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segunda-feira, 20 de abril de 2020

Uma LIVE de REI


No festival de LIVES que invade os meios virtuais, tivemos no sábado um evento mundial, em que 100 artistas deram sua mensagem, cada um com UMA canção, entremeados com mensagens de estímulo ao combate ao coronavirus e exaltação ao povo da linha de frente. A qualidade variava, cada um fez o seu melhor, outros deixaram a desejar, mas deram o recado.

Ontem, o Rei Roberto Carlos nos brindou com uma LIVE celebrativa de seu aniversário de 79 anos, bem cuidada, bem produzida, com bom som e iluminação, Selo Globo de Qualidade, e garantindo as normas de segurança recomendadas, quem não viu pode ver neste link, e tal, mas o que eu quero destacar neste post é a propriedade do set de músicas que ele escolheu. 

Senão vejamos:
  • “Como É Grande O Meu Amor Por Você”, onde tenho certeza que ‘Você’ é ‘Eu,’ é ‘Você’, é, ‘Ele’ é ‘Ela’, somos todos ‘Nós’, ele nos ama a todos, que estamos juntos nesse combate ao inimigo comum que assola a humanidade, e acho que se dirige também a ‘Eles’, aqueles outros que não acreditam, menosprezam, ridicularizam a ameaça...
  • "É Preciso Saber Viver”, toda pedra no caminho temos que evitar e fugir dos espinhos que se nos apresentam, evidentemente, para não ‘Morrer’ dessa doença séria que grassa pelos cinco continentes, por quase todos os países do planeta...
  • "Caminhoneiro" decerto homenageando uma das profissões essenciais desse combate, para que os alimentos cheguem à população, para que os insumos cheguem aos hospitais e profissionais da saúde, que estão na linha de frente no combate ao vírus...
  • "Canzone Per Te", canção com a qual ganhou o Festival de San Remo, na Itália, em homenagem ao país que mais sofreu com a doença, e que tem até agora o maior número de mortos ‘per capita’...
  • “Amigo”, de quem estamos afastados, por dever da jornada, e que é o que temos que ser, de todos os outros, cada um fazendo a parte que lhe cabe neste latifúndio em que se transformou nosso planeta, cuja produção principal será a saída dessa pandemia, com o menor número de vítimas possível...
  • “Detalhes” e “Eu Te Amo Tanto”, a porção romântica da LIVE, que talvez tenham pouca mensagem ao momento, mas que fazem bem ao coração...
  • "Jesus Salvador" e "Jesus Cristo" e "Nossa Senhora", figuras mater da religião que professa, onde conclama a luz, a mão, a salvação desse mal que nos aflige.
E, finalmente, “Todos Estão Surdos”, também religiosa, que não foi a última da LIVE, mas considero a mais importante, porque conclama a um certo Amigo com 'A' maiúsculo, que retorne pra explicar tudo de novo, para provocar uma mudança de atitude de cada um em relação ao próximo, neste momento de disseminação de fake news, de difamação de pessoas, de estimulo à desobediência.
Meu Amigo volte logo
Venha ensinar meu povo

O amor é importante

Vem dizer tudo de novo
Esse é o maior o recado que o Rei nos dá, o amor É importante, tal qual os Beatles declararam alguns anos antes, em “All You Need Is Love”, um amor no sentido amplo, o amor ao próximo.

LONGA VIDA AO REI

Que ano que vem chegue aos 80, e depois 90, 100, 
abençoando-nos com sua voz e mensagens!

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Pandemia e Seleção

Nesses tempos de isolamento e de televisões tendo que ser criativas para segurar os espectadores, muito se tem feito em reprises, algumas vi, outras dispensei, mas teve uma que celebrei com satisfação...

E fui convocando os amigos para viajarem comigo até 50 anos atrás, quando a Seleção Canarinho juntou corações e mentes. O SporTV, muito apropriadamente, está re-exibindo todos os jogos da campanha do Brasil na Copa do México, um por dia, começou na terça, um por dia, chega na final, no domingo!

Resolvi registrar os convites que fiz nas redes, aqui no blog.... e algumas resenhas que ia fazendo, mas antes, devo registrar a alegria que foi rever os jogos na íntegra, interagindo nas redes com testemunhas da época, ainda que crianças como eu, mas principalmente com gente jovem, que ficou encantada com o que viu.... um jogo moderno, com jogadores sem posição fixa, um jogo ofensivo, com pressão constante e com a participação constante, dos meios-de-campo e defensores, um jogo sem enrolação, onde o goleiro SEMPRE repõe a bola, NUNCA dá um chutão pra frente, um jogo sem catimba, sem reclamações com o juiz apesar das muitas jogadas violentas e dos muitos pênaltis não marcados, um jogo inteligente com jogadores inteligentes e capazes de mudar estratégias em campo, e acima de todos, um REI do futebol humilde, participativo, buscando e distribuindo bolas, magnânimo, finalizando a Copa, muito mais que os 4 gols, mas com 6 assistências (passes para gol) e até 4 cuasi-gols que entraram para a história. Enfim, um colírio, uma grandeza, uma estupefação constantes...

Vamos aos espetáculos!


Jogo 1: Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia
Estou me concentrando para lembrar meus 12 anos, quando vi o primeiro jogo da Copa de 1970, Brasil x Thecoslováquia!! 
Verei o gol de falta de Rivelino, o de Pelé e os dois de Jairzinho, e também a tentativa do Rei de antes do meio-de-campo, mas principalmente apreciarei os demais momentos do jogo, que nunca se vê! 
Hoje, às 19 horas, no SporTV. 
Espero que a narração nova consiga trazer emoção!!!

