O último concerto ao vivo dos Beatles continua sendo o show de San
Francisco, em agosto de 1966, quando eles deram um basta à bagunça, e decidiram
dedicar-se apenas aos estúdios. (Note que pagava-se US$ 4,50 dólares para assistir a um show dos Beatles.....). Hoje, faz 53 anos.
Eles já haviam decidido que seria o último, então documentaram bastante com fotos de suas próprias máquinas. Ironicamente, ó último som que se ouviu tocado por um Beatle, em um show dos Beatles para público pagante foi 'In My Life'. John, antes de sair do palco, tocou os acordes iniciais de sua estupenda canção!!
No vôo para New York, de onde partiriam para Londres, George Harrison falou: "Não sou mais um Beatle...". Ele se referia, claro, que aquele momento finalizava a era Beatle de 10 anos de apresentações ao vivo, que começaram em Liverpool e Hamburgo (ainda sem Ringo) e depois passariam por todo o mundo que interessava. Nunca foram à África e, infelizmente, à América Latina.
Só que em 30 de janeiro de 1969, eles fizeram na realidade uma última aparição pública, tocando e cantando!
A história daquele fantástico evento beatle começa aqui.
A parada deles em 1966 acabou por propiciar ao mundo,
como resultado de seu primeiro confinamento, aquele que seria o disco mais
famoso da história do rock, 'Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band....'. Depois, vieram
'Magical Mistery Tour', com direito a filme doidão e tudo, a viagem à Índia, o
fantástico 'Album Branco'.
E depois acharam que era hora de tentar uma coisa
mais pueril, menos produzida, e resolveram tentar voltar um pouco às origens.
Em sua nova gravação, permitiriam poucos recursos de estúdio, exigiriam o mínimo de mixagem
invevitável, pretendendo deixar a coisa o mais parecida possível com uma
apresentação ao vivo.
Queriam tanto essa simplicidade que dispensaram a ajuda
do genial George Martin, que os acompanhara desde o início da carreira oficial,
dando vazão aos anseios do grupo. Ele materializava as ideias meio doidas que
eles tinham em realidade, certo de que lidava com gênios que precisavam ter
seus desejos atendidos, por mais estranhos que parecessem, afinal, tudo (ou
quase tudo) que tocavam, transformava-se em ouro. Deram ao projeto o nome 'Get
Back', claro recado de que estavam fazendo uma viagem no tempo, uma busca às
suas raízes.
E foi assim que se trancafiaram nos estúdios da Apple, no
porão da Saville Row número 3, durante o inverno, para ensaiar muitas novas
Lennon/McCartney, poucas novas Harrison e nenhuma nova Starkey (para variar).
Chamaram para algumas das sessões um novo instrumentista, um certo Billy
Preston, amigo de George. Como iam tocar com poucos recursos de estúdio, por
opção, não poderiam dispensar a presença de um teclado, coisa então comum em
apresentações ao vivo.
Billy provou então, do gosto em tocar junto a ícones de
sua geração, o que o deixou sorridente e agradecido para o resto de sua vida,
que terminou em 2006. Depois daquilo, ao longo de sua carreira, ele tocou com
muitos dos maiores artistas do ‘showbiz’, incluindo Rolling Stones, Little
Richard, Elton John, Eric Clapton, Bob Dylan, Aretha Franklin e outros. Esteve
presente no antológico 'Concert For George', registrado em um dos melhores DVDs
de todos os tempos, em que cantou 'My Sweet Lord', de Harrison, entre outras.
Billy Preston foi o único não-beatle a receber direitos por participação em
músicas beatle; os demais músicos que aparecem em canções beatle eram pagos
como músicos contratados.
Billy testemunhou, então, o que pode ser considerado 'O
Começo Do Fim' dos Beatles. Alguns dizem que tudo começou bem antes, em 1967,
com a morte por overdose de tranquilizantes, do empresário deles Brian Epstein,
que mantinha a coesão do grupo. Com sua partida, Paul assumiu, de fato, mas não
de direito, a condição de líder, já que tinha um pouco mais de tino comercial
que John, mas nada tão brilhante assim. O fato é que partiram de Paul as
principais ideias a partir daí, o que começou a gerar uma certa ciumeira dos
demais. Outra corrente acredita que tudo começou com a chegada de Yoko à vida
de John. Apesar de se tratar de um grande caso de amor, o maior da história do
rock, não há dúvida de que a presença de Yoko foi um fato absurdamente
desagregador. John estava obcecado por ela, e queria sempre sua presença por
perto. E ela vinha, e dava palpites, e até sua voz apareceu em destaque na
canção ‘Hey Bungallow Bill’, do Álbum Branco. Ela vinha a muitas sessões de
gravação, inclusive quando estava doente: numa certa ocasião, após um aborto
não desejado, John alugou uma cama de hospital e instalou-a nos estúdios da
Abbey Road. Pode?
Então, tenha-se ou não a exata noção de quando começou a
acabar, o fato é que o projeto Get Back, como foi chamado, muito apropriadamente, deixou claro que a convivência estava
começando a ficar difícil. As sessões até que transcorriam bem, havia alguns
momentos do velho bom humor e camaradagem, mas vez por outra, uma observação
mais rígida de um levava a uma resposta mais ríspida de outro. Mormente, o ‘um’
citado era o Paul, que se sentia o ‘dono’ do grupo, e principalmente da idéia
do projeto, e o ‘outro’ era qualquer um dos outros três. Como as sessões foram
todas gravadas em filme, dá para sentir o clima pesado, e a 'boa vontade' como os
outros recebiam Yoko e seus palpites. Em um dos momentos, registrou-se uma
daquelas trocas de amabilidades, entre Paul e George, que interpretava uma
certa opinião daquele como uma intromissão inaceitável no seu modo de ‘pilotar’
a guitarra. A desavença foi mantida na edição final do filme ‘Let It Be’, que
existe hoje nas mãos de uns poucos, enquanto o mundo beatlemaníaco aguarda
ansiosamente sua edição em DVD.
O grupo precisava calibrar o que vinha sendo ensaiado
intramuros com uma execução ao vivo. Algumas sugestões foram discutidas, a
maioria esbarrando na inviabilidade de se ter os Beatles aparecendo em qualquer
lugar para tocar, assim, do nada, afinal, causaria um tumulto inaceitável. Foi
quando Paul, sempre ele, veio com a pergunta:
“Por que não pegamos a tralha
toda e tocamos no terraço do edifício?”
Por mais estranha que a sugestão
pudesse parecer, ela foi imediatamente aceita (lembrem-se do toque de Midas
acima mencionado), os membros da produção foram atrás do que era necessário.
Devido ao frio e vento que eram esperados, eles foram a lojas de departamentos
para comprar meias de mulher, para cobrir os microfones e diminuir o efeito do
vento. O interessante foi responder ao balconista que perguntara sobre o
tamanho de meia que desejavam, e ouvir como resposta: “Tanto faz!”.
O resto da história??