Ontem, houve uma caminhada em Paris[1], guiada a instruções detalhadas, tipo Shirley[2] (vire aqui, caminhe 100 metros , olhe ali), por lugares que jamais conheceríamos de outra forma. Era uma espécie de disputa entre 12 grupos, cada um tinha um roteiro diferente, porém passando pelos mesmos pontos. Tínhamos que coletar alguns dados, responder algumas perguntas. Um frio desgraçado. Como eu me ofereci para ler as instruções (sempre fazendo alguma piadinha) minhas mãos ficaram gélidas. Acabamos terminando em quinto. Quando chegamos ao ponto de encontro, havia queijo e vinho. Depois, optei para pegar o último ônibus, que era reservado para quem ia jantar em Paris. Eu fiquei, mas não para jantar. Não estava a fim de gastar de 30 a 40 euros. Preferi passear por Paris à noite. Como pintava chuva, peguei um guarda-chuva fornecido pelo INSEAD. Seguindo dica de um francês, peguei um metrô e fui ao Trocadero (ele fala Trocaderrrôôô), um local que tinha uma bela visão da torre Eifell. Dito e feito. Magnífico! Tirei minha primeira foto, com o celular. O Trocadero é um prédio público lindo que fica em um local elevado em Paris. Quando cheguei lá, já era noite e o frio estava terrível. Vesti até o meu gorrinho! Como estava com o guarda-chuva, minha mão estava sempre ao relento, gélida. O guarda-chuva era daqueles não portáteis, resolvi colocá-lo em minhas costas, enfiado na calça, para poder colocar as mãos nos bolsos do meu casaco de couro. O cabo ficou na altura da cabeça. Figura estranha mas, vocês sabem, eu não ligo para micos. No Trocadero, comi minha primeira crèpe, de Nutelááá (aquele creme de amêndoa e chocolate), deliciosa, 3 euros. Lá, tive também meu primeiro momento difícil: quando fui pagar pela crèpe, meu relógio[3] apareceu e um vendedor de badulaques deu uma encarada nada indiscreta nele. Felizmente, tudo bem. Depois, caminhei até o Arco do Triunfo, tirei outra foto, desta vez com a minha carinha, típica de turista solitário, tirando a própria foto, espero passar a vocês, e depois desci a Champs Ellysée inteirinha. Ali comi meu segundo crèpe (sempre tive vontade de comer um crèpe na Champs Ellysée), mais 3 euros, e tive meu segundo momento interessante: ao mesmo tempo entraram na birosca 3 negões, mas eles também queriam apenas crèpes, tudo bem! Passei pelo obelisco, mais fotos. Infelizmente, o Jardim das Tulerias estava fechado e não pude matar as saudades dos banheiros públicos que conheci quando voltei daquela viagem ao Chade[4]. Subi, então, a Rue de Rivoli. Ali, em um dos vários luxuosíssimos hotéis, meu terceiro momento de tensão, entrei para fazer pipi: depois que entrei, percebi que estava com aquele ridículo cabo na cabeça e saí para tirá-lo. Assim que saí, ouvi um “Messier!” – Yes – What is your room number? Eu expliquei que havia entrado para fazer pipi. – e ele: poderia ver o que o senhor tem nas costas? Aí expliquei que era apenas um ‘umbrelááá’, mostrei pra ele, expliquei e tudo bem, ele educadamente pediu-me desculpas e guiou-me até o luxuoso banheiro. Aliviado, segui meu caminho até o Louvre, onde tirei mais uma foto solitário-egoísta, perto da pirâmide. Peguei o metrô até a Bastilha, o ponto de encontro do ônibus onde, como tinha tempo, comi um panini de muzzarela, completando 9 euros em alimentação. Enfim , foram 11 km pela tarde, mais uns 7 de noite. Ufa, nada mal, em termos de exercício físico.
[1] Final da primeira semana do curso Advanced Management Program, ministrado no campus do INSEAD, em Fontainebleau, a 60 km de Paris. A caminhada era parte do treinamento gerencial: liderança, trabalho em equipe, não desistir nunca, essas coisas.
[2] Shirley foi como carinhosamente apelidamos a voz feminina do aparelho GPS do carro que alugamos, em família, em uma viagem a Los Angeles / US 1 / San Franciso: ela se revelou uma magnífica e utilíssima companheira de viagem.
[3] Meu querido relógio OMEGA Seamaster, idêntico ao utilizado por Pierce Brosnan em seus filmes como James Bond, que ganhei como prêmio por meu expertise no personagem de Ian Fleming.
[4] Viagem realizada em Julho de 2005 patrocinada pelo Banco Mundial, onde fomos explicar como é a Petrobras, com o intuito de instruir o governo do paupérrimo país africano sobre como lidar com a administração das reservas de petróleo recentemente colocadas em produção; na volta, via Paris, senti os primeiros sintomas provocados por algo que ingerira, tendo então a oportunidade de conhecer 6 banheiros públicos da magnífica Champs Elysées, sentido Louvre-Arco do Triunfo. Os demais mebros da comitiva (mais um da Petrobras, 1 da Statoil e 1 de uma seguradora inglesa) também sentiram os efeitos.
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