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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Os primeiros momentos de George Martin com os Beatles

No dia em que o mundo da música perdeu, em março de 2016, 
George Martin, o homem que tornou os Beatles ainda melhores, 
relembrei seus primeiros momentos com eles!!! 
ATENÇÃO, fãs de Game Of Thrones, este é outro George Martin, 
não tenham um ataque pensando que o escritor morreu 
sem entregar o último volume da saga!!
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      Em outubro de 1962, no dia 5, foi lançado o primeiro single (lembram-se dos antigos compactos?) de um grupo com um nome estranho que se assemelhava a "Os Besouros", composto por 4 jovens entre 19 e 22 anos de idade, vindos de Liverpool, cidade portuária do noroeste da Inglaterra, liderados por um tal de John Winston Lennon, um tanto quanto narigudo.

       A gravadora era a EMI, em seus estúdios da Abbey Road. O selo era o Parlophone, comandado por George Martin, um selo até então dedicado a músicas orquestradas e a gravações de peças teatrais. Martin, um maestro de mancheias, sentiu nos rapazes um potencial enorme, tanto que assinou um contrato antes de ouvir o primeiro teste ao vivo, só baseado em gravações em fita e no carisma pessoal percebido na primeira entrevista. Os chefes da EMI não entenderam muito bem aquele procedimento, nunca dantes visto, mas acreditaram no feeling do maestro.

         Por aí se vê a diferença entre um visionário e um burocrata! Pouco mais de 9 meses antes, mais precisamente em 1º de Janeiro de 1962 (isso mesmo, no  primeiro feriado do ano!), os rapazes, ainda com Pete Best na bateria, haviam feito um extensivo teste de estúdio na Decca Records, principal concorrente da EMI naquela época, onde Dick Rowe, o chefão da gravadora,  decretou "Esses grupos com guitarras estão com os dias contados!" e rejeitou o grupo! O "gênio" ainda recebeu uma 2ª chance divina e contratou os Rolling Stones no ano seguinte. E pensando bem,  ele estava intrinsecamente certo sobre os tais 'grupos com guitarras', pois os dias estavam realmente contados:  só que o contador já está em 20.820 e crescendo! 


         Os rapazes ficaram desanimados, mas Brian Epstein, seu empresário, continuou a luta, tentando vender o grupo, viajando com as fitas debaixo do braço até que bateu à porta da EMI, conversou com George Martin. Esse encontro é famoso no mundo da música. Ele ocorreu numa sala da loja de discos HMV, em Oxford Street, em maio daquele ano!!!

             Nela, sem segurar um instrumento, eles conquistaram Martin: John Lennon mostrou seu proverbial e cínico humor inglês, Paul McCartney não ficou muito atrás com seu charme pessoal e George Harrison, o mais novinho do grupo, mesmo que já merecedor da alcunha de "The Quiet Beatle", fez uma piadinha sobre a gravata de George Martin. Pete Best permaneceu mudo como uma porta de mogno! O comportamento deste último, associado à sua batida burocrática da bateria, fez com que Martin se dirigisse a Brian Epstein com a histórica pedida: "Tudo bem! Eu assino um contrato com os rapazes, mas que eles venham com outro bateirista!" Esta foi a porta de entrada de Ringo na banda, que veio a se mostrar fundamental para o sucesso do grupo, com seu carisma! 

             Então vejam a tal história de se escrever certo por linhas tortas: se o gênio da Decca os tivesse contratado, os Beatles poderiam até ter um grande sucesso, mas não teriam Ringo!!!

            O compacto tinha, no lado A, "Love Me Do". Aquela antológica gaitinha de Lennon na introdução, a perfeita harmonia vocal entre Lennon e McCartney, a parada total para a entrada do solo vocal de McCartney, eram coisas novas no mercado fonográfico, apesar de a música ser simplíssima na letra e mais ainda nos acordes, os tradicionais C/D/G (Dó Maior / Ré Maior / Sol Maior). No lado B, "P.S. I Love You", uma típica McCartney, mostrando a mesma afinada harmonia vocal, uma ainda bobinha e adolescente carta de amor. No entanto a letra era um pouco mais bem elaborada e a estrutura de acordes um pouco mais complexa (continha mais de 3 acordes!).
           Uma coisa que poucos sabem é que, temeroso da qualidade do novo baterista que os Beatles trariam, George Martin deixou reservado um baterista de estúdio, chamado Andy White, para fazer a gravação!! E não adiantou chiadeira dos rapazes: como estava planejado, foi ele quem estava sentado na banqueta na gravação das duas músicas do compacto. Ringo jamais perdoou George Martin por isso! Menos mal é que na gravação do 1º LP, as duas canções foram regravadas, já com Ringo em seu lugar de direito!!!

