Olá! Caso se interesse pelo livro,
deixo aqui o Link Amazon
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- Muito se fala dos 6 milhões de judeus mortos pelos nazistas
na 2ª Guerra...
- muito pouco sobre os 20 milhões de soviéticos que tiveram
mesmo destino...
- e não apenas soldados, mas milhões de civis ...
- e não apenas soldados homens, mas milhares de soldados
mulheres ...
- e não apenas mulheres na retaguarda, mas na linha de frente
- uma história desconhecida e impressionante
Na segunda perna de meu embrenhamento pela experiência Nobel,
li o livro com o instigante título acima, da mesma Svetlana Aleksiévith,
ganhadora em 2015. A primeira experiência foi o livro sobre Tchernóbil, que
analisei neste post.
Aqui, a jornalista escritora segue investigando o passado,
desta vez 45 anos antes, (quando a Alemanha invadiu a Rússia na Segunda Guerra Mundial), sob um aspecto jamais
antes contado, e surpreendente!
Nenhum filme contou uma guerra
sob esse ângulo, anteriormente (que eu pense).... e digo que após esta corajosa e custosa iniciativa,
certamente Hollywood se interessaria de primeira, SÓ QUE não vai, porque se
trata da histórias de mulheres russas, ou melhor, soviéticas!
Sim, mulheres, mais de UM MILHÃO DE MULHERES, foram pra
guerra, em sua vastíssima maioria, VOLUNTÁRIAS, morreram aos borbotões, mas
muitas sobreviveram e foram condecoradas com as mais variadas e importantes
Ordens de Mérito, inclusive com a maior delas, a Estrela Vermelha.
“sim,
a gente sempre vê em filmes, as enfermeirinhas, sempre com aquele quepezinho
branco milimetricamente posicionado em suas lindas cabeças, com as vestes
imaculadamente branquinhas, sempre atendendo aos feridos, com algumas ataduras
nas cabeças, e uns braços enfaixados, enfim, sempre se enamorando de um deles
no final, sim, há mulheres na guerra, claro”
Não, amigo, não é dessa guerra que Svetlana nos conta. Ela
foi atrás de centenas que sobreviveram, e se abriram para contar suas
histórias, todas já idosas, afinal, elas tinham de 16 (isso mesmo!) a 20 anos de idade em
1941, podem fazer as contas...
E elas não eram apenas enfermeiras (e mesmo estas nem um
pouco como sempre as vimos). Mesmo se ficarmos no âmbito dos serviços de
retaguarda, elas eram cozinheiras, lavadeiras, passadeiras, criptógrafas, costureiras, telefonistas,
comunicadoras, engenheiras, construtoras, cada uma tem sua história. Claro, estavam lá as médicas
cirurgiãs que salvavam centenas de feridos que nem um poucos se assemelhavam
com as ataduras e as faixas do cinema, costurando o que sobrou das pernas e
braços amputados, e órgãos perfurados por balas ou destruídos por estilhaços,
em ambientes banhados de sangue, tanto sangue que as roupas se tingiam de
vermelho, e depois secavam e endureciam e ficavam muito pesadas. E as
enfermeiras que não ficavam só do ladinho dos feridos em camas, sempre com palavras de conforto que se não curavam o corpo, aliviavam o espírito, mas que iam
busca-los caídos em campo de batalha, ainda sob fogo cruzado, carregando seres
humanos com quase o dobro de peso delas, arrastando as macas improvisadas em
que os colocavam. Muitas delas foram condecoradas de acordo com o número de
feridos que salvaram, até 10, até 50, até 100, tinha várias com mais de 150
salvamentos.
