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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

1917 - Melhor Diretor, com certeza!

Alerta preliminar: usarei trema para sempre!
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Alerta 2: Outras NOVE resenhas e causos do Oscar, neste link
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Não começarei a falar do filme 1917, indicado a 10 Oscars este ano, sem antes relembrar meu leitor de uma técnica da qual já falei em diversos posts e que foi fundamental agora para fazer com que Sam Mendes o leve pra casa o Oscar de Melhor Diretor, desde já, meu favorito, ainda mais depois de levar o Directors Guild Award deste ano, escolhido que foi por seus colegas diretores!! Aliás, será seu segundo Oscar, depois de Beleza Americana, no começo do milênio!

E antes de falar de cinema, falo de TV porque no ano passado tivemos oportunidade de presenciar um ousado uso dessa técnica, num episódio da excepcional séria da Globo, 'Sob Pressão', e que os degradadores da emissora por motivos políticos que me perdoem, mas vão catar coquinhos, pois quando se trata de qualidade, a Globo brilha, intensamente!!

Então, já descobriram?

Trata-se do Plano-seqüência! Segundo essa ambiciosa técnica, cenas são filmadas sem cortes, com só uma câmera passeando por vários ambientes, por dois, cinco, dez, 20, 30 minutos sem sair de cima!!! Então, o que acontece, é praticamente um teatro filmado, com os atores, por vezes dezenas deles, executando seus papéis à perfeição, sob pena de ter-se que começar tudo de novo. E o câmera, esse tem que ser um astro!

Em 'Sob Pressão', o diretor encarregado do episódio, incrivelmente, foi seu protagonista, o ator Júlio Andrade, dos melhores de sua geração (conseguiu fazer os os papéis de Raul Seixas E Paulo Coelho!), agora também por trás da câmera. Eu assistia ao episódio em casa, quando percebi: 'Meu Deus, é um plano-seqüência!!!". E depois meu queixo caiu, durante 25 minutos (!!!), com a cena de um assalto ao hospital por um bandido ferido e armado, com direito a mudança de andar, perseguições, tiroteio, gente sendo atingida, sangue jorrando, e a médica grávida (perfeita Marjorie Estiano) sendo atropelada por uma maca... tudo concatenado!! Coisa de cinema!! Mesmo!!

Na tela grande, a técnica foi introduzida por Alfred Hitchcock em Festim Diabólico, em que a duração da cena era delimitada pelo tamanho do rolo de filme, que precisava ser trocado a cada 10 minutos, e foi aperfeiçoada ao longo das décadas. Gosto muito de mencionar 'Children of Hope' e 'O Segredo de Seus Olhos' e, mais recentemente 'O Retorno'. Links disponibilizados.

E finalmente vamos ao objeto deste post!

Em 1917, dois cabos ingleses recebem de um general numa trincheira a missão de levar uma ordem a um outro batalhão inglês em outra trincheira, para que não executem o ataque previsto aos alemães porque a aparente retirada dos hunos era na verdade uma armadilha, com o detalhe que para isso, eles teriam que passar à luz do dia pela Terra de Ninguém, como era conhecido o espaço entre trincheiras inimigas, o que significaria morte certa ou muito provável. Muy amigo esse general!

Resultado de imagem para 1917 filme
O filme é uma seqüência de planos-seqüências. Sam Mendes fala a famosa frase de diretor "CORTA!!" menos de 10 vezes!  Since inception, a cena Zero dura uns 15 minutos, com a convocação para a missão e seu começo, com a entrega de equipamentos para a missão, e passa pelas trincheiras inimigas, quando apenas então permite-se uma troca de câmera, quando a dupla adentra a um bunker inimigo (bem, talve haja um outro corte ali um pouco antes da convocação). Lá dentro, contracena-se com ratos (mas esses só podem ser computação gráfica),  e na saída eles seguem ao redor de carniça fétida, se ferem em arame, e depois até presenciam uma batalha aérea.... com desfecho impressionante! Bem, o clima é de tensão permanente, e o tempo passa muito rápido. Concentrem-se e admirem o trabalho do câmera, e claro, a fotografia, que contribuiu para o clima, em ambientes com níveis desafiadores de luminosidade. Aliás, espantem-se com as cenas noturnas. 

Um amigo meu disse ter ficado incomodado com os diálogos, por vezes fracos, até concordo, mas se os admite como um footage filler, como um comic relief, do jeito que dá pra ser em um filme tão tenso! Em minha opinião, entretanto, a primorosa técnica apresentada suplanta, e muito, essa eventual falha de roteiro. Até admito que prejudique a concessão a 1917 do Oscar de Melhor Filme, mas Melhor Diretor, não tenho dúvida!!

Embora os personagens não sejam reais, o roteiro foi feito como uma tradução das histórias que o diretor ouviu de seu avô, que realmente foi um mensageiro condecorado na Grande Guerra, que só passou a ser Primeira quando houve a Segunda. Também houve uma operação de retirada dissimulada dos alemães para atrair os ingleses, quando deixaram seus equipamentos de guerra destruídos, enfim, muito do que se vê no filme, aconteceu realmente!

Enfim, é isso! Oscar de Melhor Diretor garantido para Sam Mendes! Melhor Filme? Meu favorito ainda é Tarantino!

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