Eu vi ‘007 contra Spectre’ (Bond 24) logo no primeiro dia e
saí muuuito satisfeito. Ri muito e me arrepiei, como esperava. Entretanto, para
chegar à análise do que eu vi, permitam-me introduzir aos menos fanáticos um
pouco do que foi a carreira de Daniel Craig na pele de James Bond.
O primeiro foi ‘007– Casino Royale’ (Bond 21), que veio pra
chacoalhar a franquia mais famosa da história do cinema. Primeiro, porque o 6º
ator a encarnar o agente mais famoso da história era um cara loiro (os demais
eram morenos), baixo (os demais tinham no mínimo 6 centímetros a mais) e
orelhudo(os demais não eram...). Depois, que assumindo a necessidade de um
reboot na franquia,
1. Simplesmaente
dispensaram Q, o distribuidor de ferramentas espetaculares, e Eve Moneypenny, a
secretária insinuante
2. O roteiro não
tinha nenhum vilão megalomaníaco querendo dominar o mundo, que recebia o herói
em suas espetaculares instalações do mal
3. E nem um
terrível capanga que o perseguia ao longo do filme todo.
4. Além disso, a
arma que carregava não era uma Walther PPK, e o drink que gostava não era um
Martini ‘stirred not shaken’.
5. E a frase mais
famosa do cinema? Quase que não fala!!! Só na última cena, quando nós, os fãs,
apesar de maravilhados com o que acabáramos de assistir e aprovar, e mesmo já
perdoando tudo aquilo que não vimos, acharíamos imperdoável que Casino Royale
fosse o primeiro filme em que não ouviríamos ‘Bond, James Bond’. E ela veio, da
maneira mais genial possível: Daniel Craig era James Bond.
O segundo filme de Craig, ‘007 - Quantum of Solace’ (Bond
22), foi ainda na mesma linha, mas muito menos brilhante, ainda sem Q e
Moneypenny, mas o elenco era fraco, e o vilão, sinceramente, nem me lembro
dele. A favor, o levantamento do tema da falta de água no mundo!!
O terceiro, ‘007 Operação Skyfall’ (Bond 23), foi um
verdadeiro arraso, voltaram com os dois colaboradores tradicionais, Q bem jovem
(Ben Whishaw), na linha ‘nerd’, e Moneypenny (Naomi Harris) em ação no começo,
mas logo recolhida ao escritório. Ponto altíssimo do filme foi o vilão Silva,
magistralmente interpretado por Javier Barden, mas seu desejo era ‘apenas’
vingança contra M, a chefona de 007, a sempre brilhante Judy Dench que,
lamentavelmente, morre no final. O advérbio está aí apenas por pena de não a
vermos mais atuando, mas foi fundamental. Seria muito triste que a atriz
desaparecesse deste plano entre um filme e outro, no meio das filmagens do
filme seguinte. Foi bom que ela pôde descansar no Best Exotic Marigold Hotel (pena
que poucos entenderão esta minha piadinha...)
E aí veio Bond 24, com grande expectativa, pois retornava à
franquia a organização criminosa que dá nome ao filme, que não víamos como
inimigo principal desde ‘007 – Os Diamantes São Eternos’ (Bond 7), lá de 1971,
e porque como vilão principal escalaram ninguém menos que Cristophe Waltz, o
magistral ator austríaco descoberto por Tarantino em ‘Bastardos Inglórios’ e
confirmado em ‘Django Livre’. Contribuindo para a expectativa, a manutenção de
Sam Mendes na direção, após um magistral trabalho no Bond 23. As homenagens
foram muitas, a gente ia percebendo. Está tudo de volta, o grande vilão, o
grande capanga, e até o grande o plot megalomaníaco de dominar o mundo, desta
vez através do controle da informação. Atualíssimo, posto que na semana
anterior discutia-se o tema no próprio Parlamento Inglês, com direito a
protestos de vários setores da sociedade!!
ATENÇÃO!! Aqui eu começo a falar sobre Bond 24 e eu
recomendo: após este ponto, quem acha que spoiler estraga filme, pare por aqui
e volte depois, pois não resisti e relato várias cenas e alguns detalhes.