Pós-jogo.... os 'demais momentos':
Foi uma grandeza o número de vezes que Pelé fez ótimas jogadas, acho que mais de 20, sempre jogando para o time, passes de primeira, corta-luzes perfeitos, dribles por debaixo da perna, quase 100% de passes corretos, muitas assistências, que acabaram não se configurando em assistências porque os destinatários do passe não os converteram em gols! E só teve uma arrancada, como vemos hoje o Neymar fazendo a  toda hora, driblou três e deu ótimo passe para o gol. 
Era realmente o Rei.=!
Acrescente-se que Rivelino fez grande partida, muito combativo e criativo, deu um passe ótimo para Pelé, que perdeu quase embaixo da trave ainda no 0x0, mas aquele chutre da falta foi uma verdadeira patada atômica, como passou a ser chamado seu chute a partir dali. Ele repetiria o feito na copa seguinte.
A narração por cima da imagem, não sei, certamente seria melhor trabalhar-se na qualidade do áudio original do grande Geraldo José de Almeida .... OLHA LÁ OLHA LÁ OLHA LÁ NO PLACAAAR! Ao mesmo tempo, foi legal ver a emoção do narrador e comentarista, com a oportunidade de narrar e comentar um jogo de Pelé!

Jogo 2: Brasil 1 x 0 Inglaterra
Inacreditável aquela defesa... 
Jairzinho cruza da direita na medida, Pelé sobe um metro acima de sua altura, de olhos abertos, como todo bom cabeceador, testa firme de cima pra baixo, para dificultar a ação do goleiro, a bola ainda bate no chão, para complicar mais ainda a situação da defesa, e quando ela vai entrar, aparece Gordon Banks, como um gato, e espalma a pelota para cima, ela sobe e cai caprichosamente junto à trave, mas pelo lado de fora.... o mundo ficou parado, aplaudindo aquela que seria considerada a maior defesa de todos os tempos, passados e futuros!!
Esse e outros lances foram marcantes no principal jogo da seleção brasileira na Copa de 70, contra a Inglaterra. Veja bem estavam presentes os dois últimos campeões mundiais. 
E foi realmente o jogo mais duro da seleção que vamos ver de novo, hoje, no SporTV, 7h00 da noite.
A destacar-se: o gol da vitória, Tostão  recebe a bola pela esquerda, finta dois marcadores, e, quase caindo, cruza a bola para Pelé que a ‘mata’ com categoria e, sem olhar, passa para Jairzinho, que vem chegando pela direita, e fuzila o gol do grande goleiro.
E também, a entrada violenta de Carlos Alberto no atacante inglês Lee, que ‘entrara’,   também violentamente no nosso lateral Everaldo e no nosso goleiro Félix.
Nenhum jogador inglês reclamou.... estávamos ‘quites’. 
O juiz fez vistas grossas para a agressão, também entendeu o pacto. 
Os tempos eram outros.
Não perderei!!
Pós-jogo.... os 'demais momentos':  
Antes, uma palavra sobre o pré-jogo, do SporTV, que eu não gostara,no primeiro jogo, desta vez foi legal, mostrando uma reportagem sobre o Gordon Banks e também o depoimento sobre como os ingleses viram aquele jogo, e o que acharam, foi bastante legal... e também gostei de saber que seria um narrador diferente do SporTV a narrar cada jogo!
Agora, sim, ao jogo!
Pois é, o jogo foi tão tenso, era tanta a expectativa (até no juiz Klein, ficamos sabendo, que tremia as mãos e as escondia nos bolsos do calção) que o Brasil ficou menos brilhante... até o Pelé, que participou, sim, dos três lances capitais (a cabeçada para a defesa fenomenal, o passe para o gol, e o papo com Carlos Alberto, dizendo : "Vai você e dá um toco nele!!"), não estava tão inspirado como no primeiro jogo, com certeza. Talvez por ter tido uma sombra inglesa a marcá-lo impiedosamente, não o Bobby Moore ('o melhor zagueiro que me marcou', segundo ele, aliás, que classe tinha aquele craque!), mas um outro que me falta agora o nome. Estávamos sem Gerson, levemente contundido, e poupado para a fase final da Copa, tinha Paulo César atuando mais como ponta esquerda, ficando Rivelino mais recuado, no papel de Gerson. Rivelino não conseguiu ser tão efetivo na posição, e Paulo César, apesar de muito voluntarioso em seus 20 anos, só acertou mais no final, sendo responsável por alguns dos principais momentos no segundo tempo. A destacar, três lances: 
  • o lançamento de Carlos Alberto para Jairzinho, no lance da cabeçada do Rei, primoroso, de 40 metros, rasteiro, em curva, que fica meio esquecido face ao cruzamento do ponta, a cabeçada perfeita e a defesa fenomenal...  
  • o gol perdido pelo inglês após uma péssima saída do Félix, que poderia até mesmo colocar o Brasil num segundo lugar da chave e sair para enfrentar a Alemanha, e não o Peru.
  • e também uma arrancada de Clodoaldo, do alto de seus 20 anos, ali pela direita, após um desarme no último quarto do jogo, saiu driblando, um, dois, três e entregou a bola para um perigoso lance de ataque, lá na frente. Brilhante!

