quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Chile treme, mas não morre.

A pujança da economia teve seus efeitos positivos nos efeitos do grande terremoto que acometeu o país em 2010. O tremor foi de 8.8 graus na escala Richter, portanto maior que os 7.0 graus do terremoto do Haiti. E veja a diferença no número de vítimas, de 700 para 200.000.

Os Andes nada mais são do que a junção de duas placas tectônicas que se chocaram e provocaram o levantamento do terreno a altitudes enormes. Trata-se portanto de uma região muito sujeita a movimentações. E vulcões. E isso sempre foi assim, e o país sempre se preocupou com isso. As técnicas de construção são primorosas. Veja quanto edifícios altos caíram no terremoto. Nenhum! E olha que eles não são nada baixos, têm 20, 30 andares.

A Petrobras já tinha atividades no país, e muitos de seus executivos moravam em andares altos de edifícios. E me contaram algumas histórias. Um deles, inclusive teve a pachorra de fazer um vídeo e postá-lo no YouTube, com grande sucesso, mais de 150 mil visualizações. Procure em MCMB, Terremoto, e encontrarão 10 videos. Alguns foram filmados logo depois, portanto estão mal iluminados, com lanterna, outros foram já de dia. Um deles é este:




Contou-me ele que o terremoto aconteceu às 4 da manhã e, claro, estavam todos dormindo. No caso dele, era o 20º andar!!! Ele foi acordado não pelo tremor, mas antes pelos gritos da esposa (claro que as mulheres acordam antes) que chamava o nome da filha. Ele então se levantou e foi ao quarto da filha. Quédizé, ele tentou ir ao quarto da filha, primeiro andando, mas foi miseravelmente jogado ao chão, depois engatinhando mas era difícil, pois o prédio o jogava prum lado e pro outro do corredor que separava os quartos. Quando conseguiu chegar, a cena que viu foi assustadora. Aliás, ‘viu’ é uma força de expressão, pois as luzes imediatamente se apagaram, e o que ele via eram penumbras (veja que apavorante): a cama da filha havia sido jogada contra uma estante, que tinha livros e uma TV, e a tal estante simplesmente caiu em cima da filha, que a estava segurando, completamente apavorada. Felizmente, quando o tremor terminou, depois de dois quase infinitos minutos, ele conseguiu livrá-la do peso e verificou que não estava ferida. Mas o apartamento estava. Não as paredes, que faziam parte da estrutura bem construída, mas os rebocos, e os rebaixamentos de gesso . E claro, os móveis... A casa já estava toda montada, e tudo veio ao chão. Disse-me que o lustre da sala balançou tanto que fez marcas ao seu redor pelo teto, pra lá e pra cá, assim como os quadros, que não caíram de seus pregos, mas também ficaram pra lá e pra cá, registrando as suas quinas!!!

Um outro teve mais sorte, por ainda não ter a casa toda montada, então o estrago foi menor, coincidência, também estava com sua filha morando com ele na época. Contou-me ele que, depois, foi o sufoco da comunicação pois nenhum telefone funcionava, celular ou fixo. Quer dizer, nenhum menos o Nextel, veja só, o famoso rádio, aquele do ‘Esse é meu clube!’ do Neymar e do MV Bill. Ele se lembrou que tinha um, para se comunicar como filho que morava fora. Tentou, ouviu aquele barulhinho característico e conseguiu falar com o filho, e contar que estava tudo bem, evitando assim uma apreensão para todos os parentes no Brasil. E consegui falar pelo mesmo Nextel com a filha do gerente de segurança da Sede, no Brasil, que assim pôde comunicar que todos estavam bem. Não precisa dizer que hoje, todos os expatriados tem um Nextel à disposição. Parabéns a ela. Ah, sim. Outra coisa que continuou funcionando foram os poucos telefones analógicos, aquele de discar... pois é... agora a Petrobras também tem várias linhas analógicas, que fazem, ra-ta-ta-ta-ta, à disposição..... ora veja... e ainda houve gente reclamando da falta do bom e velho telégrafo e rádio-amador, que também seguiram funcionando...

E depois teve a réplica, de 7 graus na terrível escala Richter, que pegou todos trabalhando, estava de dia, e eles puderam ver o fenômeno: nenhum dos milhares de vidros dos prédios vizinhos veio abaixo. Olhando de longe, via-se que todos eles mexiam, que parecia um espelho cheio de lantejoulas móveis, que refletiam diferentemente a luz do sol, numa visão assustadora e linda, mas nenhunzinho só caiu lá de cima. Meu amigo, engenheiro, calmo que só ele, teve a pachorra de colocar o ouvido nas paredes, para ouvir o barulho, uoooou, uooooou, da estrutura trabalhando. A estrutura elástica, que aceitava e amortecia as ameaças da terra, pra lá e pra cá, sem no entanto, desabar. Fossem feitas na forma rígida, tradicional, e estariam todos mortos....

O aeroporto sofreu bastante. Agora há pouco andei por esse exato corredor da foto abaixo. Mas a estrutura ficou firme. Caíram os revestimentos e as coisas móveis...e uma passarela ou outra. Uma colega viajante este lá nesse dia (Vanessa, registre seu depoimento!) e não se esquece até hoje!



Super!!!
1. A Partida 
2. O Frio
3. O País 
4. O Terremoto (Esta)
5. O Presidente
6. Comida e Imposto

5 comentários:

  1. Homero!!!
    Gostei do post, contar as coisas em primera persoa(mesmo que seja de outra) é a melhor forma de entender e de entender como voce se sentiria se estivesse nesse mesmo instanta (com a as peculiaridades da cada um).

    Espero o video.

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  2. E esse ainda não foi o maior.O de 1960, com 9,5º na Escala Rchter foi o maior da historia relatavel da humanidade, ou seja a partir do homem. Antes disso ...vai saber !!!
    5.700 mortos e 2 milhões de feridos.

    Adorei seu relato Homerix meu mano

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  3. 28.963....
    Si o mano adorou... eu idem + idem+idem.. idem
    Paulus

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  4. Oi Homero
    Pelo seu relato, parecia até que voce estava aqui com a gente!
    Mas nao assusta o pessoal que quer vir pra cá... segundo as estatisticas, um terremoto parecido em magnitude, só daqui a 15 anos. Assim espero...rs
    No blog www.chilenismodiario.blogspot.com estamos sempre postando dicas do que há de melhor em Santiago e no Chile. Vale a pena visitar o país, com tremor e tudo!
    bjs

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  5. O terremoto de 27-02-2010 começou mais precisamente às 3:34 da manhã. Eu deveria ficar em Santiago apenas 5h para um voo de conexão e fiquei 5 dias, com direito a umas 100 réplicas. O nosso vizinho Chile é um exemplo de preparo para enfrentar situações adversas.

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