Vou te dizer, se por acaso eu tivesse um piripaque logo após
a cena inicial eu posso lhes garantir que haveria morrido feliz. Que
perfeição!! Plano-seqüência da melhor qualidade, uma tomada só, de 5 minutos
sem sair de cima!! Cidade do México, Dia dos Mortos, parada na Zócalo, gente
mascarada, lembrando muito ‘007 Viva e Deixe Morrer’ (Bond 8), que se passou em
Nova Orleans. Câmera em um dos mascarados acompanhado de uma morena linda (a
mexicana Stephanie Sigman), câmera não sai dele, ele entra em hotel, sobe em
elevador, entra no quarto, tira a máscara, pega a arma e a cena segue,
magnífica, sem cortes até a perseguição em meio a milhares de figurantes, e
depois ... bem, venha ver!! Arrebatadora!! Só ela já vale o ingresso!
Mas veio mais!!
Pra começar, a surpreendente e última (será?) aparição de um
personagem querido, justificando o ato mexicano de Bond e também o resto do
filme, e à revelia da nova ordem que se instalava, que dispensava os agentes 00
(dâbolou como eles dizem), que têm permissão para matar, ora, ora, o que é que
eles pensam... O filme começa realmente numa Londres pós-atentado à MI-6, a
agência de espionagem britânica e portanto, Bond apresenta-se ao novo M (Ralph
Fiennes, introduzido em Skyfall) na nova sede, um verdadeiro buraco, em um
momento em que o posto do chefe está ameaçado por um almofadinha atrevido da
MI-5, que agora comandaria a fusão. E aí entra o nerd Q, com ótimas falas,
mostrando o novo bólido, um Aston Martin não destinado a ele, entregando-lhe
como compensação seu novo relógio Omega, que apenas marca as horas ... duvido!
E ainda mais, na Itália, com a deslumbrante presença da mais
velha Bond Girl da história, a cinquentona e linda Monica Bellucci, pena que
aparece tão pouco. Ela dá a dica para Bond comparecer à reunião da Spectre, e
então chega a tão sonhada aparição do vilão Ubermeyer, marcante e
surpreendente, vem o enfrentamento com Mickey Mouse (só vendo pra entender!), e
o ritmo segue alucinante, numa perseguição pela Roma milenar, com o novo Aston
Martin super-equipado, mas com nem tudo funcionando. Note as teclas de
acionamento idênticas às do Aston Martin de ‘007 Contra Goldfinger’ (Bond 3),
lá de 1963. E o assento ejetor, desta vez com outro objetivo!!!!
A coisa esfria, mas só na temperatura, a dos Alpes
austríacos, onde Bond encontra seu mais recorrente inimigo, desde Casino
Royale, um Mr. White terminal, com quem trava um espetacular diálogo, em cena
mais que marcante, e que o leva a conhecer Madeleine Swann, num spa nevado que
lembra muito o cenário suíço de ‘007 A Serviço de Sua Majestade’ (Bond 6), lá
de 1968.
Próxima etapa, Tanger, em Marrocos, uma casa abandonada
cheia de segredos, e habitada por um ratinho que faz Bond proferir duas das
melhores falas do filme, aliás, mais uma reminiscência, afinal não a primeira
vez que ele trava um monólogo com um rato (ver Bond 7); em seguida, um trem...
e assim que ele aparece, singrando o deserto, você, como fã emérito, se lembra
imediatamente de ‘Moscou contra 007’ (Bond 2), lá de 1963, e, bingo!! Uma bela
hora, aparece o capanga Mr. Nynx (o gigante Dave Bautista), só um pouco menor
que o inesquecível Jaws (Bond 11 e Bond 12), e Bond trava com ele uma briga
espetacular como a que Sean Connery travou com Robert Shaw, na pele de Red
Grant, uma das mais antológicas cenas da franquia.
Nesse trem, um pouco antes da briga aparece a cena que
justifica a presença de Lea Seydoux como Bond Girl. A atriz, que já havia sido
a bandida de Missão Impossível IV, diz ao
que veio ao adentrar o vagão restaurante num estonteante longo azul, talvez
referência ao seu filme ‘Azul é a Cor Mais Quente’, pelo qual ganhou vários
prêmios. E, claro, também ao ajudar o agente num momento sinistro. Tudo isso
antes de consumar seu papel de Girl de Bond....