Isso também seria comum. O problema, e o inesperado da
coisa, é que elas foram
soldados de infantaria, que iam para frente com suas
baionetas acopladas a fuzis que eram maiores que elas, franco-atiradoras, isso
mesmo, que ficavam enterradas, matando cirurgicamente os invasores (a da foto ao lado matou 59, foi condecorada, deram baixa a ela, mas ela quis voltar à linha de frente e foi morta, em outra função), ou mesmo
operadoras de metralhadora giratória, que se esqueceram de quantos alemães
mataram, pilotos de avião que bombardeavam postos alemães sem nunca verem quem haviam matado, sem esquecer das partisans, da resistência, que fugiam das
cidades invadidas pelos alemães para depois lutar de esconderijos nas florestas vicinais, passando fome, se arriscando como mensageiras. Muitas delas ascenderam a postos de comando, como sargentas, tenentas,
comandantas (para usar sufixos recentemente inventados por aqui). Isso pra não
esquecer das tanquistas pilotando enormes tanques, das sapadoras (??!!), sim, aquelas especialistas em percorrer campos
minados para desarmar minas colocadas pelo invasor alemão, aliás, essas que
ficaram até depois da guerra terminar, em 9 de maio de 1945, quando os alemães
capitularam, depois da chegada dos soviéticos a Berlim, para limpar o solo
pátrio.
Aqui, um pouco sobre o último adjetivo parágrafo anterior,
reside o motivo pelo qual essa guerra era diferente da guerra, vamos dizer, dos
Estados Unidos, e porque não se vê mulheres combatendo nos filmes de Hollywood.
Ninguém estava lá invadindo a terra deles, eles se engajaram na guerra que se
desenrolava em outro continente, não fazia sentido nenhum enviar mulheres para
o trabalho sujo. Já na Rússia, na Ucrânia, no Kazaquistão, na Letônia, na
Lituânia, no Tajiquistão, em Minsk, na Bielo-Rússia e outras repúblicas
socialistas soviéticas, os alemães invadiram suas terras, e vinham tomando as
cidades, violentos, queimando, arrasando, torturando, minando os terrenos, estuprando,
enforcando, metralhando mulheres e crianças, coisa de estilo medieval mesmo (... os soviéticos não ficaram atrás e revidaram quando chegaram à Alemanha.. há relatos de dois milhões de alemãs estupradas...)
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Komsomol member, be a Hero of the Great Patriotic War |
Então, as mulheres sentiram a necessidade de se engajar, de não deixar o
trabalho só para seus homens, e não ficar apenas na retaguarda. E muitas tinham
dentro de si, o sentido de pátria, que a filosofia comunistas imputava, atendiam ao apelo da Great Patriotic War, mesmo sem serem convocadas. Todos criam que o esquema de governo era o melhor para eles, nem todos sabiam dos
métodos que Stálin utilizava para garantir o apoio que tinha, dizimando e
deportando dissidentes para a Sibéria, e se sabiam, não acreditavam. Muitas
mulheres que deram a cara por um ideal. Teve depoimento de mulher com filho pequeno e
outro na barriga que abortou, para não colocar filho no mundo em guerra, deixou
o outro com a mãe e foi para a frente da batalha.
O livro, então, é feito de depoimentos em série, muitos
deles me levaram facilmente às lágrimas, mormente aqueles que falam das perdas, das mutilações, dos assassinatos, dos crimes de guerra. E descreviam também as dificuldades logísticas, e até de
vestuário, pois o exército não estava preparado para vestir tantas mulheres, as
botas eram 3 ou 4 números maior, o que acabava com os pés da moças em longas
caminhadas, não havia calcinhas no começo da guerra, levou mais de ano para
trazerem, usavam cuecas, as calças tinham que ser amarradas na cintura, ficava
tudo folgado nas ‘irmãs’, nas ‘irmãzinhas’, que é como os homens as chamavam
invariavelmente, depois de um período de desconfiança, mostraram seu valor.
Além disso, havia as dificuldades inerentes ao estado feminino, sem
absorventes, o sangue escorria nas caminhadas, o constrangimento era enorme, e
havia relatos que até o fluxo mensal era interrompido, o corpo se encarregava
de adequar o funcionamento às circunstâncias. Claro, tem o capítulo dos amores,
muitos escondidos, e o pós-guerra, como elas voltavam à vida civil e muitas
eram discriminadas, pelas próprias mulheres que ficaram, acusadas de terem
estado lá para servir aos homens, olha, uma pancada atrás da outra.
Só sei que, no próximo desfile da Vitória, estarei atento para
ver se vejo algumas daquelas heroínas, com mais de 90 anos, usando com orgulho
as comendas que receberam. Admirável!
Pensei em reproduzir aqui um dos depoimentos delas, mas difícil escolher entre centenas, tantos marcantes, selecionei então um dos poucos, senão
único, depoimento masculino....