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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

Los Hermanos Brothers

Como alguns já sabiam, e os que ainda não sabiam, acreditem se quiserem, fui assistir ao show de Los Hermanos, no Claro Hall, na última sexta-feira. Como tenho consciência que parece estranho, permitam-me explicar uns poucos motivos para esta extremada decisão.
Los Hermanos explodiram em 2000, com Anna Júlia, aquele rockzinho gostoso, básico, com um refrão contagiante. Nós, lá de longe, não acompanhamos a carreira do grupo. Achamos que seria mais uma one-hit-band, ou seja, aquelas bandas que teriam um sucesso único e depois cairiam no limbo. Depois vimos que lançaram um segundo e um terceiro discos. Só quando chegamos, percebemos que criaram um séquito de fãs, apaixonados. Compramos um disco e começamos então a admirá-los também. Já temos os 3 e ansiamos por mais.
A banda é composta por dois guitarristas (são também os compositores e os vocalistas), baixista, tecladista e baterista, todos barbudos, sua marca registrada. Nos 3 discos, ouve-se também um afinado grupo de metais (sax, trombone, piston), agregados perfeitamente ao grupo.
Se você se liga mais em música ou em letra, não importa, Los Hermanos agrada nos dois grupos.
Na música, apesar de preferencialmente embasado no rock gostoso, o grupo anda pelo ska, pelo reggae, pelo hardcore, passa pelo samba, pelo baião e outros ritmos brasileiros, franceses, latino-americanos. O mais interessante é que, muitas, mas muitas vezes, mesmo, na mesma música ocorrem mudanças de ritmo, em perfeita harmonia.
Na letra, entretanto, é que vem a novidade. Os dois compositores, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante são dois poetas românticos da melhor estirpe. E têm um estilo próprio deles: não colocam refrão em quase nenhuma música, ao contrário da canção que os levou à fama. Vocês notarão que as letras são longas e não se repetem. Suas letras tocam fundo nos jovens, suas frustrações amorosas, suas relações de amizade, os tipos esquisitos que aparecem em todo grupinho. O humor está espraiado por toda a obra. Por vezes, seus apelos românticos poderiam muito bem ser cantados por um Orlando Silva ou um Altemar Dutra, tipo:
Abre essa porta, que direito você tem de me privar desse castelo
 que eu construí pra te privar de todo o mal, desse universo que eu desenhei pra nós
…. ou ….
Tire esse azedume do meu peito, E com respeito trate minha dor
Se hoje sem você eu sofro tanto, Tens no meu pranto a certeza de um amor
Resolvi, então, ir ao show com meus filhos e um amigo deles, para ver de perto esse grupo que entrou na minha Top List. E fui junto com a galera, na pista! Eu era um dos 8.000 “jovens” que se acotovelavam lá embaixo. Da minha faixa etária, dos “enta”, não vi ninguém. Aliás, nem dos “inta”! A galerinha olhava para mim com aquela cara de espanto. Já havia sentido a barra quando o rapaz do estacionamento me disse, ao me entregar o ticket: ”Servindo hoje de motorista, né dotô?!”. Depois entendi o porquê!

O desempenho da banda é ótimo, os metais completam o som pesado harmonicamente. O público canta todas as músicas em uníssono, mesmo as mais complexas. Nas mais pesadas, formam-se as “rodinhas”, em que jovens se jogam uns contra os outros em perfeita paz. Uma delas abriu-se bem perto de mim e só fiquei me protegendo. Enfim, uma experiência e tanto.
Finalizando, o terceiro disco deles se chama “Ventura”. Não sei porque, não há música com este nome no disco. Talvez seja para expressar a ventura que é poder ouvir e apreciar as músicas desse novo grupo.

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