Jogo 3: Brasil 3 x 2 Romênia
Hoje é dia de jogar sem dois titulares (Gerson e Rivelino) contra a Romênia, e mesmo assim vencer, com dois gols de Pelé e um de Jairzinho. Pelé só voltaria a marcar gol na final, e Jairzinho deixou o dele, como fez em todos os jogos, marca inédita até então em Copas com 16 seleções, nem Just Fontaine, da França, que marcou 13 gols em 1958 conseguira tal feito.
Mas era o jogo de menos charme, afinal, a Tchecoslováquia já havia feito uma final de Copa em 1962, contra o Brasil, e a Inglaterra era a última campeão do mundo. 
E foi o jogo menos tenso da fase inicial, com o Brasil já classificado. 
Vamos ver como se sai o terceiro narrador do SporTV, às 19 Horas!!
Pós-jogo.... os 'demais momentos':  
Antes, no pré-jogo, que apenas vi, porque ouvia meu programa favorito de rádio de análise política, notei a presença remota do grande Clodoaldo, do alto de seus 70 anos, com sua notável baby-face que o faz parecer bem mais novo. Como apenas vi, não ouvi o que ele disse, mas com certeza algo deve ter sido falado sobre sua graaande atuação no jogo contra a Romênia. 
O Brasil não tinha Gerson, nem Rivelino, então, Zagalo optou por adiantar Piazza da zaga para a cabeça-de-área e Clodoaldo para a posição de meia-armador, e ele aproveitou a chance para dar um show, quanta personalidade, aos 20 anos de idade! Esperto, participativo, deu várias arrancadas e chegava à área, chutou quatro bolas com perigo E sofreu a falta que Pelé converteu no primeiro gol. Por outro lado, Paulo César, já em seu segundo jogo como titular, pela ausência de Gerson,  estava abusado, partia pra cima do zagueiro, driblando, deu também quatro chutes com perigo, um deles na trave, e seu ponto alto foi a jogada com Jairzinho, que culminou no quarto gol do ponta-direita na Copa, Brasil 2x0. Este, por sua vez, também fazia grande jogo. 
Os primeiros 25 minutos do Brasil foram arrasadores, 2x0, e duas bolas nas traves (Everaldo chutou a segunda). Tostão fez grande jogo de movimentação e deu um espetacular passe de calcanhar para Pelé fazer o terceiro gol do Brasil já no segundo tempo, quando a Romênia já diminuíra, em falha de Félix. Pelé ainda tentou devolver a gentileza alguns minutos depois, mas o goleiro romeno defendeu a conclusão de Tostão. A Romênia ainda diminuiu, em outra falha de Félix, mas que se redimiu com duas outras defesas sensacionais. 
Surpreendentemente, para mim, o terceiro jogo da Seleção foi o mais difícil. A Romênia apertou, quase empatou e bateu muito, tirando Everaldo (entrando Marco Antonio) e Clodoaldo (entrando Edu). Honrou a condição de ter eliminado Portugal nas  eliminatórias, nossos patrícios vinha de um histórico 3º lugar na Copa de 66!
Ah, sim, um papo sobre narrador da vez: ele narrou com emoção um gol de Pelé que não valeu!! Foi legal!! 


Jogo 4: Brasil 4 x 2 Peru

Gerson e Rivelino de volta ao time nas quartas-de-final, Brasil completo, hoje enfrentamos o Peru, que surpreendeu ao classificar-se em segundo no grupo da Alemanha. O charme do adversário, além do grande Teófilo Cubillas dentro das quatro linhas, estava também fora de campo, seu treinador era Didi, o grande comandante do time do Brasil Campeão em 1958 na Suécia!
Foi o grande jogo de Tostão na Copa, em termos de efetividade: fez dois gols! Rivelino e Jairzinho completaram. Vamos ver o que percebemos, além dos seis gols!!! 
Pós-jogo.... os 'demais momentos': 
Brasil começou a todo vapor, Gerson de volta, lança Pelé, que chuta na trave, calcanhar para Tostão, chute travado, depois Rivelino em falta.... Jairzinho partindo pra cima ... Rivelino marca de 3 dedos com passe de Tostão, tabelinha Pelé - Tostão, show, Peru não via a bola ... Rivelino perde, de centroavante, escanteio, Tostão chuta sem ângulo, falha do goleiro, 2x0 em 15 minutos, difícil pro Peru... Rivelino marca de falta, mas era tiro indireto!! Brasil alivia, Peru começa a gostar do jogo, Félix faz grande defesa, mas logo depois, em lance parecido com o gol do Brasil, Gallardo chuta sem ângulo e Félix aceita. Pelé tentou outra vez surpreender do meio-campo, mas passou longe. Ah, como Gerson lançava com aquela esquerda! Pelé ainda mandou mais uma na trave, numa borboletada de Rubiños, o goleiro peruano.  
O segundo tempo parece uma cópia do primeiro, Brasil arrasador, faz 3x1 com Tostão em jogada com a participação de Pelé. Foi muito legal o narrador do SporTV repetir a narração de Geraldo José de Almeida, com o inesquecível 'Olha lá, olha lá, olha lá, no placaaaar ... Tostão, o Mineirinho de Ouro...'. Depois, Rivelino cruzando de direita, no peito do Jair ... muito recurso!! O grande Cubillas marca o segundo, em mais uma falha de Félix, em minha opinião, e depois, Jairzinho tranquiliza as coisas e marca seu gol, após passe de Rivelino. Gerson sai poupado, entra Paulo César e volta o time que jogou contra a Inglaterra, com Rivelino indo pro meio, e então ele parte pra cima, e é derrubado duas vezes na área, com o juiz marcando tiro indireto em uma delas, estranhíssimo. Jairzinho é poupado e entra Roberto, que tem boa participação. Pelé roubava bolas, era um time moderno, exuberante. Tostão perdeu a chance de fazer um hat trick (terceiro gol no jogo), perdendo um gol fácil, por causa de uma finta a mais. Rivelino perde outro, chutando bem, de pé direito outra vez. Carlos Alberto apareceu duas vezes na área com duas péssimas conclusões. 
Era jogo pra 7... 8 gols nossos. 
Estávamos prontos para a batalha uruguaia, na semifinal.


