Rock Parceria e Poesia
Uma conversa sobre a Parceria Lennon/McCartney
Clique acima para ouvir o que está escrito abaixo
Olá, amigos do Submarino AngolanoAqui é Hoemro Ventura, directo do Brasil
Parte 3 de 4
Entra 12 Bar Original, de Lennon/McCartney/Harrison/StarrMuitos, com certeza, já ouviram falar da parceira Lennon/McCartney mesmo não sendo fãs dos Beatles. Responsáveis pela composição de quase 90% das músicas autorais da banda, John Lennon e Paul McCartney certamente colocaram seus nomes na lista de TopTen de qualquer especialista em música, incluindo os mais reticentes.
John e Paul começaram a compor juntos e logo viram que, apesar dos estilos diferentes, a afinidade era grande. Tanta que chegaram logo cedo a um acordo de parceria: fosse John ou Paul o verdadeiro autor de uma canção, a autoria oficial seria declarada como de Lennon/McCartney. Os dois amigos tinham uma capacidade para compor invejável. Inúmeras composições foram feitas olho no olho, em quartos de hotéis, em viagens daquele começo insano.
Aquele acordo de parceria fez com que muitos pensassem que todas as canções com o rótulo Lennon/ McCartney fossem compostas sempre por John e por Paul em um trabalho conjunto. Isso, na verdade, somente aconteceu nos primeiros anos da dupla e mesmo assim, somente em algumas poucas canções e mais no futuro, uma ou outra quando estavam mais maduros.
Nas demais, o trabalho é mais de 3/4 individual, no máximo um dava um palpite num verso aqui, uma ponte ali uma sugestão de rima ou harmonia acolá, etc. Havia uma disputa saudável entre os dois: um usava o outro como estímulo para compor cada vez mais e melhor e não ficar para trás na preferência dos fãs.
Quando se tem um pouco mais de familiaridade com as músicas dos Beatles, logo se percebe quem fez qual música:
1. O primeiro sinal é o cantor: geralmente quem compôs, canta a voz principal na gravação. E, com um pouco de treino auditivo, você distingue a voz mais ácida de John da voz mais suave de Paul...
2. Se, ainda assim está difícil, vá pelo estilo: Paul é mais baladeiro, John mais roqueiro. Claro que há exceções memoráveis. Algumas das mais bonitas baladas dos Beatles são de John, e alguns dos rocks mais dançantes são de Paul. Essa é a tiqueza de Lennon/McCartney
3. Se o estilo musical não foi suficiente pra definir, em canções românticas, vá pela letra: Paul é mais up beat, otimista, John é mais down, pessimista, e ainda passando por crises existenciais e ainda viajava junto com as drogas
4. Se a canção não é romântica, aqui vai uma dica: Paul adora contar histórias. John tinha algumas mensagens a dar, além disso, adorava se inspirar em posters de propaganda ou em notícias ou anúncios de jornal.
5. Se nada disso funcionou, vá ao detalhe da poesia: John adorava os jogos de palavras.
Querem mais jogos de palavras de John?
Everybody's green'Cause I'm the one, who won your loveBut if they'd seenYou're talking that way they'd laugh in my faceSo please listen to me, if you wanna stay mineI can't help my feelings, I'll go out of my mindI'm gonna let you down (let you down)And leave you flat (gonna let you down and leave you flat)Because I've told you beforeOh, you can't do that
O Melô do Ciumento - You Can't Do That - repare como o sujeito é ciumento até o âmago - repare ali no meio - the one, who won - as palavras "one" e "won" têm quase a mesmíssima pronúncia mas são escritas de forma diferente equerem dizer coisas completamente diferentes, alé de ser uma rica que em Português chamaríamos "rica", um verbo com um numeral, no caso da letra,com um substantico, e foi nessa letra que eu descobri de onde veio a nossa expressão "Ele está verde de inveja!".
Na canção, John diz: "Estão todos veeerdes, fui eu quem ganhou teu amor!" Verdes... de inveja!
E parece que John tinha fixação em cores, veja em Baby's In Black, John diz:
Oh dear, what can I do?Baby's in black and I'm feeling blueTell me, oh what can I do?She thinks of himAnd so she dresses in blackAnd though he'll never come backShe's dressed in black
Ele joga com cores, embora a segunda cor da frase não tenha nada a ver com a Cor Azul... é que Blue em inglês é a cor da tristeza, como verde é a da inveja... até por isso aquele ritmo americano, o Blues, sempre vem com temas tristes!!
