Em meio a exames, chapas, tomografias, --scopias e consultas, segui blogueando mais ou menos, e li um livro.
1808, de Laurentino Gomes, recomendado por minha filha. Ela me disse que se tivessem-lhe ensinado historia assim, quando criança, ela teria se interessado muito mais pelo assunto...
E é verdade!
Num ritmo fluido de escrita, Laurentino nos brinda com uma estruturação não cronológica, abordando temas do princípio ao fim, um atrás do outro, deixando a cargo do leitor as amarrações no tempo, o que fazemos com facilidade.
1808, de Laurentino Gomes, recomendado por minha filha. Ela me disse que se tivessem-lhe ensinado historia assim, quando criança, ela teria se interessado muito mais pelo assunto...
E é verdade!
Num ritmo fluido de escrita, Laurentino nos brinda com uma estruturação não cronológica, abordando temas do princípio ao fim, um atrás do outro, deixando a cargo do leitor as amarrações no tempo, o que fazemos com facilidade.
Muito há o que se falar sobre o livro, mas vou centrar este papo em um só tema.
O tema que vou abordar aqui é uma desumanidade longeva. Depois de ler sobre ele, tenho que concordar com o ex-Presidente Lula, quando dizia da dívida que tínhamos com os países da África: a escravatura!
Nunca na história deste planeta apareceu outro país que mais se tenha dedicado ao sequestro de gente para trabalhar de graça e contra a vontade, como o nosso. Foram quse 400 anos sem sair de cima. Tivemos aqui 10 milhões de escravos negros. E aí vem uma estatística impressionante: isso representa 45% do número de nativos que foram tirados de suas tribos. O restante sucumbia, ou no traslado da tribo ao porto, ou na prisão aguardando a deportação ou na viagem oceânica em condições sub-humanas, ou na chegada enquanto aguardavam o destino final, em verdadeiros depósitos de gente. A descrição das condições da viagem são de arrepiar: "Os navios negreiros que chegam ao Brasil apresentam um retrato terrível das misérias humanas. O convés é abarrotado por criaturas, apertadas umas às outras tanto quanto possível. Suas faces melancólicas e seus corpos nus e esquálidos são o suficiente para encher de horror qualquer pessoa não habituada a esse tipo de cena. Muitos deles, enquanto caminham dos navios até os depósitos onde ficarão expostos para venda, mais se parecem com esqueleto ambulantes, em especial as crianças. A pele, que de tão frágil parece ser incapaz de manter os ossos juntos, é coberta por uma doença repulsiva, que os portugueses chamam de sarna"
Sendo assim, se tivemos 10 milhões de escravos, isso significa que 11 milhões foram assassinados, sim, isto caracteriza um assassinato. Mais que isso, pela dimensão, caracteriza genocídio!!
Isso sem contar os que foram assassinados aqui mesmo, enquanto já possuídos por algum senhor. A forma como eram tratados por aqui..... Marcados como gado, comercializados como gado, açoitados a cada falha: ...recomendava-se que não se utrapassasse 40 chibatadas, mas há relatos de 200, 300 até 600 açoites num só castigo.... as costas ou nádegas ficavam em carne viva ... numa época sem antibióticos, havia risco de morte por gangrena ou infecção generalizada, e o que se fazia, banhava-se o escravo com uma mistura de sal, vinagre e pimenta malagheta numa tentativa de evitar a infecção...