Jogo 5: Brasil 3 x 1 Uruguai
O jogo contra o Uruguai era visto como uma revanche. Era a primeira vez que enfrentávamos em Copas do Mundo nossos carrascos de 1950, quando nos derrotaram na final, no famoso Maracanazzo. E o clima foi tenso. Uruguaios batiam muito. Para além dos gols, e principalmente do de empate no final do primeiro, fundamental para o jogo, e consagrando Clodoaldo como o moderno jogador, aparecendo de surpresa para concluir com sucesso, houve os dois gols NÃO FEITOS por Pelé, entrando para a galeria dos grandes lances de todos os mundiais. E teve também uma espetacular cotovelada do Rei no zagueiro uruguaio Fontes que batera nele todo o tempo, numa arrancada pela ponta-esquerda, lembro-me bem.... e o juiz não viu, e ainda deu falta para o Brasil!!! Era o Pelé, que sempre apanhava calado, mas sabia a hora de revidar!
 Pós-jogo.... os 'demais momentos': 
O jogo começou duro, Uruguai marcava bem e batia ... falta desclassificante do lateral esquerdo no Jairzinho, hoje era expulsão sem amarelo (que nem aquela do Carlos Alberto contra a Inglaterra), o gol deles veio cedo, falha tripla da defesa, de Brito no passe, de Piazza na cobertura e de Félix, no olho... achou que a bola de Cubilla (sem S, o que tem S é do Peru) não entrava.... poucas jogadas do Brasil ... Pelé muito marcado, derrubado, uma das vezes na área, nada de pênalty, mas ainda assim fez ótima jogada e deixou Jair na cara do gol, mas o Furacão matou mal a bola. Gérson não conseguia jogar, combinou com o Capitão, e trocou com Clodoaldo, ficando mais atrás e deixando o cabeça de área mais livre..... e ele foi, deu um chute que não entrou 'por muito pouco, muito pouco pouco mesmo' (como dizia Geraldo José de Almeida)  e, no últmo lance do primeiro tempo, Clodoaldo avançou, deu a bola a Tostão pela esquerda, avançou na área, recebeu de volta 'Que bola bola, vamos lá Clodô!' e fuzilou de direita o grande goleiro uruguaio 'Olha lá, olha lá, olha lá no placaaaar'... Fundamental empate.... não se sabe como seria o 2º tempo se uruguaios virassem na frente...  
Animado com o empate, o Brasil começou o segundo tempo pra cima, Pelé apanhava, mas estava ligado, pegou uma bola no meio de campo, avançou driblando, até ser parado na entrada da área (pênalty?), mas ele mesmo cobrou a falta muito mal, na lateral..... mas logo depois, o primeiro daqueles quase gols, pegando de bate pronto, da intermediária um tiro de meta mal batido pelo grande Mazurkievicz, para posterior defesa do melhor goleiro da Copa. Uruguai pressionava, mas pouco conseguia e, num contra-ataque fulminante veio o segundo gol, Jairzinho recupera uma bola na intermediária do Brasil, passa para Pelé e dispara para o ataque, Pelé nem olha e toca de calcanhar para Tostão que lança Jair, que avança, dribla o pobre zagueiro e chuta cruzado, mais ou menos parecido com o gol que fizera contra a Tchecoslováquia. Depois de muito apanhar, Pelé dá o revide, com uma classe espetacular, em desabalada carreira pela esquerda, nota que Fontes vem marcá-lo, e quando vê que ele vai desarmá-lo, desfere uma cotovelada no rosto do zagueiro e cai, pra fora do campo. O juiz? O juiz marca falta PARA O BRASIL. Que arte!!! Bem, um aparte para destacar o lateral Everaldo, que após o gol de Cubilla, colou nele e não o deixou jogar, e ainda apareceu no ataque! O jogo ia caminhando para o final, quando TRÊS lances capitais aconteceram: 44 min - centroavante uruguaio cabeceia e Félix faz sua maior defesa da Copa, 45 min - Pelé avança pela meia-esquerda, para a bola na entrada da área, e apenas corre a bola para a canhota de Rivelino, que desfere chute rasteiro e vence Mazurkiewicz no cantinho esquerdo, fazendo seu 3º gol na Copa; 46 min - o segundo cuasi-gol de Pelé, quando, em passe de Tostão, deixa a bola passar e segue pelo outro lado do goleiro, a famosa meia-lua, pega-a novamente, mas ela passa a centímetros da trave esquerda do gol uruguaio. Que final!! Brasil na final!!!!

