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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Sargento Pimenta - 10 anos



Como eu contei aqui, meu filho falou bem do som, e eu fui ao début do Sargento Pimenta lá em 2011, ainda nas ruas de Botafogo, ainda com menos de pouco mais de 3000 mil foliões, ainda tudo junto e misturado, ainda uma banda pequena em cima de um caminhão e a bateria no chão, ainda com não mais que 30 percussionistas, adorei, registrei, recomendei, mas decretei por encerrada, logo na primeira oportunidade, minha experiência em carnavais de rua, afinal, nunca foi minha praia, era a primeira vez que me abalava de casa para um programa desses, junto a um monte de gente que não conheço, enfim... Olha só que logotipo lindo, com aquele T comprido, maravilhoso, igual ao logotipo dos próprios Beatles, que a gente vê há quilômetros, marca re
gistrada, mas que aqui ainda tem o luxo de servir a dois nomes!

O tempo passou, o bloco foi ganhando sucesso, virou produto exportação, já é fixo do carnaval de São Paulo, já esteve no Cavern Club, já tem DVD, já existe a Escolinha do Sargento Pimenta, ensinando percussão e, mais importante, Beatles, para crianças, foi crescendo, ficou inviável para ruas, foi pro Aterro do Flamengo, virou um show, passando às dezenas de milhares de foliões, e depois às centenas de milhares, até os 340 MIL (!!!) de ontem, número oficial da RIOTUR, e EU ERA UM DELEEEEES. Olha eu ali de vermelho! Estava na mureta, à frente de mim, apenas os convidados VIPs.

Sim, desisti de meu retiro, abdiquei de minha abstinência, e resolvi enfrentar. Acordei cedo, tomei café, peguei um busão e cheguei em minha posição, ‘confortavelmente’ instalado, de pé, claro, mas apoiado na mureta, para poder dividir um pouco o peso, ali, bem em frente ao palco, no meião, visão privilegiada. E o que se via, então, era uma estrutura impressionante, um primeiro nível de palco, onde ficaria a bateria de 150 (!!) percussionistas, circundado por um segundo andar em U, onde ficaria a banda, agora de 17 elementos, com metais!!! Que diferença, neste 10° ano de Sargento, para aquela coisa amontoada de Botafogo. A banda multiplicada por 2, a bateria por 5, o público por 100!!! Músicos competentíssimos, cantores ótimos, com ótimo inglês, importantíssimo para dar credibilidade. Beatlemaníacos não perdoariam.

Na passagem de som, instrumento a instrumento, e no primeiro teste do baixo, senti que aquilo ia tremer, tum tum tum, e quando se reuniram todos, levaram um Pepeu Gomes sensacional lá da época que era um novíssimo baiano, e depois um primeiro teste pra valer, pra arrepiar, aquele toque beatle ‘I Wanna Hold Your Hand’. Depois, saem todos do palco, todos os quase 200, entre músicos, percussionistas, técnicos, acho que para fazer um momento de exortação, para chamar a garra de todos para o grande momento que virá, de 3 horas de dedicação, a Beatles e ao Carnaval, afinal, que é o que o bem sucedido projeto propõe!!!

E voltam todos, se posicionam, umas poucas palavras para lembrar o momento de celebração, e o que vem, coerentemente, para começar, claro, ‘Birthday’ e ‘Sgt Peppers Lonely Heart Club Band’. E o povo pula! Normalmente, esta última abre o show, mas ontem tinha que ter o parabéns antes. Depois, pra manter a coerência do disco, tinha que entrar Billy Shears e ‘With a  Little Help From My Friends’, e aqui se nota outra coerência, eles respeitam a tocada. Se a canção original é mais lenta não faria sentido a bateria entrar à toda, e a batida é mais de marcha, no corpo. Daquele disco marcante, ainda viriam ‘Getting Better’, ‘Lucy in the Sky with Diamonds’ e ‘A Day in the Life’, com direito a crescendo e aquele acorde MI poderoso final. O que acho legal é que eles não ficam na zona do conforto, tocando só clássicos conhecidos e balançantes. Eles se arriscam!

Mas voltemos à ordem, com um animado ‘Here Comes The Sun’, decerto para homenagear o aniversariante do dia seguinte, George Harrison, que faria 77 anos. E depois, o público vem abaixo com ‘Day Tripper’. A essa altura, os quatro bonecos de John, Paul, George e Ringo já estavam fazendo suas evoluções ali na área vip, onde estavam os convidados. E depois,  vem um ‘Ticket to Ride’, acho que num maracatu contagiante, variando um pouco na hora do refrão. Era assim, arranjos adaptando os ritmos brasileiros conforme a necessidade do clássico!! Ainda no climão, veio a magnífica 'Podemos Solucionarlo', que é como os argentinos intitularam 'We Can Work It Out'.

Eles revezam sessões bombantes com mais calminhas, pro povo descansar, com os braços pro alto, prá lá e pra cá, em ‘All You Need Is Love’, e então vem aquele momento de emoção, e lembrança, e lágrimas, relembrando Lennon, em um medley de ‘Imagine’ com ‘Give Peace a Chance’, na única desviada para a carreira solo dos Beatles.