         O compacto conseguiu chegar ao 17º lugar na parada nacional inglesa, feito nunca antes alcançado por nenhum outro artista em seu lançamento. Dizem as más línguas que, na verdade, boa parte daquele sucesso inicial fora garantido por Brian Epstein que, no afã de conseguir uma boa estréia teria comprado uma quantidade obscena (Remember  Richard Gere em 'Pretty Woman'!) de discos para a NEMS, uma rede de lojas de disco de sua propriedade em Liverpool. Verdade ou não, o intuito foi alcançado, o compacto foi muito tocado na BBC e em outras rádios menos cotadas e logo eles foram chamados para a gravação do segundo compacto, com "Please Please Me" e "Ask Me Why" que chegou rapidamente ao topo das paradas, feito que os Beatles repetiriam por incontáveis vezes nos anos seguintes, seja com compactos ou LP's.  

O resto é história!!
E olha só que legal: James Bond, sim o Agente 007, começou no mesmo dia, mesmo mês, mesmo ano, mesma cidade! http://blogdohomerix.blogspot.com.br/2012/10/50-anos-de-james-bond.html

8 comentários:

  1. Excelente texto para registrar uma data histórica. Como curiosidade, cabe destacar que o 1º compacto dos Beatles (Love me do / PS I love you) nunca foi lançado no Brasil.

    O primeiro disco dos Beatles lançado no Brasil foi o compacto From me to you / Please Please me, e só ocorreu em janeiro de 1964 (mais de 1 ano após o Love me do inglês), e sem muito estardalhaço.

    Naquela época as coisas levavam mais tempo.

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  2. Dear Homerix
    Só você para reavivar na memória o dia em que tudo começou. Quem como eu tinha 16 anos em 1962 e ouvia Elvis Presley, Pat Boone (as meninas exigiam!) achando que depois deles nada mais viria de interessante, a surpresa com o som dos Beatles foi enorme e gratificante. Há quase 5 décadas curto o som deles e de seus milhares de "seguidores"....Grande abraço.....Izeusse

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  3. Homero, excelente texto para comemorar os 50 anos do maior grupo musical de todos os tempos.
    Armando Bulgarow.

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  4. Relembrar um tempo onde tudo era sonho!!!
    Tivemos uma juventude sadia!!!
    e as musicas marcaram nossas iniciativas...
    realizaçoes e metas que não eram facil
    ser atingidas!!!mas lutamos pra chegar
    aos dias de hoje e dizer:Eu era feliz e não sabia!!!
    Ou..nós éramos felizes e nem imaginavamos!!
    Que bom,poder ouvir comentar... compartilhar
    ]e reviver!!!um tempo só nosso!!
    A eRA Beatlemania!!que ainda hoje...causa...
    lady dell

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  5. Com certeza tudo seria diferente para pior se tivessem sido contratados pela DECCA.
    A história que conheço, e que pode não ser a verdadeira mas vi confirmação do próprio Andy White, foi que George Martin não o contratou. Ele foi chamado para substituir Ringo naquela gravação por um dos engenheiros de som. Martin nem sabia e nem estava lá na hora.

    Eu soube também que Brian Epstein chegou a duvidar do feeling dele. Será que tinha cometido um erro ao contratá-los? Então se lembrou que o que mais o fascinou não foi a música. E sim suas personalidades. Por isso fez questão de levar os garotos com ele para conversar com George Martin. E como você bem recordou Martin os contratou sem ouvi-los ao vivo, algo raríssimo...Tinha ficado também fascinado com as suas personalidades.

    Acho que você já sabe que discordo sobre easa suposta liderança de John. E falo isso porque ninguém jamais falava sobre isso quando surgiram. Só quando estavam separando John deu de dizer que era a banda dele que poderia terminar com ela porque era dele...Mas não era. A banda era dele, de Ringo, Paul e George.

    E se olharmos para a história veremos também que John não estava acima dos outros. John era uno com eles. E quem mais trabalhou para a formação da banda foi exatamente Paul. John criou Quarry Men que era de skiffle. Assim que Paul entrou viu logo que mudanças se faziam necessárias se queisessem ser profissionais reconhecidos. Teriam de mudar o estilo musical. teriam de ter instrumentos veradadeiros. Teriam de ter um guitarrista de verdade...e sugeriu George. Claro que ali ainda era Quarry Men de John, e Paul apenas sugeriu George que deveria ser availiado por John. Mas aqui estou falando nas formação dos Beatles e não em liderança. Naquele tempo a banda era mesmo de John, tanto que chamou Stuart que nem sabia tocar direito contra a vontade Paul. Valeu a vontade de John pois QuarryMen era realmente a banda dele.
    Podemos ver por aí, você já deve ter visto, anuncios de jornal buscando bateristas...assinados por Paul. O tempo todo trabalhando para o aperfeiçoamento da banda.
    De repente viram que era outra banda. Uma banda praticamente criada por Paul! Precisavam de novo nome. Passaram por vários até chegarem a The Beatles. Eu não sei se George já dava sugestões, (como depois passou a dar) mas Paul já estava no mesmo patamar que John.
    Chega o dia que decidem por um acordo deixando claro que todos tinham os mesmos direitos. Ninguém poderia fazer nada por conta própria sem consentimento de todos. Todos. Sem apenas um deles decidindo. Isto é sem lider. Se tornaram quatro em um. A primeira e única banda do mundo com essa caracteristica. E uma caracteristica que os diferenciava para melhor ao ponto de terem influenciado Steve Jobbs! Viu a entrevista dele sobre os Beatles? Ele viu que formavam um time.

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