Jogo 6: Brasil 4 x 1 Itália
Agora, no SporTV, final da Copa de 70...
Quer um aperitivo? Veja esta frase do zagueiro que marcou Pelé na hora do primeiro gol: "Subimos juntos, fora do tempo, para cabecear uma bola. Eu era mais alto e tinha mais impulsão. Quando desci ao chão olhei pra cima, perplexo. Pelé ainda estava lá, no alto, cabeceando a bola. Parecia que podia ficar no ar o tempo que quisesse."
Pelé deu mais duas assistências nesse jogo, total de 6 na copa toda!!
 Pós-jogo.... os 'demais momentos': 
O Brasil nunca foi ameaçado. Atacava sempre, a Itália chutou algumas bolas com perigo, mas nada que Félix precisasse fazer grandes defesas. Pelé abriu o placar com uma cabeçada fenomenal após um cruzamento fenomenal de Rivelino pela esquerda. Lembro que à época, meu pai vibrou, e tal, mas lembrou que nas últimas 5 copas, a seleção que abria o placar, perdia... Minha preocupação aumentou quando Boninsegna empatou, após uma displicência do grande Clodoaldo, que quis dar um chapéu de calcanhar num atacante, ele estava se sentindo tão superior que achou que tudo daria certo, não deu naquele lance, mas felizmente, foi o único lance ruim dele, que fez grande partida, culminando com o início da jogada do quarto gol.... sim, faríamos, quatro .... e poderiam ser cinco, se o juiz mal-intencionado não apitasse o final do primeiro tempo quando a bola estava a caminho de Pelé, livre dentro da área, ai ai ai... Mas veio o segundo tempo e ficamos ainda mais superiores, atacando o tempo todo. Pelé chegou a perder um gol em ótima jogada de Carlos Alberto. O segundo gol veio num petardo de canhota de Gerson, 'O Canhotinha de Ouro', a meia altura, indefensável. Foram muitas as faltas na entrada da área, a Itália só conseguia parar na porrada, houve alguns atendimentos médicos. Logo veio o terceiro gol, com Jairzinho, recebendo assistência de Pelé de cabeça após genial lançamento de Gerson, da intermediária, e se embaralhando com a bola, mas ela entrou, seu 7º gol na Copa, cumprimentando as redes em todos os jogos! Rivelino mandou uma daquelas faltas na trave, e com o jogo chegando ao fim, Clodoaldo faz aquela jogada, driblando quatro italianos, lança longo a Jair na esquerda (notaram Jair na esquerda, antes Jair de centroavante, a movimentação era constante, de todos do ataque), que joga a Pelé pelo meio, que em vez de partir para a jogada individual, percebe um bólido correndo à sua direita, dá só uma olhadinha, era Carlos Alberto, e passa, a bola caprichosamente bate numa saliência e sobe um pouquinho só proporcionando o cenário perfeito para o petardo de direita, no canto direito do goleiro, um dos gols mais bonitos da história das Copas do Mundo. E a coisa não pararia aí, porque Rivelino ainda teve tempo de ser derrubado escandalosamente na área, pênalti claríssimo, que poderia propiciar o quinto gol. E seria o 20º gola do Brasil naquela copa, e 1º de pênalty, o 5º de Pelé (decerto seria ele a cobrar)... Mas não importa, a festa já começava, o campo foi invadido, Pelé com todo o uniforme arrancado, sendo carregado em triunfo com aquele chapelão mexicano, por mexicanos maravilhados com o que viram naqueles seis jogos memoráveis!!
Obrigado, Seleção Canarinho

sábado, 11 de abril de 2020

Tem kiança pá bincá?

Participar do Facebook tem me proporcionado emoções múltiplas.

Agora há pouco, antes de ir dormir, fui dar uma olhada se havia publicações novas de amigos de Colégio Santista, e me deparei com esta foto:



E me emocionei!!! Ela me lembrou momentos de minha infância profunda. A foto é mais ou menos da época... dá pra ver os fusquinhas ... e o pouco movimento de veículos.

Trata-se da Praça da Independência, na bairro do Gonzaga, em Santos, onde a torcida do glorioso Santos Futebol Clube comemora seus inúmeros títulos. 

Morei no Edifício Independência, aquele em curva, à direita , até os 10 anos de idade, no 12° andar. E, solitário, eu corria pelos corredores em curva dos fundos, que unia os 8 apartamentos de cada andar, e batia nas portas de serviço de cada um deles, perguntando:
 
Tem kiança pá bincá?

E, quando eu não encontrava 'kiança pá bincá', me divertia jogando por cima da mureta daquele corredor, que era mais alta que eu, coisas como um garfo, uma faca, uma maçã, um sapato, uma bola, um livro, ou mesmo algum enfeite de casa, só 'pá ouvi o baúio' que fazia quando chegavam lá 'imbáxu', batendo no teto curvo pintado de preto do Cine Independência. Eu sabia como era, pois meu pai e meu irmão, 13 anos mais velho, levantava-me no colo, para ver por sobre a mureta. Ah, quanto puxão de orelha levei de mamãe, saudosa, que se foi tão cedo...

Neusa só me conheceu alguns anos depois, quando eu já não fazia aquelas insanidades....

Ah, esse Facebook....

Homerix Viajando no Tempo Ventura


 

sexta-feira, 10 de abril de 2020

A classe, o carisma, o som dos Beatles



Em época de celebração (ou lamentação?) dos 50 anos do fim dos Beatles, o amigo Miró, que foi o criador de meu codinome há 38 anos, brindou-me com um vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=iNE13R4Wvaw), que eu já conhecia, num grupo de assuntos livres que participamos no Whatsapp. Eu vi e respondi, imediatamente, ainda na cama!