Depois do ‘descanso’, SAIDUXÃÃÃO!!!!, com ‘All My Loving’, ‘Please Please Me’, ‘She Loves You’, 'Can't Buy Me Love' e depois uma volta à mansidão, com a surpreendente ‘Blackbird’, eles se arriscam, mas é breve, e vem ‘Nowhere Man’, bem animada, e ‘From Me To You’, com muito a-go-gô, uma coreografia muito gracinha da linha frente da bateria, que arrisca umas paradinhas, muito bem bem levado!! E na volta do maracatu, vem um sensacional ‘Help’, o povo cantando junto sempre, lindo, e ‘Hello Goodbye’ em marchinha, e a gente se perguntando por que eles deram Good Bye pra gente tão cedo, lá em 1970...

Uma dancinha com a galera antecede um grande e esperado momento, ‘Twist and Shout’, com direito a chuva de papel picado. 'Eleanor Rigby' vem em medley com 'Because’, com harmonias vocais triplas, dificílimas de se cantar ao vivo. 

E então, um convidado entra para cantar só uma canção, de forma espetacular, um ‘Oh Darling’ digno de Paul McCartney. Decerto que não cantou mais porque não poderia, a garganta não ia aguentar, mais ou menos como o ídolo, ao gravá-la, em 1969, quando ia ao estúdio para gravar só um take, dias seguidos, até encontrar o ponto ideal! 

E vem uma espetacular ‘I Want You – She’s So Heavy’, em que eu destaco, além da variação de ritmo, natural para uma canção de ritmos variados, o excepcional destaque dado aos agogôs, naquela paradinha em que entra o baixo de Paul, a primeira delas é no agogô, uma verdadeira gra-ci-nha!!!! E depois, mais um medley de arrebentar 'Paperback Writer' / 'Get Back'. Finaliza o bloco o maior 'NA-NA-NA-NA' que Paul McCartney poderia sonhar, com 340 mil vozes, no final de 'Hey Jude'.

Resultado de imagem para lucy alves no pimentaE chega a hora da convidada de honra, que deu UM SHOW. A atriz, cantora, multi-instrumentista Lucy Alves, paraibana arretada em fantasia minimalista, que eu já vira arrebentando, (no bom sentido) uma guitarra baiana na passagem de som, entrou pra cantar ‘Love Me Do’ em ritmo de chote, tocando sua sanfona mirabolante,  e ‘A Hard Day’s Night’ e também duas do repertório nordestino, culminando com ‘Frevo Mulher’, num desvio de objetivo muitíssimo bem recebido pela plateia, que saiu do chão com gosto!

Sai a convidada mas segue o show, com uma favorita Top Ten B, para mim, ‘I Am The Walrus’, com direito aos HU HU HU HI HI HI HA HA HA, e depois tem ‘Come Together’ com aquela letra fácil de errar mas que não erram, e me surpreendem com uma ‘Hey Bulldog’, uma desconhecida da maioria, que eu amoooo, e que eu sempre desafio as bandas covers a tocar, mas nunca estão preparados! O Sargento Pimenta estava, e me levou ao delírio! E com latidos muito bem latidos, tal qual John e Paul fizeram no original.

Chegando ao final do show, volta Abbey Road, aquele medley final, ‘The End’, a definitiva equação do amor, com direito a duelo de guitarras dos três guitarristas, tal qual fizeram John, Paul e George na gravação original, única vez da carreira em que fizeram se permitiram tal firula!! Depois, chamam ao palco os fundadores e criadores da ideia, alguns que só vieram pra festa, e cantam o hino do Sargento Pimenta, uma divertida paródia de ‘Obladi-Oblada’, com uma adaptação aos 10 anos na letra. E o povo sabia cantar, o Pimenta já é uma instituição carioca.

Como saideira mesmo, veio ‘Yellow Submarine’ para levantar a galera pela última vez, um povo apaixonado pelos Beatles e pelo Bloco, que não arredou pé um momento, nem com a chuva que começou.... eu procurei  abrigo numa daquelas barracas de sol vermelhas por causa do celular e segui até o fim.

Finalmente, depois de 6 horas de pé, caminho da roça, com direito a um salsichão com coca-cola pra completar o programa grunge, mas sensacional, que repetirei com certeza em outros carnavais.

Obrigado, Sargento, por nos proporcionar esses momentos maravilhosos!




8 comentários:

  1. Muito preocupado com esta tua repentina paixao pelo vermelho. Nos trajes, na barraca ........sai de mim, Satanás!!!!

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  2. Se preocupa não, o tom não era aquele, era mais alegre. E nem era o do Flamengo também.

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  3. Quase deu vontade de encarar o perrengue no ano que vem. Quase...
    Marcelo Menicucci

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  4. Gostei de ver sua coragem e abnegação aos Beatles. Numa multidão no Aterro!!!! Abrs e que bom que valeu a pena...
    Gerson Braune

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Admiro sua disposição e entusiasmo. Eu tô naquela, daqui não saio, daqui ninguém me tira.
    José Rogério Jansen

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  7. Grande programa, Homero! Eu teria feito o mesmo! Principalmente porque eles tocaram estacionados, sem ficar se movendo em cima de um trio elétrico. Com certeza, esse show valeu os 4, 5 ou 6 dias do Carnaval carioca. Espero que façam um showzaço desse aqui em Sampa "soon"!! Quem sabe, né - "tomorrow never knows"......

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  8. "E então, um convidado entra para cantar só uma canção, de forma espetacular, um ‘Oh Darling’ digno de Paul McCartney." Essa músico maravilhoso é o Bernardo leGrant, tecladista e vocalista do bloco do Sargento Pimenta.

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