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domingo, 2 de janeiro de 2022

John, Paul… e Virgínia, uma alegoria!

Os leitores de meu blog, e principalmente os que seguem após o final dos texto lendo os comentários, já conhecem De Paula, sempre apondo comentário longos e relevantes! Já dediquei alguns posts meus a ela.

Eis mais um, com uma alegoria sobre o Beatles Big Bang, minha definição para o dia em que Paul encontrou John ou vice-versa, em 6 de julho de 1957! 

Naquele dia, Virgínia tinha 8 anos, e iria completar 9 no dia seguinte!

Divirtam-se!!

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John, Paul… e Virgínia

Ou… “O que acontecia em sua cidade no dia em que John conheceu Paul?”


Montes Claros, 6 de julho, 1957. Virginia acorda cedo para um cocktail na Chacrinha onde mora. Montes Claros está em festa desde o dia 3 celebrando o centenário do dia em que a vila tornou-se cidade. 

Princesa Virginia - 8 going on 9

Ela tinha sido princesa da Imperatriz do Divino, sua irmã. Seria princesa novamente na procissão com carros alegóricos no dia 7. E o desfile histórico folclórico? Algo inesquecível visto pela janela da casa da Tia Maria. Sendo seu pai o organizador dos eventos, ela vinha acompanhando tudo desde os preparativos. Só não ia aos bailes, coisa de adultos. Bem que gostaria de ter ido ao da noite anterior 
abrilhantado por artistas do cinema nacional. Eles estavam para chegar em sua casa!


1950-1962  Liverpool, 6 de Julho, 1957. 
O rapazinho de 15 anos chamado Paul quer dormir mais um pouco. Tem certa dificuldade para retirar sua linda cabecinha do travesseiro perfumado de lavanda, mas acaba saindo da cama. Seria um dia fora do comum com o “Garden fête” da igreja de Saint Peter com participação de um grupo musical jovem: The Quarrymen. Bom lugar para paquerar. Do outro lado do campo de golfe mora o adolescente John, líder desse conjunto. Naquela manhã ele “apronta” com sua tia Mimi, passeia com o cachorrinho da casa e sonha com a hora de apresentar seu show. Cai uma chuva fina em Liverpool, o que preocupa um pouco os organizadores da festa anual, mas logo o sol reaparece.


Às dez horas, a Chacrinha está repleta de convidados. Virginia vai a seu quarto acabar de se aprontar sabendo que os artistas já estão descendo pelo jardim da entrada. Que surpresa ao sair. Sentadinho na sala de jantar está o ator Cyll Farney, seu preferido das Chanchadas da Atlântida. Aguenta coração. A seu lado está Eliane, a “namoradinha do Brasil”. Presentes ainda o Renato Murce e a acordeonista Zélia Mattos. E aquele ali na sala de visitas, meio acanhado? Quem seria? Muito jovem, mas “estraçalhando” no violão. Seu nome: Baden Powell. Um desconhecido visitando Montes Claros antes do reconhecimento internacional.


São duas horas em Liverpool. Tem início a procissão com carros alegóricos e banda de música militar. O Quarrymen toca na carroceria do último caminhão que segue pelas ruas. John acha estranho tocar num carro andando… Nunca tinha ouvido falar nos Trios Elétricos baianos. A procissão encerra com a coroação da Rose Queen, (Rainha da Rosa) uma garotinha de 12 anos. Em seguida acontece o desfile com crianças usando fantasias. Os jovens sentem-se presenteados com a presença de um conjunto de Skiffle (estilo musical de maior sucesso nos anos 50 na Inglaterra), coisa nunca antes acontecida naquela festa da paróquia. Nem imaginam que aquele cantando e o outro adolescente que mais tarde chegaria de bicicleta, violão nas costas, formariam a parceria de maior força no cenário mundial na década seguinte: John Lennon e Paul McCartney.


Na Chacrinha ainda é manhã. Há uma diferença de horas devido ao fuso horário. Mas Jim O’Connel, autor do livro “O dia em que John conheceu Paul” não se importou com isso ao investigar o que acontecia em diversas cidades do mundo naquela data. O que vale é o dia como um todo, o que pairava no ar ao longo das horas. Nada de festivo acontecia nas cidades investigadas por ele. Só em Liverpool… e em Montes Claros.


Depois do almoço, os atores e músicos seguem para o aeroporto. Virginia vai com seus pais e irmãos para o bota fora. Em Liverpool começa oficialmente a festa beneficente, uma quermesse com shows de cachorros amestrados, premiações, barracas de comestíveis e atrações variadas. Crianças correm de lá para cá, mocinhas e rapazes se aglomeram em volta do palco para ouvirem The Quarrymen. Agora John pode dar tudo de si. É quando Paul chega. Logo encontra seu colega de escola, Ivan Vaughan, que acontece ser amigo de John. O conjunto apresenta o sucesso do Del Vikings “Come and Go With Me”. Bem apropriado, pois parece um convite para seguir com John, exatamente o que Paul gostaria. Ele está fascinado. Mas deve ter algum gene da família de Paula porque logo nota defeitos. Percebe que John não sabe a letra, que improvisa de forma engraçada, e que… seu violão está afinado como se fosse banjo. Adora o visual de John, sua postura e ar desafiador.


No aeroporto de Montes Claros a trupe espera a hora do embarque. Virginia está feliz tomando guaraná, coisa que sempre acontece nas raras idas ao “campo de aviação”. Anda por ali admirando aquele recanto com bougevilles, fascinada com a tal “biruta” açoitada pelo vento. Admira também o galã Cyll Farney, belíssimo, de óculos escuros, fumando em silêncio. Inquieta-se com aquela mulher que chora, implorando para ser levada para o Rio. Todos a tratam com carinho, mas “Infelizmente não podemos levá-la”.