Obrigado, Miró, deixou-me emocionado aqui, abrir o dia em que se lembram os 50 anos do fim daquela banda fenomenal. 
O Baú do Edu: THE BEATLES - THE MORECAMBE AND WISE SHOW''Aqui, nesse show de Morecambe & Wise, eles mostram o lado carismático, ficando totalmente à vontade ao lado de dois humoristas de muito sucesso na época e participando ativamente do sketch.
Era o dia 2 de dezembro de 1963. (bem... a data certa eu googlei)
Ressaltem-se, claro, as músicas espetaculares. Abrem com 'This Boy', que para mim, é a segunda melhor harmonia vocal da carreira deles. Note que eles cantam, os três juntos, a música toda, cada um numa voz. Ela é a segunda harmonia vocal, porque 'Because' é imbatível. Mas 'This Boy' tem a vantagem de ter sido executada ao vivo e 'Because', apenas no ambiente controlado do estúdio. A melhor versão dela, ao vivo, é quando eles foram ao show do Ed Sullivan, não aquele primeiro em New York, 9 de fevereiro de 1964, que arrebatou a América, mas um que foi uma semana depois, em Miami, em que John, Paul e George dividem o mesmo microfone. Aquilo é sensacional.
Depois, vem, 'She Loves You' e 'I Wanna Hold Your Hand', uma levada por Paul, a outra levada por John, e note que George faz harmonia dupla com um e com outro 
Um ponto a destacar-se também é a presença firme e constante de 'Bongo', digo Ringo. E note o tablado em que ele fica, mais elevado, isso é uma configuração que ele inventou, elevando o status do baterista, uma figura que geralmente fica escondida..
Obrigado, mesmo!
Deixo aqui o link com a transcrição dos diálogos entre os Beatles e os comediantes.
https://m.letras.mus.br/the-beatles/1892719/traducao.html

Espero que tenham gostado!!


terça-feira, 7 de abril de 2020

Sem rosto, mas nem todos...



Foi estranho posar sem sorrir.
De nada adiantaria...
A pandemia nos deixa sem rosto.

Foi espantoso ver rostos a ir e vir!
Em máscara não vêem valia!
Isso deu-me um certo desgosto...

Foi seguro me vacinar
O drive-thru garantiu distância.
Uma hora de fila serena.

E foi ótimo passear
Deu pra estancar a ânsia
Da necessária quarentena.

domingo, 5 de abril de 2020

DELÍSHIÂSSS!!

Bem, enquanto fazia minha resenha de Fernando Pessoa (link), li o último livro da caixa de Mário de Andrade, rapidinho porque de contos e pequeno, e um outro rapidinho, porque muito ilustrado, chamado 'Como era antes de ...' que Renata encontrou aqui perdido. Ainda farei resenha deles. Aí procurava na estante Os Lusíadas, que pedi pra Renata comprar porque preciso saber mais que 
"As armas e os barões assinalados,  
Que da ocidental praia lusitana,  
Por mares nunca dantes navegados,  
Passaram ainda além da Taprobana", 
que sei desde criança. 

Todavia, não o achei mas, sim, um perdido, de Oprah Winfrey, chamado 'O Que Eu Sei Com Certeza". E comecei a lê-lo em meu diário exercício de bicicleta ergométrica. E logo parei no primeiro capítulo, em que Oprah explica  o prazer de sentir prazer nas coisas banais, e especialmente falar, com gosto: 'Delicioso!', que é como estava escrito no livro, traduzido para o português, mas aí eu devaneei.... 

O que estava na mente dela era masculino ou feminino?

Sim, porque, no original inglês era 'delicious' (fala-se como o ítulo do post) e a ela, jamais importou o gênero das coisas, como americana que é, sempre falou inglês (e provavelmente só inglês, apesar de ser brilhante), desde criancinha, ela sabe que as coisas não são macho e fêmea. São coisas!! E eles têm até um pronome específico, assexuado, o 'IT'. 

Portanto, a nossa 'torta' e o nosso 'bolo', a primeira feminina, o último, masculino, lá são apenas tratados por 'it', são apenas 'the pie' e 'the cake'. 

Então, se Oprah estivesse se referindo a um bolo, no livro estaria 'Ele está delicioso!', se fosse a uma torta, estaria 'Ela está deciliosa!', mas Oprah não precisou pensar se falaria 'osO' ou 'osA', falou apenas 'It is delicious!'. Period!

É por isso que os gringos têm a maior dificuldade ao aprenderem o Português. É freqûente ouvir coisas do tipo: 'Este comida está muito bom!'. E o pior é que, depois que eles se esforçam e aprendem o Português e decidem passar para o Espanhol, eles pensam 'It will be a piece of cake!', e tal, só que de novo entrarão no pesadelo macho/fêmea! É porque, por exemplo, o nosso sangue é 'La sangre', o nosso mar é 'La mar', a nossa garagem é 'El garaje', nosso nariz é 'La nariz', e por aí vai, ai que dor, que aliás, lá, é 'El dolor'... Vai ter que fazer análise .... que lá é 'El analisis'... mas este último pode ser por eufonia, porque palavras começando com 'a' sempre pedem 'el', mesmo sendo masculinas, para não repetir o som do 'a', por exemplo, 'El água'....  

E por que estou falando tudo isso? É porque eu sempre fui crítico a essa característica do idioma inglês.

Veja o que isso provoca, por exemplo. 'Amigo' ou 'Amiga' é 'Friend', 'Namorado' é 'Boyfriend', 'Namorada' é 'Girlfriend', ambos se escrevem tudo junto.

Então, se um cara chega e diz 'My friend told me...' você não sabe se era um amigo ou uma amiga que lhe disse, e saber isso pode ser fundamental para o entendimento. E tem situações em que uma mulher diz: 'My girl friend me ...', aí as pessoas fazem aquela cara, porque apenas ouviram (não viram escrito), e acham que ela disse 'girlfriend', mas o que ela quis dizer foi que na verdade 'My friend, that is a girl, told me'. Percebe a dificuldade?