Nunca na história deste planeta apareceu outro país que mais se tenha dedicado ao sequestro de gente para trabalhar de graça e contra a vontade, como o nosso. Foram quse 400 anos sem sair de cima. Tivemos aqui 10 milhões de escravos negros. E aí vem uma estatística impressionante: isso representa 45% do número de nativos que foram tirados de suas tribos. O restante sucumbia, ou no traslado da tribo ao porto, ou na prisão aguardando a deportação ou na viagem oceânica em condições sub-humanas, ou na chegada enquanto aguardavam o destino final, em verdadeiros depósitos de gente. A descrição das condições da viagem são de arrepiar: "Os navios negreiros que chegam ao Brasil apresentam um retrato terrível das misérias humanas. O convés é abarrotado por criaturas, apertadas umas às outras tanto quanto possível. Suas faces melancólicas e seus corpos nus e esquálidos são o suficiente para encher de horror qualquer pessoa não habituada a esse tipo de cena. Muitos deles, enquanto caminham dos navios até os depósitos onde ficarão expostos para venda, mais se parecem com esqueleto ambulantes, em especial as crianças. A pele, que de tão frágil parece ser incapaz de manter os ossos juntos, é coberta por uma doença repulsiva, que os portugueses chamam de sarna"
Sendo assim, se tivemos 10 milhões de escravos, isso significa que 11 milhões foram assassinados, sim, isto caracteriza um assassinato. Mais que isso, pela dimensão, caracteriza genocídio!!
Isso sem contar os que foram assassinados aqui mesmo, enquanto já possuídos por algum senhor. A forma como eram tratados por aqui..... Marcados como gado, comercializados como gado, açoitados a cada falha: ...recomendava-se que não se utrapassasse 40 chibatadas, mas há relatos de 200, 300 até 600 açoites num só castigo.... as costas ou nádegas ficavam em carne viva ... numa época sem antibióticos, havia risco de morte por gangrena ou infecção generalizada, e o que se fazia, banhava-se o escravo com uma mistura de sal, vinagre e pimenta malagheta numa tentativa de evitar a infecção...
Ora, faça-me o favor..... imagine a dor!!!
Eu admito que via com reservas a celebração do 'Dia da Consciência Negra,' não via motivo para se eliminar um dia de trabalho por esse motivo.
Hoje, mudei de opinião.
Só acho que deveríamos mudar o nome para 'Dia da Consciência Pesada'..
Abraço
Homero Profundamente Chocado Ventura
Excelente. Não tenho opinião formada acerca das cotas para negros, mas não acho que se deva ser contra a priori. Se a escravatura tivesse sido abolida da forma como Joaquim Nabuco planejou, talvez nossa dívida com o povo negro fosse menor.
ResponderExcluirHomero V: Este livro é só o primeiro. Leia também 1822, do mesmo Laurentino Gomes e você verá que D. Pedro I não era apenas o amante da Marquesa de sua cidade. Acho que este livro me fez entender o respeito e veneração dos portugueses por D. Pedro IV, principalmente no Porto. Além deles há livros de outro autor, Eduardo Bueno (A Coroa, a Cruz e a Espada) e (Brasil, uma História) que nos ensinam muito sobre a colonização portuguesa e a história do Brasil. Aliás, 1808 mostra a importância da vinda da familia real ao Brasil e faz ver que D.João VI era muito mais que o marisdo de Carlota Joaquina. Abraço do Brandão
ResponderExcluirHomero experimente ler 1822 do mesmo autor. Também um livro excelente, com histórias fantásticas de D. Pedro I.
ResponderExcluirExcelente livro. História é simplesmente sensacional.
ResponderExcluirPorém, Homero, tenho outras dicas: a série "Perfis Brasileiros", da Companhia das Letras. Como bom Monarquista que sou, não pude deixar de me emocionar com a biografia de d. Pedro II, o maior estadista que este país já teve, brilhantemente escrita pelo José Murilo de Carvalho. (sobre Pedro II, "o rei cajú", tem também a obra "As Barbas do Imperador", escrita pela Lilia Moritz Schwarcz. Excelente!) Tem também a biografia de d. Pedro I, escrita com enorme competência pela ótima Isabel Lustosa.
ResponderExcluirEstão na fila, também da série "Perfis Brasileiros", o livro sobre Joaquim Nabuco e o livro sobre Maurício de Nassau, grandes personagens da História brasileira.
Europeus não invadiam o continente para sequestrar negros. Eles eram vendidos como derrotados em guerras tribais que eram comuns na região. Disso se valeram tanto os europeus quanto os muçulmanos para comerciar escravos em troca de mercadorias que as cidades-estado africanas não possuíam. Claro que as guerras se tornaram cada vez mais mortais e freqüentes, pois tinham mais armas e capturar o inimigo e vendê-lo gerava verba para compras mais armas e luxos. Não é culpa de europeus ou de muçulmanos a escravidão. Ela existiu em muitas culturas e era um fator civilizador na verdade, como lembra o escritor José de Alencar em cartas a favor da escravidão. Não temos dívidas com a África ou com afrodescendentes pois graças a escravidão somos todos um pouco afrodescendentes.