Ao desembarcarem, literalmente no meio do nada, a revelação
de um mistério de 50 anos de franquia: ficamos sabendo de onde vêm os diversos
trajes que Bond veste, que aparentemente apareciam do nada!! James Bond usa
mala!!! A cena dele e de Madeleine assistindo à partida do trem, cada um ao
lado de sua malinha entra para a história do cinema!!!!
E no meio do nada aparece a condução, um Rolls Royce, que os
levará, finalmente à imensa base secreta da Spectre, como estávamos saudosos de
ver, e os entrega à magistral presença de Ubermeyer, revela ser na verdade
Ernst Stavros Blofeld. E vemos o seu famoso gato branco que apareceu nos Bond
2, 4, 5, 6, 7 e 12, impressionante como ele não envelhece.... Na linha do ‘Eu
vou te contar tudo, já que você vai morrer, hahahahah!’, (quer dizer,
felizemente não tem essa risada), Blofeld conta que ele é a prigem de todo o
mal que atingiu Bond nos últimos anos, afinal Le Chiffre (Bond 21), Dominic
Greene (Bond 22) e Raoul Silva (Bond 23) eram seus comandados, em última
análise. Afora isso, uma relação ente os dois, herói e vilão, jamais pensada, é
revelada. A cena de tortura que se segue é realmente torturante, mas aí se
descobre a real capacidade de seu novo Omega. E a excelente pontaria de 007!
Depois, de volta a Londres para desmascarar C, as in ------
(NÃO CAPTEI!), evitar a submissão do mundo à Spectre, salvar Madeleine mais uma
vez, fazer mais uma perseguição espetacular e, pronto, deixar a deixa para o
próximo filme.
E deixar a grande dúvida: continuará Daniel Craig no papel?
Dizem que assinou um contrato para dois filmes, sendo ‘007 Contra Spectre’ o
primeiro, pela bagatela de £ 31 mm, mais ou menos R$ 180 milhões, cotação de
hoje. E eu sinceramente espero que volte, afinal espero ver mais do
relacionamento de Bond com Blofeld, que eu achei que não foi bem explorado
aqui, acho que Waltz pode entregar mais no Bond 25. Isso tira meio ponto da
nota final.
E o ponto mais fraco para mim, que ajuda muuutio o meio ponto que o
filme perde foi a música-tema. Fraquíssima uma verdadeira ducha de água fria,
ainda mais se comparada com a penúltima, brilhantemente composta e interpretada
por Adele, em Skyfall, que tinha o clima da franquia e ganhou até Oscar! Não
vou nem dizer o compositor e o intérprete desta última pois quero esquecer.
Então é isso!
007 Casino Royale: Nota 10,0
007 Quantum of Solace: Nota 8,0
007 Skyfall: Nota 9,5
007 Spectre: Nota 9,5
Em suma, não deixe de ir ao cinema
para ver o último James
Bond!!!
Concordo plenamente com cada palavra.
ResponderExcluirDuas considerações apenas: "Cassino Royale" tem duas vantagens sobre os demais filmes estrelados por Craig: a primeira delas, Eva Green, mulher estonteante, daquelas que fazem a gente jogar tudo pro alto. A segunda, o vilão interpretado pelo excepcional ator dinamarquês Mads Mikkelsen, de quem sou fã incondicional.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirConcordo contigo em tudo, especialmente quanto à música tema, tão inexpressiva que já esqueci.
ResponderExcluirA cena dos dois na "estação" no meio do nada me lembrou Butch Cassidy & the Sundance Kid chegando de trem à Bolívia.
Ainda acho Cassino Royale o melhor Bond da série Craig. Apesar da música não ser marcante, a apresentação foi espetacular.
Deve ser visto como a 1a história da série, apresentando Bond como novato. Ao longo do filme ele comete vários erros dentre os quais o pior foi se apaixonar e sevdar mal pir isso. Ao perceber isso ele finalmente se torna Bond, James Bond e é por isso que só se ouve a fala icônica no fim do filme, seguida da música tema da série.
Apesar de Craig ter garantido que Spectre seria sua última atuação como Bond, ele aparece nos créditos como produtor.
E nos créditos finais não há menção à próxima história, apenas "James Bond will return".
As usual, só lerei depois... Mas amanhã tou lá !!!
ResponderExcluirBoa análise, Homero!