Falando em temas tristes, dizem as más línguas que John pensava em Astrid Kircherr quando fez a canção, a fotógrafa dos tempos românticos de Hamburgo, namorada de seu melhor amigo Stuart Sutcliffe, membro de primeira formação dos Beatles que abandonou a banda pra ficar com ela, e que morreu de um aneurisma cerebral ainda antes do sucesso...
Este trecho entrega bem essa situação:
She thinks of
him (Astrid pensa
em Stuart)
and so she
dresses in black, (porque Astrid está de luto)
ant though
he’ll never come back (porque Stuart mórreu)
She’s dressed in black
E aqui, tem mais uma ponte que eleva o clima da canção
“Oh how long will it take till she sees the mistake she has made”
Além disso, John mostra todo seu apuro literário quando pôs, pela primeira vez na história do rock, a palavra "trivialities", que foi buscar para fazer rima rica com "please" em When I get Home.
Come on, if you please, I’ve got no time for trivialities,
I've got a girl who's waitng home for me tonight
Whoa, Whoa, I got a whole lot of thing to tell her When I get home
Quer saber de uma coisa, Paul gostava
de uma DR... Sabe o que é uma DR?
É como chamamos aqui a Discussão de Relacionamento, normalmente dentro de um casal. Não que ele gostasse, mas ele mandava recados para Jane Asher, sua namorada, para expressar seu sentimento.
Já no single de final de ano de 1965, veio We Can Work It Out, uma DR das boas
Se você pensa assim, corre-se o risco de nosso amor terminar.
Podemos solucionar... Podemos solucionar
Reconheceu?
Try to see it my way
Do I have to keep on talking till I can't go on?
While you see it your way
Run the risk of knowing that our love may soon be
gone
We can work it out
We can work it out
Think of what you're sayingYou can get it wrong and still you think that it's alrightThink of what I'm sayingWe can work it out and get it straight or say good nightWe can work it outWe can work it out
Na ponte, ele diz que a vida é curta, que é um crime viver brigando!
Life is very
short, and there's no time
For fussing
and fighting, my friend
I have always
thought that it's a crime
So I will ask
you once again
No LP Rubber Soul, a DR continuou firme!
Em You Won’t See Me, ele reclama que
que ela se esconde, que as mãos dele estão amarradas e que se continuar assim,
ela não vai mais vê-lo.
I don't know why you
Should want to hide
But I can't get through
My hands are tied
I won't want to stay
I don't have much to say
But I can turn away
And you won't see me (You
won't see me)
You won't see me (You won't
see me)
Sabe o que é… nesse tempo, Jane, que era atriz respeitada, viajava muito pela Inglaterra e ele reclamava disso. E era interessante pois ele morava na casa dos pais dela em Wimpole Street, e era mesmo esquisito ele estar lá com os pais dela enquanto ela viajava...
No mesmo Rubber Soul tem mais outra DR, I’m Looking Through You, em que Paul reclama nos dois primeiros versos que ela está mudando com ele.... que ele nem consegue ouvir o que ela fala.
Your lips are moving, I cannot hear
Your voice is
soothing, but the words aren't clear
You don't
sound different, I've learned the game
I'm looking through you, you're not the same
Na ponte, Paul reclama que ela não o
trata bem e ele ameaça que o amor pode acabar do dia pra noite!
Why, tell me
why, did you not treat me right?
Love has a
nasty habit of disappearing overnight
E no verso seguinte (veja bem, 3 versos diferentes, uma riqueza de letra), Paul reclama que a procura, mas ela não está em lugar nenhum
You're
thinking of me, the same old way
You were
above me, but not today
The only
difference is you're down there
I'm looking through you, and you're nowhere
Em 1967, quase não houve tempo para amores, afinal, eles estavam mudando o mundo da música em Sgt Pepper’s, mas o ano não acabou sem a mais definitiva pérola da DR no single de maior sucesso da carreira britânica. Veja se não...
