Segue o artigo de Carlos Eduardo Linz da Silva sobre a pitoresca palavra:
A língua inglesa tem uma palavra - serendipity - para a qual é difícil encontrar equivalente em português. Ela define uma situação em que alguém, por acaso ou acidente, faz uma descoberta feliz e/ou inesperada.
O termo vem do persa (sarandip), um dos primeiros nomes do país agora chamado Sri Lanka. Havia na Pérsia um conto de fadas chamado "As Três Princesas de Sarandip", cujas personagens principais tinham lampejos em suas viagens ao se encontrarem em situações ou lugares ou acharem coisas que não haviam buscado.
Uma das grandes vantagens dos veículos de comunicação chamados atualmente de "tradicionais" (alguns críticos usam adjetivos muito menos neutros para classificá-los) sobre aqueles que se tornaram possíveis graças à internet é o fato de eles oferecem às pessoas chances de viverem momentos de "serendipity".
Quem abre um jornal, por exemplo, não sabe de antemão com que vai se deparar. Já na internet, em geral, você só encontra o que procura.
Numa situação em que um líder político tem a aprovação de 80% da população, como é o caso do presidente Lula atualmente no Brasil, é natural que grande parte de tudo que se escreva sobre ele lhe seja elogioso. E também é natural que seus fãs procurem sempre informações e opiniões que corroborem suas certezas a respeito dele.
LULISMO
Mas, como alertava Nelson Rodrigues, entre outros, a unanimidade pode ser perigosa. Ao menos para a inteligência. Se admiradores do presidente Lula tiverem a oportunidade de se defrontar com argumentos que o coloque sob um prisma menos favorável, poderão até não se deixar convencer por eles, mas talvez tenham a oportunidade de refletir e de manter suas convicções, que, depois de expostas a juízo diverso, provavelmente ficarão mais consistentes.
Merval Pereira é um jornalista que tem escrito há anos uma coluna política no jornal "O Globo", na qual vem exercendo uma análise crítica do fenômeno que se tem convencionado chamar de "lulismo".
Entre as características que a distinguem da maioria das demais do jornalismo diário impresso está a sua extensão, grande para os padrões vigentes na imprensa, imensa se comparada à linguagem telegráfica de muitos dos que militam na mídia da internet.
O tamanho de seus textos é adequado ao seu estilo, que recorre a raciocínios bem elaborados que se conectam até chegar a uma (ou mais de uma) conclusão.
Pereira coletou dezenas dessas colunas, editadas entre 2003 e 2010, a era Lula, e as está publicando em forma de livro, intitulado "O Lulismo no Poder", pela editora Record.
Quem gosta e quem não gosta do presidente Lula, assim como quem gosta de alguns traços do presidente e não gosta de outros, deveria ler este livro. Todos encontrarão, no tom sereno e racional que caracteriza o trabalho cotidiano do autor, razões para pensar e aprofundar sua avaliação do que ocorreu no Brasil nestes oito anos.