ResponderExcluirHomero, foi muito esclarecedor e me ajudou muito seu texto. Também gostei do atual filme,mas colocaria o Skyfall e Quantun of Solace na frente em minha classificação. Conforme já conversamos, coloco Cassino Royale como um dos clássicos dos clássicos da serie 007.
ResponderExcluirNo Spectre senti falta de uma musica a altura do 007 e por vezes me pareceu que as cenas foram cortadas para seguir em outro plano, mas no geral é um filme bom. Como sempre, 007 sempre será imperdível,
Creio que o Daniel Craig será uma das personificações mais marcantes do agente . sds
Adorei. O ponto fraquíssimo foi a música. O compositor da trilha desprezou a harmonia característica que surge a cada filme. Só James Bond pode apanhar 15 minutos sem apresentar arranhão ou inchaço depois da briga. E que loura!
ResponderExcluirAdorei. O ponto fraquíssimo foi a música. O compositor da trilha desprezou a harmonia característica que surge a cada filme. Só James Bond pode apanhar 15 minutos sem apresentar arranhão ou inchaço depois da briga. E que loura!
ResponderExcluirAdorei. O ponto fraquíssimo foi a música. O compositor da trilha desprezou a harmonia característica que surge a cada filme. Só James Bond pode apanhar 15 minutos sem apresentar arranhão ou inchaço depois da briga. E que loura!
ResponderExcluirHomerix,
ResponderExcluirExcelente resenha. Não vi ainda, mas está na minha programação, sobretudo depois da sua postagem.
No dia 2 de novembro, dia de finados, houve o lançamento do filme, em que a Cidade do México foi a sede da Premiere of the Americas, com a presença do elenco no Auditório Nacional, absolutamente lotado.
Sobre o Spectre, veja as notas publicadas no El Universal:
http://www.eluniversal.com.mx/articulo/espectaculos/cine/2015/11/1/daniel-craig-promueve-spectre-en-mexico
http://www.eluniversal.com.mx/articulo/espectaculos/cine/2015/11/5/daniel-craig-emocionado-por-estreno-de-spectre
Parabéns por mais uma EXCELENTE RESENHA. Concordo com a maioria das afirmações e comentários, embora tenha uma crucial: não posso concordar com a sua qualificação acerca do ator principal (D.C). Apesar disso, adorei a sua "resenha", tão bem resumindo os 4 filmes com ele. Obviamente, não confiando em seu alerta providencial, deixei para ler tudo somente hoje, depois de ter ido ver o filme. Excelente - 9,5 com louvor - concordo que realmente a música deixou um pouco a desejar. Aqueles tiros que nunca o acertam, o sofá, a briga no helicóptero, a leveza magistral, típica de S.M. e/ou D.D. sobre os tetos dos prédios mexicanos, e o colarinho perfeitamente alinhado após a luta cascuda contra o JAWS II, já fazem parte do folclore e precisam ser relevados (ou curtidos !)...apenas uma outra ressalva: você poderia ter qualificado a maravilhosa Mônica Bellucci como a mais "experiente" ou mais "vivida", etc.... Mas como "mais velha", considerei um pouco "unpolite"... E tenho que concordar com você e W. que apesar dos parquíssimos minutos na tela, foi algo REALMENTE EXUBERANTE. Para mim, ainda conseguiu superar a Seydoux (?)...Ah, e o "C", já lhe respondi, in private...Abçs, A2
ResponderExcluirA-do-rei a sua resenha, Homero.
ResponderExcluirNas homenagens/referências aos filmes anteriores eu gostaria de destacar mais uma, logo após a sequência inicial no México, no início da apresentação dessa musiquinha insossa que, absolutamente, não representa um filme de 007, a presença na tela de um imenso... polvo que, de cara, nos remete ao filme de 1983 (o 13º), "007 contra Octopussy"!
Abraço grande
Ainda bem que assisti o filme antes, pois mais uma vez tenho que elogiar suas resenhas. Perfeita.
ResponderExcluirGosto muito da série, mas acho que está na hora de colocar um pouco de "amarrotação" na vestes e no rosto de Bond. A luta no trem e sair sem um arranhão e a camisa impecável!
Itamar
aqui.
Homerix, meu caro Bond Expert ! É muito legal esta sua crônica. Eu vi o filme ontem, e como um fã dos filmes 007 ... curti muito tudo. Ótima leitura, divertida.
ResponderExcluirAbraços,
Sergio Garcia