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domingo, 25 de fevereiro de 2007

Live in Japan

          Um almoço com um colega beatlemaníaco inspirou-me a ouvir de novo, depois de anos, o CD duplo ‘George Harrison Live in Japan’, de 1992. Começando pelo palco, o Budokan Hall, em Tokyo, em que os Beatles ofereceram algumas de suas mais memoráveis performances ao vivo, o show de 1991 foi marcante por dois outros motivos: foi a primeira vez que George cantou a maior parte de seus sucessos da época beatle, coisa que ele se recusava a fazer e, para coroar a sábia decisão,  chamou para o palco a banda de Eric Clapton. E a banda de Eric Clapton não era boa só porque tinha ‘Deus’ como guitarrista, o que já seria suficiente para garantir o sucesso. Seu tecladista era Chuck Levell, um nome que todo mundo pensa quando precisa contratar um tecladista, o outro guitarrista era Andy Fairweather Low, competentíssimo e merecedor da mesma qualificação, e, last but not least, o percussionista era o careca Ray Cooper, por si só, uma garantia de espetáculo com sua entrega de corpo e alma aos instrumentos que maneja com uma corografia sempre inesquecível.



            Bem, de volta ao show/CD (devido à péssima qualidade da filmagem pirata, melhor desconsiderar a existência do DVD pirata que oferecem), os sucessos da época solo estão ótimos,  mas, claro, minha atenção volta-se naturalmente para as novas interpretações dos velhos clássicos. Começando por Taxman, a melhor sátira ao fisco de todos os tempos em qualquer língua (it’s one for you, nineteen for me, cause I'm the taxman), notei novos trechos de letra. Surpresa na execução de Piggies: numa inesperada rendição ao vivo de uma canção tipicamente de estúdio, com direito até ao “one more time” com orquestra, George apresenta trechos alternativos de letra.
            Pensei que George ia apresentar, na mesma linha, uma letra nova também em While my Guitar Gently Wheeps. Esta já conhecida, e que eu acho genial. Ouvi no Anthology 3 em um take que não foi adiante, aparece um complemento genial, veja se você concorda: ‘While I’m sitting here, doing nothing but aging, still my guitar gently wheeps’. Agora, no quesito música, a presença de Eric, sempre notada nas demais faixas, chega a seu máximo aqui, com mais um show de solo, reeditando a antológica interpretação que ele ofereceu lá nos idos de 1968, convidado que fora pelo amigo George para participar da gravação oficial beatle, coisa que poucos mortais lograram na história. Nunca uma guitarra chorou tanto como naquela noite em Tokyo, realmente de fazer chorar qualquer admirador do instrumento. Sua categoria recebe, ao final, a mais apropriada qualificação que eu já ouvi sobre ela, de seu anfitrião George: ‘Eric Clapton and his Psycho guitar’.
            Para terminar, apenas uma menção à sensacional introdução da mais bela canção de amor de todos os tempos, nas palavras de Frank Sinatra, ‘Something’. Num ritmo mais lento, ouve-se uma guitarra evoluindo magistral e romanticamente, você quase percebe qual é a canção que vem aí, mas só tem a confirmação quando vem a bateria e ela efetivamente começa: provocou-me lágrimas ao ouvi-la e arrepios, neste momento, ao escrever e me lembrar.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Os Rumos de um Grande Profissional

Colegas
            Todos vocês devem ter ouvido falar do pedido de demissão de Renato, nosso ex-futuro chefe. Nem todos foram copiados na sua carta de despedida. Alguns, mesmo, principalmente os mais novos, nem o conheceram e não sabem da dimensão desta perda para a nossa empresa.
            Por isto, compilei algumas das respostas àquela carta, vindas dos mais variados escalões da companhia. Certamente, muitas outras há, porém os enviantes preferiram enviá-las na opção 'Responder', e não 'Responder A Todos', como fizeram os listados.
            Por elas, terão alguma noção do que significa sua saída. Não repetirei aqui as qualidades do profissional e ser humano, já extensa e justamente listadas, basta dar uma boa lida nas repostas que anexo.
            Descrevo, sim, um pouco do que sei sobre o caminho profissional deste luminar, geofísico de mancheias, que logo no começo da carreira galgou postos gerenciais. Com 10 anos de companhia, já mestre e doutor, chegou, em 1986, à superintendência de uma região de produção.
            Começou seu caminho internacional em 1989, na Braspetro, subsidiária que então trilhava os caminhos da empresa no exterior, onde chegou já como gerente de exploração e de novos negócios, e, no curso natural de sua excelência, foi nomeado, em 1992, Diretor de Exploração e Produção. Naquela oportunidade, foi meu colega e chefe pela primeira vez, quando começamos as trilhar os caminhos da análise econômica e compartilhamos interessantes navegadas em planilha eletrônica.
            No final de 1997, optou pelo caminho internacional de fato, assumindo a Gerência Geral em Londres. Lá, ele não se ateve apenas aos contatos de alto nível e as decisões diárias no comando do posto avançado da maior empresa brasileira no seio da indústria petrolífera européia. Conseguiu desenvolver uma fenomenal ferramenta de controle econômico de todos os ativos da subsidiária, em que manuseava contrato, contabilidade, finanças e tributos, que veio a se constitutir em ponto de partida e chegada de qualquer decisão sobre a carteira de projetos no front britânico.
            Em setembro de 2001, foi comandar nossa empresa nos Estados Unidos, quando então começou minha segunda oportunidade de profícua convivência profissional com o extraordinário comandante. Não satisfeito em dedicar seu tempo para revolucionar a carteira exploratória da Unidade, com uma guinada bem sucedida para oportunidades de alto risco e alto prêmio, continuou sua saga de controlador econômico. A mudança de linguagem de sua super planilha não foi apenas no sotaque, e sim em toda a estrutura contratual e situação fiscal e contábil vigente de todos os ativos americanos da Petrobras.
            Minha vida profissional, como gerente financeiro e planejador foi muito facilitada por sua veia econômica traduzida em planilhas.
            Também minha vida pessoal foi mais agradável, posto que tive oportunidade de conhecer e conviver com sua maravilhosa família, um dos motivos para este desenlace, que ora nos deixa a todos tristes, porém, conformados.
            Abraço a todos e seguimos adiante.