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segunda-feira, 25 de julho de 2005

Copa del Rey

A caminho de África, tivemos que passar en España para obter o visto da Guiné Equatorial, uma das poucas ex-colônias espanholas no continente. Então, tivemos que gastar um sábado em Madrid, que lástima! Após a obtenção do visto, fizemos um tour naqueles ônibus de dois andares, sem teto no segundo, em que íamos parando nos pontos de interesse, conforme a nossa vontade, pegando o ônibus seguinte e assim íamos. Sobre pontos turísticos, destaco apenas um, em homenagem a um de meus ídolos de infância, inspirado na obra de Monteiro Lobato: fiz questão de tirar uma foto ao lado do monumento a Dom Quixote de La Mancha, empunhando uma lança imaginária, tal qual fazia o louco que tentava derrotar moinhos de vento, cavalgando Rocinante, acompanhado de seu fiel e resignado escudeiro Sancho Pança.  Coincidência feliz, celebra-se este ano 400 anos do lançamento da genial obra de Cervantes. Outra coincidência interessante do ponto de vista, digamos visual, é que naquele exato dia ocorria o movimento “Desnudos ante el tráfico, justicia en las calles". Bastante pitoresco, eu diria, observar centenas de jovens completamente nus, em cima de bicicletas e patins, que protestavam por uma maior consciência dos motoristas com os transeuntes não motorizados, uma redução do número de carros e um maior uso do transporte coletivo.
Pudemos observar que a cidade estava invadida por verdes e vermelhos. Os primeiros, torcedores do Bétis, de Sevilha, os últimos, torcedores do Osasuña. Os times disputariam, naquela noite, o título da Copa Del Rey, o equivalente espanhol da nossa Copa do Brasil. O jogo seria realizado no Estádio Vicente Calderón, do Atlético de Madrid. Lá, como aqui, ocorrem as zebras, daí não vermos um Real ou um Barcelona disputando o título (vide Flamengo e Fluminense!).  O Osasuña, inclusive, nem está na Premierleague (lembram-se de Santo André e Paulista?)! Pudemos perceber a paixão dos espanhóis pelo futebol, diria até, mais barulhenta que a nossa. Conversamos com torcedores, fomos entrando no clima, começamos a achar que seria um bom programa para a noite, entretanto, fomos alertados da “quase” impossibilidade: dos 55.000 ingressos, 25.000 foram destinados a Sevilha, 15.000 para Osasuña e 15.000 nem foram colocados à venda, pois estavam destinados a convidados e autoridades espanholas, afinal, não são todos os jogos que têm a presença do Rei de España. A notícia foi suficiente para desanimar os outros integrantes da nossa comitiva  ......   menos eu! O “quase” foi suficiente para deixar acesa a chama! O jogo era às 21:00, porém, como tínhamos reunião com o representante da embaixada, acabei somente ficando livre às 20:40, mesmo assim, fui! À 21:10, estava na bilheteria do estádio, que confirmou o temor inicial: “No hay boletos”. Entretanto, vendo minha cara de decepção, o “boletero” disse-me para tentar o portão de entrada. Fui à mais próxima borboleta e perguntei (perguntar não ofende!): “Hay boletos?”. O sujeito olhou para um lado, para o outro e disse, em voz baixa; “Si, tengo, pero le custará 100 Euros!”. Sabia que o bilhete custava 60 Euros e retruquei: “Ochenta!” e, ele disse: “Ok, pero de una vuelta y vuelva  preparado!” Entendi que queria o dinheiro na mão para passar-me o ingresso. Assim fiz, assim obtive a permissão para entrar. Vejam o ingresso:

Subi as escadarias e cheguei ao “Vomitorio 39” (é assim que eles chamam os setores da arquibancada em anfiteatro) com 20 minutos de jogo. Por sorte, aquele “vomitorio” e muitos outros ao lado dele, estavam ocupados por torcedores do Bétis, time pelo qual decidira torcer, devido à presença de Ricardo Oliveira, Edu e Marcos Assunção. Entretanto, claro que meu lugar, lá longe, já estava ocupado por um simpático torcedor de camisa verde, assim como todos os demais. A pequena escadaria da arquibancada já estava tomada, então, resignei-me a assistir ao jogo em pé, não seria a primeira vez. O jogo foi bom, teve bons momentos, Ricardo Oliveira fez gol, mas o melhor foi a torcida, aliás, as duas. O momento mais emocionante foi a hora em que o Bétis marcou o segundo gol e a torcida que mais gritou foi a do Osasuña, para não dejar la pelota caer. Ao final, vitória do Bétis, 2x1. Os dois times subiram ao camarote real e o capitão do Bétis recebeu a Copa del Rey, de las reales manos Del Rey.

Posso garantir que valeu cada momento e cada gota de suor!

Acho mesmo que poderia aproveitar o marketing Credicard para descrever:
·         Ingresso na mão de cambista .........                               80,00 Euros
·         Metrô 10 viagens     ..........................                                  5,60 Euros
·         Coca Cola       ......................................                                 2,50 Euros
·         Assistir a uma final de Copa pela primeira vez, assistir a um jogo na Espanha pela primeira vez, sentar em um vomitório, perceber que cambista tem em todas as línguas, presenciar duas torcidas cantando 100% do tempo, ser abraçado por torcedores enlouquecidos que nem te conhecem, assistir a uma prorrogação pela primeira vez, estar presente em um mesmo recinto que um Rei ............                                                          
                                                  Não tem preço!!!!