Ao mesmo tempo, eu acho bem pragmático, e prático. E até tira a possibilidade de preconceito de gênero. No inglês, é como se tudo fosse o nosso comum-de-dois, como chamamos aqui, quando um só termo só vale pra masculino e feminino, exemplo, motorista, estudante, e até mesmo presidente (apesar de algumas insistências ridícula). Lá, teacher é teacher, seja homem ou mulher, e se dá o mesmo respeito aos dois, sem a menor chance de preconceito. Aqui se dá mais valor quando se ouve 'Professor', do que 'Professora', é um absurdo mas temos que admitir! E preconceito ocorre mesmo quando a palavra é única, vejam 'cobra', que vale tanto pra macho ou fêmea, mas quando se diz 'ele é um cobra', a conotação é elogiosa, já se 'ela é uma cobra', a conotação é pejorativa.

Lembra da tal exceção da regra. Navios, na verdade, embarcações, aeronaves, mesmo as interplanetárias, e também os países, têm sexo, sim, e é feminino (obrigado, Falabella, The Brother). Lá se diz:
I bought a new boat. SHE is beautiful! 
The Titanic was a great ship. However, SHE sank... 
Enterpise can fly at the speed of light ... SHE is very fast!  (este é meu!)
France is lovely. SHE is also a very interesting country.

Voltando às profissões, elas não flexionam, 'he is a singer' e 'she is a singer', note até o artigo indefinido 'a' não varia, é o mesmo pros dois. E vale pra todas... ou quase ... que eu me lembre, olha as exceções aí, apenas distinguem homem de mulher em Waiter/Waitress, 'Policeman'/'Policewoman' e, aonde eu queria chegar, 'Actor' e 'Actress'.... e eu ficava pensando que talvez por isso o Oscar distinguisse prêmios diferentes para homem e mulher, e não o fizesse pra diretor, roteirista, enfim, aliás não devia ter mesmo distinção. Para confirmar isso, fui ao Grammy, o Oscar da Música, por exemplo, e confirmei, não existem prêmios separados para 'Cantor' e 'Cantora', mas apenas premiam Vocal Performance.... porque os dois são 'Singers', mas vi que havia a distinção até 2010, para os diversos estilos, premiavam 'Male' e 'Female Vocal Performance' para cada um dos estilos (Rock, Country, Jazz, R&B, etc.). Loucura, né!!

Bem, chega de divagações e ilações... voltando ao motivo que me inspirou a escrever, declaro que, a partir de agora, vou seriamente pensar em declarar meu sentimento por um bolo ou uma torta, eu vou dizer simples e pragmaticamente...
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sexta-feira, 3 de abril de 2020

Lincoln Se Va

QGEP APONTA ALTA PRODUTIVIDADE EM TESTES DE CARCARÁ, NO PRÉ-SAL ...
O amigo Lincoln acaba de escapar do Corona Vírus!

Alvíssaras!!

Relembro aqui minha homenagem a ele 
quando saiu da Petrobras, em 2013!!!




Adiós, Lincoln!!!

Geólogo e paulista
Boa gente e corintiano.
A todos sempre conquista
Brasileiro, líbio, ou colombiano.
Queria grana, saúde e ternura,
Anseios de uma pessoa normal,
Mas também ficava à procura
De um fechamento quaquaversal!
Não deixou amigos à míngua,
Mas a paciência era rasa.
Não tinha papas na língua
Não levava desaforo pra casa!
De discussão não fugia
Dos perigos tinha ciência.
Mas sempre acabava o dia
Em paz com sua consciência.
Gosta muito de um bom vinho
Francês, português, italiano,
Acompanhado de um queijinho,
Melhor se for Grana Padano.
Diz que nada muito bem,
Mas só vendo pra acreditar!
Decerto, uma atividade tem:
Leva o cachorro pra passear!
Sempre foi muito respeitado,
Mas o respeito ainda cresce
Quando se vê no Busca Empregados
Aquela cara de general da SS.
Agora não se vê mais....
Leva tempo até que a ficha caia!
Agora vai curtir em paz
As princesas que lhe deu Soraya.
Vão ter Fernanda e Daniel
Mais tempo com o pai querido!
E Marli, deve estar no céu:
Vai poder abusar do marido!
Cuide deles com afinco
Gozando momentos serenos
No seio familiar amado!
Levar-te-emos Lincoln,
Não bé-Rumenos,
No coração Guardado!

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Ficções do Interlúdio

Olá! Caso se interesse pelo livro,

deixo aqui o link para compra.
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Pois bem, terminei a box de Fernando Pessoa que comprei na última Bienal. 

Eram 3 livros, o primeiro, 'Mensagens', na verdade o único lançado em vida. Falei sobre ele aqui, neste link. É nele que aparece seu famoso verso 'Tudo vale a pena ... se a alma não é pequena'.

Sobre o segundo, 'O Livro do Desassossego',  eu não escrevi, porque eu não acabei, aliás, fiquei nos 20%, fiquei muito, como direi .... desassossegado! Era escrito por Bernardo Soares, um de seus heterônimos (ver abaixo). Uma das poucas prosas de sua obra,  vi que se tratava uma espécie de autobiografia, mas a gente vai lendo, vai lendo, e ele falando sobre seus sentimentos, e impressões nada positivas de algumas pessoas que cruzam seu caminho, e vai lendo, e nada acontece, até que desisti, mais ou menos na pg 80. Ao ler na Wiki sobre o livro, vi a melhor definição para ele, uma 'autobiografia sem fatos'. Ainda vou dar uma segunda chance a ele, afinal é considerada uma de suas melhores obras.

Você entendeu aqui em cima a palavra  'Heterônimo'? Pausa, então, para explicar o termo, porque ele é fundamental para entender o terceiro livro.. . e na verdade, quase toda a obra de Fernando Pessoa.

