Em uma fase sem muita produção, nada como perenizar um belo texto de um amigo.
Neste caso, uma utilidade pública: O que foi a Guerra do Vietnam?
Recomendo ler este resumo rápido, caceteiro e preciso!
E descobrir onde é a Conchinchina!
by Fernando Ramos
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Vietnam - julho de 2016
A Indochina era a denominação do antigo império francês no
sudeste asiático. Englobava os atuais países do Vietnam (ou Vietname, como se
dizia na França), Laos e Camboja. O Vietnam na costa leste, e o Laos (mais ao
norte) e Camboja (mais ao sul) no interior da península, fazendo fronteira a
oeste com a Tailândia. Em uma denominação mais ampla, a Indochina poderia
englobar também a Tailândia e a Malásia, mais ao sul, indo até o território de
Cingapura, na extremidade sul da península.
A Indochina francesa, Vietnam, Laos e Camboja, esteve sob
domínio francês até pouco antes da II Guerra Mundial, quando toda a península
foi ocupada por tropas japonesas, que ocuparam também as Filipinas e as ilhas
da Malásia e Indonésia.
Após o término da guerra, com a retirada das tropas
japonesas, os nacionalistas vietnamitas que lutaram (ou mantiveram resistência)
contra os japoneses, direcionaram os esforços para alcançar a libertação de sua
terra do domínio francês, que tentou se restabelecer no antigo território. Assim,
iniciou-se mais uma guerra de libertação entre 1946 e 1954, agora contra as
tropas francesas. Em maio de 1954, os franceses foram finalmente vencidos na
batalha de Dien Bien Phu, e se retiraram da península indochinesa, concedendo a
independência ao Laos e ao Camboja. O Vietnam foi dividido em Norte e Sul, o
primeiro sob o comando de Ho Chi Minh, e o do Sul, sob o imperador Bao Dai. O
império do Vietnam do Sul também foi conhecido como Conchinchina.
Para quem viu a peça da Broadway Miss Saigon, numa das canções
mais marcantes, ao final da peça, o "engineer" cantava como ele
sobrevivera àquela época. Com o pai morto, na batalha de Dien Bien Phu, ele,
criança, tinha como trabalho levar homens para sua pequena cabana para dormir
com sua mãe. E ensinava que o perfume encobria a podridão. Isto é o que ele
aprendera com os franceses.
O acordo de paz, na retirada dos franceses, estabelecia que
haveria uma eleição em julho de 1956, para reunificar o Norte e o Sul. Por
enquanto, permaneciam dois governos diferentes, um comunista ao norte e um
capitalista ao sul, com uma zona desmilitarizada entre os dois. Os cidadãos do Sul
e do Norte eram livres para emigrar para onde se sentissem melhor. Apavorados
com o comunismo do norte, cerca de um milhão de cidadãos norte-vietnamitas
emigraram para o Sul, contra cerca de 90 mil sul-vietnamitas que fizeram o
caminho inverso. Alguns outros, muitos mais, iriam fazer o trajeto rumo ao
norte, mas o governo de Ho Chi Minh manteve no Sul de 5 a 10 mil células de
simpatizantes para permitir uma futura insurreição.
Nenhum dos dois lados tinha interesse na eleição de julho de
1956, com medo de a perderem. Ela não se realizou. No Sul, Bao Dai foi deposto
por um líder católico, Diem, comprometido com os Estados Unidos. Diem reprimiu
seitas locais e o budismo, e perseguiu nacionalistas e comunistas, o que acabou
provocando a união deste dois grupos na Frente de Libertação Nacional (FLN),
que depois foi denominada pelos americanos de Vietcong, unindo as palavras de
Vietnam e comunistas.
Em dezembro de 1956, as células mantidas no Sul pelo Norte
comunista começaram a praticar atentados. Em 1957, 400 funcionários sulistas
foram assassinados, registrando-se uma onda de violência contra formadores de
opinião, como professores, funcionários da saúde e proprietários de terras. Em
1958, os comunistas assassinaram cerca de 20% dos prefeitos ou de líderes de
pequenas comunidades. E em 1959, iniciou-se a sublevação armada com os
comunistas invadindo o Sul através da trilha denominada Ho Chi Minh.
Eisenhower enviou conselheiros militares americanos, sem,
contudo, enviar tropas de combate. Kennedy ampliou o envio de ajuda e os
conselheiros militares passaram de 700 para cerca de 12 mil, em 1962, ainda
assim sem o envio de tropas combatentes.
Em 1963, três meses antes do assassinato de Kennedy, o líder
do Vietnam do Sul, Diem, sofre um golpe militar e é executado. Kennedy resiste,
contudo, a enviar tropas mas libera o envio de helicópteros e de boinas verdes
para auxiliar as tropas do Sul.
Lyndon Johnson, empossado após a morte de Kennedy, envia
soldados. Um caso mal explicado, em agosto de 1964, do ataque de dois
destróieres americanos no golfo de Tonkin por lanchas torpedeiras norte-vietnamitas
"vira" a opinião pública americana em favor do envio de tropas. Cabe
lembrar que o ataque japonês a Pearl Harbor e o estopim da guerra Estados
Unidos x Espanha no início do século passado (guerra que deu aos USA o domínio
sobre Cuba e Filipinas, antes espanholas) com a explosão de um navio americano
ancorado em um porto cubano também se encontram envoltos em certa nuvem de
dúvidas.