O Quarrymen está no segundo show naquele fim da tarde, bem quando o avião carregado de artistas alça voo. Virgínia acompanha a decolagem seguindo com os olhos o avião furando nuvens no céu. O mesmo céu que do outro lado do atlântico já revela suas primeiras estrelas.


Cena do filme Nowhere Boy
Terminado o show, os jovens músicos dirigem-se ao salão paroquial. É lá que aguardam pelo baile onde voltarão a tocar. Entra Paul levado pelo amigo Ivan. Os meninos não parecem interessados. Mas quando Paul pega o violão e ataca de “Twenty Flight Rock” a coisa muda. John fica de queixo caído. O tal McCartney realmente sabe tocar, mesmo com a mão esquerda, e sabe cantar. Desinibido! “E ainda por cima parece Elvis”, pensa John. Paul parece disposto a impressionar. Toca várias músicas como se estivesse num palco. Tira sons até no piano. É um show!


Em Montes Claros, ao cair da tarde, os “dançantes” estão nas ruas centrais, cantando e celebrando. Descem para a praça da Matriz com a banda militar espalhando alegria no ar. As luzes da igreja se acendem. Luzes colocadas para o centenário, pois ali há festividades quase que diárias, incluindo leilões, barraquinhas, missas. É a paróquia mais atuante da festa. Enquanto isso, no salão paroquial em Liverpool, Paul completa sua impressionante apresentação fornecendo letras de músicas e ensinando como afinar os violões. John, bestificado, encosta-se no seu ombro. Paul sente o bafo de cerveja. Não disse que é de Paula? Mas não se importa! Está feliz por ter conhecido John. Em texto enviado anos depois para o pároco da igreja, ele fala da sua alegria. Tinha achado John tão bonito!


Pouco antes do baile desaba a tempestade. Trovões e relâmpagos cortam os céus de Liverpool. Os anjos celebrando, por certo. John havia acabado de conhecer Paul! A chuva não chega até Montes Claros, felizmente, pois o Baile do Algodão seria ao ar livre. Haveria o baile popular no Mercado Central e o baile do Clube Montes Claros, mas a Rainha do Algodão e a Rainha do Centenário seriam coroadas no Montes Claros Tênis Clube. É para lá que os pais de Virgínia vão com um casal de amigos e sua irmã.


O baile de Liverpool começa às 20 horas. A chuva tinha sido forte, porém rápida. O Quarrymen divide o trabalho com The George Edwards Band que toca músicas dançantes tradicionais. Paul, já em casa, tem trabalho na cozinha. Com a ajuda do irmão prepara sanduiches enquanto o pai, Jim McCartney, fuma seu cachimbo fazendo palavras cruzadas. Confabulam sobre o que oferecer a ele no seu aniversário no dia seguinte. Paul sonha: “Se eu fosse rico daria a ele um… cavalo!”


Na Chacrinha, também há movimento na cozinha. Preparam salgadinhos para o aniversário de Virginia também no dia 7. Ela sai para o alpendre a fim de ver a lua com a alma enlevada pelo dia cheio de emoções. A mesma lua que espia John no seu quarto olhando o pôster de Elvis na parede sem parar de pensar num certo rapazinho. Estava decidido. Convidaria MacCartney para seu conjunto.


7 de julho. Na Forthlyn Rd número 20, Liverpool, a família McCartney canta Happy Birthday to You para um Jim orgulhoso dos seus filhos.


Na Av. Cel. Prates 106, Montes Claros, a família de Paula canta o Parabéns para uma Virgínia feliz recém-chegada da procissão, ainda vestida de princesa.


Duas semanas mais tarde Paul passa a integrar o Quarrymen. Pouco tempo depois entra George Harrison por suas mãos…


1962: O conjunto. agora um quarteto conhecido como The Beatles, recebe novo baterista, também aniversariante do dia 7 de julho: Ringo Starr.


1964: The Beatles ganham o mundo. Suas vozes harmoniosas e ousadas dizendo querer segurar em nossas mãos chegam a Montes Claros. Descem pelo jardim da Chacrinha até ao coração de Virginia que aceita a proposta e por eles se enamora. 

Para sempre.


Por Virginia A. de Paul(a)

6 comentários:

  1. Me encantou com a publicação. E não esqueceu de ilustrar...As fotos realmente são essenciais. Está com fotos no Canal dos Beatles. Viu como assinei. Virginia A. de Paul(a). rs rs rs Obrigada, Homerix

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  2. Gostei do mapa! Montes Claros lá no norte de Minas...Região que está bem castigada com a chuva atualmente. A parte ali chegando na Bahia. É o sertão cantado por Guimarães Rosa.

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  3. Pena que apenas eu comentei. rs rs rs. Cadê o povo?

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  4. Que maravilha de texto da craque na crônica, Virgínia de Paula! Conheço Virgínia muito bem é sempre leio suas crônicas na página do Facebook. Parabéns pelo blog e para a autora!👏👏👏

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  5. Que delícia de crônica! Tb sou de Montes Claros, adoro os Beatles, admiro muito a Virgínia e tinha um ano de idade em 1957.

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  6. Olá De Paula, nada é por acaso. Você tinha que ser mineira, pois todo mineiro é gente boa. Minha família ( pai, mãe, tios, primos) são todos mineiros , mas eu fui o único nascido aqui na “Cidade Maravilhosa”. Gostaria mesmo de ter nascido mineiro. Veja bem, somente quem nasceu no Rio pode criticar o Rio, então contente-se em conhecer minha crítica ( rs).
    Sempre leio seus comentários. Mostram profundo conhecimento e paixão pela obra dos Beatles . Tenho um amigo que teima em falar “Os The Beatles “.
    Um abraço forte
    Roberto Bazolli

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