos dodecassílabos, rimas AACDDC)


Aí então cai a ficha, o eu-lírico percebe

Que nos porões ocorre o que não se concebe.

Canto III, seis versos, começa a falar da dor,

Dodecassílabo, descreve o poeta o espanto.

Ao findar, descrevo aqui o seu triste canto:

“Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”

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Portanto, amigos, respeito Zumbi, que lutou contra tudo isso aí de cima.

Homerix Com a Consciência Pesada Ventura