ResponderExcluirHomero: Desumanidade é conosco mesmo; quero dizer, conosco seres humanos. Talvez seja porque somos seres conscientes; pois quem em plena consciência faria isto, senão nós mesmos. Não sei se foram mesmo 10 milhões; pelo que pude ler ali e acolá, a cifra mais alta foi de 6 milhões. Mas de qualquer ângulo, é um número estarrecedor. Muitos se dedicavam ao tráfico de seres humanos, inclusive as próprias tribos africanas. O homem é o predador do homem, desde Adão. Daí dizerem que nossa violência é adâmica. E para parar por aqui, que o digam as Vozes da Africa, e os Ameríndios de norte a sul.
ResponderExcluirUm abraço,
De fato, foi uma dos mais tenebrosos atos do domínio de colonizadores, com extrema perversidade e de degradação dos seres humanos. Temos que combater e eliminar da face do planeta todo e qualquer ato de discriminação, de toda e qualquer forma de escravidão ou de submissão de seres humanos a situações como as do holocausto.
ResponderExcluirEntretanto, não consigo concordar com o presidente Lula, quando afirma que somos devedores com os países da África pela escravatura, pois seu discurso soa demagógico demais para o meu gosto. Sou brasileiro, reprovo fortemente a escravidão ou qualquer forma de domínio sobre as pessoas, mas, nesse aspecto, não me vejo brasileiro devedor aos africanos por atos da responsabilidade de outrem. Os brasileiros abrigaram os africanos como seres humanos dignos de todo o respeito e lutaram para a eliminação do tráfico negreiro e da escravatura a que eram submetidos aqueles nossos irmãos. Morei na África, em Angola, por mais de 5 anos, em dois momentos distintos, 85-87 e 97-99, e tenho muito respeito e especial admiração e carinho por aquele povo. E sempre sou muito bem tratado quando lá vou. E lá, tenho muitos amigos.
A realidade é que o tráfico negreiro, e a escravidão, era um negócio, pasme negócio, praticado por colonizadores, no caso da relação Brasil-África, principalmente por colonizadores portugueses. E, na região de Angola, como um dos principais entrepostos, havia o domínio de tribos mais fortes, com notória capacidade de combate, sobre as mais fracas. Neste aspecto, os Kimbundus não tinham o viés de combatente tão forte entre as suas principais características, daí a maioria a que o português submetia ao trafico e à escravidão. Tanto que muitas palavras hoje faladas no Brasil têm origem no idioma Kimbundu, como bunda, cabaço, quitanda, marimbondo, xingar, tanga, entre outras, que foram incorporadas ao nosso idioma. Há uma tribo muito guerreira na região que inclui o sul de Angola e o norte da Namíbia, os Cunhamas, que se vangloriam pelo fato dos colonizadores portugueses nunca terem feito um Cunhama escravo, como dizia o meu grande amigo Goodfrey Nangona, um Cunhama legítimo, como ele mesmo se intitulava. A segurança do presidente angolano é feita por militares de origem Cunhama, que são guerreiros e muito leais.
Logo, se alguém deve alguma coisa a alguém, por conta do tráfico e da escravidão praticadas por colonizadores portugueses, então que mandem a fatura para Lisboa.
O Brasil sempre manda a conta a Portugal justificando tudo de mau do/no pais na colonizacao portuguesa ... sabendo ha quanto tempo o Brasil ja e independente quando e que vai ser maior e tomar responsabilidade? A abolicao da escravatura nao aconteceu senao mais de 60 anos de independencia...
Excluirdo Brasil
Homero,
ResponderExcluirO relato é mais assustador que qualquer filme de terror.
A escravatura é realmente o capítulo mais triste da história do nosso país. Fiquei muito interessado no livro.
Um abraço
José Henrique Danemberg