Heteronímia
É o estudo dos heterônimos, isto é, estudo de autores fictícios que possuem personalidade. Ao contrário de pseudônimos, os heterônimos constituem uma personalidade. O criador do heterônimo é chamado de "ortônimo". Sendo assim, quando o autor assume outras personalidades como se fossem pessoas reais.
Pois é, Fernando Pessoa escreveu, basicamente por seus heterônimos. Ele assumia, por assim dizer, uma personalidade diferente para escrever seus poemas, e os publicava em revistas. Eles tinham, não somente um nome, mas uma biografia, um físico, uma data de nascimento, mas principalmente, um estilo diferente de escrever. Pessoa escreveu por mais de 100 heterônimos.

O terceiro livro chama-se 'Ficções do Interlúdio' e era uma intenção que Pessoa tinha de fazer ainda em vida uma coletânea de seus principais heterônimos, mas não deu tempo. Felizmente, ele trocava cartas com amigos, e fazia anotações sobre essa intenção, o que possibilitou sua montagem e publicação póstumas.


Então, assim podemos nos deliciar com suas próprias palavras a descrever sua criação.


Desde criança, em que não tinha amigos de verdade, Pessoa criava-os imaginários, conversava com eles e até lhes escrevia cartas (e recebia respostas!!!). Cresceu e assim continuou. Diz ele: 
E assim, arranjei e propaguei vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que, ainda hoje, a perto de trinta anos de existência, oiço, sinto e vejo. Repito: oiço, sinto e vejo... E tenho saudades deles.   
Em outro trecho, ao sentir vontade de criar um 'poeta bucólico, de espécie complicada', teve dificuldade, os dias passavam, quando então:
Num dia em que finalmente desistira - foi em 8 de março de 1914 -acerquei-me de uma cômoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim."
Bem, não sei de vocês, mas para mim, a primeira fala ali em cima retrata um médium poderoso, conversando com os espíritos que lhe aparecem com nitidez assustadora, e foi 'intuído', naquele momento. E a segunda fala, nada mais é do que uma psicografia em altíssimo nível. É ou não é?

Seja ou não, o cara foi genial!. Dá pra perceber que são pessoas diferentes escrevendo, mesmo nas poesias, são métricas e estilos diferentes.

Ao livro!!

Após um longo prefácio, em que são explicadas as razões da existência da obra, do qual extraí os ditos acima, começam as obras, de seus 3 principais heterônimos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, e também uma obra de Pacheco Coelho.


Abre-se cada um dos quatro capítulos com uma introdução, alguns textos de Pessoa, mas também textos de outros heterônimos, sobre a razão do capítulo. Então, é Alberto de Campos falando sobre Caeiro, e depois Ricardo Reis falando sobre Alberto de Campos. É incrível! Sabe aqueles autores que fazem vários papéis numa peça. Pessoa foi assim em toda sua vida literária.


Alberto Caeiro é o poeta bucólico que inspirou aquela efervescência de criatividade  psicográfica descrita ali em cima. Mora no campo, descreve a natureza, sol, estrelas, árvores, em poemas sem rimas ou métricas específicas. 'O Guardador de Rebanhos' é uma coletânea de quase 50 poemas, imagino que boa parte tenha sido psicografada naquele prolífico 8 de março.

Ricardo Reis é mais disciplinado na métrica, tem uma que outra rima, mas isso não importa, e seu modus operandi são as odes... tanto que está no nome do capítulo 'As Odes de Ricardo Reis', exaltando situações da vida. O interessante é que, monarquista, ele se rebela com a proclamação da República em Portugal, e viaja para o Brasil, mas desconhece-se quando morre. Li na Wiki. O mais interessante ainda, é que o grande Saramago, escreveu um livro chamado  'O ano da morte de Ricardo Reis', em que continua o universo deste heterônimo, após a morte de Fernando Pessoa, cujo fantasma estabelece um diálogo com Reis, sobrevivente ao criador. Genial!

Entretanto, as odes que mais gostei vêm no último capítulo, de Álvaro de Campos, a 'Ode Triunfal' e a 'Ode Marítima'. Na primeira, exalta as criações materiais do homem, suas máquinas incríveis, passando pelos feitos da Revolução Industrial, até o ano em que ele escreveu. E fiquei com vontade, ó que audácia, de escrever uma continuidade do poema, desde aquele ano até os dias de hoje. Quem sabe... E na última, exalta o mundo das descobertas, em que Portugal foi protagonista, de uma maneira vibrante, e se colocando no meio dos saques e barbaridades que se fizeram, torna-se até um pouco sangrento. Alberto de Campos ocupa quase a metade do Livro. A destacar-se, afora as odes que citei, o poema 'A Tabacaria', que fica à frente de sua janela, de onde observa a rotina de seu dono, que vai até a porta, até que um dia não vai mais, porque morreu... Melancolia, teu nome é Alberto de Campos, ou melhor, Fernando Pessoa.

Ah, sim, tem o último heterônimo, um certo Coelho Pacheco, que apenas apareceu para uma obra, que é dedicada, por ele, a Alberto Caeiro, portanto após a 'morte' deste último, decretada por Pessoa, apenas um ano após ele 'nascer'... Em sua única encarnação poética, a poesia não tem rima ou métrica, muito menos pontuação... só sabemos que o assunto muda por um breve espaço entre estrofes...

O grande problema de Fernando Pessoa é a constância dos temas 
solidão, noite, morte, cansaço, tristeza, amargura, 
que perpassa por toda a obra, e tantas vezes, 
que achei que ele havia (se) suicidado, 
mas não, morreu de cirrose ou câncer no pâncreas, 
antes dos 50 anos.

Infelizmente, não estava em nenhum dos três livros, sua mais famosa estrofe
O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente 
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente.