sábado, 29 de agosto de 2015

Ausência: Doença e romance

Minha esposa comprou o livro 'Ausência', direto da autora Flávia Simonelli, na Bienal do Rio, dois anos atrás.
 
Quando ela leu, e elogiou, me animei a ler, até porque temos um exemplo em casa, ainda no começo, e infelizmente um outro, um primo muito querido, que muito cedo foi acometido, e já partiu.

Excelente!

Não consegui parar de ler! Li em três dias no trajeto casa trabalho, de ônibus/metrô. Cheguei a perder a estação duas vezes.

Perfeito equilíbrio entre romance, que normalmente não é minha praia, e exposição da doença de Alzheimer, que era o que me interessava.

O fundo de tudo é o drama de Erwin, um professor universitário de São Paulo, de uns 70 anos... que começa a sentir as coisas mudando no meio de uma aula. Nesse ponto, lembrei-me do excelente 'Para Sempre Alice', em que Julianne Moore é uma profissional que começa a esquecer as coisas no meio de uma palestra, porém mais jovem, por volta de 50 anos...e por um tipo diferente de razões.
 
No começo do livro, é interessante a intercalação que a autora ofereceu: um capítulo é contado do ponto de vista do (ainda não) paciente, e outro do ponto de vista de Daniel, o neuro-psiquiatra que é indicado para investigar sua doença, por um amigo comum dos dois. A intercalação segue até que o paciente chega a um estágio em que já é impossível ter qualquer capacidade de narrar qualquer coisa... triste...
 
Então, quando Erwin conta, é angustiante ver como ele percebe mas não admite que sua memória está indo embora. Sua relação difícil com a esposa, implicante, que demora a entender o que está acontcendo ... mas por causa de um passado que aos poucos vamos conhecendo. A relação íntima com a filha psicóloga, divorciada, após um casamento malogrado com um babaca machista, e fundamental para a trama (ela, não o babaca!).
 
Quando é Daniel o narrador, a gente logo percebe que ele não poderia receber Erwin como paciente, pois tem um passado de experiência com a doença, na pessoa de sua avó querida. Nesse capitulo fiquei conhecendo o melhor nome de cachorro que conheci: Dapatinha... muito fofo! Apesar de ele ter-se decidido pela profissão por causa disso, ao mesmo tempo ele se sente incapaz de rratar com distanciamento casos do mesmo tipo. Casado com uma esposa implicante, com quem casou porque a engravidou, tem uma vida familiar tranquila... até que conhece a filha de seu paciente.... (eu estou contando isto pois é que está escrito na contracapa do livro, portanto não é culpa minha eu entregar este pequeno spoiler).
 
Olha, muito bom!! Serve de alerta para a doença, bem como até diverte pelas situaçãoes que ocorrem no romance. Cheguei a rir alto em várias ocasiões quando percebia a enrascada em que Daniel estava se metendo. Quem ler, note a hora do anúncio do jantar e o episódio da medalha  ... alguém escrevendo certo por linhas tortas ....  Algumas discussões filosóficas um pouco longas (not my beach also) não me tiraram a atenção pois queria saber o que iria acontecer.
 
Recomendo fortemente!!

4 comentários:

  1. Gostei, Homero.
    Vou acrescentar no início da minha pilha.
    Obrigada.
    Abraço, Fátima

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  2. Homerix,

    Excelente sugestão. Está na lista das próximas leituras. No momento, estou a ler "El Fin del Poder". Empresas que se hunden, militares derrotados, papas que renuncian y gobiernos impotentes: cómo el poder ya no es lo que era. O autor é o Moisés Naím, venezuelano dos bons, quem já escreveu excelentes colunas na Folha.

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  3. Homerix,

    Uma boa sugestão de leitura, encontrei no artigo sob o título “Herói incompreendido” (Folha, Ilustrada, 29/08/2015), que destaca a biografia de Simón Bolívar, no livro “Bolívar – O Libertador da América”. Trata-se de uma extraordinária a contribuição que nos provê a historiadora e jornalista peruano-americana Marie Arana. É notável e precisa a assertiva: “Quem usa o termo 'bolivariano' para falar de um socialismo latino-americano não sabe o que está dizendo.”. Se bem é certo que, se Simón Bolívar fosse vivo, então seria um ferrenho oposicionista do obscuro modelo imposto por Hugo Chávez, cuja seqüência, nas mãos do Maduro, consolida a direção da Venezuela ao abismo.

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