Um ataque norte-vietnamita à base dos marines enseja o
início do bombardeio americano a posições norte-vietnamitas e vietcongs. No
início de 1965, as tropas americanas eram de 3.500 homens (naquela época ainda
não existiam marines mulheres). Ao final do ano, as tropas já contavam com 200
mil. Junto com os Estados Unidos, entraram em guerra Austrália, Nova Zelândia, Coréia do Sul,
Tailândia e Filipinas. Canadá e Reino Unido, tradicionais aliados americanos,
recusaram-se a participar. O Brasil recebeu solicitação americana de colaboração, mas também se
recusou.
Em 1967, Van Thieu, era o novo líder sul-vietnamita. Neste
mesmo ano, em outubro, ocorreu a primeira grande manifestação contra a guerra,
nas escadarias do Pentágono.
Em 1968, os norte-vietnamitas e vietcongs lançaram uma nova
ofensiva no ano novo lunar chinês (TET), tentando surpreender o adversário,
assim como árabes fizeram ao iniciar uma guerra no feriado judeu do Yon Kippur.
Apesar dos americanos terem contra-atacado e vencido a batalha do TET (aliás os
americanos não perderam nenhuma batalha da guerra), eles perderam a batalha
pela opinião pública. O general Westmoreland, comandante em chefe, foi
substituído. Johnson desistiu de tentar a reeleição. Neste mesmo ano, foram
iniciadas, secretamente, conversações para por fim à guerra.
Em 1969, morre em Hanói o líder Ho Chi Minh. No Camboja, o
príncipe Norodom Sihanouk manteve o país neutro, mas permitia que tropas norte-vietnamitas
passassem por seu território. Sihanouk foi deposto por Lon Nol, favorável aos
USA, que lançaram, junto com o Vietnam do Sul uma ofensiva contra as tropas
norte-vietnamitas no Camboja, arrastando este país para a guerra.
Em 1971, Austrália e Nova Zelândia se retiram da coalisão.
Em 1972, os dois candidatos à presidência americana (McGovern, democrata, e
Nixon, republicano) prometiam o fim da guerra. No entanto, Nixon, diante da intensificação
dos ataques norte-vietnamitas, ordenou o bombardeio de Hanói e do porto de
Haiphong. Mas em janeiro de 1973, Nixon, pressionado pela maioria democrata no
Congresso, suspende as operações americanas no Vietnam. O Vietnam do Sul mantém
a guerra contra o Vietnam do Norte sozinho, mas em 1973 sofre o baque da crise
do petróleo e da economia. O Vietnam do Norte rompe o cessar-fogo e fustiga
cada vez com mais intensidade as posições sulistas.
Em 1974, Ford é eleito e, frente ao avanço do norte-vietnamita,
pede ao Congresso a liberação de fundos para ajudar o Vietnam do Sul, o que lhe
é negado. O Vietnam do Sul está, a partir deste momento, irremediavelmente
perdido. Em abril de 1975, Saigon é cercada. Pouco antes, Van Thieu foge para
Taiwan, indo depois para os Estados Unidos.
Os sul vietnamitas iniciam uma fuga desesperada. Muitos
morrem em barcos improvisados. Calcula-se em 2 milhões o número de vietnamitas
que saíram do país. Dos que ficaram, muitos foram enviados para campos de
reeducação. Não em um quadro tão dantesco quanto o ocorrido com toda a
intelectualidade cambojana (leia-se qualquer um que tivesse uma cultura
mínima), enviada aos mortíferos campos de reeducação do Kmer Vermelho e seu
líder Pol Pot, comunistas, apoiados pela China, que tomaram o controle do
Camboja. Pol Pot, reedita a política de Mao de reeducação do povo, eliminando
todos os que ousavam pensar, ou tinham capacidade para tanto, apoiando-se em
fanáticos comunistas seu governo. Estima-se em 1,4 milhão o número de
cambojanos mortos pelo sanguinário partido. No Laos, os comunistas também tomaram
o poder.
Finda a guerra, o Vietnam, reunificado sob o domínio
comunista, sofre os efeitos da guerra, com sua economia arrasada e os campos
destruídos pelas bombas Napalm e pelo agente laranja. É apoiado pela União
Soviética, o que causa o afastamento da China, que concentra sua ajuda ao
Camboja. Em 1979, o Kmer Vermelho é derrubado no Camboja por tropas
vietnamitas, causando uma retaliação chinesa, que invade o Vietnam mas que,
depois de tomar algumas cidades, declara-se vencedor do conflito e retira-se.
Dentre os estrangeiros envolvidos na luta, os Estados Unidos
chegaram a enviar para a guerra, ao longo dos tempos, quase três milhões de
tropas, dos quais contam-se 58 mil mortos e 300 mil feridos. A Coréia do Sul
contou cinco mil mortos e 11 mil feridos e a Austrália 500 mortos e três mil
feridos. Tailândia, Nova Zelândia e Filipinas tiveram cerca de 400 mortos,
somados.
Dentre os locais, foram mortos 180 mil soldados sul-vietnamitas,
900 mil norte-vietnamitas e cerca de dois milhões de civis vietnamitas. Cambojanos
e laocianos mortos foram cerca de outros dois milhões.
Em 1977, Carter anistiou os americanos que desertaram, que
puderam, assim, voltar ao seu país, para encontrá-lo modificado pelo movimento
hippie, pelo movimento feminista e pelos Panteras Negras, que propugnavam por
uma ação mais agressiva contra o racismo, em contraponto ao pacifismo pregado
por Martin Luther King, assassinado em 1968. Os Estados Unidos, desde então,
encontram-se no divã, tentando entender e sublimar seu fracasso nesta guerra,
onde, como se disse, não perderam nenhuma batalha, a não ser as próprias
certezas.