Explico: normalmente não iria assistir a 'Os Miseráveis' por ser um
musical. Fui por ser candidato a Oscars e por causa da insistência de Renata, e ela também sofria do
preconceito.
Resultado: após o filme, passei à aceitação. Mas não mais que isso, e devido a uma parte do que acontece.
Por exemplo: é legal quando os atores cantam canções inteiras. Muito
bom, apesar de ser estranho ver o gladiador Russell Crowe cantando... O
wolverine Hugh Jackman, eu já havia ouvido como apresentador do Oscar 2011, e
já sabia que mandava muito bem. Agora o ponto alto, altíssimo, máximo, ápice do
filme é Fantine, interpretada por Anne Hattaway, cantando 'I dreamed a dream', aquela mesma canção com que a senhora inglesa
Susan Boyle encantou o mundo e virou celebridade. Aliás, dizem até que os
produtores se decidiram a encenar a peça na telona por causa daquele sucesso. Anne, a eterna vítima do Diabo que vestia Prada, deu um show. A música cantada no contexto do filme ganha uma imensidão dramática insuperável. Como disse Renata, dá vontade
de levantar e aplaudir e gritar: Oscar, Oscar, Oscar!!! E ela vai ganhar, como
coadjuvante!!
Por exemplo (2): é legal quando há cantoria coletiva, como na cena
da fábrica em que nos apresentam Fantine, como no canto dos miseráveis no gueto ao
verem passar a cavalaria, como na cena do povo cantando a canção revolucionária, e outros momentos assim. Totalmente encaixados e envolventes.
Agora, os diálogos cantados são demais pra mim. Não me
passam a autenticidade que o tema requer. Declarações de amor e de ódio não
combinam com a cantoria. Quando você espera que dessa vez ele vão apenas falar,
e começa uma cantoria, é angustiante.... Sentia vergonha alheia e por vezes
escondia a cabeça na camisa.
Posso até dar um desconto a alguns outros momentos, se eu
pensar que a fala cantada é um 'pensar alto' do personagem. Como por exemplo,
numa cena em que Jean Valjeant se esconde num pátio escuro, sabedor que o inspetor Javert, seu incansável perseguidor de décadas, está a poucos metros
dele, e o que ele faz? Começa a cantar sua angústia em altos brados!!! Aí dá
vontade de rir, numa cena que deveria ser tensa! Bom, tudo bem, era o
pensamento dele, e Javert não poderia ouvir seu pensamento...
A história em si, é cativante, um dramalhaço-aço-aço de
Victor Hugo. Se alguém procurar o exemplo máximo da injustiça, vai seguramente se
lembrar de Jean Valjeant, que passou 19 anos preso por roubar um pão para dar à
sobrinha que morria de fome. E se procurar um exemplo máximo de obsessão pela justiça
e cumprimento do dever, vai encontrar no inspetor Javert seu representante
ideal. Grande Victor Hugo!! Falando dos dois, seus encontros no filme são sempre marcantes. A cena inicial é espetacular, e o momento em que Javert reconhece o olhar de Valjeant depois de 10 anos de perseguição, é o melhor de todos eles.
Outros momentos bons: as aparições do menino Gavroche e do casal Thérnadier, os donos 171
da taverna, maravilhosamente interpretados por Helena Bonham Carter e por Sasha Baron Cohen,
lembram-se dele? Sim, o impagável Borat!
Não vou ficar triste se Hugh Jackman ganhar o Oscar de Melhor Ator, mesmo batendo meu favorito Daniel Day Lewis, que foi interpretado por Lincoln (ou seria o contrário?). Afinal, Jean Valjeant e toda a carga de emoção foram capturados pelo ator. No total, o filme concorre a 8 Oscars.
Melhor Filme? Fiquei mais impressionado com 'Lincoln' e 'Argo', e até mesmo 'Django Livre'! Mas também não vou ficar triste!!! Foi grandioso!! Vou entender perfeitamente!!!