No dia em que o mundo da música perdeu, em março de 2016,
George Martin, o homem que tornou os Beatles ainda melhores,
relembrei seus primeiros momentos com eles!!!
ATENÇÃO, fãs de Game Of Thrones, este é outro George Martin,
não tenham um ataque pensando que o escritor morreu
sem entregar o último volume da saga!!
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Em outubro de 1962, no
dia 5, foi lançado o primeiro single (lembram-se dos antigos compactos?) de
um grupo com um nome estranho que se assemelhava a "Os Besouros",
composto por 4 jovens entre 19 e 22 anos de idade, vindos de Liverpool, cidade
portuária do noroeste da Inglaterra, liderados por um tal de John Winston
Lennon, um tanto quanto narigudo.
A gravadora
era a EMI, em seus estúdios da Abbey Road. O selo era o Parlophone, comandado
por George Martin, um selo até então dedicado a músicas orquestradas e a
gravações de peças teatrais. Martin, um maestro de mancheias, sentiu nos
rapazes um potencial enorme, tanto que assinou um contrato antes de ouvir o
primeiro teste ao vivo, só baseado em gravações em fita e no carisma pessoal
percebido na primeira entrevista. Os chefes da EMI não entenderam muito bem
aquele procedimento, nunca dantes visto, mas acreditaram no feeling do maestro.
Por aí se
vê a diferença entre um visionário e um burocrata! Pouco mais de 9 meses antes,
mais precisamente em 1º de Janeiro de 1962 (isso mesmo, no primeiro
feriado do ano!), os rapazes, ainda com Pete Best na bateria, haviam feito um
extensivo teste de estúdio na Decca Records, principal concorrente da EMI
naquela época, onde Dick Rowe, o chefão da gravadora, decretou "Esses grupos com guitarras estão com os dias
contados!" e rejeitou o grupo! O "gênio" ainda recebeu uma 2ª
chance divina e contratou os Rolling Stones no ano seguinte. E pensando bem, ele estava intrinsecamente certo sobre os tais 'grupos com guitarras', pois os
dias estavam realmente contados: só que
o contador já está em 20.820 e crescendo!
Os rapazes
ficaram desanimados, mas Brian Epstein, seu empresário, continuou a luta,
tentando vender o grupo, viajando com as fitas debaixo do braço até que bateu à
porta da EMI, conversou com George Martin. Esse encontro é famoso no mundo da música. Ele ocorreu numa sala da loja de discos HMV, em Oxford Street, em maio daquele ano!!!
Nela, sem
segurar um instrumento, eles conquistaram Martin: John Lennon mostrou seu
proverbial e cínico humor inglês, Paul McCartney não ficou muito atrás com seu
charme pessoal e George Harrison, o mais novinho do grupo, mesmo que já
merecedor da alcunha de "The Quiet Beatle",
fez uma piadinha sobre a gravata de George Martin. Pete Best permaneceu mudo
como uma porta de mogno! O comportamento deste último, associado à sua batida
burocrática da bateria, fez com que Martin se dirigisse a Brian Epstein com a
histórica pedida: "Tudo bem! Eu assino um contrato com os rapazes, mas que
eles venham com outro bateirista!" Esta foi a porta de entrada de Ringo na
banda, que veio a se mostrar fundamental para o sucesso do grupo, com seu carisma!
Então vejam a tal história de se escrever certo por linhas tortas: se o gênio da Decca os tivesse contratado, os Beatles poderiam até ter um grande sucesso, mas não teriam Ringo!!!
O compacto tinha, no lado A, "Love Me Do". Aquela
antológica gaitinha de Lennon na introdução, a perfeita harmonia vocal entre
Lennon e McCartney, a parada total para a entrada do solo vocal de McCartney,
eram coisas novas no mercado fonográfico, apesar de a música ser simplíssima na
letra e mais ainda nos acordes, os tradicionais C/D/G (Dó Maior / Ré Maior /
Sol Maior). No lado B, "P.S. I Love You", uma típica McCartney,
mostrando a mesma afinada harmonia vocal, uma ainda bobinha e adolescente carta
de amor. No entanto a letra era um pouco mais bem elaborada e a estrutura de
acordes um pouco mais complexa (continha mais de 3 acordes!).
Uma coisa que poucos sabem é que, temeroso da qualidade do novo baterista que os Beatles trariam, George Martin deixou reservado um baterista de estúdio, chamado Andy White, para fazer a gravação!! E não adiantou chiadeira dos rapazes: como estava planejado, foi ele quem estava sentado na banqueta na gravação das duas músicas do compacto. Ringo jamais perdoou George Martin por isso! Menos mal é que na gravação do 1º LP, as duas canções foram regravadas, já com Ringo em seu lugar de direito!!!
O compacto conseguiu chegar ao 17º lugar na parada nacional inglesa, feito nunca antes
alcançado por nenhum outro artista em seu lançamento. Dizem as más
línguas que, na verdade, boa parte daquele sucesso inicial fora garantido por
Brian Epstein que, no afã de conseguir uma boa estréia teria comprado uma
quantidade obscena (Remember Richard Gere em 'Pretty Woman'!) de discos
para a NEMS, uma rede de lojas de disco de sua propriedade em Liverpool.
Verdade ou não, o intuito foi alcançado, o compacto foi muito tocado na BBC e
em outras rádios menos cotadas e logo eles foram chamados para a gravação do
segundo compacto, com "Please Please Me" e "Ask Me Why" que
chegou rapidamente ao topo das paradas, feito que os Beatles repetiriam por incontáveis
vezes nos anos seguintes, seja com compactos ou LP's.