Homens e Mulheres estão sempre em campos opostos. Ele diz sim, ela não, Ela diz Pare ele diz Vá Vá Vá... Ele lá no alto, Ela cá embaixo....E homens não gostam de discutir o relacionamento... Ela pergunta por que e ele diz que não sabe!! Simples assim!!! Sempre assim...
Digo sim, você não!
Cê quer parar, Eu digo não, não não oh não
Você diz adeus, eu digo alô
Alô Alô não sei por que cê diz adeus eu digo alô
Agora, na voz deles!!
I You say yes, I say no
You say stop
and I say go go go, oh no
You say
goodbye and I say hello
Hello hello
I don't know
why you say goodbye, I say hello
Hello hello
I don't know
why you say goodbye, I say hello
I say high,
you say low
You say why
and I say I don't know, oh no
You say
goodbye and I say hello
(Hello
goodbye hello goodbye) Hello hello
(Hello
goodbye) I don't know why you say goodbye, I say hello
(Hello
goodbye hello goodbye) Hello hello
(Hello
goodbye) I don't know why you say goodbye
(Hello goodbye) I say hello/goodbye
VOltando a falar de rimas Paul procurava rimas internas, como em You Won´t See Me
Repararam a genialidade?
Though the days are few, (oh, la la la)They're filled with tears, (oh, la la la)And since I lost you, (oh, la la la)It feels like years, (oh, la la la)Yes, it seems so long, (oh, la la la)Girl, since you've been gone, (oh, la la la)And I just can't go on, (oh, la la la)If you won't see me, (you won't see me)You won't see me, (you won't see me)
E... falando em YEARS!!!
Paul inventou a rima interplanetária,
veja bem, em Sgt Pepper’s, aliás, antes, tenho que ressaltar que essa canção,
que é integralmente de Paul, tem uma estrutura espetacular, um verdadeiro
PALÍNDROMO, em 7 peças, ou 7 degraus de um pÓdium de 7 lugares,
1. 1. A introdução
instrumental
2. 2. O Verso 1, It’s Twenty years ago today...
3. 3. A Ponte 1,
instrumental pa pa pa pa pa
4. 4. O Refrão “We’re SPLHCB... we hope you
will enjoy the show…
5. 5. A Ponte 2, cantada... It’s
wonderful to be here I’s certainly a thrill...
6. 6. O Verso 2, I don’t really want to
stop the show…
7. 7. A Conclusão, instrumental
Ah, sim, a rima interplanetária, ia me
esquecendo.... Eu que dei esse nome, porque uma coisa impressionante. É que
Paul rimou a frase final do Verso 1 no começo da canção
The act you’ve known for all these years
Com a frase final do Verso 2, lááá no
final da canção
The one and Only Billy Shears
E ele diz que escolheu o nome do alter-ego de Ringo, Billy Shears justamente para rimar com o Years lá do começo...
Ainda sobre Sergeant Peppers, vou aproveitar para voltar ao tema da estrutura de canções.. e comentar sobre a Ponte, que aparece duas vezes na canção, uma apenas instrumental e outra com letra.
Note que a Ponte de SP exemplifica a outra
situação que expliquei aqui, lá atrás.
Em No Reply, a Ponte vem botar fogo em
versos inicialmente mornos.
Esse era um dos motivos de um Ponte.
Em SP é o oposto! Os versos começam lá
no alto, intensos... com o anúncio da chegada triunfal da banda no palco
E a ponte vem amenizar... com o
Sargento Pimenta conversando calmamente com a plateia:
Vocês são a-do-rá-veis, me dá um arrepio,
a gente gostaria de levar vocês pra casa, gostaria
de levar
I don't really want to stop the show
But I thought you might like to know
That the singer's going to sing a song
And he wants you all to sing along
So let me introduce to you
The one and only Billy Shears
And Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band
Legal, né...
E Paul é mestre em rimas internas como em fez nada menos que 5 vezes em Hey Jude
1. Hey Jude, don't make it badTake a sad song and make it better2. Remember to let her into your heartThen you can start to make it better3. Hey Jude, don't be afraidYou were made to go out and get her4. The minute you let her under your skinThen you begin to make it better5. Hey Jude, don't let me downYou have found her, now go and get her
ENTRA HEY JUDE E VAI ATÉ O FINAL
Nenhum comentário:
Postar um comentário