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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Onde estava eu?

Mandaram-me um artigo sobre Vandré, 1968 e o Festival da Globo daquele ano, a vaia contra “Sábia”, pelo público que queria “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores” (Caminhando e cantando e seguindo a canção ..).
E assim respondi!
Tinha 10 anos na época descrita e não consigo lembrar, identificar, explicar o que se passou com o menino.
Há um branco!
Liguei-me profundamente nos festivais da Record, entre 65 e 67, época de "A Banda" (Nara cantando com Chico ao violão), "Arrastão" (com Elis e seu ventilador de braços), "Disparada" (Vandré com um improvável Jair Rodrigues cantando magnificamente), "Ponteio" (Edu Lobo na voz de Marília Medalha), "Domingo no Parque" (Gil e Os Mutantes - Olha a faca! Olha a Faca! Olha o sangue na mão!), "Roda Viva" (Chico e MPB-4), "Alegria, Alegria" (Caetano sem Lenço, Sem Documento), reuníamo-nos na casa de um tio, lá na provinciana (ainda hoje) Santos, torcíamos nas eliminatórios, era o grande momento do ano. Tinha também um programa ainda na Record, apresentado pelo Blota Jr., chamado "Esta Noite Se Improvisa", em que Caetano e Chico eram os bam-bam-bans em conhecimento musical. E havia também as doces tardes de domingo, com a Jovem Guarda.  E tinha Beatles lá do outro lado do Atlântico (o lado certo, não este que o Lula falou ontem). Enfim, eu era, aos 7, 8, 9 anos um pequeno (e já gordinho) engajado cultural.
Entretanto, vem 68 e ocorre um branco!
Não sei se foi um trabalho de meus pais, na verdade, meu pai, já que minha mãe começava a doença mental que a levou à morte 8 anos depois, classe média bem de vida,querendo afastar o filho quase único (com um irmão 13 anos mais velho já fazendo das suas na capital) desses ‘movimentos de esquerda’; ou quem sabe a partida de um genial primo (filho daquele tio) para estudar em SP; ou o fato de eu então cursar o quinto ano, por não ter idade para fazer o exame de admissão ao colegial, apesar de ser um dos melhores alunos, e ver meus amigos do quarto ano seguindo adiante; ou simplesmente um preconceito bobo com a Globo e aquele festival carioca, sem me conformar com o fim da época de ouro da Record. Enfim, o fato é que houve um branco!   
Só vim a prestar atenção em "Caminhando" muuuito tempo depois, quando foi sucesso de Simone (vê que coisa triste!), e a "Sábia", acho que muito depois ainda, quando vi uma reportagem sobre a "grande vaia" do festival de 68.
Aliás, acho que o branco não foi só 68, foi uma grande mancha branca que se estendeu pelos anos seguintes, até parecida com a cegueira branca de Saramago, parece que eu não queria ver o que se passava. Não tenho registro mental das atrocidades de 68! Até me lembro do AI-5, mas nem liguei pra ele, acho que estava desconectado da realidade. Tenho um pouco de vergonha disso, minha filha não entende como não falo nem um pouco daquela época conturbada.
Onde estava eu?

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